Sexta-feira, 30.08.13

O cisma Constitucional do país

Em 2010 e 2011, ainda antes de Passos Coelho chegar ao poder, já queria rever a Constituição, principalmente nas áreas da saúde e educação, que não deviam ser "gratuitas".

Para ele, Portugal vivia, e vive ainda, num país desequilibrado por uma Lei Fundamental que, no seu espírito e palavras, é um produto ideológico de esquerda, uma filha da revolução do 25 de Abril, legítima e por isso mesmo sem virtude aos olhos de um liberal.

Alguns dos princípios constitucionais eram, e são para Passos Coelho, errados, atrasados, injustos e socialistas.

Mas, como os mandamentos do regime devem obedecer a consensos, e ele não conseguiu nenhum apoio à sua esquerda, esqueceu rapidamente o desejo de rever a Constituição.

Ora, não podendo rescrever as Tábuas da Lei, Passos decidiu afrontá-las. 

Logo em 2011, qaundo se sentou em S. Bento, foram dadas as primeiras salvas de tiros. 

Muitos avisaram Passos que não era inteligente basear medidas essenciais para o corte da despesa em iniciativas legislativas de duvidosa constitucionalidade.

Porém, ele ignorou os sensatos e cortou os subsídios à função pública, coisa que entrava pelos olhos dentro que era inconstitucional, como o Tribunal Constitucional veio dizer em meados de 2012.

Não contente com essa primeira derrota, voltou a marrar contra a mesma parede, cortando de novo os subsídios em 2013.

Como se esperava, o TC lá veio repetir que a medida não estava conforme às tabuinhas.

Pelo caminho, espumando fúria, Passos inflamou os ódios políticos das suas hostes, instigando a populaça e as elites contra os juízes do TC.

A campanha foi feroz: os juízes eram cheios de previlégios, reformavam-se cedo, ganhavam demais e, cúmulo da irresponsabilidade, iam de férias quando havia decisões importantes a tomar!

Ao longo de meses, Passos diabolizou o TC, colando-lhe mesmo a imagem de um tribunal antipatriota, que punha em causa a gloriosa recuperação financeira do país.

A estratégia primou pela ineficácia, pois o Governo de Passos coleccionou derrotas atrás de derrotas.

Contudo, a consequência política destes humilhantes resultados, mas sobretudo da retórica incendiária, foi a geração de um verdadeiro cisma Constitucional. 

Portugal está hoje dividido entre os que são contra a Constituição e os que são a favor dela.

De um lado, o centro-direita, liderado por Passos, que acha a Constituição um estorvo.

Do outro, a esquerda em geral, que considera os mandamentos do regime um dogma imutável. 

Estes dois radicalismos, o primeiro ofensivo e iniciador, o segundo defensivo mas para já vencedor, reabriram um fosso no regime, semelhante ao de 75, mas de sentido inverso.

Embora ninguém saiba quem vai cair nesta Fossa das Marianas, ela é mais funda a cada dia que passa. 

publicado por Domingos Amaral às 11:24 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 29.08.13

Com o fogo não se brinca, já dizia a minha avó

É uma frase que qualquer criança ouve desde muito cedo: "com o fogo não se brinca!"

No entanto, dá-me a sensação que muitos réporteres de televisão esqueceram os conselhos das suas avós.

Todos os dias, ao ver as notícias, dou por mim a pensar quando vai magoar-se a sério o primeiro repórter televisivo.

É que, pela forma como as reportagens têm sido feitas dá a sensação que os repórteres e os homens das câmeras andam a brincar com o fogo.

Há diretos, extremamente espectaculares, com as labaredas quase a lamberem as costas dos repórteres.

Há imagens deles, a correr, a câmara aos saltos, a tremer, no meio de estradas, do fumo, dos populares desesperados. 

É como se a profissão de repórter dos incêndios fosse, também ela, uma profissão de risco.

Em busca da melhor imagem, os repórteres arriscam tudo, só para brilharem à noite, no telejornal.

Como já não há dinheiro para os jornalistas serem enviados para guerras distantes, eis os incêndios, como substituto à altura.

Em vez de correspondentes de guerra, temos correspondentes de fogos.

Até raparigas jovens se metem ali, entre o auto-tanque e a labareda.

Querem apanhar cada momento: o bombeiro, de máscara, que aponta a mangueira para as chamas imensas; o popular que chora, aterrado; a azáfama meio ensandecida da aldeia que vê o fogo aproximar-se; o movimento desordenado do jipes encarnados, sempre a circularem; o fumo que tudo cerca, como um nevoeiro sinistro.

Sim, o fogo é um tipo especial de guerra e mostrá-lo é um acto de coragem, mas também de orgulho.

Talvez os reporteres devessem ser mais cuidadosos, pois de tanta ânsia de mostrar, ainda se queimam um dia.

Morre gente, normalmente bombeiros, porque o fogo é um animal perigoso, imprevisível, letal, que quando se enfurece castiga quem o desafia.

A coragem, essencial no combate, tem de ser temperada pela lucidez permanente, senão o desastre é imediato.

E, só para filmar o espectáculo do fogo, não faz sentido arriscar a vida.

Dizia PJ O´Rourke que os jornalistas eram diferentes dos outros civis, pois quando todos os civis fugiam da guerra, os jornalistas iam a correr ter com ela.

E por isso muitas vezes morrem.

Com o fogo parece dar-se o mesmo fenómeno. Enquanto as pessoas fogem das labaredas, os jornalistas vão a correr ter com elas.

Tenho medo que isto um dia acabe mal. 

publicado por Domingos Amaral às 11:37 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 28.08.13

Espero que a América não se engane outra vez

Os americanos parecem decididos: a Síria usou armas químicas, e isso é inaceitável.

Para a punir, prepara-se um ataque, provavelmente à bomba, e alguns dizem que será já sexta-feira.

Mas, será que as provas são inatacáveis?

Os americanos já juraram ao mundo uma vez que havia mísseis no Iraque, e enganaram-se.

Invadiram, sem mandato da ONU, e geraram um caos durante anos, que ainda dura.

E das armas não se viu nada...

Agora, há igualmente muita incerteza. Que há uma guerra civil trágica e assassina, ninguém tem dúvidas.

Que o regime sírio tem armas dessas e as pode usar a qualquer hora, também é certo e seguro.

Mas, que as tenha já usado, não é assim tão sólido.

Há uns meses, também se gerou um "bruaaa" semelhante e depois foi falso alarme, truque de propaganda dos rebeldes.

Não tenho qualquer simpatia pelo facínora da Síria, como não tinha pelo do Iraque ou da Líbia, mas tenho simpatia pela América.

E não gosto de ver o país enxovalhado e descredibilizado, como o deixou George Bush, provavelmente o pior presidente dos últimos 100 anos.

Se há coisa que Barack Obama tem feito bem é recuperar o prestígio perdido da América.

Cumpriu o que prometeu, fosse no Iraque, fosse no Afeganistão.

Continuou a dar luta aos terroristas, matando Osama Bin Laden no seu covil.

Ajudou os líbios a verem-se livres do seu ditador, mas sem ter de enviar tropas ou bombardear cidades.

E, na Palestina, tem obrigado Israel a uma postura diferente, menos belicosa.

Passo a passo, a América tem recuperado a sua credibilidade, a sua moral, e perdido a arrogância estúpida dos tempos de Bush.

É esse activo que não se deve desperdiçar.

Para bombardear a Síria não basta a suspeita, é preciso a certeza absoluta de que foi cometido um crime contra a humanidade.

Devemos apoiar, até certo ponto, quem luta contra o fim da ditadura síria, mas é preciso cuidado.

O Médio Oriente é como as areias movediças, imprevisível, traiçoeiro, sufocante. Os amigos de hoje são os inimigos de amanhã.

Dar "tau-tau" no ditador, mandando-lhe umas bombas para os palácios, não resolve nada.

Sobretudo se ninguém tem a certeza se houve ou não uso de químicos.

Talvez fosse melhor esperar pelos relatórios dos inspectores da ONU...

publicado por Domingos Amaral às 10:54 | link do post | comentar | ver comentários (7)
Segunda-feira, 26.08.13

A Avenida Brasil não me encheu as medidas

Sim, eu sei que há milhões de fãs da telenovela, e que a Dilma Rousseff parou tudo para ver o final.

Sim, eu sei que a SIC tem óptimas audiências, e que o Público escreve artigos a louvar o génio desta telenovela.

Sim, eu sei isso tudo mas lamento dizer que Avenida Brasil não me satisfez por aí além. 

Primeiro que tudo, aquele Brasil do lixão, tão Cidade de Deus, tão miséria que é preciso enaltecer, enjoa-me.

Sim, enjoa-me. E se nos lixões houvesse gente tão esperta como Carminha ou Max, ou mesmo a Mãe Lucinda, os lixões iam longe.

O culto do génio do mal no meio do lixo é um mito um bocado parvo, mas pronto.

A vida do Tufão é mais divertida, a família de loucos, pirosa e lustrosa, de um barroco quase aterrador, mas divertido.

Ainda se atura.

Têm graça os Lelecos, porque é um actor magnífico, ou mesmo a sopeira, mas é um bocado inverosímil toda aquela história da criadita "infiltrada" para se vingar da madrasta má.

Também é um lugar comum a história da "piranha", a Sueli, devoradora de homens, que anda para ali de homem em homem.

Por outro lado, a classe média alta é um desastre.

O Cadinho é um "trígamo", e as suas três mulheres umas venais, que só pensam em dinheiro, acabando o harém a transferir-se para o advogado que deu o golpe. 

É a vitória dos modestos mas sãos, do Divino, do churrasco, da pureza da Monalisa.

Ou seja, quem vem de muito baixo, ou quem já está lá em cima, não presta.

Quem presta é a classe média baixa, da chinela, das cabeleireiras e da gritaria.

Mas, o pior de tudo é a demora.

Durante meses, nada avança, ou avança lentamente. Estava-se duas semanas sem ver, e continuava tudo na mesma, os mesmos truques da Carminho, as mesmas patatedas do Max, as mesmas caras preocupadas do Tufão.

É nós à espera do óbvio, a queda da Carminha, a morte do cúmplice.

Tudo muito previsível.

Avenida Brasil vive dos actores. Sem Carminha, por exemplo, era uma telenovela banal, e Adriana Esteves é a única grande actriz do elenco.

O resto são pormenores, mais ou menos engraçados, mais ou menos entediantes.

Que saudades da Gabriela... 

publicado por Domingos Amaral às 12:54 | link do post | comentar | ver comentários (9)
Sexta-feira, 16.08.13

As nossas praias são parques temáticos

Hoje, estar numa praia do Algarve é como visitar um parque temático desportivo.

Mente sã em corpo são.

Na areia, há quem jogue raquetes, futebol, vólei, ou quem faça skiming à borda de água.

Ainda existem, é evidente, as atividades mais antigas, como a corrida ou o passeio à borda de água.

Mas o modernismo chegou, e há já belas massagens em barraquinhas, de meia hora ou 50 minutos.

Depois, podemos ir para a água de gaivota a pedais, de colchão, de caiaque. 

Há também o surf (raro, pois há poucas ondas), e em dias de vento o windsurf (fora de moda), ou o kyte surf (em alta).

Descoberto recentement, o paddling também já faz a sua aparição, e os seus praticantes solitários às vezes lembram gôndolas de Veneza, outras canoas dos arrozais do Vietnam. 

Embora agora já a uma distância bem mais razoável do que acontecia no passado, cruzam o mar motas de água e jet-skis, sempre barulhentos demais.

Os barcos de serviço puxam bóias, pneus gigantes, bananas, tudo cheio de pessoas que gritam, excitadas.

Uma vez por outra, ainda se vê uma pessoa a fazer ski aquático, mas também está claramente fora de moda.

Bem mais fácil é ver um páraquedas a levantar, fazendo subir dois candidatos a "rangers de Agosto", que gostam de molhar os pés e as pernas vindos do ar.

No horizonte, há veleiros de velas recolhidas enquanto a bordo se come e bebe, ou ainda barcalhões de milionários, tipo Saint Tropez, cujos tripulantes só vêm a terra para almoçar a meio da tarde.

E, como se isto tudo não fosse suficiente, há avionetas constantes no céu, a anunciarem grandes festarolas para a noite, com DJ´s de nomes estranhos, cheios de consoantes e em inglês.

Em poucas horas, contei 15 delas, puxando longos avisos de que há sítios "a bombar" até altas horas. 

E, se pensam que isto tudo junto é desagradável, estão enganados.

Uma praia é um hino à boa saúde, ao desporto, à actividade.

Mente sã em corpo são, é isso que são as nossas praias.

Embora me pareça que falta ainda um bom serviço de bar, com caipirinhas a serem servidas à borda de água.

Aí sim, o parque temático estaria completo.  

publicado por Domingos Amaral às 13:11 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 13.08.13

A Espanha está um gaspacho azedo

A Espanha parece um gaspacho que não pára de azedar. 

O tomate usado é velho: a monarquia não tem crédito, com um rei idoso, adúltero e sem tino, que esbanja dinheiro a caçar elefantes.

A cebola é demasiado verde: os príncipes não encantam e choramingam em público, e os maridos das princesas foram apanhados em crimes de vários tipos.

O azeite vem sempre ao de cima: a Catalunha rosna, quase todos os meses, exigindo a independência.

O pepino sabe mal: os bancos, até há cinco anos imperiais e globais, estão a ser resgatados pela Europa, falidos e sem reputação.

A salsa está curta: as autonomias, fórmula mágica para manter o reino unido, endividaram-se até acima das orelhas, e nem piam.

Para mais, o cozinheiro Rajoy não tem habilidade. No poder para cumprir as diretizes austeritárias da Europa, afundou a economia na recessão.

E, pior do que isso, já o chamam de mentiroso, por causa de um tesoureiro corrupto do PP.

É um "chef" sem brilho, limita-se a manter o restaurante aberto.

Para ajudar à festa, renasce o problema de Gibraltar, a pedra de gelo que faltava na sopa, e que só agudiza o mau sabor.

Por causa do rochedo, eternamente mal resolvido, há chispas sérias com o Reino Unido.

E o desemprego, a pimenta amarga da economia, embora tenha descido um pouco no Verão, está como nunca se tinha visto, principalmente entre os jovens e os imigrantes vindos do sul.

Mas nós, portugueses, temos de provar esta sopa.

Espanha é e será sempre o principal parceiro de Portugal, e qualquer salmonela que lá assente arraiais pode contaminar-nos.

Se este gaspacho se estraga mesmo, a Europa bem que pode começar a rezar.

publicado por Domingos Amaral às 13:06 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Segunda-feira, 12.08.13

Tolstói ou o prazer de reler os clássicos

Não sei bem porquê, olhei para a minha estante e vi um livro: "Guerra e Paz", de Tolstói.

Era apenas o primeiro volume de quatro, na edição da Presença. 

De repente, deu-me uma enorme saudade do tempo em que lera aquela saga, talvez com 18 ou 20 anos.

Mas lembrei-me de que já não me lembrava bem dos detalhes, dos personagens, da trama.

Apenas ficara, retida na minha memória, a ideia de que era um longo e fascinante romance, passado na Rússia, no tempo da Napoleão.

Abri o livro e...ainda não parei de ler. 

Tolstói é um génio, agarra-nos pelos colarinhos e não larga. É como um cão, que nos ferra o cérebro.

São Petersburgo...

Apetece correr para lá, tentar descobrir onde vivia Pierre, o filho bastardo do conde Bezúkhov, tentar descobrir o que é feito da grande Rússia de Catarina, que se perdeu na História e nunca mais voltou.

Depois, há as magníficas descrições da guerra, as tontarias de soldados e generais, austríacos e russos, as bravuras e as loucuras de uma época onde Napoleão metia medo à Europa.

A tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra é magistral, não se perde nada, tudo se aproveita.

Mas é ao grande mestre russo que se deve a prosa que nos perturba, que nos causa admiração, que nos subjuga docilmente.

Comecei ontem e hoje de manhã já andava a correr as FNACs, à procura dos volumes seguintes, como um doido à procura de droga.

Às vezes, acho que os livros são a minha cocaína, e estas doses estão a saber-me tão bem.

Sinto-me a flutuar num limbo cerebral vertiginoso, entre a Rússia antiga e aristocrática, cheia de príncipes e princesas, e o meu sofá, onde há um fundão com os contornos do meu corpo.

Porra, há tanto tempo que não lia nada assim!

publicado por Domingos Amaral às 16:14 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Sexta-feira, 09.08.13

Viva Obama, alguém que está contra a austeridade na Europa!

Barack Obama falou sobre a Grécia e as suas palavras foram contundentes: a austeridade não vai resolver o problema grego.

Só cortes na despesa do Estado e impostos altos não irão ser capazes de tirar o país da profunda recessão em que está mergulhado.

Obama sabe do que fala.

Também na América, o partido republicano quis ser "austeritário", cortando o deficit e diminuindo a dívida.

Obama foi muito atacado pelos moralistas e pelos austeritários, que acham mais grave existirem dívidas do que desemprego.

Porém, não hesitou, e nunca praticou a austeridade que lhe pediam.

Pelo contrário, tentou estimular a economia com mais despesa do Estado. Subiu os impostos também, mas só para os mais ricos.

O resultado foi bom: enquanto a Europa inteira afocinhava numa recessão, a América começava a sair da crise.

Começava e continua a sair da crise.

Com a ajuda dos estímulos do FED, que injecta mais fundos na economia, o desemprego já desce há muitos meses.

Nada disto foi possível na Europa.

Os alemães, sempre aterrados com o trauma de uma inflação que ninguém vê, impedem o BCE de lançar estímulos semelhantes aos do FED.

E Merkel e seus lugares-tenentes massacraram os pequenos países do Sul com doses cavalares de austeridade.

O resultado é o que se vê.

Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália, Chipre e até a França, não conseguem crescimento decente.

Os pequenos sinais positivos que aparecem são sobretudo isso, pequenos.

A Europa do Sul foi aprisionada na "armadilha da dívida". Faz-se austeridade para baixar a despesa do Estado, mas isso gera mais recessão, e a dívida continua sempre a crescer.

Não há saída desta armadilha assim. Nem as exportações, nem as reformas do Estado, pagam estas dívidas.

As únicas soluções são outras: reestruturação individual ou mutualização europeia das dívidas.

Até a revista "The Economist", paladina do liberalismo económico, não tem dúvidas.

Hoje, o editorial é lapidar: Portugal, Irlanda e Grécia não vão pagar as suas dívidas, os programas de ajustamento, de tão draconianos na sua austeridade, falharam.

Mas, na Europa não há um Obama, e ele aqui não manda quase nada.

É pena.

Com líderes com ideias erradas, a Europa é incompetente, e por isso fica para tráz. 

publicado por Domingos Amaral às 12:57 | link do post | comentar | ver comentários (7)
Quinta-feira, 08.08.13

Marca da semana: Meo

Acho que se pode dizer que o mundo das marcas em Portugal não seria o mesmo sem a Meo. 

É deveras impressionante a força e a presença da marca, por todo o lado, da televisão ao futebol, dos concertos à noite. 

Passada a fase de lançamento, poderia pensar-se que a marca ia apenas manter a sua visibilidade, tal como fazem muitas outras.

Porém, não é isso que se passa, e a marca Meo continua a revelar um enorme ambição e um desejo permanente de conquista de consumidores.

Há uns meses, vimos o Pavilhão Atlântico mudar de nome, tornando-se na Meo Arena, um bocado à semelhança de muitos pavilhões desportivos americanos, ou mesmo estádios, que têm o nome do patrocinador.

Depois, manteve-se a aposta na noite algarvia, este ano ainda mais forte.

Já existia o Meo Spot em Portimão, um dos points obrigatórios para quem gosta de dança e noitadas, e agora há também o Meo Spot Quinta do Lago, no antigo Trigonometria, apostando em captar um tipo de público que com os anos se afastou daquelas terras.

Veremos se o local ressuscita, mas a aposta é boa.

Um pouco mais para cima, na Costa Alentejana, já se fazem ouvir desde ontem os acordes musicais do Meo Sudoeste, um festival com uma tradição riquíssima, ao qual a marca se associou há já uns anos, confirmando que este é um nicho de mercado em que todos querem estar. (A Vodafone anunciou recentemente que será a principal patrocinadora do Rock in Rio Lisboa 2014). 

Além disso, a Meo continua no futebol, com a associação essencial aos três grandes clubes portugueses, Benfica, FC Porto e Sporting.

Por fim, há as omnipresentes campanhas publicitárias na televisão, com a presença dos Gatos Fedorentos.

Embora a actual campanha me pareça menos bem conseguida que as anteriores, a sua persistência e permanência aumentam a visibilidade da marca de uma forma muito consistente. 

Qualquer pessoa que viva em Portugal, ou que cá esteja durante o Verão, não pode deixar de reparar na Meo, essa é que é essa. 

publicado por Domingos Amaral às 11:39 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 07.08.13

O Governo não acerta nas previsões, nem mesmo nas boas!

Há dois meses, quando saíram os números do desemprego, Passos Coelho informou o país que "o desemprego ia continuar a subir"!

Lançou uma mensagem de duro realismo, como quem diz que não valia a pena ter grandes esperanças.

Contudo, o desemprego este mês começou a descer, e está agora em 16,4%, o que ainda sendo muito alto, é bom sinal.

Mais uma vez, este Governo não conseguiu acertar nas previsões. 

A sensação com que ficamos é que os modelos económicos em que o Governo se baseia para fazer as suas estimativas para a economia devem estar todos bastante baralhados. 

Quando foi para estimar o impacto das medidas de austeridade, saiu tudo ao contrário, e a recessão foi muito mais forte do que o Governo esperava.

Agora, que as coisas parecem estar a melhorar, o radar governamental não capta esses sinais, e Passos achava que o desemprego ia continuar a subir "até ao final do ano"!

Seja como for, isso não é o mais importante.

O mais importante é que o desemprego, pela primeira vez em quase dois anos, desceu.

A economia do país parece estar finalmente a sair do ponto mais negro e mais profundo, da sua espiral depressiva.

Além de algumas ajudas que outros países nos estão a dar (a Espanha está um pouco melhor, a Alemanha também vai andando), há boas razões para pensar que a estragégia orçamental de 2013, que passou pelo IRS aumentar muito, depois do chumbo do Tribunal Constitucional ao corte nos subsídios, foi mais eficaz do que a estratégia de 2012, onde só houve cortes nos subsídios, e não houve aumentos de IRS.

A economia portuguesa absorve com muito mais facilidade uma mexida no IRS, mesmo que seja um "aumento enorme de impostos", do que cortes nos subsídios de férias e Natal dos funcionários públicos; ou alterações no IVA da restauração e outros sectores.

Ainda bem portanto, como aqui já escrevi, que o Tribunal Constitucional também vetou os cortes nos subsídios para este ano, impedindo assim mais recessão.

Por outro lado, a descida dos preços em Portugal parece estar a atrair muitos turistas, e parece haver mais actividade económica por causa disso, pelo menos é essa a sensação de quem passeia por Lisboa.

O que ninguém sabe, é se isto chega.

É evidente que é fundamental o país sair de uma recessão profunda. Ninguém pode aceitar que Portugal tenha um crescimento negativo de menos 3%.

Mas, sair de uma recessão profunda não é suficiente.

Para pagar a sua colossal dívida, Portugal precisa de crescer muito e 0,4 % ao trimestre não é muito.

Já é alguma coisa, mas não é quase nada.

O país melhorou, mas quem pensar que já saímos da "armadilha da dívida" está a fantasiar.  

publicado por Domingos Amaral às 11:56 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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