Tolstói ou o prazer de reler os clássicos
Não sei bem porquê, olhei para a minha estante e vi um livro: "Guerra e Paz", de Tolstói.
Era apenas o primeiro volume de quatro, na edição da Presença.
De repente, deu-me uma enorme saudade do tempo em que lera aquela saga, talvez com 18 ou 20 anos.
Mas lembrei-me de que já não me lembrava bem dos detalhes, dos personagens, da trama.
Apenas ficara, retida na minha memória, a ideia de que era um longo e fascinante romance, passado na Rússia, no tempo da Napoleão.
Abri o livro e...ainda não parei de ler.
Tolstói é um génio, agarra-nos pelos colarinhos e não larga. É como um cão, que nos ferra o cérebro.
São Petersburgo...
Apetece correr para lá, tentar descobrir onde vivia Pierre, o filho bastardo do conde Bezúkhov, tentar descobrir o que é feito da grande Rússia de Catarina, que se perdeu na História e nunca mais voltou.
Depois, há as magníficas descrições da guerra, as tontarias de soldados e generais, austríacos e russos, as bravuras e as loucuras de uma época onde Napoleão metia medo à Europa.
A tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra é magistral, não se perde nada, tudo se aproveita.
Mas é ao grande mestre russo que se deve a prosa que nos perturba, que nos causa admiração, que nos subjuga docilmente.
Comecei ontem e hoje de manhã já andava a correr as FNACs, à procura dos volumes seguintes, como um doido à procura de droga.
Às vezes, acho que os livros são a minha cocaína, e estas doses estão a saber-me tão bem.
Sinto-me a flutuar num limbo cerebral vertiginoso, entre a Rússia antiga e aristocrática, cheia de príncipes e princesas, e o meu sofá, onde há um fundão com os contornos do meu corpo.
Porra, há tanto tempo que não lia nada assim!