Programa cautelar: Cavaco bem quer, mas Merkel não deixa
O presidente da República tem feito tudo para avisar o país sobre a necessidade de um "programa cautelar".
Por mais que a situação tenha melhorado, para Cavaco estamos ainda numa zona perigosa, e sobretudo muito vulneráveis a qualquer mutação dos sentimentos dos mercados.
O esforço de consolidação orçamental foi enorme, as taxas de juro baixaram, mas apesar desses bons sinais a situação é ainda frágil.
Cavaco escreve, e avisa o país, apelando à prudência, pedindo cautela.
Temo que ninguém o oiça.
Embora na Europa muitos já tenham dito o mesmo (Barroso, Draghi, etc), nas últimas semanas o discurso europeu mudou, pois já todos perceberam que a Alemanha não quer que Portugal vá para um programa cautelar.
Merkel quer uma "saída limpa" de Portugal, para a apresentar como um "troféu".
Além disso, Merkel teme que se levasse um "programa cautelar" ao seu parlamento, ele fosse vetado, ou fossem impostas condições draconianas pelo SPD para aprovar tal coisa.
Por isso, vai obrigar Portugal a uma saída limpa, como fez com a Irlanda.
O caso Irlandês foi apresentado como uma vitória nacional de Dublin, mas não foi apenas isso, foi também uma obrigação imposta por Berlim.
O caso Português será semelhante.
Passos e o seu Governo vão apresentar a "saída limpa" como um colossal e esmagador triunfo das suas políticas, embora não estejam a fazer mais do que cumprir a vontade da Alemanha.
É uma situação arriscada, mas parece-me que ninguém quer saber o que Cavaco pensa.
Na Europa, manda Merkel, e os outros obedecem.