Quarta-feira, 01.10.14

A Europa que os alemães querem só dá recessão

A Alemanha continua a desejar mais austeridade para a Europa, mesmo com a crise a bater-lhe à porta.

As principais economias do euro - Alemanha, França e Itália - estão ou em recessão, ou em anemia.

O Sul da Europa continua a patinar, com muito desemprego e muita dívida em Portugal, Espanha e Grécia.

A Irlanda melhorou apenas ligeiramente, e as coisas também não vão especialmente bem na Polónia ou na Holanda.

 

Quatro anos de intensa austeridade, imposta pela Alemanha da Sra Merkel, deram nisto: uma Europa em profunda crise.

As tensões políticas, como seria de esperar, multiplicam-se.

Os extremismos crescem em França, em Itália, na Grécia, e na própria Alemanha começam também a nascer.

Porém, os alemães não aprendem, nem querem abandonar a sua postura dura e teimosa.

 

Mesmo quando Draghi defende uma expansão da procura, com baixas de impostos e investimentos públicos, a Alemanha diz não.

Não quer nada, e ataca as intenções de Draghi de expandir a oferta monetária, baixando os juros e injectando dinheiro na economia.

Mesmo com a Europa atacada pelo desemprego, pela recessão, pela deflação e pela dívida, a Alemanha tudo rejeita e tudo sabota.

Até quando continuará esta cegueira?

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:39 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 19.06.14

Mourinho tem toda a razão

Hoje, os jornais dão conta de uma grande indignação que vai pelas bandas de Campinas.

Segundo consta, ninguém gostou das afirmações de Mourinho sobre o Portugal-Alemanha, e tudo rosna baixinho contra o "special one".

Dirigentes, treinador, equipa técnica, jogadores, elegeram-no agora como o tipo mau, e destilam ódiozinho contra ele.

Lamento dizer à Seleção que Mourinho tem toda a razão, e quem em vez de o odiar, a Seleção devia refletir no que ele disse.

 

E o que disse Mourinho?

Primeiro, que não esperava um resultado tão mau, uma derrota por 4-0. Nisso, não se distingue em nada dos tais 15 milhões de portugueses.

Depois, criticou fortemente Pepe, dizendo que ele, ainda por cima não sendo nascido em Portugal, devia sentir mais pressão para se portar bem.

Meus amigos, conheço muito português que acha que Pepe não mais devia jogar pela Seleção Nacional, devido ao seu vergonhoso comportamento.

Mourinho não foi tão longe, mas como foi o único comentador que não apaparicou Pepe, ou não disse mal do árbitro, todos o odeiam em Campinas.

É mais um sinal de que o juízo da Seleção se está a perder muito rapidamente.

 

Mas, Mourinho foi ainda mais longe e tocou com o dedo na ferida.

Portugal, em fases finais, não tem marcado golos às grandes equipas.

Foi assim no Mundial 2010, ficou a zero contra o Brasil e contra a Espanha.

Foi assim no Euro 2012, ficou a zero contra a Alemanha e contra a Espanha.

Voltou a ser assim este ano, a zero contra a Alemanha.

Ora, isto significa que a equipa não é capaz de mais, vence adversários mais fracos, mas não vence os mais fortes.

 

É isto motivo para odiar Mourinho?

Não, ele apenas constata a verdade.

Porém, se há coisa que os portugueses odeiam é a verdade.

Os portugueses vivem o futebol em negação, negam a verdade constantemente.

Acham que são óptimos, sonham, e depois quando a dura realidade lhes bate à porta, a culpa das derrotas é do árbitro, nunca nossa. 

 

Ainda bem que Mourinho fala a verdade, diz a verdade, pois isso só mostra que percebe imenso de futebol.

Infelizmente para todos nós, na Seleção está tudo a viver em estado de negação, e ainda há gente que acha que temos equipa para ser campeã do mundo.

Pois...Ponham os olhos na Espanha e vejam o filme que nos pode acontecer no Domingo.

publicado por Domingos Amaral às 11:10 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 04.11.13

O 1640 do Dr. Portas é um divertido delírio!

Na semana passada, Paulo Portas teve um dos seus momentos de delírio, e comparou a saída da "troika" à libertação de Portugal do jugo dos Felipes de Espanha.

2014 seria assim um 1640 financeiro, um momento épico da história do país, onde voltaríamos a ser gloriosamente independentes! 

Estas comparações históricas não deixam de ser divertidas, mas são normalmente um bocado superficiais, e não resistem a um confronto mais pormenorizado com a realidade.

Convém lembrar ao Dr. Portas que, em 1640, Portugal era um reino cujo rei era espanhol.

Depois de umas escaramuças, e de um vazio de liderança por cá, os reis espanhóis tomaram conta disto, e mandavam em nós.

A "ocupação" durou 60 longos anos, e só quando se encontrou um candidato à altura de ser rei de Portugal, é a que a coisa se resolveu, com mais uma guerra pelo caminho.

1640 foi pois um momento de libertação de uma ocupação política, militar e económica.

Ora, que eu saiba, não é isso que se passa em 2013.

Que eu saiba, Portugal não foi invadido pela "troika", contra a sua vontade.

Pelo contrário, foi o país que pediu ajuda, candidatando-se a uma resgate internacional.

E quem é que nos ajudou? 

Bem, que eu saiba, foram países que, como Portugal, fazem parte de uma entidade política comum, a União Europeia.

Que eu saiba, ninguém nos obrigou, pelas armas, a pertencer à União Europeia e ao euro.

Foi uma coisa voluntária, e bastante consensual, por cá.

Não fomos invadidos, nem ocupados, cedemos a soberania porque quisemos, e porque achámos que isso era bom para nós.

Portanto, que eu saiba, a "troika" não representa potências ocupantes, pelo contrário, representa-nos a nós mesmos, e aos nossos aliados e amigos, que responderam ao nosso pedido de ajuda.

É claro que podemos dizer que esses nossos amigos não são muito generosos, e nos obrigam a fazer coisas que nós não gostamos.

Mas dizer que isso é uma "ocupação" semelhante à dos espanhóis, é capaz de ser um pouco exagerado, não é verdade?

Acrescente-se ainda que não tenho notado que este Governo seja contra a "troika".

Bem pelo contrário, desde o primeiro dia disse que queria ir além da "troika"!

O que nos deixa um pouco perplexos, pois se a troika é uma potência ocupante, e queremos libertar-nos dela, talvez seja um pouco complicado de perceber porque é o Governo cumpre rigoramente o que a "troika" manda, e até faz mais do que o mandam.

O estranho é que, se admitirmos o raciocínio de Portas, de que estamos ocupados, então a conclusão lógica é de que Passos e Portas não passam dos meros executores da política de ocupação, e portanto são umas "marionetas espanholas", como foram muitos durante os 60 anos da ocupação dos Felipes...

Mas, a coisa é ainda mais estranha, se pensarmos que, depois de 2014, da famosa "hora da libertação", do Dia da Independência do Dr. Portas, nós vamos continuar exactamente na mesma, a pertencer à União Europeia, no euro, e a ter de fazer tudo o que eles nos mandam!

Não se consegue perceber bem onde é que estará a independência nesse dia, mas se calhar o burro sou eu!

Portanto, o 1640 do Dr. Portas vai ser o dia em que vamos...continuar exactamente na mesma, a receber ordens de Bruxelas!

Os Filipes, caro Dr. Portas, foram-se embora, corridos daqui numa guerra.

Os europeus vão continuar por cá, e a mandar cada vez mais.

Não se iluda, Dr. Portas, o dia da Independência é uma fantasia da sua cabeça.

Os senhores da "troika" podem deixar de cá vir ter reuniões, mas o senhor continuará a andar às ordens da Sra Merkel...  

publicado por Domingos Amaral às 11:30 | link do post | comentar | ver comentários (11)
Terça-feira, 13.08.13

A Espanha está um gaspacho azedo

A Espanha parece um gaspacho que não pára de azedar. 

O tomate usado é velho: a monarquia não tem crédito, com um rei idoso, adúltero e sem tino, que esbanja dinheiro a caçar elefantes.

A cebola é demasiado verde: os príncipes não encantam e choramingam em público, e os maridos das princesas foram apanhados em crimes de vários tipos.

O azeite vem sempre ao de cima: a Catalunha rosna, quase todos os meses, exigindo a independência.

O pepino sabe mal: os bancos, até há cinco anos imperiais e globais, estão a ser resgatados pela Europa, falidos e sem reputação.

A salsa está curta: as autonomias, fórmula mágica para manter o reino unido, endividaram-se até acima das orelhas, e nem piam.

Para mais, o cozinheiro Rajoy não tem habilidade. No poder para cumprir as diretizes austeritárias da Europa, afundou a economia na recessão.

E, pior do que isso, já o chamam de mentiroso, por causa de um tesoureiro corrupto do PP.

É um "chef" sem brilho, limita-se a manter o restaurante aberto.

Para ajudar à festa, renasce o problema de Gibraltar, a pedra de gelo que faltava na sopa, e que só agudiza o mau sabor.

Por causa do rochedo, eternamente mal resolvido, há chispas sérias com o Reino Unido.

E o desemprego, a pimenta amarga da economia, embora tenha descido um pouco no Verão, está como nunca se tinha visto, principalmente entre os jovens e os imigrantes vindos do sul.

Mas nós, portugueses, temos de provar esta sopa.

Espanha é e será sempre o principal parceiro de Portugal, e qualquer salmonela que lá assente arraiais pode contaminar-nos.

Se este gaspacho se estraga mesmo, a Europa bem que pode começar a rezar.

publicado por Domingos Amaral às 13:06 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Sexta-feira, 09.08.13

Viva Obama, alguém que está contra a austeridade na Europa!

Barack Obama falou sobre a Grécia e as suas palavras foram contundentes: a austeridade não vai resolver o problema grego.

Só cortes na despesa do Estado e impostos altos não irão ser capazes de tirar o país da profunda recessão em que está mergulhado.

Obama sabe do que fala.

Também na América, o partido republicano quis ser "austeritário", cortando o deficit e diminuindo a dívida.

Obama foi muito atacado pelos moralistas e pelos austeritários, que acham mais grave existirem dívidas do que desemprego.

Porém, não hesitou, e nunca praticou a austeridade que lhe pediam.

Pelo contrário, tentou estimular a economia com mais despesa do Estado. Subiu os impostos também, mas só para os mais ricos.

O resultado foi bom: enquanto a Europa inteira afocinhava numa recessão, a América começava a sair da crise.

Começava e continua a sair da crise.

Com a ajuda dos estímulos do FED, que injecta mais fundos na economia, o desemprego já desce há muitos meses.

Nada disto foi possível na Europa.

Os alemães, sempre aterrados com o trauma de uma inflação que ninguém vê, impedem o BCE de lançar estímulos semelhantes aos do FED.

E Merkel e seus lugares-tenentes massacraram os pequenos países do Sul com doses cavalares de austeridade.

O resultado é o que se vê.

Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália, Chipre e até a França, não conseguem crescimento decente.

Os pequenos sinais positivos que aparecem são sobretudo isso, pequenos.

A Europa do Sul foi aprisionada na "armadilha da dívida". Faz-se austeridade para baixar a despesa do Estado, mas isso gera mais recessão, e a dívida continua sempre a crescer.

Não há saída desta armadilha assim. Nem as exportações, nem as reformas do Estado, pagam estas dívidas.

As únicas soluções são outras: reestruturação individual ou mutualização europeia das dívidas.

Até a revista "The Economist", paladina do liberalismo económico, não tem dúvidas.

Hoje, o editorial é lapidar: Portugal, Irlanda e Grécia não vão pagar as suas dívidas, os programas de ajustamento, de tão draconianos na sua austeridade, falharam.

Mas, na Europa não há um Obama, e ele aqui não manda quase nada.

É pena.

Com líderes com ideias erradas, a Europa é incompetente, e por isso fica para tráz. 

publicado por Domingos Amaral às 12:57 | link do post | comentar | ver comentários (7)
Segunda-feira, 01.07.13

Grande Felipão!

Ontem, ao ver o Brasil esmagar a Espanha na final da Taça das Confederações, tive um ataque de saudades de Luiz Felipe Scolari.

Que saudades dos tempos em que a nossa seleção era um gigante nas suas mãos! Que saudades de Figo, Deco, Ricardo Carvalho, Cristiano Ronaldo, Maniche, Rui Costa. Até do Pauleta tive saudades!

Sim, eram outros tempos, mas nunca uma seleção nacional jogou tão bem e nos fez tão felizes como nos tempos de Scolari.

E agora, aí está ele de volta, a pilotar o Brasil para mais um historial de grandes feitos.

Nos últimos dez anos, desde que ele deixou a canarinha, depois de ser campeão do mundo em 2002, o Brasil era uma piada, um riso amarelo.

Grandes jogadores sempre teve, desde Ronaldinho a Kaká, passando por mais dez ou vinte que qualquer clube contrataria de olhos fechados. 

Porém, não passavam disso mesmo: de um porém, de um mas. Não convenciam ninguém.

Parece-me que o Brasil anda mal de treinadores. É um pouco como a Argentina. Maus pilotos a guiar bons carros dá nisto, desilusões atrás de desilusões.

Portanto, tiveram de ir chamar o "Sargentão", mais os seus métodos que sempre deram bons resultados nestas coisas de seleções.

E pronto, o Brasil ressuscitou, e ontem vergou a Espanha, a melhor do mundo, a tikitaka não sei quê. 

Scolari é um mestre, e quem o tenha ouvido no fim não pôde deixar de sentir saudades. Ele tem um dom para chefe de claque, e aproveitou logo a deixa para unir a pátria às chuteiras do Neymar, que pela primeira vez me convenceu que é mesmo bom.

É isso que dá ter um bom treinador: os bons passam a fantásticos e os fantásticos passam a génios!

Ou muito me engano, ou a jogar assim o Brasil vai levar tudo à frente...

publicado por Domingos Amaral às 11:55 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 28.05.13

Os falsos mitos económicos da Europa

A Europa está infestada de mitos económicos, histórias falaciosas e fantasias grosseiras, que nos foram vendidas ao longo de duas décadas, e que a deixaram como está, em agonia e com um sombrio futuro pela frente.

E quais são esses mitos que ensombram a Europa? Aqui deixo uma pequena lista:

 

MITO 1 - As dividas dos países do Sul têm de ser pagas, custe o que custar. 

É o mais grave mito que atinge a Europa no presente, onde se mistura uma moralidade de merceeiros com a cegueira dos fanáticos.

Há uma coisa que os europeus deviam meter de vez na cabeça: os países do Sul não têm qualquer hipótese de pagar as dívidas.

Veja-se por exemplo Portugal: a dívida pública atinge 127% do PIB, e a dívida privada, de que se fala menos porque não dá jeito, atinge 340% do PIB.

Sim, leu bem, no total a dívida de Portugal quase chega aos 470% do PIB nacional! E, parecidos connosco, estão a Grécia, a Irlanda, Chipre, a Espanha, a Itália.

Estas dívidas nunca serão pagas.

Enquanto os europeus não perceberem isso, e não reestruturarem as dívidas, e mutualizarem uma grande parte delas, as economias europeias continuarão afocinhadas no desespero e no desemprego.

 

MITO 2 - As exportações vão salvar o crescimento dos países.

É outro mito fantástico, a que os países em crise se agarram, como os náufragos se agarram às bóias de salvação.

Com o consumo e o investimento privados retraídos, e com os gastos dos Estados impedidos de aumentarem, todos olham para as exportações como a salvação das pátrias!

Vã esperança, e patética fantasia. As exportações ajudam, mas não salvam. Não existem praticamente casos de países que tenham saído de recessões profundas só à custa de exportações. 

Para mais, quando quase todos os países europeus querem exportar, para onde vão eles exportar se ninguém quer importar?

 

MITO 3 -  A austeridade orçamental vai resolver o problema das dívidas.

Mais um mito muito promovido pela Europa, em especial pela Alemanha, que durante anos impôs aos outros este caminho.

Como se tem visto, a Europa inteira está em recessão, com um desemprego a crescer para níveis perigosos em muitos países, e não houve qualquer melhoria verdadeiramente significativa, nem nos déficits públicos, nem no crescimento económico, nem na capacidade de pagar dívidas.

Cinco anos depois de 2008, a Europa está cada vez mais pobre e mais paralisada.

 

MITO 4 - A inflação faz mal às economias.

Este é um mito repetido como se fosse um dogma, uma profissão de fé. Contudo, e ao contrário do que dizem os papagaios de poder, para os europeus era precisamente um pouco de inflação que dava jeito agora.

Principalmente no Norte da Europa, pois assim os salários no Norte subiriam mais do que os salários no Sul, permitindo a países como Portugal, Espanha, Grécia, Itália, Irlanda, recuperarem a "competitividade" relativa que perderam.

Mas, quem falar em inflação é queimado em auto-de-fé pela inquisição económica da Alemanha!

 

 

MITO 5 - A liberdade de movimentos de capitais é essencial para a Europa.

Outro terrível mito, que está na origem da maior parte das desgraças financeiras que assolam a Europa.

Infelizmente, foi devido à sagrada liberdade de movimentos de capitais que as economias do Sul se endividaram sem restrições.

Com os capitais a circularem pelos mercados financeiros à velocidade da luz, é impossível controlar as dívidas dos países. 

O que é necessário agora é alguma repressão financeira, que obrigue os bancos e os Estados a uma moderação, e que volte a impor restrições aos seus delírios financeiros.

Se os mercados financeiros não fossem tão livres, e tão gananciosos, talvez não estivéssemos onde estamos hoje. 

 

MITO 6 - A União Europeia não pode ser uma união de transferências dos países ricos para os países pobres

Eis a mitologia europeia em todo o seu esplendor! O mito diz que os povos do Norte não têm de "pagar", e que os povos do Sul não podem viver "à conta" dos do Norte. Pois...

Basta olhar para os Estados Unidos da América para perceber que uma união monetária não significa que vamos ser todos iguais.

Pelo contrário, haverá sempre Estados ricos e Estados pobres; tal como na Europa existirão sempre países ricos e países pobres.

E nos Estados Unidos são os Estados ricos que financiam os pobres, transferindo para lá dinheiros federais.

Se a Europa quiser sobreviver enquanto união monetária, é isso que terá de acontecer. Os países do Norte terão de transferir fundos para os do Sul, gostem ou não. Caso contrário, a união monetária não funciona.

Quem pensar o contrário continua a viver num mundo de fantasia.

 



 

publicado por Domingos Amaral às 12:15 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 18.03.13

Portugal e a Europa estão na Boca do Inferno

Qualquer dia, arriscamo-nos que o que aconteceu ontem no Chipre aconteça na Grécia, na Irlanda, em Portugal ou mesmo em Espanha ou Itália.

Qualquer dia, numa segunda-feira acordamos e a Europa e os Governos foram-nos ao bolso e tiraram-nos uma parte dos nossos depósitos, do que é nosso.

Este fim de semana, na Europa, foi atrevessada uma linha vermelha, uma linha muito perigosa, que estabele a separação entre o que é aceitável e o que é inaceitável. Este fim de semana, a Europa deu mais um passo na direção do abismo, do qual se tem aproximado todos os meses um pouco mais.

Depois de mais de uma década ter tolerado e até promovido alegremente perigosas irresponsabilides aos seus bancos, aos seus mercados financeiros e aos seus governos, a Europa, desde 2009, decidiu um caminho absurdo de austeridade e dureza, que não tem resolvido nenhuma coisa e só tem agravado a crise por todo o lado.

Na Grécia, a situação é cada vez mais dramática e assustadora. Na Irlanda, não há meios de se ver o fim do filme de terror que o colapso da banca irlandesa gerou. Em Espanha, não há sinais de melhoria. Em Itália, o sistema político está um caos. E em Portugal, vemos todos os dias à nossa frente desenrolar-se um desastre em câmara lenta. 

É isto que a Europa tem para oferecer aos seus povos? Austeridade brutal que nada resolve e, se for caso disso, confisco dos depósitos bancários das pessoas? Será que ninguém percebe que estão a ser torpedeadas as fundações das nossas sociedades modernas, que está a ser demolida todos os dias a nossa confiança nas instituições?

O que se passou no Chipre, com o confisco dos depósitos das pessoas, é um acto de "terrorismo económico" gravíssimo, praticado pelas instituições europeias! Pela primeira vez, na Europa unida que temos há muitos anos, passou-se uma linha vermelha essencial, e ninguém sabe o que pode acontecer a partir daqui. Quando é que os líderes europeus vão acordar deste sono trágico que os vitima?

Nos anos 30, há cerca de 80 anos, a Europa estava assim. Os governantes também acreditavam na "austeridade" e faziam enormes cortes na despesa, e os países afundaram numa recessão brutal que atirou para o desemprego milhões e gerou fome e perdição. O resultado, é bom que as pessoas se recordem, foi Hitler, o mais célebre e mais terrível filho da austeridade.

É isso que os políticos europeus querem? Levar os povos ao desespero, fustigando-os com austeridade, até ao ponto em que eles se revoltam e nasça uma ira incontrolável e imprevisível? Se não é parece..

Portugal e a Europa estão na Boca do Inferno. Sim, estamos à porta do Inferno, embora muitos ainda não saibam e muitos mais não o queiram admitir. Mas estamos. Daqui até ao fogo e ao ranger de dentes é só um passo... 

publicado por Domingos Amaral às 11:31 | link do post | comentar
Quarta-feira, 05.12.12

Uma Alemanha fortíssima numa Europa fraquíssima

Angela Merkel é adorada na Alemanha, mas poucos gostam dela no resto da Europa. Não admira. Enquanto a Alemanha se encontra forte e em grande forma, à sua volta espalha-se uma crise gravíssima. Merkel foi ontem reeleita líder pela sua CDU, que a aplaudiu de pé durante oito minutos, mas fora das suas fronteiras a apreciação é diferente.

É o que acontece a quem se especializou em dizer "Não" a tudo. Desde 2009, ano em que foi reeleita para chanceler da Alemanha, Merkel esteve sempre contra as mudanças necessárias para a Europa sair da crise. Não, não e não, foi a sua resposta inicial a qualquer ideia que pudesse ajudar a Europa. Foi essa a política da Alemanha: dizer Não, mesmo que uns meses depois fosse quase sempre obrigada a aceitar mudanças.

É importante recordar o seu primeiro Não. Foi em 2009, quando disse que a Alemanha não garantia a dívida dos outros países. Esta declaração, talvez a mais grave de todas, gerou uma crise de confiança nos mercados da dívida soberana. Se a Alemanha, o país mais rico e mais poderoso do euro, não ajudava, então quem ajudava? As taxas de juro de países como Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Chipre, Itália, e mesmo França e Bélgica, desataram a subir. A crise rebentou.

No início de 2010, Merkel disse o seu segundo Não: não queria um resgate europeu à Grécia. A Grécia afundou cada vez mais, e em meados desse ano, a Europa inteira e o FMI lá acabaram por reconhecer que não havia outra solução, e a Grécia foi mesmo resgatada, embora em condições terríveis e com juros altíssimos, o preço imposto pela Alemanha para aceitar esta contrariedade.

Com a Irlanda e com Portugal, o mesmo filme: primeiro Não, depois lá teve de ser o Sim, com imensa relutância e ferozes cláusulas. E o mesmo se passou com os mecanismos europeus de financiamento aos países, o FEEF e o MEE. Primeiro, a Alemanha disse Não, mas lá acabou por dizer que sim, sempre contrariada.

Situação semelhante se aplicou ao Banco Central Europeu. Quando Mario Monti falou na possibilidade do BCE comprar dívida soberana nos mercados secundários, logo a Alemanha disse Não! Meses mais tarde, aceitaria o sim. Para a união bancária, a mesma reação. Primeiro um rotundo Não, depois um lento e complexo sim, sempre cheio de travões e condicionantes.

Ao longo de três penosos anos, a Alemanha nunca teve uma visão política para a Europa, que pudesse corrigir as deficiências da união monetária e ultrapassar a crise. Manteve-se obstinada nos seus Nãos, limitando-se depois a fazer o mínimo necessário para que o euro não implodisse. Com isso, perdeu-se tempo, e a crise assentou arraiais na Europa do Sul, ameaçando agora a chegar à França e à Alemanha.

Esta postura de Merkel teve naturalmente o aplauso dos alemães. Na verdade, ela colocou sempre o interesse da Alemanha à frente de tudo e de todos. E o seu interesse pessoal também, pois como todos os políticos ela quer ser reeleita em Setembro de 2013. O único problema é que, para ser amada na Alemanha, ela irá pagar um alto preço, pois a crise na Europa não tem fim à vista.

É pena que Merkel não seja, como Kohl ou Adenauer, seus heróis da CDU, uma chanceler alemã que olhe para a Europa não como um bando de países irresponsáveis que a Alemanha tem de meter na ordem, e de aturar a contragosto, mas como uma união essencial para o mundo e, sobretudo, para todos os europeus.

publicado por Domingos Amaral às 12:02 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 05.11.12

Merkel e as economias "zombies"

Eis o famoso "Plano Merkel" para salvar a Europa: mais cinco anos de austeridade! Qual apoio aos investimentos, qual alívio, qual carapuça! Angela Merkel disse este sábado o que tem de ser feito: toma lá mais cinco anos de austeridade, que é a única maneira de melhorarmos todos! Eis a Bruxa Má da Europa (como já aqui lhe chamei) em todo o seu esplendor! O que ela quer é transformar-nos em "zombies"!

Julgo que partiu de Fernando Ulrich a sugestão de que ela apresentasse, na sua visita próxima a Lisboa, um "plano Merkel" para salvar a Europa. Mas, pelos vistos, a senhora não o ouviu, nem quer saber de ideias diferentes para resolver a grande crise que a Europa atravessa. Para a majestosa chanceler germânica, que interessa que a crise desgaste a Grécia, a Irlanda, Portugal, Espanha, Chipre ou Itália?

Que interessa que os juros tenham voltado a subir para estes países, que o desemprego não pare de crescer, que as economias afocinhem numa recessão cruel, sem qualquer sinal de esperança? Isso são pormenores insignificantes. O fundamental é que a Alemanha está pujante e confiante, e é certamente por isso que Merkel acabou de ser aumentada e bem! É verdade: enquanto em toda a Europa se diminuem os salários por imposição alemã, a Bruxa Má da Europa é aumentada e já ganha mais de 20 mil euros por mês!

E diz Ulrich que os gregos não têm de se queixar, pois estão vivos! Talvez "mortos-vivos" seja uma definição melhor. A austeridade que a Sra Merkel tem imposto à Grécia transformou os gregos numa espécie nova de seres humanos: os "zombies" económicos. A economia grega é hoje uma "economia zombie". As empresas gregas estão mortas-vivas, os bancos gregos são mortos-vivos, o Estado grego é um morto-vivo. Andam devagar e abanam-se lentamente, como os desgraçados da série "Walking Dead", da Fox. Ninguém sabe o que fazer à Grécia, ninguém sabe como a ressuscitar, e lá sofrem eles sem cura, "zombies" trágicos desta Europa que, em vez de os tentar salvar, os afunda ainda mais num lamaçal podre. 

Nós não estamos muito melhor. Portugal, ao contrário do que diz a propaganda do Governo, está no mau caminho. Os juros da dívida voltaram a subir, já estamos em 6º lugar no índice dos países mais próximos da bancarrota, as agências de rating falam na possibilidade cada vez mais forte de um segundo resgate, e até a imprensa económica internacional (o Financial Times ou o The Economist) já diz que Portugal não vai conseguir sair da armadilha da dívida e da deflação onde o Governo, a troika e a Sra Merkel o enfiaram.

Também nós, tal como a Irlanda, Chipre, a Espanha e a Itália, estamos em plena metamorfose económica,  cada vez mais "zombies". Não serão precisos cinco anos, bastam um ou dois de mais austeridade para passarmos a "mortos-vivos" económicos. Talvez seja essa a ideia da Sra Merkel, transformar os países do Sul e da periferia em economias "zombies", para então a Alemanha poder reinar à vontade, sem ninguém que enfrente a sua hegemonia. É um destino maravilhoso não é? Uma Alemanha forte, cercada por economias "zombies". 

publicado por Domingos Amaral às 11:00 | link do post | comentar
 

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