Quinta-feira, 02.10.14

O Benfica levou um duche de água fria

Ontem, em Leverkusen, o Benfica desceu à terra, e deixou muitas dúvidas sobre o seu real valor.

Foi dos piores jogos de sempre da era europeia de Jorge Jesus, ao nível daquele que, faz agora um ano, o Benfica disputou em Paris, contra o PSG, que também foi uma miséria.

A derrota foi justíssima e a exibição paupérrima, e ficaram à vista as deficiências da equipa.

Jardel está anos luz abaixo de Garay, Samaris e Cristante ainda não se adaptaram ao lugar, Talisca eclipsou-se, e falta um avançado de grande qualidade à equipa. 

 

Os benfiquistas não se devem esquecer que a vantagem que temos no campeonato é mais fruto da incompetência de FC Porto e Sporting, do que nosso mérito.

A verdade é esta: este ano, sempre que jogámos contra equipas mais organizadas, não conseguimos vencer. As vitórias aconteceram em cinco jogos fáceis, contra Paços de Ferreira, Boavista, Setúbal, Moreirense e Estoril.

Contra o bem organizado Rio Ave, na Supertaça, o Benfica só venceu nos penalties. Além disso, empatou com o Sporting em casa, e perdeu sem apelo contra Zenit e Leverkusen.

 

Portanto, a equipa resolve o fácil, mas não o difícil, o que significa que não é ainda uma grande equipa.

Quatro pontos de avanço não são nada, e não nos iludamos, este ano vai ser muito mais difícil ser campeão ou mesmo ir à Liga Europa, pois para a Champions é claríssimo que não temos andamento. 

publicado por Domingos Amaral às 09:46 | link do post | comentar
Sexta-feira, 19.09.14

Histórico: Benfica e Sporting dão lucro no mesmo ano!

Há muitos anos que tal não se verificava, e por isso trata-se de um momento histórico para os clubes de Lisboa.

Tanto a SAD do Benfica como a SAD do Sporting deram lucro na época 2013/2014.

É uma raridade cada um deles dar lucro, e é uma raridade darem ambos lucro ao mesmo tempo, mas só pode ser considerado bom sinal.

 

Comecemos pelo Sporting.

O valor dos lucros é ainda curto, 368 mil euros, mas o que é importante de realçar é a grande recuperação que o clube consegue apenas numa época.  

Em 2012/2013, os prejuízos tinham sido de 43,8 milhões de euros, uma tragédia colossal.

Ora, em apenas uma época, o clube consegue inverter de negativo para positivo, o que é notável.

 

Como eu sempre aqui escrevi, Bruno de Carvalho tem tomado excelentes medidas de gestão.

Como gestor, tem dado provas de saber o que está a fazer, embora a sua imagem mediática ainda tenha muito para melhorar.

A poupança nos gastos operacionais é enorme, tendo o clube gasto menos 36 milhões de euros em despesas gerais, e menos 3 milhões de euros em gastos financeiros.

Como as receitas operacionais também subiram um pouco, mais 5 milhões de euros, o resultado final é positivo.

 

Portanto, o clube não só conseguiu uma época desportiva bastante bem sucedida, tendo ficado em 2º lugar no campeonato, e garantido a classificação directa para a Champions; como conseguiu uma boa época económica, estabilizando e estancando a sangria dos anos anteriores.

Goste-se ou não de Bruno de Carvalho, a verdade é que nas duas frentes ele foi bem sucedido, conseguindo um início de um pequeno círculo virtuoso que o clube já não vivia há vários anos.

 

O grande desafio é a continuação, mas pelo que tenho visto, o Sporting não perdeu a cabeça, e ainda bem. 

Não se pôs a gastar à louca em contratações, e tentou reforçar o plantel dentro das suas possibilidades.

Nani é um bom jogador, e Marco Silva, apesar dos problemas iniciais, parece ser bom treinador.

Espera-se é que o Sporting não entre de novo em auto-destruição ao primeiro solavanco, pois este é o caminho, mas não se pode ter pressa.

 

Passemos ao Benfica. 

Como aqui já tinha previsto, este foi o melhor ano de sempre do Benfica em quase três décadas.

Desportivamente, ganhou todos os títulos nacionais (Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça) e ainda foi finalista na Liga Europa.

E financeiramente, regressou aos lucros, tendo obtido um resultado positivo de 14,1 milhões de euros.

Depois de cinco anos consecutivos de prejuízos, o Benfica volta ao lucro, e a subida é muito relevante, pois o ano passado tinham sido 10,3 milhões de prejuízos.

 

Os grandes responsáveis por estes resultados positivos são 3: a Benfica TV, as provas europeias, e a venda de jogadores.

Nos direitos televisivos, o Benfica passou de uma facturação de 8 milhões no ano anterior, para 28,1 milhões de euros, mais que triplicando as suas receitas neste item.

Os prémios da UEFA, da fase de grupo da Champions, da Liga Europa e ainda a receita por a final da Champions ter sido na Luz, ultrapassaram os 22 milhões de euros.

Com estes dois números tão relevantes, o clube ultrapassou pela primeira vez na sua história os 100 milhões de euros em receitas operacionais, o que é um feito extraordinário num mercado tão curto como o português.

 

A isto ainda há que somar as receitas extraordinárias.

Na venda dos jogadores, foram essenciais as transacções de Matic, Rodrigo e André Gomes, logo em Janeiro, o que representou uma receita líquida da SAD de mais de 58 milhões de euros, aos quais ainda há a acrescentar as vendas de Melgarejo, Rodrigo Mora, Garay e Kardec.

Tudo somado, as receitas chegam ao notável número de 184,7 milhões de euros, o que confirma a existência de um círculo virtuoso no clube.

 

Houve investimento forte, houve títulos, houve receitas fortes, e por isso o clube está de boa saúde e recomenda-se.

O grande desafio deste ano é repetir os bons resultados, o que não será fácil, pois o FC Porto investiu muito e tem este ano um plantel mais forte que o Benfica. 

Será que a estabilidade e os novos jogadores vão conseguir tão bom como no ano passado?

Teremos de ver como tudo acaba, por agora é cedo.  

publicado por Domingos Amaral às 10:45 | link do post | comentar
Segunda-feira, 08.09.14

Paulo Bento e a sua selecção mediana

Sempre que oiço os críticos de Paulo Bento, dou-lhes total razão, mas logo acrescento a pergunta: e quem seleccionavas tu?

As pessoas ficam atrapalhadas, falam em Quaresma, Carlos Mané, até num tal de Tomané que joga no Guimarães, e eu pasmo...

Importam-se de repetir? Acham mesmo que a seleção nacional ficaria melhor com um Ruben Neves, um Adrien, um Eliseu?

Talvez valha a pena descer um pouco à terra, digo eu...

 

A realidade é dura, mas há que enfrentá-la, e a realidade é que, por mais convocatórias que cada um de nós faça, não alteramos a coisa.

Hoje, não há em Portugal jogadores suficientes para construir uma grande seleção, essa é que é essa.

O tempo em que éramos uma das seis ou sete melhores seleções do mundo já passou.

Não há jogadores como Figo, Rui Costa, Deco, Maniche, Sérgio Conceição, Paulo Sousa, Ricardo Carvalho, e mais alguns.

Com a excepção Cristiano Ronaldo, e uma ou duas vezes Fábio Coentrão, o resto da seleção vale pouco.

E não há substitutos que se vejam, por mais que puxemos pela cabeça.

 

Quem devia ser a dupla de centrais? Tire-se Pepe, Costa e Bruno Alves, e quem resta?

Neto? Nem joga no seu clube...Vezo? Ouvi dizer que vai ser emprestado pelo Valência...

E nas laterais, se não jogar João Pereira, quem temos? André Almeida? Cedric? 

Passemos ao meio-campo: acham mesmo que Ruben Neves iria transportar-nos para o céu, com Adrien ao lado?

E quem tiravam? William?

 

Nani ainda mexe, mas Quaresma seria melhor, apesar de nem jogar no FC Porto?

E queriam Bebé, que não é titular no Benfica, ou Mané, que não é titular no Sporting?

Pois é, a realidade é dura.

Podemos criticar Paulo Bento, e eu também acho que ele não tem andado bem desde Novembro, mas será que um treinador diferente conseguia mudar o panorama geral de fraqueza?

 

Temos infelizmente todos de meter na cabeça que a nossa seleção caiu muito de qualidade, e por isso não vale a pena ter muitas aspirações.

Somos, e seremos nos próximos cinco ou dez anos, uma seleção mediana, como fomos nos anos 70 e 80, capaz de um inesperado brilharete, mas com uma qualidade geral muito fraquinha.

São as seleções medianas que perdem com as fracas, como ontem aconteceu com a derrota com a Albânia, e não conseguem vencer as grandes, como aconteceu no Mundial com a derrota com a Alemanha.

 

É triste mas é a realidade, e mandar embora Paulo Bento só vai alimentar a ilusão de que as coisas podiam ser diferentes.

Não podiam, nem serão. A mediania regressou, não há volta a dar-lhe.

O único conforto é que não somos os únicos.

Itália, Inglaterra, Polónia, Bulgária, Roménia, República Checa, e até a França e talvez em breve a Espanha, todas foram grandes seleções no passado, mas no presente não passam da vulgaridade.

É assim a vida, habituem-se.  

 

publicado por Domingos Amaral às 11:24 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 23.06.14

A selecção é igual ao país: viveu acima das suas possibilidades

Quem são os portugueses para acharem que vão ganhar 5-0 ao Gana?

É preciso ter um descaramento dos diabos para, depois de levar 4 bolachas da Alemanha, e não ter sofrido um KO dos Estados Unidos por milagre, ainda ter o atrevimento para achar que vamos golear o Gana!

Será que os portugueses têm andado a ver o mesmo Mundial que eu?

O Gana jogou muito bem contra os Estados Unidos, mas teve azar e perdeu, e jogou muitíssimo bem contra a Alemanha, e merecia ganhar mas empatou.

Ganhar ao Gana, com a equipa que temos? Deve ser piada.

Teremos muita sorte se não formos nós a ser goleados pelo Gana, e o mais provável é perdermos o jogo, pois jogamos muito pior que eles.

 

Aliás, o golo de Varela só serve para prolongar uma agonia que já se sente desde os 4-0 com que a Alemanha nos brindou.

É um golo que dá jeito para muita gente se iludir com essa disparatada hipótese, a de continuar, depois de vencer o Gana por não sei quantos.

Importam-se de repetir?

Será que ainda ninguém percebeu que ganhar, mesmo por 15-0, não vai servir de nada?

É evidente que Alemanha e Estados Unidos vão jogar para o empate, e assim passam ambos, sendo absolutamente indiferente o resultado do Portugal-Gana.

Sim, eu se fosse a eles também "combinava" empatar, e não me preocupava mais com o assunto.

Klinsman e Klose são amigos, a Alemanha fica em primeiro, os Estados Unidos em segundo, empate a zero, e não se fala mais nisso.

Há quatro anos, foi o que nós fizémos também, empatando 0-0 com o Brasil no último jogo, e deixando de fora a Costa do Marfim.

 

A dura verdade é esta: ao final de quatro jogos, pode-se dizer que Portugal é a pior equipa do seu grupo.

Fizemos uma exibição miserável contra a Alemanha, e apenas sofrível contra os Estados Unidos.

Temos uma defesa que mete água, um meio-campo amorfo, e um ataque irregular.

Quando nos comparamos com os outros, saímos naturalmente a perder, e por isso não deve ser surpresa para ninguém o regresso a casa.

 

Temos todos de meter na cabeça que o ciclo de ouro da Seleção Nacional há muito que acabou.

Desde 2008 que temos vindo sempre a descer de qualidade, e a única surpresa foi o Euro 2012, onde conseguimos ser inesperadamente bons.

No resto, têm sido qualificações sempre em esforço, nos play-offs (2008, 2010, 2012, 2014), e fases finais fraquitas (2008 e 2010) ou muito fracas (2014).

A seleção não tem grandes jogadores ao seu dispôr, o talento é pouco, e ter Ronaldo não chega.

Para mais, este ano chegámos ao Brasil com demasiados jogadores fora de forma ou lesionados.

Pepe, Coentrão, Meireles, Veloso, Hugo Almeida, Hélder Postiga, Nani, Ronaldo, já estavam "chochos" quando aterraram em Campinas e só pioraram.

Como é que se pode aspirar a alguma coisa quando metade dos titulares deviam estar na enfermaria e não no campo?

 

Cristiano Ronaldo tem razão: há selecções muito melhores que nós.

Na verdade, são quase todas melhores que nós. Tirando os Camarões e a Coreia do Sul...

Lamento é que esse discurso de humildade não tenha sido feito por todos desde que se juntaram em Óbidos.

É pena que todos (incluindo Federação e Paulo Bento) tenham andado a "viajar na maionese", iludindo-se a si próprios e a nós.

Mas, num país que andou tanto tempo a viver acima das suas possibilidades, não é de estranhar que também a seleção tenha andado a viver claramente acima das suas possibilidades.  

publicado por Domingos Amaral às 11:08 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 19.06.14

Mourinho tem toda a razão

Hoje, os jornais dão conta de uma grande indignação que vai pelas bandas de Campinas.

Segundo consta, ninguém gostou das afirmações de Mourinho sobre o Portugal-Alemanha, e tudo rosna baixinho contra o "special one".

Dirigentes, treinador, equipa técnica, jogadores, elegeram-no agora como o tipo mau, e destilam ódiozinho contra ele.

Lamento dizer à Seleção que Mourinho tem toda a razão, e quem em vez de o odiar, a Seleção devia refletir no que ele disse.

 

E o que disse Mourinho?

Primeiro, que não esperava um resultado tão mau, uma derrota por 4-0. Nisso, não se distingue em nada dos tais 15 milhões de portugueses.

Depois, criticou fortemente Pepe, dizendo que ele, ainda por cima não sendo nascido em Portugal, devia sentir mais pressão para se portar bem.

Meus amigos, conheço muito português que acha que Pepe não mais devia jogar pela Seleção Nacional, devido ao seu vergonhoso comportamento.

Mourinho não foi tão longe, mas como foi o único comentador que não apaparicou Pepe, ou não disse mal do árbitro, todos o odeiam em Campinas.

É mais um sinal de que o juízo da Seleção se está a perder muito rapidamente.

 

Mas, Mourinho foi ainda mais longe e tocou com o dedo na ferida.

Portugal, em fases finais, não tem marcado golos às grandes equipas.

Foi assim no Mundial 2010, ficou a zero contra o Brasil e contra a Espanha.

Foi assim no Euro 2012, ficou a zero contra a Alemanha e contra a Espanha.

Voltou a ser assim este ano, a zero contra a Alemanha.

Ora, isto significa que a equipa não é capaz de mais, vence adversários mais fracos, mas não vence os mais fortes.

 

É isto motivo para odiar Mourinho?

Não, ele apenas constata a verdade.

Porém, se há coisa que os portugueses odeiam é a verdade.

Os portugueses vivem o futebol em negação, negam a verdade constantemente.

Acham que são óptimos, sonham, e depois quando a dura realidade lhes bate à porta, a culpa das derrotas é do árbitro, nunca nossa. 

 

Ainda bem que Mourinho fala a verdade, diz a verdade, pois isso só mostra que percebe imenso de futebol.

Infelizmente para todos nós, na Seleção está tudo a viver em estado de negação, e ainda há gente que acha que temos equipa para ser campeã do mundo.

Pois...Ponham os olhos na Espanha e vejam o filme que nos pode acontecer no Domingo.

publicado por Domingos Amaral às 11:10 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 18.06.14

O pior de tudo é o "goal average"...

Até agora, ouvi muita gente a falar nos "danos psicológicos" de perder por 4-0, mas ouvi poucos a referir o que interessa mesmo.

Nos Mundiais, desde 1998, o primeiro critério de desempate não é os resultados entre as equipas, mas sim a diferença de golos.

Ou seja, o "goal average", para os amigos.

Ora, perder 4-0 contra a Alemanha não é apenas perder 3 pontos, nem sofrer psicologicamente.

Perder 4-0 é cavar um fosso de -4 no "goal average", o que é terrível.

 

Aparentemente, ninguém deve ter pensado nisso antes do jogo.

Paulo Bento entrou para ganhar, esquecendo-se que teria sido bem mais inteligente jogar lá atrás, e sofrer poucos golos, como aconteceu há dois anos, quando perdemos apenas por 1-0.

Acho que faz falta um SIF, um Serviço de Informações de Futebol, que informe os treinadores destas coisas, para eles perceberem que perder por 1 não é o mesmo que perder por 4 numa prova onde o "goal average" é essencial.

Sim, eu sei que se Portugal ganhar os 2 jogos segue em frente, pois faz seis pontos e...

Será que segue mesmo?

Não caros amigos, mesmo com 6 pontos pode voltar para casa.

 

Querem ver um cenário em que isso acontece?

Imaginem que a Alemanha ganha ao Gana por 2-0. Fica com 6 pontos e +6 em golos.

Imaginem também que Portugal vence os Estados Unidos por 2-1.

Portugal ficaria com 3 pontos e -3 em "goal average" e os Estados Unidos manteriam os 3 pontos e ficariam com 0 de "goal average".

 

E se na terceira jornada a Alemanha perder com os EUA por 1-0?

É improvável, mas pode acontecer, e nesse caso teríamos Alemanha com 6 pontos e +5 golos, e EUA com 6 pontos e +1 em golos.

Estão a ver o problema?

É que, nessa situação Portugal teria de vencer no mínimo por 4-0 o Gana, para empatar com o "goal average" americano.

Acham fácil?

Eu não acho, e por isso é que digo que Paulo Bento devia ter escolhido a contenção e não o desafio à Alemanha.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 12:52 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 17.06.14

Há quatro anos, a Argentina também levou 4

Há quatro anos, também a Argentina de Maradona levou 4 da Alemanha, nos quartos-de-final do mundial na África do Sul.

O primeiro golo foi logo aos 3 minutos, por...Muller, mas depois a história foi um pouco diferente.

A Argentina foi tentando, e na última meia hora arriscou demais, jogou aberto e...lixou-se.

A Alemanha marcou 3 golos e arrumou para sempre com a carreira de Maradona como treinador.

 

Esta recordação devia ter servido como lição para Portugal, na abordagem do jogo de ontem.

Contra a Alemanha, só vence quem defende muito bem, fechado lá atrás, como a Itália, em 2012, ou a Espanha, em 2010.

Paulo Bento não aprendeu essa lição nos jogos dos outros, nem no seu próprio jogo contra a Alemanha.

Há dois anos, perdemos por 1-0, o que não foi nem fatal, nem humilhante.

Desta vez, tudo foi diferente, e tudo começou com uma péssima escolha de estratégia.

Portugal quis discutir o jogo de igual para igual, e com a Alemanha isso é sempre fatal.

Em vez de jogarmos fechados, lá atrás, a deixar o tempo passar, armámo-nos em carapaus de corrida e tramámo-nos.

 

Mas, esse não foi o único erro grave.

Olhando para a nossa equipa, é impressionante constatar que mais de metade dos 11 tiveram imensos problemas físicos nos últimos meses.

Pepe esteve lesionado, Coentrão e Hugo Almeida também, Meireles idem, Ronaldo é o que se sabe e Nani quase não jogou em seis meses.

Faz algum sentido entrar em campo com tantos problemas físicos e tanta falta de ritmo?

Pepe, Coentrão, Meireles e Hugo Almeida não deviam ter jogado, e Ronaldo e Nani só devem jogar porque sem eles não somos nada.

 

Se juntarmos estes dois erros - a estratégia aberta e a debilidade física - percebemos que Paulo Bento desta vez errou em toda a linha.

Depois, a somar a isso, apareceram os erros individuais, alguns escandalosos e incompreensíveis.

Rui Patrício: dois pontapés oferecidos aos alemães, que só não deram golo por milagre, e uma fífia que deu a Muller o 4-0.

João Pereira: uma falta clara, que deu um penalty.

Bruno Alves: comido no 2-0 no ar, comido no 3-0 no chão.

Pepe: comido no 2-0 no ar, cabeçada a Muller e expulsão.

Coentrão: uma nulidade no ataque e na defesa.

André Almeida: uma fífia no 4-0.

Miguel Veloso: uma nulidade absoluta.

Raul Meireles: outra nulidade absoluta.

João Moutinho: o seu pior jogo de sempre na selecção.

Na verdade, foi a malta do ataque a única que esteve razoável, sobretudo Nani, mas também Ronaldo e Éder tentaram lutar.

 

E agora?

Bem, além de todas estas falhas, houve ainda uma falha clara de informação.

Será que na seleção alguém sabe que o primeiro critério de desempate é o "goal average" e não os resultados entre as equipas?

Sofrer 4 golos e não marcar é um passo na direção do abismo.

Agora, não existe apenas a pressão de ter de ganhar aos Estados Unidos, existe também a obrigação de marcar vários golos, pois eles têm +1, e nós temos -4, no goal average.

Eu sei que ainda é cedo, que se ganharmos os dois jogos seguimos em frente e essas tretas todas, mas depois da maior derrota de sempre, as coisas ficaram mesmo pretas.

Até ontem, o Top 3 das derrotas humilhantes de Portugal eram o Portugal-Marrocos em 86 (1-3); o Portugal-Coreia, em 2002 (0-1); e o Portugal-Estados Unidos, em 2002 (2-3), mas esta derrota entrou directamente para o primeiro lugar.

Mesmo que Portugal avance para a fase seguinte, o que eu acho muito difícil, esta nódoa já ninguém a tira da nossa memória. 

publicado por Domingos Amaral às 11:59 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 16.06.14

Como dizia o saudoso Torres, deixem-me sonhar!

É este o dia porque todos esperamos há meses.

O dia em Portugal entra em campo, no Mundial do Brasil.

Este é o dia com que todos sonhámos, e agora está aí, a hora aproxima-se.

 

Hoje, às 17h, tudo pode começar a ser lindo, ou tudo pode começar a ser difícil.

Mas, pelo menos Ronaldo está em forma, sente-se bem.

Quem tem na sua equipa o melhor jogador do mundo, tem direito ao sonho, direito à esperança.

 

Gostei de ouvir Ronaldo ontem há noite.

Antes, ele era um miúdo, um jovem, um ser irreverente.

Mas, cresceu, e hoje está diferente. Já é um Homem, com H grande, amadureceu, sabe o que vale e sabe falar como um líder.

 

Eu também sinto uma onda especial à volta desta seleção, embora não queira iludir-me demais.

No Brasil, não vamos jogar na nossa casa, mas vamos jogar em casa de amigos, a malta sente-se bem, e eles gostam de nós.

O sentimento é pois de esperança, de crença.

 

Sim, tenho os pés assentes na terra, mas como não são os meus pés que vão jogar, mas sim os do Ronaldo, a terra mexe-se quando ele corre, e portanto pode girar à volta do sol de outra forma.

Conseguirá ele tirar o planeta da órbita previsível, criar um mundo novo para nós? 

Ninguém sabe, é muito cedo, ainda quase nada começou.

 

Mas, sinto que o grupo de Campinas está muito unido, com um grande ambiente de equipa, e isso é o mais importante de tudo.

Por isso, como dizia o Torres antes do jogo com a Alemanha, em 85, eu digo o que ele disse e ficou para a história: "deixem-me sonhar"!

Sim, deixem-me sonhar, deixem-nos sonhar a todos, porque temos direito a todos os sonhos este ano.

publicado por Domingos Amaral às 11:40 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 12.06.14

O inenarrável Blatter e os seus mundiais

Blatter vai recandidatar-se à presidência da FIFA, e provavelmente vai vencer.

Os líderes da FIFA têm tendência a eternizar-se no cargo, como se aquilo fosse um posto vitalício.

Por piores que sejam, lá continuam, apesar dos disparates, das péssimas decisões, das suspeitas de corrupção.

A FIFA é uma organização paradoxal: tem um produto espantoso (o Mundial, de quatro em quatro anos), mas é um negócio muito duvidoso.

Hoje, começa mais um Mundial, no Brasil, mas todos temem que as coisas se descontrolem.

Todos, menos a FIFA e o Sr. Blatter.

Ganhe quem ganhar, morra quem morrer, e mesmo que se passe uma revolução nas ruas brasileiras, a FIFA já ganhou o que havia a ganhar.

Receitas de televisão chorudas, contratos de patrocínio fantásticos, sponsors que pagam muito, e mesmo uma parte do preço dos bilhetes, tudo vai para os bolsos da FIFA.

Melhor negócio não há: as receitas são para a FIFA, os custos são para os países organizadores e para os jogadores, que são quem joga e gasta energias.

E, se alguma coisa falhar, a culpa será obviamente do Brasil, que é gente pouco dada ao trabalho, e muito duvidosa.

Os estádios atrasaram? A culpa é do Brasil.

Os aeroportos não estão preparados? A culpa é do Brasil.

Os bilhetes não esgotaram? A culpa é do Brasil.

O sr. Blatter vai apenas amealhar os milhões para a sua organização, e o resto, se correr mal, é culpa do Brasil.

E o Qatar, pergunta-se, é culpa do Brasil?

A FIFA entregou ao Qatar o Mundial de 2022, e já corre para aí muita tinta.

Ao que parece, houve dinheiro à séria a untar as mãos de quem decidiu jogar um Mundial no Verão no Qatar, com 45 graus de calor.

Culpa do Sr. Blatter? Nada disso, culpa de um comité, talvez do Platini, quem sabe do Sarkozy...

O sr. Blatter é inimputável, diz disparates, faz disparates, mas tudo continuará na mesma.

The show must go on... 

publicado por Domingos Amaral às 10:47 | link do post | comentar
Sexta-feira, 23.05.14

Com Champions e Rock in Rio quem vai votar?

Provavelmente, nunca houve em Lisboa um fim de semana assim.

No sábado, temos por cá a final da Champions, no Estádio da Luz, onde estarão milhares de espanhóis, vindos de Madrid e não só.

Para mim, o maior problema não será o trânsito, mas sim a segurança.

Real e Atlético são clubes da mesma cidade, há uma rivalidade fortíssima entre ambos, os adeptos odeiam-se mutuamente, e vai ser um bocado complicado que não existam algumas escaramuças nas ruas de Lisboa.

Imaginem por exemplo que Benfica e Sporting se iam defrontar a Madrid...

Ainda por cima, da última vez que vá vieram, os adeptos do Atlético de Madrid não foram propriamente meigos, e ainda me lembro dos confrontos em Alvalade.

 

Esperemos que a polícia portuguesa, que tem bastante experiência nestas coisas, consiga evitar que os espanhóis se engalfinhem uns nos outros...

Mas, mal acabar a final da Champions, cujos festejos vão durar pela noite fora, começa a malta toda a correr para o parque da Belavista.

Pois é, logo no domingo lá começam os concertos no Rock in Rio, e haverá mais ruas fechadas, mais trânsito, mais malta a andar pela cidade.

Economicamente, tudo isto é muito positivo, mas para muitos moradores será o fim de semana perfeito para ir para fora.

 

O problema são as eleições, que por acaso também calham no Domingo.

O que fazer? Votar ou ir para fora?

Ainda por cima, com o centro-direita envergonhado com os resultados da governação de Passos, e o centro-esquerda nada entusiasmado com Seguro, o mais provável é que o PCP de Jerónimo seja a única força com razões para festejar no Domingo à noite.

A acreditar nas sondagens, nem a derrota de Passos e Portas será muito forte, nem a vitória de Seguro será muito intensa, e por isso as coisas ficarão mais ou menos na mesma.

António Costa terá um fim de semana em grande, com a sua cidade a viver momentos altos, de futebol e música, mas parece-me que ainda não é desta que serão criadas as condições para ele chegar a líder do PS...

publicado por Domingos Amaral às 11:14 | link do post | comentar
 

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