Terça-feira, 04.02.14

Os mirones do mar

Aqui há uns anos existiam os mirones dos acidentes de viação.

Sempre que existia um, numa estrada ou mesmo numa auto-estrada, lá surgiam centenas de pessoas a abrandar, a sair dos carros, a parar para ver.

Agora, há os mirones do mar, que mal se sabe que as ondas estão fortes correm para os paredões na esperança de ver o espectáculo.

De telemóvel na mão, com a câmara fotográfica ou o vídeo ligado, armados em reporteres domésticos, com a secreta ambição de conseguirem bater um qualquer recorde de visualizações no You Tube, lá vão os portugas a correr para a borda de água.

Ontem, julgo que era na Nazaré, havia magotes deles, à beira mar, à espera que viessem as "ondas". 

Até carrinhos de bebé se viam, prontinhos para receber a espuminha do mar.

Há uma espécie de irresponsabilidade meio tonta, mas às vezes corajosa, em ir ver as ondas chegar.

O mirone do mar não é o mesmo que vai para Nazaré, ver o McNamara, pois isso não tem piada nenhuma, não há emoção.

O surfista está lá ao longe e não há perigo nenhum para a assistência.

Não tem piada!

O mirone do mar aprecia outras coisas: vagalhões enormes a lamber molhes e paredões; massas de água semi-tsunâmicas a varrerem a praia; o perigo da onda colher o café Raio de Sol ou o restaurante Massas do Mar!

Mas, sobretudo, o que o mirone do mar mais gosta, o que verdeiramente o excita é ver a dona Adelaide ou ou Rudolfo a fugirem à frente da onda!

Isso é que é uma grande alegria!

Então se alguém der um tralho e ficar coberto de espuma, ou viajar uns metros empurrado pela corrente, isso é que é uma reinação!

O mirone do mar delicia-se com este tipo de delícias do mar.

O que valem os camarões ou as santolas comparadas com quatro carros arrastados e restaurantes totalmente destruídos?

Ninguém vê videos no You Tube de pessoas a comer camarões, mas o Zeca teve mais de 45 mil visualizações e 3 mil likes quando mostrou o vídeo dele a correr pelo paredão à frente dos vagalhos!

Enfim, agora que estamos no inverno e não se pode tomar banho na praia, ao menos podemos ir ao parque de diversões "MegaOndas ".

No "MegaOndas" não há brincadeiras como o "snorkeling", a banana, ou o paddling, mas há o "Tombo Molhado", o "Aí vem Ela" ou o "Seja um Usain Bolt do Areal!"

Enfim, nada como um português para tornar o Inverno uma estação verdadeiramente interessante! 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:02 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 16.08.13

As nossas praias são parques temáticos

Hoje, estar numa praia do Algarve é como visitar um parque temático desportivo.

Mente sã em corpo são.

Na areia, há quem jogue raquetes, futebol, vólei, ou quem faça skiming à borda de água.

Ainda existem, é evidente, as atividades mais antigas, como a corrida ou o passeio à borda de água.

Mas o modernismo chegou, e há já belas massagens em barraquinhas, de meia hora ou 50 minutos.

Depois, podemos ir para a água de gaivota a pedais, de colchão, de caiaque. 

Há também o surf (raro, pois há poucas ondas), e em dias de vento o windsurf (fora de moda), ou o kyte surf (em alta).

Descoberto recentement, o paddling também já faz a sua aparição, e os seus praticantes solitários às vezes lembram gôndolas de Veneza, outras canoas dos arrozais do Vietnam. 

Embora agora já a uma distância bem mais razoável do que acontecia no passado, cruzam o mar motas de água e jet-skis, sempre barulhentos demais.

Os barcos de serviço puxam bóias, pneus gigantes, bananas, tudo cheio de pessoas que gritam, excitadas.

Uma vez por outra, ainda se vê uma pessoa a fazer ski aquático, mas também está claramente fora de moda.

Bem mais fácil é ver um páraquedas a levantar, fazendo subir dois candidatos a "rangers de Agosto", que gostam de molhar os pés e as pernas vindos do ar.

No horizonte, há veleiros de velas recolhidas enquanto a bordo se come e bebe, ou ainda barcalhões de milionários, tipo Saint Tropez, cujos tripulantes só vêm a terra para almoçar a meio da tarde.

E, como se isto tudo não fosse suficiente, há avionetas constantes no céu, a anunciarem grandes festarolas para a noite, com DJ´s de nomes estranhos, cheios de consoantes e em inglês.

Em poucas horas, contei 15 delas, puxando longos avisos de que há sítios "a bombar" até altas horas. 

E, se pensam que isto tudo junto é desagradável, estão enganados.

Uma praia é um hino à boa saúde, ao desporto, à actividade.

Mente sã em corpo são, é isso que são as nossas praias.

Embora me pareça que falta ainda um bom serviço de bar, com caipirinhas a serem servidas à borda de água.

Aí sim, o parque temático estaria completo.  

publicado por Domingos Amaral às 13:11 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 18.10.12

A alma de um país

Um dos mais graves erros deste governo foi ter aumentado o IVA na restauração, passando-o para a taxa máxima de 23 por cento. A restauração é uma parte da nossa alma enquanto nação. Como qualquer povo latino, adoramos comer, adoramos estar à mesa, adoramos ir à procura de novos prazeres em novos locais, adoramos tascas e barzinhos, adoramos cafés e pastelarias. Comer, o ato em si, mas também o ato social de comer, o que ele implica de reunião, de encontro com os outros, de ligação aos amigos, aos companheiros de trabalho, à família, faz parte da nossa forma de viver, do nosso "lifestyle".

Não há português que não adore um bom peixinho grelhado, umas prateadas sardinhas, um consistente bife com batatas fritas a boiar em molho, uns delicados filetes, umas robustas favas, um multidisciplinar cozido ou uma rica caldeirada. Nós adoramos comer, acompanhar a comida com um saboroso vinho ou uma fresca cerveja, enquanto falamos dos amores e desamores dos que nos rodeiam, da telenovela de ontem, do jogo que aí vem, ou da última intriga que corre, como um foguete descontrolado, no nosso local de trabalho. Para nós, comer é viver, é à mesa que nascem risos e gargalhadas, é à mesa que se muda o destino do país em dez segundos, e muitas vezes é à mesa que nos apaixonamos por aqueles olhinhos que, brilhantes, nos sorriem. 

É por isso que a "restauração" não é um sector de actividade qualquer. A "restauração" somos nós, é Portugal que vive todos os dias, é a nossa forma preferida de existir em conjunto. Os ingleses e os irlandes encontram-se nos pubs, nós nos restaurantes, e só nos levantamos da mesa por bons motivos. Para levantar da mesa muitos portugueses é preciso um "bulldozer", ou uma grua, que muitas vezes tem duas pernas e é bem gira, ou está em casa à nossa espera, deitadinha na cama. E é por essas e por outras que a "restauração" tem de ser estimada por nós, enquanto sociedade. Sufocar a "restauração" é, como dizia Souto Moura, tirar o "oxigénio de uma sala que está cheia", é causar um dano a uma parte da nossa alma. 

Enquanto portugueses, devemos orgulhar-nos da nossa "restauração", protegê-la, incentivá-la, porque ela é um bocado de nós, e ainda por cima um bocado bom!

No meio desta crise grave, há sectores "estratégicos" que devem ser estimados e ajudados, não só porque geram mais emprego, mas sobretudo porque nos dão orgulho e auto-estima. O turismo, a restauração, o desporto, o mar, não são apenas meros "sectores de actividade", são pilares essenciais da nossa identidade, e é por isso que se transformaram também em fundações da nossa economia. Se não os tratarmos bem, sobretudo nestes momentos de crise, castigamo-nos a nós próprios, chicoteamo-nos nas costas, como os loucos nas procissões das Filipinas, e ficamos mais feridos e mais pobres de espírito. 

Quando um estrangeiro vem a Portugal, é bom que goste de comer por cá, saboreando as nossas riquezas gastronómicas, é bom que goste de descobrir hotéis e pensões onde é bem tratado, é bom que goste de jogar golfe ou ver uma entusiasmante partida de futebol, é bom que aproveite quilómetros e quilómetros das melhores praias da Europa. Por mais que a austeridade seja necessária, é preciso apoiar a nossa identidade especial, aqueles que são os "sectores" onde somos bons e geramos riqueza. A cegueira deste governo, que pulverizou com Iva vários desses sectores, é uma triste visão do futuro, e é um atentado à nossa maneira de viver. Era essencial que isso mudásse, mas da maneira que estão as coisas...  

publicado por Domingos Amaral às 11:13 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Domingo, 15.07.12

Praia Verde

 

Para quem tem uma família grande e crianças pequenas, como é o meu caso, a Praia Verde é uma boa alternativa no Algarve. O mar é calmo, a praia não é demasiado grande, o ambiente é quase familiar e Monte Gordo fica a uma distância de segurança relevante, embora consiga estragar um bocado a paisagem para o lado esquerdo da praia. Este ano, já entrou um levante bem vindo, a água do mar começou a aquecer, embora esteja ainda com bastantes algas, e a Nortada que normalmente assola Portugal inteiro não passa agora de uma distante má memória. Prevejo umas boas férias de Verão.

publicado por Domingos Amaral às 23:39 | link do post | comentar
 

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