Segunda-feira, 29.09.14

Costa pode ser o Obama lusitano

Como eu já esperava, António Costa venceu folgadamente contra António José Seguro.

Por mais que o outro o atacasse, poucas dúvidas havia que entre os dois, ele era o melhor.

E agora, com o PS a seus pés, Costa tem de pensar em como ganhar o resto do país.

A sua personalidade tem várias vantagens, a principais das quais é que ele alegra a esquerda sem assustar a direita.

 

Conheço muita gente de direita que tem simpatia, admiração e respeito por António Costa, e que admite mesmo votar nele.

A direita desiludida com Passos e Portas poderá, talvez pela primeira vez, votar no PS, pois a fúria contra o Governo é imensa.

À esquerda, embora o PCP tenha vindo a crescer, o desmembramento do Bloco poderá ser também um aliado de Costa.

Louçã ainda empolgava muitos, mas isso não se passa com a actual liderança bicéfala, de Semedo e Martins.

 

Portanto, Costa pode entusiasmar os que sempre votaram PS, mais aqueles que votaram no Bloco ou noutros fenómenos de esquerda, como Marinho e Pinto e o Livre, e ainda pode ganhar votos ao centro e mesmo à direita.

Como é que isso se consegue?

Enganam-se os que pensam que é preciso ter muitas ideias e fazer muitas promessas.

 

Obama provou que mais importante que políticas concretas é mudar o estado de espírito das pessoas.

Contra a austeridade brutal, a esperança.

Contra a recessão geral, a crença que há um futuro melhor para os portugueses

O "yes, we can" de Obama pode ser adaptado para Portugal.

 

Basta querer, basta falar diferente, basta acreditar.

Tal como George W. Bush na América, Passos e Portas cometeram tantos erros e estragaram tanto o país que a mudança é muito desejada pela grande maioria dos portugueses.

Daqui até às eleições, a única dúvida é saber quantos serão. 

publicado por Domingos Amaral às 09:57 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 24.09.14

Quem quer para primeiro-ministro: Costa, Seguro ou Passos?

O último debate entre Seguro e Costa, que aconteceu ontem na RTP, foi o mais divertido.

Parecia um combate de boxe, onde Costa mostrou finalmente que sabia meter a mão na anca e dar "uppercuts".

Já Seguro foi fiel a si mesmo, e mostrou mais uma vez que só sabe viver no registo "tu traíste-me".

Se no primeiro debate fora ele o vencedor, para perder claramente no segundo, neste terceiro conseguiu um empate.

 

Contudo, Seguro dá a ideia de estar sempre tenso, sempre nervoso, sempre excitado em demasia.

Mesmo quando é demasiado pachorrento, Costa consegue transmitir uma serenidade que escapa totalmente a Seguro.

E, é evidente para todos, a questão relevante foi a colocada por Costa.

Quem querem os portugueses para primeiro-ministro: Passos, Seguro ou Costa?

 

No domingo, será a primeira volta desta resposta, e os militantes e simpatizantes do PS terão de dizer o que pensam.

Pela minha parte, parece-me evidente que Costa tem mais experiência, capacidade de liderança e habilidade política.

Seguro nunca foi ministro, nunca foi presidente da Câmara, e dá pouca confiança às pessoas para liderar um governo.

Ainda por cima, deu demasiada relevância às traições de Costa, como se a política não fosse, há mais de mil anos, sempre assim.

 

Parece-me pois que Costa acertou nos gráficos da sondagem que mostrou ontem à noite.

Entre ele e Passos, as pessoas preferem-no a ele; e entre Seguro e Passos, as pessoas preferem Passos.

É esse o drama de Seguro, que ele nunca conseguiu ultrapassar.

Mesmo com um Governo que massacrou os portugueses, e mesmo com um primeiro-ministro fraco, Seguro não inspira muita gente.

É o elo mais fraco dos três, e por isso deverá perder no Domingo.

publicado por Domingos Amaral às 09:53 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Terça-feira, 24.06.14

Seguro é uma lapa e será duro de roer

Não será fácil remover António José Seguro da liderança do PS.

Quem pensava que a vitória de Costa eram favas contadas, e que a onda positiva que se formou levará Costa ao poder com facilidade, pode tirar o cavalinho da chuva.

Seguro é uma lapa, está agarrada à rocha fortemente e tudo fará para impedir que Costa lá chegue.

Truques, processos, mais truques, mais atrasos, mais manigâncias, tudo será usado por Seguro.

As eleições deviam ser rápidas? Pois serão lentas!

As inscrições dos simpatizantes deviam parar em Julho? Pois durarão até meados de Setembro.

Só deviam votar militantes? Pois votarão todos os que quiserem, sendo simpatizantes!

A definição de simpatizantes devia ser clara e blindada? Pois será vaga e fluída, para todo e qualquer um lá caber.

 

Não nos esqueçamos que Seguro é um jotinha, aprendeu estes jogos florais muito cedo, como todos os jotinhas.

Com expedientes destes, esvazia-se a onda, cria-se ruído, gera-se dúvida.

Aquilo que parecia óbvio há semanas, começa a não parecer tão óbvio com as contrariedades.

Se Costa pensava que ia chegar ao Rato num andor, carregado por um PS eufórico, irá descobrir que terá de sujar as mãos e os pés na lama.

 

Sim, a luta entre Costa e Seguro vai ser um combate na lama, duro, sujo e feio de se ver.

Haverá insultos, choro, ranger de dentes, e dificilmente Costa poderá manter o seu perfil moral elevado.

Numa guerra como esta, ganha quem mais deseja vencer, quem mais está disposto a tudo.

E, para já, Seguro parece mais disposto a ir ao limite, e a sujar mãos e pés e calções.

O país pode ficar a perder muito se Seguro vencer, mas Portugal está cheio de grandes líderes que não foram bons candidatos e perderam.

Antes de administrar o poder, é preciso conquistá-lo.

Costa tem de perceber isso, nada lhe será dado de borla ou de mão beijada.

Ou mete a mão na anca e faz uma investida, marrando no adversário, ou pode acabar por perder. 

publicado por Domingos Amaral às 11:13 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 05.06.14

A conspiração geral contra António Costa

A decisão de António Costa se candidatar á liderança do PS foi o verdadeiro terramoto eleitoral da semana.

De repente, o pânico instalou-se em quase todos os partidos, à esquerda ou à direita.

Primeiro, instalou-se na cúpula do PS.

Seguro ficou totalmente siderado.

Julgava ele que, depois de uma média vitória nas autárquicas e de uma minúscula vitória nas europeias, o seu caminho estava aberto para chegar a S. Bento.

Pode mesmo dizer-se que Seguro, no domingo às oito da noite, já via a luz no fundo do túnel.

Porém, como uma vez disse um escritor americano, temos de ter cuidado com a luz que se vê ao fundo do túnel, pois pode ser um combóio a vir na nossa direção.

Foi o que se passou com o pobre do Seguro: já via a luz ao fundo do túnel, e de repente essa luz é o combóio de António Costa a vir contra ele!

 

Mas, o pânico também se instalou na cúpula dos partidos de centro-direita, PSD e CDS.

No domingo, era indisfarçável o contentamento.

A maior derrota de sempre do centro-direita ficara muito saborosa pois o PS só tivera 31 por cento!

E, como revelava uma sondagem da TVI, isso queria dizer que a derrota nas legislativas não era certa, contra Seguro ainda se podia vencer.

António Costa estragou este cenário idílico, esta fantasia tonta que se apossara de Passos e de Portas.

De repente, o perigo surgiu, fortíssimo.

Ao contrário de Seguro, Costa podia dar cabo de Passos e Portas, era um adversário perigosíssimo!

Em pânico, Passos e Portas desataram a dramatizar, criando mais uma crise constitucional.

A ideia, óbvia, é convencer Cavaco que há mau funcionamento das instituições em Portugal, pois o TC não deixa o Governo governar, e por isso é necessário irmos já para eleições.

 

Ao mesmo tempo que isto se passava, mais duas coisas aconteceram.

Primeiro, Seguro inventou um esquema demorado para a eleição de um novo líder do PS, saindo-se com a ideia das primárias.

De caminho, ia dizendo a Cavaco que o melhor mesmo era pedir eleições antecipadas.

Em segundo lugar, o PCP de Jerónimo, contente com os resultados das europeias, dizia também que queria eleições antecipadas.

No espaço de apenas uma semana, a decisão de António Costa se candidatar à direção do PS produziu estes curiosos efeitos.

Tanto Seguro, como Jerónimo, como Passos e Portas, querem eleições antecipadas.

Todos eles, sem excepção, desejam eleições antes que Costa tome conta do PS, pois todos eles temem perder votos com Costa a liderar o PS.

Há uma evidente aliança objetiva entre o centro-direita que nos governa, os comunistas e Seguro, para evitar que Costa vença o PS.

O terror de Seguro (perder o PS para Costa), o terror de Jerónimo (perder votos para Costa), e o terror de Passos e Portas (perder as eleições legislativas para Costa), têm todos o mesmo fundamento e motivo.

É essa a conspiração contra Costa, todos o querem parar e depressa.

 

A minha única dúvida é Cavaco Silva.

Quererá o presidente acelerar o calendário político, marcando eleições antecipadas por exemplo para Setembro, contribuindo assim para impedir que Costa tome conta do PS até lá, por falta de tempo?

Não faço ideia do que vai na cabeça do presidente da República, mas será grave a existência de uma crise política prematura, cujo único objectivo é afastar um homem do cargo de primeiro-ministro.

É que, no meio de todos estes jogos políticos, temos de pensar em Portugal.

Quem é que a maioria dos portugueses preferem para primeiro-ministro, Costa ou Seguro?

Em quem têm mais confiança para governar o país?

É que a visão de um país onde o PCP cresce muito, o PSD e o CDS estão abaixo de 30 por cento, e o primeiro-ministro e líder de um PS que só vale 31 por cento é António José Seguro, é uma visão aterradora.

Cavaco devia refletir sobre que país vamos ter se ele marcar já eleições antecipadas...

publicado por Domingos Amaral às 11:39 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quarta-feira, 04.06.14

A "Guerra dos Tronos" é cem vezes melhor que o PS

Há uns dias, um personagem do PSD, o Marco António, comparou as lutas internas do PS à série "Guerra dos Tronos".

Ora, por mais que se entenda a vontade de apoucar o PS, a crítica de Marco Costa passa por um perfeito disparate.

A "Guerra dos Tronos" é uma série excelente, com uma produção magnífica, um elenco fora de série, episódios fantásticos, personagens inesquecíveis e uma enorme imprevisbilidade no enredo e nos acontecimentos. 

Comparar uma série de tanta qualidade com as disputas internas do PS é um insulto para a série. 

 

No PS, não há sentido épico, nem suspense, nem acontecimentos imprevisíveis.

Há apenas uma disputa natural, e até bastante previsível, entre um líder fraco e um desafiador com qualidade.

Mas, fica-se por aí. Não há disputas sangrentas, traições femininas ou masculinas, sexo altamente excitante, combates fulgurantes e mortandade em série.

Nada disso acontece no PS.

Nem como metáfora a comparação serve, pois já existiram nos partidos portugueses disputas muito mais duras e fascinantes.

A luta Costa contra Seguro é interessante, mas não mais do que isso, e há muito pouco suspense sobre como vai acabar.

Costa é tão mais forte que Seguro, que só com milhares de manobras é que a sua eleição é evitável.

 

Na "Guerra dos Tronos", tudo é impossível até se tornar, de repente, possível, e tudo é muito mais excessivo e excitante.

A quarta série, que sigo religiosamente no canal SyFy, começou menos bem, e os primeiros quatro episódios estavam um bocado lentos.

Mas, de repente, tudo mudou, e os últimos três episódios têm sido absolutamente fabulosos.

Ontem, por exemplo, houve um combate que acabou com a cabeça de um príncipe esmagada pelas mãos de um gigante; e com o anão Tyrion a ser condenado à morte.

O PS, ao pé disto, é uma brincadeirinha de crianças.

publicado por Domingos Amaral às 11:54 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quarta-feira, 28.05.14

Se Seguro ficar, o PS comete um hara-kiri

Por mais que António José Seguro a tente evitar, aproxima-se a batalha entre ele e António Costa.

Seguro teve a sua hipótese, e até teve um resultado honroso nas autárquicas.

Não foi bom, mas também não foi mau.

Porém, nas europeias, o resultado do PS é péssimo.

O maior partido da oposição não consegue ganhar votos quando os partidos do Governo são tão mal vistos.

Com o descontentamento que existe em Portugal com este Governo, com os problemas sociais e económicos que existem, com o desemprego alto, com uma dívida pública altíssima, com os impostos mais altos de sempre, mesmo assim o PS não cresce.

Pelo contrário, o PS perde votos!

E não os perde para o Bloco de Esquerda, ou seja, não os perde porque não foi suficientemente à esquerda.

 

A única explicação que se encontra para o fenómeno é a liderança fraca e pouco entusiasmante de Seguro.

Os socialistas não acreditam nele, e muitos até preferiram olhar para o lado, e votar em Marinho Pinto ou em Rui Tavares.

E, quando assim é, toda a gente percebe que o problema está na liderança, não nas ideias.

Seguro não tem carisma, não tem consistência, e não entusiasma ninguém nas hostes socialistas, quanto mais fora delas.

Nas próximas semanas, pode tentar tudo para evitar o Congresso ou as directas, pode usar todos os expedientes dos estatutos e todos os subterfúgios, que isso não adia o essencial.

E o essencial é que, como mostrou uma sondagem da TVI logo no dia das eleições, com Seguro à frente, o PS arrisca-se a perder as eleições em 2015, ficando atrás de Passos e Portas.

É essa terrível possibilidade de derrota que está a aterrar o PS.

Os partidos odeiam perder, e se estão convencidos que o líder os levará à derrota, esse líder tem os dias contados.

É isso que se passa hoje no PS: com Seguro, os socialistas podem perder!

 

Com este cenário, é natural que António Costa vá ganhando cada vez mais apoios, e que se crie uma onda positiva que o leve à liderança. 

Costa representa uma forte possibilidade de vitória, enquanto Seguro representa uma forte possibilidade de derrota.

Mas, para além de poder vencer, Costa tem outras vantagens quando comparado com Seguro.

Tem experiência política, já foi ministro e é presidente da Câmara de Lisboa há vários anos (Seguro não foi nada).

Tem carisma e mais senso político, bem como simpatia e humanidade.

E, pormenor importante, Costa tem muito mais capacidades do que Seguro para fazer alianças com outras forças políticas, seja à sua esquerda, seja à sua direita.

Nem Marinho Pinto, nem Rui Tavares, nem o Bloco, gostariam de se aliar a Seguro, numa frente de centro-esquerda.

Mas, com Costa é provável que todos gostassem de se aliar, caso seja necessário.

 

À direita, as pessoas pensam da mesma maneira.

Se em 2015 for necessário um governo de Bloco Central, quem preferem as pessoas de direita que esteja à frente do PS?

Preferem um governo onde estão Passos e Portas, e o primeiro-ministro é Seguro?

Ou um governo onde o número um é António Costa?

E os mercados, e os parceiros sociais, os empresários ou os sindicatos?

Será que não é evidente para todos que António Costa é um político que dá mais confiança do que o pobre Seguro?

 

Nas próximas semanas, é sobre isto que os socialistas devem refletir.

Portugal está num momento complicado da sua história, e com o centro-direita tão descredibilizado, o próximo primeiro-ministro tem de gerar confiança aos portugueses todos, sejam eles de esquerda ou de direita.

Parece-me evidente que António Costa está muito mais bem preparado que Seguro para ser essa pessoa.

Se o aparelho do PS não perceber e rejeitar Costa, como é possível, o PS cometerá um trágico hara-kiri. 

publicado por Domingos Amaral às 11:30 | link do post | comentar
Segunda-feira, 26.05.14

Estas eleições foram um desastre para Passos e Seguro

O país votou e uma coisa é certa: o centro-direita teve a maior derrota de sempre, em 40 anos de democracia.

PSD e CDS-PP, mesmo juntos, não chegam aos 30 por cento, o que é uma derrocada brutal.

Não é inesperada, mas talvez poucos pensassem que chegasse tão longe.

Aqui está a resposta a 3 péssimos anos de governação, carregados de erros graves e de falta de juízo.

Para regressar aos mercados, não devia ter valido tudo, mas para este Governo tudo valia e tudo se fazia.

Os portugueses deram uma resposta clara: estes senhores não prestam.

 

Porém, e essa é que é uma das relevantes surpresas, o PS é também um grande derrotado da noite.

Bem podem Seguro e Assis cantar vitórias de Pirro, a verdade é que, no momento mais negro do centro-direita, o PS em vez de ganhar votos, perde votos!

A queda do PS é quase tão forte como a queda dos partidos do Governo.

Seguro tem muito menos votos e percentagem do que Ferro Rodrigues, e mesmo do que o tão odiado Sócrates há três anos!

Em vez de ter conseguido criar uma onda positiva a seu favor, capitalizando nos erros do Governo, Seguro consegue a proeza de afastar gente do PS!

 

Que o Governo vai continuar, e vai continuar a governar mal, é certo, pois Passos não tem capacidade para mais.

Mas, que o PS não perceba que Seguro não é alternativa, é bem mais grave.

Estamos a um ano e pouco das legislativas, e uma vantagem tão curta como a que Seguro teve ontem não serve para nada.

Se a economia melhorar nos próximos meses, é mesmo provável que a coligação de centro-direita ainda recupere votos, e Seguro fica em cada vez pior situação.

A julgar pelos resultados de ontem, há ainda uma possibilidade de Seguro perder as eleições, o que parecia quase inimaginável há meses.

Como pode o PS aceitar que, com um Governo tão mau e tão impopular, o PS não encante ninguém?

Não estará na altura do PS perceber que não vai a lado nenhum com um líder tão fraco e tão incapaz de motivar o eleitorado?

 

É tempo pois dos socialistas refletirem.

Ao contrário do que ontem disse Assis e repetiu Seguro, a liderança do PS está em causa.

Com um líder tão incompetente, é tempo de pensar noutro.

Mais cedo do que se esperava, chegou a hora de António Costa.

Se o PS não perceber isso, depois não se queixe... 

publicado por Domingos Amaral às 10:35 | link do post | comentar
Segunda-feira, 05.05.14

Uma saída limpa mas sem brilho político

A "saída limpa" do programa de assistência é uma vitória política do Governo.

Há seis meses, poucos acreditavam que era possível, mas foi.

É claro que a conjuntura internacional ajudou, mas o Governo fez o seu papel, e geriu bem as expectativas dos mercados financeiros.

E pronto: o "regresso aos mercados", o grande objectivo de Passos Coelho, que ele apregoa desde 2011, está cumprido.

Foi para isto que o Governo trabalhou e tudo fez, mesmo o que fez muito mal.

 

No seu estilo político de "gestão por objectivos", Passos Coelho atingiu o objectivo a que se propôs, mas já todos perceberam que um país não é uma empresa.

Pelo caminho, muita coisa se perdeu, e muita coisa correu mal, e Passos, que colocou o imperativo financeiro à frente de todos os outros, só tardiamente percebeu que os caminhos escolhidos foram, muitas vezes, errados e exagerados.

Só assim se compreende que agora, à pressa, o Governo venha anunciar para 2015 o início da reposição de salários e pensões, como se fosse possível passar uma esponja e apagar o que aconteceu.

 

A verdade é esta: para regressar aos mercados não era preciso austeridade tão violenta como a que foi praticada, sobretudo em 2011 e 2012.

Bastaria este Governo ter subido o IRS muito, como fez em 2013 com bons resultados, e tudo teria sido mais fácil.

Em vez de andar a fazer experimentalismos fanáticos nos cortes nos salários e nas pensões, que pelos vistos vão ser todos repostos, o Governo teria tido muito mais sucesso se tivesse optado por uma estratégia mais "light".

2013 e 2014 são a prova dos nove que é possível ter crescimento económico com o IRS alto, e o déficit do Estado a diminuir, o que é o mais importante.

 

Mas, os caminhos foram outros, e agora Passos percebe que o país, embora lhe reconheça o objetivo atingido, não lhe perdoa as violências austeritárias.

Se o PS tivesse um líder mais forte, as europeias seriam uma verdadeira hecatombe para o Governo, e para a Aliança PSD-CDS.

Porém, como a esquerda permenece dividida e mal liderada, não há onda que eleitoral que varra o "regresso aos mercados".

A coligação poderá pois aguentar mais um ano, e terá algum tempo para recuperar.

Mas, sem qualquer emoção.

Passos, com o seu estilo duro e antipático, sempre a dar más notícias, já saiu do coração dos portugueses e não é dando "borlas" como o dia 17 de Maio que os vai recuperar.

A vitória do "regresso aos mercados" é uma vitória sem brilho político, e dificilmente será uma arma eleitoral poderosa.

É uma "saída limpa", mas politicamente é um tiro de pólvora seca. 

publicado por Domingos Amaral às 11:17 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 20.01.14

A dança entre Passos e Seguro

Há um ano que já vemos isto, esta permanente dança cheia de equívocos e sugestões subtis, entre Passos e Seguro.

Uns dias Passos diz que não precisa do PS, por exemplo para um "programa cautelar", o que logo leva o PS a reagir de forma ofendida.

Noutros dias vemos Passos a namoriscar o PS, dizendo-o essencial para o "consenso nacional", o que leva o PS a fazer-se caro, dizendo que não está disponível para suportar a política do Governo.

Noutros dias a iniciativa pertence ao PS, que desafia o Governo a isto ou aquilo, o que leva o Governo a fazer-se difícil, dizendo que não pode ceder, pois a troika não deixa. 

E noutras ocasiões vemos o PS a atacar o Governo, o que leva este a fazer um discurso de gente séria e responsável, declarando que o país não se compadece com durezas e irredutibilidades, e é preciso responsabilidade.

Portanto, vamos assistindo a esta dança que nunca termina, mas também nunca acelera o ritmo, num conflito de baixo nível de intensidade, que já ninguém entende bem, e que se duvida ser salutar para as duas lideranças e os dois partidos.

A política precisa destes rituais permanentes de ataque, defesa, aproximação e distância, crítica e aplauso, namoro e ruptura, mas se no final do dia, ou ao final de meses, nada se alterou de relevante, o que é que isto é a não ser apenas um espectáculo sem consequências?

Passos e Seguro deviam refletir se valerá a pena viver neste saltitar de pequenas discórdias, neste ziguezague de tácticas, zangas ou amuos curtos. 

 

publicado por Domingos Amaral às 12:46 | link do post | comentar
Quinta-feira, 19.12.13

As razões porque este Governo melhorou muito desde Julho

Nada como uma crise grave para obrigar um Governo a governar melhor.

O susto que Passos Coelho apanhou, quando viu Portas a fugir, e Cavaco a desejar um acordo com o PS, produziu bons resultados.

E, de então para cá, mesmo sem o dizer, o Governo tem corrigido alguns dos seus mais óbvios erros políticos e económicos.

Aqui se apresenta uma pequena lista das melhorias evidentes:

 

1 - O Governo passou a dar mais importância ao consenso político e social.

Nos primeiros dois anos, a teimosia de Gaspar e Passos conduziu a uma crispação evidente, seja com o PS, seja com os parceiros sociais.

No entanto, de Julho para cá, e mesmo apesar dos primeiros encontros com o PS terem sido inconclusivos, a verdade é que o Governo se tem esforçado por ir ao encontro da oposição e dos desejos dos parceiros sociais.

O acordo sobre o IRC é a melhor prova disso.

António José Seguro pode não ser o melhor político do mundo, mas é preferível o Governo entender-se com ele em certas áreas do que passar o tempo todo a criticar o PS.

 

2 - O Governo mudou a política orçamental e o país agradeceu.

Mesmo contrariado, o Governo foi obrigado a abandonar a política de cortes cegos na despesa, que em 2012 tão maus resultados produziram.

Para 2013, aumentou-se muito o IRS e o resultado foi..."um milagre económico"!

A recessão amainou, o desemprego começou a descer, e as receitas fiscais cresceram muito.

Ao contrário do que se passara em 2012, em 2013 a política do Governo não afundou o país, e isso fez diminuir a tensão em Portugal.

Lamentávelmente, não é certo que o Governo tenha aprendido esta lição, e para 2014 anunciam-se mais "cortes na despesa".

É pena que não se aprenda com os erros, mas se a economia melhorou, muito se deve à excelente adaptação do país ao aumento do IRS. 

 

3 - O Governo moderou os ataques ao Tribunal Constitucional

Sobretudo nos últimos meses, os ataques ao TC diminuíram, e foi executada pelo Governo uma estratégia mais inteligente, em parte de sedução, em parte de pressão internacional indireta, mas não um ataque frontal, como fizera Passos nos primeiros meses do ano.

Foi correto, e diminui a crispação.

Não se pode dizer que as culpas da má situação económica sejam do TC quando, como explicou um estudo do Jornal de Negócios, o TC deixou passar 80% da austeridade que o Governo queria aplicar! 

Veremos se hoje essa estratégia mais "soft" dá frutos positivos na questão das pensões.

 

4 - O Governo tem somado vitórias importantes nas privatizações

Depois da EDP e da Ana, vieram os CTT e em breve a Caixa Seguros.

São vitórias importantes e que melhoram as contas públicas.

Podemos discutir em teoria se é bom ou não privatizar certas empresas, mas uma vez tomada a decisão, é justo reconhecer que os objetivos estabelecidos foram atingidos. 

 

5 - O Governo desviou-se subtilmente da estratégia germânica de combate à crise na Europa

Em certos momentos, o Governo conseguiu deslocar ligeiramente das posições alemãs, mais duras; e já defendeu uma União Bancária mais profunda, ou mesmo a mutualização de certas dívidas. 

Ao mesmo tempo que a Europa se vai afastando subtilmente do nefasto discurso da austeridade (Oli Rehn, por exemplo, já diz que é preciso moderar o ritmo da consolidação!), o Governo vai também corrigindo o tiro.

 

Em conclusão: há males que vêm por bem, e Passos aprendeu muito com a crise de Julho!

publicado por Domingos Amaral às 10:29 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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