Europa ou América: quem se safou melhor?
Há cada vez mais diferenças entre a América e a Europa na forma como a crise económica tem sido combatida, e por mais que os amantes da austeridade estejam a cantar vitória, a realidade é muito menos agradável do que eles pensam.
Veja-se por exemplo, o que fez Obama.
Desde 2008, ajudou os bancos para evitar o colapso e tentou estimular a economia com programas de despesa pública.
Depois, evitou os cortes mais drásticos que os republicanos queriam executar, subiu o IRS para os mais ricos, e agora até já anunciou uma subida do salário mínimo para certos funcionários públicos.
Ao mesmo tempo, o banco central americano, o FED, esteve quatro anos a injectar fundos na economia, para a estimular pois ela estava longe do pleno emprego, e só nos últimos meses reduziu essas injeções para um ritmo menor.
Ou seja, Keynes e Friedman ao mesmo tempo.
E quais foram os resultados?
Embora lentamente, a economia americana começou a crescer, crescimento esse que acelerou em 2013, e está agora a caminho dos 3% por ano, com o desemprego a cair, e o dólar num valor razoável.
As bolsas estão bem, a dívida não cresceu muito, e a América está com uma saúde económica muito superior à de outras regiões do mundo.
Obama foi keynesiano, e só não foi mais porque os republicanos não deixaram.
E o FED foi intervencionista, como dizia Friedman, e imprimiu moeda porque a economia estava longe do pleno emprego e não havia perigo de inflação.
Os americanos atacaram a recessão com todas as armas que tinham, fiscais e monetárias, e a América levantou-se do chão.
Agora, vejamos o que fez a Europa.
Desde 2009, ajudou os bancos com dinheiros públicos, e tentou estimular inicialmente as economias com despesa pública.
Porém, em inícios de 2010 os alemães entraram em pânico, e a Europa entrou numa cruzada de austeridade violenta, cortando a despesa pública à bruta, rejeitando qualquer subida dos salários mínimos, e com subidas generalizadas de impostos.
Ao mesmo tempo, o Banco Central Europeu demorou três anos até declarar que intervinha nos mercados comprando dívida pública, e desde então para cá nunca o fez, apenas mexendo ligeiramente nas taxas de juro, que desceu.
A Europa rejeitou Keynes, e ignorou Friedman.
E quais foram os resultados?
A Europa afocinhou numa gravíssima crise, que atingiu o seu pico entre 2012 e 2013.
Embora existam áreas que estão a crescer um pouco, o crescimento económico na Europa é muito frágil e curto.
Além disso, o desemprego está em níveis muito elevados, e os salários desceram em muitas regiões.
Pior, as dívidas públicas de muitos países cresceram , em vez de descerem.
Além disso, a Europa está em deflação, os preços estão a cair demais, o que ainda complica mais a vida dos países com problemas, pois as pessoas adiam ainda mais os seus consumos se esperam que os preços desçam no futuro.
Em conclusão, a Europa foi anti-keynesiana, e a intervenção do BCE foi demasiado tímida, anti-Friedman, e o resultado é muito pouco abonatório.
Os defensores da austeridade a todo o custo deviam pensar nisso: qual a estratégia que resultou melhor, a americana (Keynes + Friedman)? Ou a europeia (nem Keynes, nem Friedman)?
A resposta é óbvia!