O "tabu" da saída limpa
Há um novo "tabu" na política portuguesa.
Portugal vai ter uma saída limpa do programa de ajustamento, ou vai precisar de um programa cautelar?
Ninguém dá certezas, mantém-se o mistério, o tabu adensa-se.
Não fala a "troika", não fala a Europa, não fala o Governo.
Pior: membros dispersos, seja do Governo, seja do PSD, vão dizendo o que pensam, e enviando palpites.
Porém, ninguém dá a certeza de nada.
A política portuguesa já teve um "tabu", que envolvia Cavaco Silva e o seu futuro político, nos anos 90.
Ninguém sabia, nem o próprio, o que iria fazer, se iria deixar de ser primeiro-ministro, ou se iria continuar.
O tempo foi passando e a certa altura o tema já enjoava, de tão desgastado e batido.
É como o tema da saída limpa, já enjoa.
Sai não sai, limpa ou suja, cautelar ou sem rede, andamos nisto há tantos meses que o tema perdeu a nobreza, a relevância, e está gasto e enferrujado.
Portugal não vai conseguir uma surpresa enorme, tal como conseguiu a Irlanda.
Nesse altura, o ano passado, a "saída limpa" foi um acto de coragem irlandês, de confiança, de segurança, e a Europa inteira admirou-se com os celtas.
Mas, seis meses já passaram, muita água correu debaixo das pontes, e a saída portuguesa já não terá qualquer efeito "surpresa".
As pessoas vão achar normal, que com taxas de juro quase a 3 por cento, um país como o nosso se consiga financiar nos mercados.
É também por isso que o "tabu" é tão irritante.
Na verdade, não é qualquer "tabu", pois qualquer pessoa com um mínimo de conhecimentos de economia percebe que, nas actuais circunstâncias, é óbvio que o país vai ter uma "saída limpa".
Economicamente, seremos "limpos", mas politicamente este longo e enjoativo "tabu" tornou a nossa saída um bocado "sujinha".