Portugal está na típica "armadilha da dívida".
Se cortar na despesa para fechar o deficit, causa recessão e desemprego, e a dívida pode aumentar porque o PIB cai.
Se estimular a economia, com descidas de impostos, agrava o deficit e a dívida pode aumentar.
Ou seja, façamos o que fizermos, há sempre algum objectivo que falha.
Ou falha o deficit, ou falha o crescimento, ou falha a dívida.
É a "armadilha da dívida" em todo o seu esplendor. Quanto mais pagamos, mais devemos.
Como sair deste imbróglio?
A "austeridade", tão do agrado de Passos, Gaspar ou Merkel, causou muitos danos, com um desemprego altíssimo e várias crises políticas.
Com isso, ganhou-se alguma credibilidade, mas não se alterou a marcha imparável do crescimento da dívida.
Agora, veio um pouco de crescimento económico, com mais turismo e exportações, mas também isso não impede os juros de subirem.
Há um preconceito contra Portugal, como disse ontem Passos Coelho?
O problema é mais profundo do que esse, infelizmente.
Ao contrário do que muitos têm dito nos últimos anos, dentro do euro não há uma solução nacional para a questão das "dívidas soberanas".
Nem Portugal, nem a Grécia, nem o Chipre, nem a Irlanda, têm capacidade para pagar sozinhos a monumental dívida que contraíram.
Estão presos numa armadilha: emitiram dívida numa moeda que não controlam, e a desconfiança que sobre eles paira é permanente.
Sozinhos, jamais sairão desta prisão.
Desenganem-se os que pensam que a austeridade, as reformas estrurais, ou as exportações vão permitir o crescimento necessário para pagar estas dívidas. Não vão.
Um segundo resgate, ou um programa cautelar, podem ser diferentes do ponto de vista político, mas não são muito diferentes do financeiro.
É mais dinheiro emprestado, com muitas condições, seja pela "troika", seja pelo BCE.
E não nos tira da armadilha.
A única solução é europeia.
Só a Europa, com os seus recursos, e a sua força política, poderá solucionar definitivamente a questão.
Mutualizar a dívida é absorver a dívida dos prevaricadores; mas também é impedir que esses países, no futuro, se endividem mais.
Porém, não parece ser esse o caminho da Sra. Merkel.
A sua vitória de ontem foi retumbante, e histórica. Mas, não chega para governar sozinha.
Mudará Merkel, aliada ao SPD ou aos Verdes; tornando-se mais europeia e menos alemã?
Ou continuará a insistir numa receita que causa muitos danos e não resolve o problema da dívida?
Portugal está no topo da preocupações de Merkel, diz hoje o Wall Street Journal, e pode despoletar mais uma crise do euro.
É tudo verdade, mas Merkel, se quisesse, podia caminhar noutro sentido, menos duro e punitivo.
As soluções nacionais, de sacrifício e "troikas", estão esgotadas.
Não há soluções solitárias, só de conjunto.
Talvez Passos tenha mesmo de ir lá falar com ela, pedir-lhe compreensão e ajuda. Mas só isso, é insuficiente.
Mais Europa, é o que é preciso.
Caso contrário, irá prolongar-se este ciclo de agonias, com pequenos interlúdios de alívio, como foi este Verão.