Quinta-feira, 25.09.14

O Estado Islâmico é o filho bastardo de Bush e Rumsfeld

Há mais de dez anos, Bush invadiu o Iraque, ainda se lembram?

Supostamente, Saddam tinha armas de destruição e financiava o terrorismo.

Traumatizados com o 11 de Setembro, os conservadores americanos atacaram Bagdad.

Na Europa, muitos os apoiaram, incluindo Barroso, Portas, toda a direita europeia, e até alguma esquerda, representada por Tony Blair.

Quem se metesse contra eles, era logo apelidado de perigoso esquerdista ou mesmo comunista.

 

Mais de uma década depois, está bom de ver quem tinha razão.

Saddam foi preso e morto, mas o Iraque foi lançado num caos que nunca amainou.

A ocupação americana, que era para ser amigável, transformou-se numa guerra aberta.

Sunitas, xiitas e curdos, nunca foram capazes de se entender e milhares morreram todos os anos em actos de terrorismo ou em combates.

A "mudança de regime", inspiradora de Bush e Rumsfeld, foi a desgraça do Iraque, pois substituiu-se uma tirania por uma anarquia.

 

Mais de uma década depois, a balbúrdia não pára, e um novo monstro se gerou.

O chamado "Estado Islâmico" é um filho bastardo de Bush e Rumsfled.

Medrou e cresceu no atoleiro gerado por eles, e mesmo com alguns apoios americanos de então para cá.

E claro, agora o monstro ganhou vida própria e não vai parar.

Quem semeia ventos, colhe tempestades.

 

Os neo-conservadores e todos os seus apoiantes esqueceram que meter a mão num ninho de vespas dá sempre mau resultado.

E esqueceram também a História daquela região.

As lutas são permanentes, há milhares de anos. Mudam as armas e as pessoas, mas os motivos permanecem.

O chamado "Estado Islâmico", e o seu "califado", é o herdeiro de uma longa lista de facínoras que sempre povoou aquelas regiões.

Mil anos passaram, e mais mil vão passar, e será sempre assim.

 

Infelizmente, não há muito que se possa fazer.

Mas, mais vale bombardear, como faz Obama, do que invadir, como fez Bush. 

Embora isso não vá parar a onda de decapitações, nem o fanatismo dos novos guerreiros, que para lá correm.

A "guerra santa" não nasceu agora, sempre existiu, desde Poitiers, desde Zalaca, desde Lisboa, desde Saladino ou Afonso Henriques.

Quem pensar que isto vai parar um dia, engana-se. Não vai. Só as armas mudam, a guerra é sempre a mesma.

publicado por Domingos Amaral às 09:57 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Terça-feira, 27.05.14

A austeridade é a mãe de todos os radicalismos

A dívida pública portuguesa voltou este ano a subir, e já ultrapassa os 130% do PIB.

Quanto mais pagamos, em juros e amortizações, mais devemos.

É a armadilha da dívida em todo o seu esplendor dramático, um local terrível para um país estar.

Mas, não era imprevisível, pelo contrário.

Quem tenha lido este blog, já sabe que houve dezenas de países que caíram nesta situação nos últimos cinquenta anos.

Perante uma forte recessão económica, os países optam por fazer austeridade dura, o que só agrava as suas contas, e mesmo que as exportações cresçam, não conseguem crescimento económico muito forte.

Assim, com a dívida já grande, o PIB cai com a austeridade, e a dívida no final é ainda maior.

Quanto mais se paga, mais se deve.

 

Foi quase sempre assim nas dezenas de "programas de ajustamento" que foram aplicados a muitos países por esse mundo fora.

E Portugal e Irlanda não são excepções.

Podem ter "regressado aos mercados", mas as suas dívidas públicas são hoje muito maiores do que eram há 4 anos atrás.

Se o problema era a "dívida excessiva", e foi com isso que se justificou a austeridade, o que dizer agora, que a dívida é maior do que era?

O que dizer agora, quando é agora bem mais difícil pagar a dívida do que era há quatro anos?

Há alguém que acredite mesmo que será possível Portugal e Irlanda pagarem esta dívida nos próximos 50 anos?

Mesmo que o nosso crescimento fosse superior a 4% ao ano, isso seria difícil, quanto mais com crescimento que anda à volta de 1% ao ano.

 

A verdade é esta: as políticas de austeridade não resultam.

Pelo contrário, só agravam a armadilha da dívida.

A confiança dos mercados é importante, mas não altera o essencial: a dívida assim não pode ser paga, é impossível.

Isto, já muitos sabiam há quatro ou cinco anos.

Krugman, De Grauwe, Soros, Stiglitz, até Rogoff, todos eles eminentes economistas, já tinham dito que isto ia acabar como está a acabar: com uma dívida ainda maior e mais difícil de pagar.

Porém, a Europa de Merkel e seus seguidores passou quatro longos anos obcecada pela "austeridade" e os resultados estão à vista.

Não há crescimento económico que se veja (excepto na Alemanha, claro); o desemprego alastra; a deflação é um perigo real; os partidos extremistas de direita ou de esquerda crescem; e há um desencanto geral com a Europa, que pode levar ao seu desagregamento.

E tudo isto para quê?

 

Basta olhar para os Estados Unidos para perceber qual devia ter sido o caminho.

Obama recusou-se a fazer austeridade, e limitou-se a aumentar os impostos aos mais ricos.

O FED está há quatro anos a ajudar a economia com estímulos monetários, e ninguém quer ouvir falar em austeridade.

Compare-se com o que aconteceu na Europa, com a austeridade draconiana, e com a inércia do Banco Central Europeu, e está explicado porque é que a Europa está à deriva, triste e paralisada. 

 

E Portugal está também paralisado, e com o sistema político à beira da desagregação.

É isto o que a austeridade faz aos países: mata-os por dentro.

Que depois nasçam monstros, ninguém se pode admirar.

As Marines Le Pen, as Auroras Douradas, o Beppe Grillos e outros, são os filhos bastardos da austeridade. 

A austeridade é a mãe de todos os radicalismos europeus, foi nela que eles se amamentaram.

Veremos o que acontece à Europa quando eles crescerem e forem grandes...

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:23 | link do post | comentar
Segunda-feira, 03.03.14

E a guerra a aproximar-se...

Por vezes, o impensável acontece, e normalmente é logo depois de acontecer o impossível.

Há dois meses, ninguém imaginava possível uma invasão da Crimeia pelas tropas russas.

As pessoas sabiam que a situação na Ucrânia não era fácil, que havia muita revolta, e uma divisão profunda do país entre os pró-russos e os pró-Europa.

Admitia-se turbulência e alta tensão, mas não se julgava possível muito mais do que isso.

Mas, dia a dia, a situação foi resvalando.

Primeiro, subiram de nível os confrontos em Kiev.

Temeu-se nessa altura a guerra cívil, que passou de impossível a imaginável em semanas.

O Presidente ucraniano fugiu, e sentiu-se alívio a Ocidente: as coisas iam entrar nos eixos, em breve haveria eleições na Ucrânia, os maus tinham perdido.

Não foi isso que aconteceu, infelizmente.

As forças russas começaram a movimentar-se, junto às fronteiras da Ucrânia, e a situação começou a agravar-se.

Aquilo que há meses era um impossível, a invasão da Crimeia, acabou por acontecer, e bem mais depressa do que o mundo esperava.

E agora estamos num local perigossímo, num abismo europeu, com a Rússia a ameaçar o Ocidente, aliada à China.

Aquilo que há dois meses seria impensável, uma situação de conflito quase militar entre Ocidente e Rússia, já mudou de carácter, e agora parece apenas impossível.

É sempre assim, o impensável passa a impossível, o impossível passa a possível, e em apenas algumas semanas o que era impensável passou a ser...possível.

Por mais que a todos nós seja absurda a ideia de uma guerra com a Rússia, as engrenagens da guerra já começaram a mexer-se, e ninguém pode dar certezas de nada.

Quem sabe se Obama, Merkel e Cameron não estarão, daqui a meses, a braços com um conflito armado em plena Europa, enfrentando um Putin cada vez mais ambicioso?

Seria uma tragédia colossal, mas deixou de ser uma tragédia impensável no espaço de semanas...

 

publicado por Domingos Amaral às 11:55 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 06.02.14

Europa ou América: quem se safou melhor?

Há cada vez mais diferenças entre a América e a Europa na forma como a crise económica tem sido combatida, e por mais que os amantes da austeridade estejam a cantar vitória, a realidade é muito menos agradável do que eles pensam.

 

Veja-se por exemplo, o que fez Obama.

Desde 2008, ajudou os bancos para evitar o colapso e tentou estimular a economia com programas de despesa pública.

Depois, evitou os cortes mais drásticos que os republicanos queriam executar, subiu o IRS para os mais ricos, e agora até já anunciou uma subida do salário mínimo para certos funcionários públicos.

Ao mesmo tempo, o banco central americano, o FED, esteve quatro anos a injectar fundos na economia, para a estimular pois ela estava longe do pleno emprego, e só nos últimos meses reduziu essas injeções para um ritmo menor. 

Ou seja, Keynes e Friedman ao mesmo tempo.

E quais foram os resultados?

Embora lentamente, a economia americana começou a crescer, crescimento esse que acelerou em 2013, e está agora a caminho dos 3% por ano, com o desemprego a cair, e o dólar num valor razoável.

As bolsas estão bem, a dívida não cresceu muito, e a América está com uma saúde económica muito superior à de outras regiões do mundo.

Obama foi keynesiano, e só não foi mais porque os republicanos não deixaram.

E o FED foi intervencionista, como dizia Friedman, e imprimiu moeda porque a economia estava longe do pleno emprego e não havia perigo de inflação.

Os americanos atacaram a recessão com todas as armas que tinham, fiscais e monetárias, e a América levantou-se do chão.

 

Agora, vejamos o que fez a Europa.

Desde 2009, ajudou os bancos com dinheiros públicos, e tentou estimular inicialmente as economias com despesa pública.

Porém, em inícios de 2010 os alemães entraram em pânico, e a Europa entrou numa cruzada de austeridade violenta, cortando a despesa pública à bruta, rejeitando qualquer subida dos salários mínimos, e com subidas generalizadas de impostos.

Ao mesmo tempo, o Banco Central Europeu demorou três anos até declarar que intervinha nos mercados comprando dívida pública, e desde então para cá nunca o fez, apenas mexendo ligeiramente nas taxas de juro, que desceu. 

A Europa rejeitou Keynes, e ignorou Friedman.

E quais foram os resultados?

A Europa afocinhou numa gravíssima crise, que atingiu o seu pico entre 2012 e 2013.

Embora existam áreas que estão a crescer um pouco, o crescimento económico na Europa é muito frágil e curto.

Além disso, o desemprego está em níveis muito elevados, e os salários desceram em muitas regiões.

Pior, as dívidas públicas de muitos países cresceram , em vez de descerem.

Além disso, a Europa está em deflação, os preços estão a cair demais, o que ainda complica mais a vida dos países com problemas, pois as pessoas adiam ainda mais os seus consumos se esperam que os preços desçam no futuro.

Em conclusão, a Europa foi anti-keynesiana, e a intervenção do BCE foi demasiado tímida, anti-Friedman, e o resultado é muito pouco abonatório.

 

Os defensores da austeridade a todo o custo deviam pensar nisso: qual a estratégia que resultou melhor, a americana (Keynes + Friedman)? Ou a europeia (nem Keynes, nem Friedman)?

A resposta é óbvia! 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:11 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 19.09.13

Viva o banco central Americano, o FED!

Ontem, para surpresa de muitos, o banco central americano, o FED, decidiu manter o seu programa de compras de obrigações, injectando mais dinheiro na economia.

Há uns tempos, aquando da sua última reunião, o FED tinha dito que ia reduzir o seu programa de compras, até o terminar totalmente em 2014.

Contudo, os resultados foram muito maus. 

Não só as bolsas começaram a cair a pique, com receio de menos liquidez; como as taxas de juro dos mercados de obrigações começaram também todas a subir.

Até a alemã subiu, e mesmo tendo o BCE (Banco Central Europeu) decidido que ia manter as taxas de juro, por toda a Europa subiram as taxas das obrigações da dívida pública de todos os países.

Além disso, houve crises graves nos mercados emergentes, como a India, e até o Brasil e a China sofreram com a decisão do FED.

Ao contrário do que muitos esperavam, a economia mundial e também a europeia, ainda não conseguem avançar sozinhas, e precisam de estar apoiadas pela política expansionista do FED.

Por isso, e muito bem, o FED voltou atrás na decisão e continua a estimular a economia.

No entanto, na Europa a conversa da "austeridade" mantém-se.

Merkel promete mais do mesmo, Durão Barroso também, e todos concordam que a única saída para a crise são os cortes na despesa do Estado, e uma muito limitada ajuda do BCE, que não compra obrigações como o FED.

A visão europeia para a saída da crise continua desesperadamente agarrada à crença que a redenção dos pecados se obtém com o sacrifício dos devedores.

Se cortamos a despesa, se fizermos "reformas estruturais", a crise vai passar e vamos sair mais fortes, é esse o mantra europeu.

É óbvio que não vamos. Não se vence a "armadilha da dívida" com mais cortes, mais austeridade, nem tão pouco com as exportações.

Ainda bem que, do lado de lá do Atlântico, há quem perceba mesmo de economia, como o FED e Obama.

Em vez de austeridade, ajuda do Estado e do banco central, para recuperar o crescimento e proteger o emprego.

Em vez de abruptos cortes na despesa, apenas uma subida de impostos para os mais ricos, e cortes mais leves, para não criar tanta recessão.

Só os europeus parecem ainda não ter percebido que Estado e economia privada são gémeos siameses.

Cortar num é cortar no outro, diminuir o Estado é diminuir a economia privada.

Assim, só mantendo a ajuda do Estado é que a economia privada pode recuperar.

A América tem feito o oposto da Europa, e a verdade é que está bem melhor! 

publicado por Domingos Amaral às 14:48 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Sexta-feira, 09.08.13

Viva Obama, alguém que está contra a austeridade na Europa!

Barack Obama falou sobre a Grécia e as suas palavras foram contundentes: a austeridade não vai resolver o problema grego.

Só cortes na despesa do Estado e impostos altos não irão ser capazes de tirar o país da profunda recessão em que está mergulhado.

Obama sabe do que fala.

Também na América, o partido republicano quis ser "austeritário", cortando o deficit e diminuindo a dívida.

Obama foi muito atacado pelos moralistas e pelos austeritários, que acham mais grave existirem dívidas do que desemprego.

Porém, não hesitou, e nunca praticou a austeridade que lhe pediam.

Pelo contrário, tentou estimular a economia com mais despesa do Estado. Subiu os impostos também, mas só para os mais ricos.

O resultado foi bom: enquanto a Europa inteira afocinhava numa recessão, a América começava a sair da crise.

Começava e continua a sair da crise.

Com a ajuda dos estímulos do FED, que injecta mais fundos na economia, o desemprego já desce há muitos meses.

Nada disto foi possível na Europa.

Os alemães, sempre aterrados com o trauma de uma inflação que ninguém vê, impedem o BCE de lançar estímulos semelhantes aos do FED.

E Merkel e seus lugares-tenentes massacraram os pequenos países do Sul com doses cavalares de austeridade.

O resultado é o que se vê.

Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália, Chipre e até a França, não conseguem crescimento decente.

Os pequenos sinais positivos que aparecem são sobretudo isso, pequenos.

A Europa do Sul foi aprisionada na "armadilha da dívida". Faz-se austeridade para baixar a despesa do Estado, mas isso gera mais recessão, e a dívida continua sempre a crescer.

Não há saída desta armadilha assim. Nem as exportações, nem as reformas do Estado, pagam estas dívidas.

As únicas soluções são outras: reestruturação individual ou mutualização europeia das dívidas.

Até a revista "The Economist", paladina do liberalismo económico, não tem dúvidas.

Hoje, o editorial é lapidar: Portugal, Irlanda e Grécia não vão pagar as suas dívidas, os programas de ajustamento, de tão draconianos na sua austeridade, falharam.

Mas, na Europa não há um Obama, e ele aqui não manda quase nada.

É pena.

Com líderes com ideias erradas, a Europa é incompetente, e por isso fica para tráz. 

publicado por Domingos Amaral às 12:57 | link do post | comentar | ver comentários (7)
Terça-feira, 18.12.12

O precipício orçamental da América é trágico? E o nosso?

Desde a reeleição de Obama que na América não se fala noutra coisa que não seja o "precipício orçamental", ou em inglês "fiscal cliff". A expressão feliz é da autoria do governador do banco central americano, o FED, que é o senhor Ben Bernanke. 

E o que é o precipício orçamental da América? Pois bem, se Obama e os Republicanos não chegarem a um acordo, a partir de Janeiro próximo entram em acção uma enorme quantidade de cortes de despesa do Estado, e sobem de forma drástica os impostos.

Ou seja, para os americanos o "precipício orçamental" é a austeridade enorme, e as suas consequências graves. Se os impostos subirem e ao mesmo tempo se executarem cortes profundos na despesa do Estado federal, isso vai provocar uma contração muito forte na economia americana, impedindo a recuperação económica em curso, e provavelmente provocará uma forte recessão, coisa que ninguém, no seu juízo perfeito, deseja.

Portanto, para os americanos, "o precipício orçamental" é uma tragédia a evitar a todo o custo, e nem republicanos nem democratas querem lançar o país para a crise, e rejeitam fortemente uma solução que passe pelo aumento drástico da austeridade.

Como tudo é diferente na América e na Europa! Lá, têm juízo, percebem de economia, e sabem que não é com crises, falências, recessões e desemprego que se conseguem pagar as dívidas, por mais elevadas que sejam. Porém, na Europa, o caminho é o oposto, e a Sra Merkel e os seus seguidores não pensam noutra coisa que não seja massacrar os países com austeridade, com cortes na despesa do Estado e aumentos "enormes" de impostos.

"Precipício orçamental" na América? Nós, em Portugal, é que estamos a cair no precipício orçamental! Há um abismo a abrir-se debaixo dos nossos pés, com os aumentos de impostos que aí vêm, e que ainda será mais agravado com os cortes de 4 mil milhões de que fala o Governo. É um precipício orçamental e não é nada pequeno, e infelizmente temo que todos iremos cair nele. 

publicado por Domingos Amaral às 12:52 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 26.11.12

A Europa comparada com a América

No presente, a Europa discute mais um orçamento de austeridade geral, imposta pelos países do Norte aos países do Sul. Enquanto isso, na América, Obama vai tentar negociar com os republicanos um novo acordo que evite a austeridade, ou o chamado "fiscal cliff", um precipício de cortes na despesa e aumentos de impostos, que poderia lançar o país numa nova recessão.

Com o Atlântico pelo meio, os dois caminhos não podiam estar mais afastados um do outro, e os resultados, naturalmente, são bem diferentes. Depois de tanto América como Europa terem reagido à crise financeira de 2008 ajudando os bancos e prevenindo um colapso, os caminhos começaram a divergir. A partir de 2009, Obama escolheu aumentar a despesa do Estado, usar o investimento público, e tentar sair da crise assim, aumentando o emprego e evitando o desemprego. Também o banco central americano, o FED, usou políticas monetárias expansivas, e além das descidas da taxa de juro, praticou o chamado "quantitative easing", aumentando a oferta de moeda. 

Já a Europa, com Merkel à cabeça a tocar as cornetas, lançou-se numa cruzada austeritária, impondo grandes sacrifícios, aumentos de impostos e cortes na despesa, para diminuir as dívidas dos países do Sul. Além disso, a Europa impôs a si mesma um novo tratado orçamental, proibindo terminantemente os deficits, através da regra dourada da disciplina orçamental. E embora o Banco Central Europeu tenha mantido as taxas de juro baixas, nunca os alemães permitiram que houvesse mais expansão monetária, com receio de uma inflação que é uma ameaça fantasma, pois não existe em lado nenhum.

Os resultados estão à vista: a América já saiu da recessão, o crescimento existe, e o desemprego desceu. Na Europa, a recessão espalha-se e a crise afunda as economias, e o desemprego, em quase todos os países, não para de aumentar. Os fanáticos da austeridade deviam pensar nisto, mas pelos vistos a ideologia cega as pessoas.

publicado por Domingos Amaral às 12:00 | link do post | comentar
 

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