Sexta-feira, 16.05.14

Vem aí a recessão em W?

Muitos economistas falam dela, mas poucos a viram!

Chama-se recessão em W, e é um fenómeno económico raro, mas possível de acontecer em Portugal por estes tempos.

Observem um W.

No início, há uma queda abrupta descendo pelo primeiro V abaixo.

Foi o que se passou em 2012, com uma contração económica violenta em Portugal, aumento do desemprego e tudo a falhar.

Depois, toca-se no fundo e volta-se a subir, acompanhando o V.

Foi o que se passou em Portugal durante o ano de 2013, com melhorias claras da situação económica, queda no desemprego e crescimento do PIB.

No entanto, em vez de se continuar a melhorar, há de repente uma inversão económica, e volta-se a descer, caindo no segundo V.

É a chamada recessão em W, que no fundo é uma dupla recessão.

 

Será que isso nos vai acontecer em 2014?

A julgar pelos números do primeiro trimestre isso pode já estar a acontecer, pois o crescimento voltou a ser negativo.

A economia voltou a parar um pouco, e os bons resultados parecem estar a diminuir.

As exportações também desceram, e aqui há um dado curioso: sempre que alguém falava que o crescimento da exportações se devia à Galp e à Autoeuropa, o Governo enfurecia-se, e dizia que era toda a economia que estava a exportar mais!

Agora que houve uma queda nas exportações como a explica o Governo?

Foram a refinaria da Galp e a Autoeuropa que caíram de produção...

O argumento é válido para o mal, mas não para o bem.

Estranho conceito...

 

Mas voltemos à recessão. Será que vamos cair a pique em 2014?

As previsões não apontavam para aí, mas sabemos que muitas vezes as previsões são mais desejos que realidades.

O Governo, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, o Banco de Portugal, a OCDE, todos eles desejam ardentemente que Portugal cresça e recupere, e por isso fazem previsões entusiasmantes.

Porém, como todos sabemos, todas as previsões destas magnas instituições já falharam redondamente no passado, sobretudo em 2012 e 2013.

Falharam para cima, e falharam para baixo, e portanto não é certo que não voltem a falhar.

Para mais, a situação na Europa não está nada melhor, ao contrário do que apregoa Barroso por aí.

A crise europeia não acabou, a Europa não cresce, os preços estão a cair e há deflação, a banca continua cheia de problemas e sem poder dar crédito.

Em finais de Maio, haverá eleições europeias, e sabe-se lá o que vai sair dali. 

E a Leste, entre a Ucrânia e a Rússia, há instabilidade também. 

 

Deveria ser absolutamente evidente para todos a necessidade de uma política europeia mais activa, fosse do BCE, fosse da Comissão.

O BCE tem de intervir em força, com estímulos monetários; e os Governos têm de abandonar esta nefasta via da austeridade, e depressa. 

Se isso não for feito, a Europa continuará a patinar, anémica e sem força para se levantar, e os seus cidadãos continuarão desiludidos.

Por cá, as pessoas que não pensem que só porque saímos do programa de ajustamento terminou o calvário.

Não terminou, e pode até ter aumentado muito o risco de tudo piorar.

Lembrem-se uma coisa: a velocidade a que tudo muda é muito grande.

Há um ano, ninguém pensava em "saída limpa".

Daqui a um ano, quem sabe se não estaremos a lamentar a "entrada suja"...

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:09 | link do post | comentar
Quarta-feira, 26.02.14

Subir o IRS foi bom para a economia portuguesa

Os números da execução orçamental, que ontem foram revelados, são contundentes: a receita fiscal subiu bastante, e a despesa desceu pouco.

Ou seja, o deficit está claramente a diminuir porque as receitas dos impostos estão a subir, o que é muito bom sinal.

Ao contrário do que dizem a direita e a esquerda portuguesa, que nisso têm a mesma opinião, a subida de impostos foi boa para economia, e não má.

A economia portuguesa adaptou-se muito melhor à subida de impostos de 2013 e 2014, do que aos cortes profundas na despesa de 2012.

 

É evidente que esta realidade é impopular.

À direita, é muito mais popular dizer que se deve cortar na despesa e descer os impostos.

É o que dizem Passos Coelho e Portas, e os seus fiéis estão totalmente de acordo.

À esquerda comete-se erro semelhante.

Seguro ataca o Governo porque subiu os impostos, e ataca o Governo porque cortou na despesa.

Não quer nem uma coisa, nem outra, o que é absurdo.

Estão ambos errados.

 

A direita convenceu-se que é sempre melhor cortar na despesa e baixar os impostos, e não olha para a realidade dos números.

A verdade é que o corte profundo na despesa, realizado em 2012, com cortes dos subsídios e das despesas intermédias, provocou efeitos desastrosos em Portugal.

A recessão instalou-se, o desemprego cresceu muito, houve uma profunda quebra das receitas fiscais, e tudo parecia perdido.

Porém, com a forte subida do IRS em 2013, o que se verificou?

A economia voltou a crescer, o desemprego começou a baixar, as receitas fiscais subiram, e o deficit diminui muito mais!

A conclusão devia ser óbvia: a economia portuguesa absorveu muito bem a subida de impostos, e saiu da crise mais rapidamente.

 

É lamentável que ninguém aceite este facto, e que a direita passe os seus dias a dizer que vai descer os impostos e cortar mais na despesa, o que seria grave para a economia, e a esquerda passe os seus dias a dizer que quer aumentar a despesa e cortar os impostos, o que seria igualmente grave.

Ninguém parece perceber que os portugueses preferem pagar mais impostos e não executar tantos cortes nas despesas, nos salários ou nas pensões.

Ou seja, os portugueses estão dispostos a pagar mais impostos para manterem o Estado Social como está.

É essa a conclusão desta crise, e esquerda e direita deviam percebê-lo. 

Mas, é sempre mais popular dizer que se quer descer impostos ou aumentar despesa, e os políticos que temos caiem sempre nessa tentação da popularidade fácil e rápida. 

A verdade é que, se desde 2004 tivessemos todos pago mais impostos, o país não tinha acumulado os deficits que acumulou...

publicado por Domingos Amaral às 10:42 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Sexta-feira, 24.01.14

As estatísticas são como os biquinis, mostram muito, mas não mostram tudo...

Nas últimas semanas, várias têm sido as estatísticas positivas divulgadas sobre a economia portuguesa.

O PIB cresceu, sobretudo no último trimestre de 2013.

O desemprego diminuiu, tendência que se notou ao longo do segundo semestre do ano passado.

A receita fiscal subiu muito, em especial a do IRS e do IRC, embora a do IVA tenha crescido pouco.

O deficit vai ficar abaixo dos 5,5% do PIB, combinados com a troika, o que revela capacidade de contenção e cumprimento de objectivos.

As exportações continuam a subir, embora as importações tenham também subido um pouco.

Este somatório de estatísticas positivas não deve ser ignorado, mas também é preciso perceber um pouco melhor porque isto acontece, e qual o verdadeiro impacto na vida dos portugueses.

 

As estatísticas são como os biquinis, mostram muito, mas não mostram tudo...

É verdade que o PIB cresceu, e isso é bom, mas o crescimento é ainda muito pequeno, frágil e há dúvidas se está bem sustentado. 

Crescemos porque houve mais turismo, mais exportações, mais consumo, mas não porque tenha existido mais investimento durante 2013.

O modelo económico português continua o mesmo, e se os estrangeiros não puxarem por nós, é sempre difícil crescer.

Além disso, os cortes orçamentais previstos para 2014, como avisou ontem a Universidade Católica, vão travar o crescimento e podem mesmo contraí-lo.

 

É evidente que a queda do desemprego é o número mais relevante, pela importância social e indivdual que tem, mas há dúvidas sobre se ele cai porque há mais emigração, ou se há mesmo mais emprego a ser criado. 

De qualquer forma, uma taxa de desemprego nos 15% é ainda muito alta, e muito maior do que era hábito.

O grande desafio é perceber se, daqui para o futuro, a economia portuguesa tem capacidade para absorver este desemprego, ou se vamos passar uma década com números desta dimensão, o que será sempre um drama social.

 

Quanto à parte fiscal, o deficit desce sobretudo porque os impostos cresceram, e isso é positivo.

Na verdade, e embora o Governo não o deseje reconhecer, a economia portuguesa adaptou-se muito melhor à subida de impostos de 2013 do que aos cortes brutais na despesa de 2012.

Como a recessão não foi tão funda, as receitas fiscais subiram, e o deficit desceu.

Porém, o governo para 2014 decidiu regressar aos cortes, e por isso é incerto qual será esse impacto em 2014. 

 

É evidente que, com este panorama de sinais positivos, e com as taxas de juro da dívida pública em baixa, muito próximas dos 5 por cento, há condições para Portugal sair do programa de ajustamento em Maio, e até para não necessitar de um programa cautelar.

Mas, cuidado, pois até Maio ainda faltam cinco meses, e as condições económicas têm mudado muito depressa.

O BCE já avisou que a crise não acabou, que os bancos europeus têm graves problemas, e a deflação espreita ao fundo do corredor.

Estar bem em Janeiro não significa que em Maio se vai estar melhor...

 

Por fim, há algo que este Governo parece esquecer.

O povo não se alimenta de boas estatísticas, e embora do ponto de vista psicológico se sintam melhorias em relação ao ano anterior, os benefícios ainda não começaram a chegar ao bolso dos portugueses.

Crescimento económico nem sempre significa crescimento dos rendimentos das pessoas, sobretudo se são valores pequenos.

E há ainda muitos portugueses para quem 2014 vai ser um calvário de sacrifícios, como os funcionários públicos e os pensionistas.

Se contarmos as suas respectivas famílias, são muitos milhões de pessoas que não sentem qualquer melhoria na sua vida.

Tentar criar expectativas positivas com as estatísticas não muda o essencial: o que o biquini esconde não é, neste caso, nada bonito de se ver. 

publicado por Domingos Amaral às 10:17 | link do post | comentar
Segunda-feira, 11.11.13

Governo: há as boas notícias...e há o Rui Machete!

O Governo só pode andar contente com as últimas notícias.

O desemprego baixou um pouco, o que é bom.

Pode ser por más razões (emigração), pode ser passageiro (sazonalidade), ou por boas razões (mais turismo).

Mas, ninguém no seu juízo perfeito pode considerar isso mau para Portugal.

As exportações também continuam a crescer bem, o que é bom.

Pode ser porque há uma nova fábrica da Galp, ou porque China está a aumentar a procura, mas ninguém no seu juízo perfeito pode dizer que isso é mau, para Portugal.

As taxas de juro da dívida pública também estão a descer, o que é muito relevante.

Pode ser porque o Banco Central Europeu desceu as taxas, pode ser porque algumas agências de rating mudaram um pouco a sua opinião sobre o nosso país, ou porque o Governo é visto como mais credível.

Mas, ninguém no seu juízo perfeito pode dizer que isso é mau para Portugal.

Embora estes sinais positivos não sejam, nem de perto nem de longe, um "milagre económico", são positivos.

Porém, e infelizmente, o Governo não parece perceber três coisas.

A primeira é que a estratégia para 2013, aumentar o IRS cortando menos da despesa, parece ter sido bem menos negativa do que a estratégia de 2012, onde se cortou salários e pensões.

Ou seja, a austeridade do lado dos impostos é menos gravosa para a economia.

A segunda coisa que o Governo não percebe, é que repetir para 2014 a mesma estratégia de 2012 (cortes fortes nos salários e nas pensões), será um risco muito forte, pois pode gerar uma nova recessão.

Para quê provocar nova recessão quando os sinais de recuperação são relevantes?

Não será, digo eu, pouco inteligente voltar a cometer o mesmo erro que se cometeu em 2012?

Por fim, a terceira coisa que este Governo não parece perceber é que Rui Machete é uma tragédia de relações públicas permanentes!

Este Governo, pelos vistos, precisa de ter sempre uma maçã podre, que vai degradando a sua imagem, sem pressa, mas também sem pausas.

Na primeira fase, foi o inimitável Miguel Relvas.

Agora, é o sempre incompreensível Machete. O pobre ministro não acerta uma!

Agora até se aventurou a falar em taxas de juro, como se fosse ministro da economia ou das finanças! 

É um marreta, que só diz inconveniências, como se fosse uma tia velha que já não tem a noção das coisas...

E curiosamente, Passos parece aturá-lo exactamente como se atura uma tia velha.

Por mera caridade, não o expulsa da sala e não o mete num lar de idosos.

publicado por Domingos Amaral às 14:20 | link do post | comentar
Terça-feira, 15.10.13

O orçamento e a armadilha da dívida de Portugal

O orçamento de 2014 é mais uma prova evidente que Portugal está apanhado na "armadilha da dívida". 

Tudo o que o Governo fizer para tentar diminuir o déficit, cortando a despesa do Estado, cortando pensões, cortando salários aos funcionários públicos, pode descer o déficit num primeiro momento, mas irá provocar efeitos recessivos fortes.

Assim, num segundo momento, como se passou em 2012, vai crescer o desemprego, vai diminuir o crescimento económico interno, e isso vai diminuir de novo as receitas fiscais. 

Corta-se na despesa, mas a recessão que se provoca tira-nos uma parte do ganho, pois as receitas do Estado caem, e sobem os custos, se houver mais subsídios de desemprego a pagar.

A melhoria do déficit não é pois muito grande, como se viu nos últimos anos; e ainda por cima, se o PIB cair, o rácio da dívida pode voltar a crescer.

Mas, e esse é um grande sarilho também, tudo o que o Governo fizer para tentar estimular a economia, como por exemplo descer o IRC, vai fazer descer as receitas fiscais, e portanto criar mais déficit.

É claro que, num momento posterior, pode ser bom, pois o investimento pode aumentar, mas inicialmente será mau, pois as receitas diminuem.

É a "armadilha da dívida" em todo o seu esplendor.

Se cortamos na despesa, provocamos recessão; se cortamos os impostos, aumentamos o déficit.

Esta é uma situação muito complexa para qualquer país, e nós não somos caso único.

Há saída para esta armadilha?

Sim, há. Se as exportações crescerem a 20% ao ano, ou se o turismo crescer a 30% ao ano, se calhar saímos da armadilha pelo nosso próprio pé.

Mas, com o crescimento que tem existido, bem mais baixo, isso não é possível.

Só se consegue sair desta aramdilha com ajuda, seja através da reestruturação da dívida, seja através da mutualização da dívida pela Europa.

Só libertando-nos da carga extraordinária de juros que pagamos é que a saída é airosa.

Caso contrário, corremos o risco de andar mais de uma década neste sarilho...

Tal como Sócrates antes deles, Passos e Portas arriscam-se também a acabar trucidados pela armadilha...

publicado por Domingos Amaral às 16:11 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 04.10.13

A economia está melhor, mas ninguém vai sentir muito...

Ontem, a "troika" aprovou as suas avaliações a Portugal, e o Governo confirmou que as medidas austeras são para manter em 2014.

No entanto, Passos, Portas e a "troika", todos nos dizem que a economia "está melhor", e que 2014 será "melhor" que 2013.

É provável que assim seja, mas no seu quotidiano a maior parte dos portugueses não irá sentir muito essas melhorias.

O desemprego pode descer umas décimas, mas os impostos continuarão altos, as pensões sofrerão cortes, bem como os salários dos funcionários públicos.

O crédito também não aliviará muito, nem para as empresas, nem para os particulares.

Tal como durante tantos anos no passado, parece haver uma disfunção clara entre uma entidade abstrata chamada Portugal, e a vida real dos portugueses.

Durante quase uma década, entre 2002 e o presente, os números económicos e financeiros de "Portugal" nunca foram brilhantes.

O crescimento foi fraco, com poucas excepções; o déficit esteve sempre alto, fora dos limites de Maastricht; o déficit comercial foi-se agravando sempre, porque havia muito mais importações do que exportações; os impostos foram sempre subindo; etc, etc.

No entanto, como havia crédito fácil e todos se endividavam (Estado, empresas e pessoas), havia sempre muito dinheiro disponível, e este "efeito riqueza" dava a ilusão a todos que se vivia cada vez melhor.

E, de facto, era verdade. Os portugueses viveram bem, mesmo que os números de Portugal fossem medíocres.

Agora, no presente, e depois de uma violentíssima crise financeira e económica, o que ouvimos é o oposto.

Os números de Portugal começam a melhorar. Há mais crescimento, menos déficit, ligeiramente menos desemprego.

Porém, os portugueses sentem-se muito pior, e todos se habituaram a viver com muito menos dinheiro do que antes.

É estranho, mas os portugueses não parecem ser os habitantes dessa entidade mítica chamada Portugal.

Há entre eles e Portugal um desfasamento permanente, como se não conseguissem acertar com o passo um do outro numa dança.

Quando Portugal parecia anémico, os portugueses dançavam vertiginosamente.

Quando Portugal parece arrebitar, os portugueses estão macambúzios e deprimidos...

Será que algum dia o passo desta valsa acerta? 

publicado por Domingos Amaral às 11:31 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quarta-feira, 07.08.13

O Governo não acerta nas previsões, nem mesmo nas boas!

Há dois meses, quando saíram os números do desemprego, Passos Coelho informou o país que "o desemprego ia continuar a subir"!

Lançou uma mensagem de duro realismo, como quem diz que não valia a pena ter grandes esperanças.

Contudo, o desemprego este mês começou a descer, e está agora em 16,4%, o que ainda sendo muito alto, é bom sinal.

Mais uma vez, este Governo não conseguiu acertar nas previsões. 

A sensação com que ficamos é que os modelos económicos em que o Governo se baseia para fazer as suas estimativas para a economia devem estar todos bastante baralhados. 

Quando foi para estimar o impacto das medidas de austeridade, saiu tudo ao contrário, e a recessão foi muito mais forte do que o Governo esperava.

Agora, que as coisas parecem estar a melhorar, o radar governamental não capta esses sinais, e Passos achava que o desemprego ia continuar a subir "até ao final do ano"!

Seja como for, isso não é o mais importante.

O mais importante é que o desemprego, pela primeira vez em quase dois anos, desceu.

A economia do país parece estar finalmente a sair do ponto mais negro e mais profundo, da sua espiral depressiva.

Além de algumas ajudas que outros países nos estão a dar (a Espanha está um pouco melhor, a Alemanha também vai andando), há boas razões para pensar que a estragégia orçamental de 2013, que passou pelo IRS aumentar muito, depois do chumbo do Tribunal Constitucional ao corte nos subsídios, foi mais eficaz do que a estratégia de 2012, onde só houve cortes nos subsídios, e não houve aumentos de IRS.

A economia portuguesa absorve com muito mais facilidade uma mexida no IRS, mesmo que seja um "aumento enorme de impostos", do que cortes nos subsídios de férias e Natal dos funcionários públicos; ou alterações no IVA da restauração e outros sectores.

Ainda bem portanto, como aqui já escrevi, que o Tribunal Constitucional também vetou os cortes nos subsídios para este ano, impedindo assim mais recessão.

Por outro lado, a descida dos preços em Portugal parece estar a atrair muitos turistas, e parece haver mais actividade económica por causa disso, pelo menos é essa a sensação de quem passeia por Lisboa.

O que ninguém sabe, é se isto chega.

É evidente que é fundamental o país sair de uma recessão profunda. Ninguém pode aceitar que Portugal tenha um crescimento negativo de menos 3%.

Mas, sair de uma recessão profunda não é suficiente.

Para pagar a sua colossal dívida, Portugal precisa de crescer muito e 0,4 % ao trimestre não é muito.

Já é alguma coisa, mas não é quase nada.

O país melhorou, mas quem pensar que já saímos da "armadilha da dívida" está a fantasiar.  

publicado por Domingos Amaral às 11:56 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 17.06.13

Prefere ter dívidas ou ter desempregados?

A pergunta que dá o título a este post é a pergunta que devemos todos fazer sobre Portugal e sobre a Europa.

O que é mais grave para um país ou para a Europa, ter dívidas ou ter desempregados?

Desde Setembro de 2009, data em que a senhora Merkel venceu as eleições na Alemanha, a resposta da Europa foi simples: não é aceitável ter dívidas!

Os países mais fortes, com a Alemanha à cabeça, foram peremptórios: não pagavam as dívidas dos países mais pobres! 

Quem se endiviou demais, que pague pelos seus erros, foi esta a máxima exemplar da Europa, com Merkel a ser a cara desta direção geral. 

Depois, um pouco por todo o Sul da Europa, os "merkelianos" tomaram conta do assunto, e começaram a impôr doses cavalares de austeridade.

Parecia simples: se tens dívidas a mais, deixa de gastar, corta nas despesas e paga o que deves!

Simples, mas estúpido. Aos "merkelianos", apaixonados pela austeridade, escapou um pequeno mas muito importante detalhe. É que um país não é um família, e uma União Europeia não é uma quintarola qualquer.

Ao começarem a praticar austeridade todos ao mesmo tempo, primeiro na Europa do Sul e depois mesmo no norte, na Holanda, na França, na Finlândia e até na Alemanha, os "merkelianos" esqueceram os efeitos "sistémicos" que isso iria trazer a todos. 

Parecia muito fácil dar ordens austeras à Grécia, impôr a Portugal e à Irlanda umas "troikas" exigentes. A coisa ia ao sítio de certeza.

Porém, só com o passar do tempo os "merkelianos" descobriram que massacrando as pequenas partes, um dia o todo ia também sofrer.

E foi isso que aconteceu. A recessão, em vez de ser localizada, expandiu-se como um vírus. A austeridade, tão bela e virtuosa, transformou-se numa ceifeira de empregos e empresas. Os Estados mirraram, algemados pela sra Merkel e pelos seus papagaios locais, como Gaspar e Passos.

Quatro anos depois, a Europa descobre o paradoxo que o economista Irving Fisher descobriu há mais de 80 anos: se todos cortarem nos gastos, nos salários e nas despesas ao mesmo tempo, todos ficam mais pobres!

Olha-se hoje para a Europa, do Atlântico até aos fiordes, de Paris a Atenas, e o que se vê é um mar de desempregados, um lago recessivo onde ninguém faz mais do que boiar, tentando não naufragar.

É este o legado da Sra Merkel e dos seus seguidores, é esta a herança da austeridade. Em pânico com as dívidas, os europeus geraram um monstruoso e arrepiante desemprego. É isso que preferem? Preferem ter desempregados aos magotes em vez de dívidas?

Sempre aqui escrevi que Merkel foi a pior coisa que aconteceu à Europa em muitas décadas. Uma mulher lenta de raciocínio, uma pata choca com uma moral de merceeira, sem qualquer visão lúcida sobre o destino comum da Europa.

Só peço a Deus, todos os dias, que os alemães corram com ela. Caso contrário, o desastre não vai parar. No seu cérebro de foca mal amestrada, a sra Merkel nunca irá perceber que é muito mais grave para a Europa ter desempregados do que ter dívidas. 

 

publicado por Domingos Amaral às 12:33 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Sexta-feira, 31.05.13

Embora lá fazer de conta que a crise não existe?

De há uns tempos para cá, um mês, talvez dois, parece-me que os portugueses se andam a esforçar para pensar que a crise já não existe, ou que o pior já passou.

Com aquela habilidade tipicamente "tuga", tenta-se fazer de conta, pensar positivo, acreditar no futuro, para nos convencermos que isto não é tão mau como pintam a coisa.

É um processo psicológico típico: como pensar muito sempre na mesma coisa nos causa angústia, é melhor não pensarmos mais, que talvez a má sensação se vá embora. 

O que não falta neste país são pessoas que passam por optimistas, quando na verdade são apenas inconscientes. Há quem acredite que basta a dose certa de pensamento positivo para vencermos este obstáculo.

Normalmente, quando ouço esse tipo de pessoas a falar, sei pelo menos uma coisa sobre elas. Estão empregadas, e portanto podem dar-se ao luxo de ser "positivas". 

Agora, com o desemprego a subir da forma que tem subido, como acreditar que estamos no bom caminho? 

É uma das coisas que me causam perplexidade neste Governo. Sendo um Governo de centro-direita, eu pensava que era um Governo que queria diminuir o número de pessoas a depender da ajuda do Estado para viver. É isso que os liberais normalmente defendem.

Porém, com as políticas que este Governo tem promovido, há hoje muito mais portugueses a viverem à custa do Estado do que havia antes dele chegar. São às centenas de milhares a receberem subsídios de desemprego!

E as receitas do Estado, como se esperava já, continuam a descer a pique. É de facto um feito glorioso de Gaspar e Passos.

E tudo isto é feito em nome do "regresso aos mercados" e da "credibilidade financeira do país"! É um país maravilhoso, o que este Governo deseja. Um país pobrezinho mas honrado!

Onde é que eu já ouvi isto? Mas, hoje está um dia de sol e bem bonito, o melhor mesmo é amanhã ir à praia e...pensar positivo!

publicado por Domingos Amaral às 16:17 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 10.05.13

A Europa e a Sra. Merkel deviam pagar os nossos subsídios de desemprego

Já é evidente para todos que a Europa se espetou ao comprido no combate à crise económica e financeira que a invadiu.

O desemprego europeu é avassalador, há cinco países a serem resgatados (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Chipre) e as más notícias não param.

Quase cinco anos depois do início da Grande Crise Financeira de 2008, são por demais evidentes os graves erros cometidos pelos europeus, na resposta àquela que era apenas uma crise financeira e bancária, entre 2008 e meados de 2010.

O primeiro erro foi precisamente esse: os europeus não compreenderam que uma crise financeira devia ser resolvida com medidas financeiras, e não com a economia. Ao obrigarem as economias a sofrer, os europeus transformaram uma crise financeira grave numa crise económica gravíssima.

Em 2009, bastaria o Banco Central Europeu ter dito o que disse três anos mais tarde, em 2012 - que faria o que fosse preciso para "salvar o euro" - e as coisas teriam sido bem mais fáceis para todos.

Contudo, os europeus preferiram um caminho diferente. Liderada pela Alemanha, a Europa decidiu dar sermões e pregar moralidade e aplicar "um castigo" aos países com dívidas excessivas.

O ajustamento teria de ser feito exclusivamente pelos "devedores", esses irresponsáveis que viveram "acima das suas possibilidades"! Esta moralidade durona, típica de Merkel e Schauble, esquecia uma verdade essencial: para existirem devedores "irresponsáveis" também têm de existir credores "irresponsáveis", e os ajustamentos devem ser feitos por ambos, e não apenas pelos "devedores".

Mas, a fúria punitiva e castigadora dos alemães levou a vitória, e os programas de ajustamento aplicaram-se somente aos devedores. E à bruta. As "troikas" dedicaram-se à violência e à rapidez. A austeridade tinha de ser depressa e muita, para funcionar.

Vários anos depois, os resultados desta "Cruzada Austeritária" estão à vista de todos: desemprego brutal, recessão económica profunda nos países intervencionados, e recessão económica geral no resto da Europa.

É claro que, em certos casos, como o de Portugal, os efeitos nefastos foram amplificados por um Governo mais "troikista" do que a própria "troika", e agora ninguém vê forma de Portugal sair deste buraco negro. Mas, a culpa principal é da Europa, e não nossa.

É por todas estas razões que faz cada vez mais sentido a proposta de ser a Europa a pagar os subsídios de desemprego dos países que estão sob intervenção. Se a política europeia foi um erro de proporções gigantescas, o fardo das consequências devia ser suportado sobretudo pela Europa, e não pelos países.

Uma importante parte do desemprego criado em Portugal, na Grécia, na Irlanda, em Chipre e até em Espanha ou Itália, resulta directamente das erradíssimas políticas que os alemães nos impuseram a todos. Ora, porque não mandar-lhes a conta?

Era assim que devia ser. Merkel impôs uma política brutal, essa política falhou e gerou um desemprego brutal, pois então que seja a causadora disto tudo a suportar o preço, pagando os nossos subsídios de desemprego. Talvez assim a senhora aprendesse...

   

publicado por Domingos Amaral às 16:28 | link do post | comentar | ver comentários (4)
 

Livros à venda

posts recentes

últ. comentários

  • Li com prazer o seu primeiro volume volume de assi...
  • Caro Domingos Amaral, os seus livros são maravilho...
  • Caro Fernando Oliveira, muito obrigado pelas suas ...
  • Gostei muito dos dois volumes e estou ansiosamente...
  • Bela e sensata previsão!Vamos ganhar a Final?!...
  • A tua teoria do terceiro jogo verificou-se!No enta...
  • Gostei de ler, os 2 volumes de seguida. Uma aborda...
  • Neste momento (após jogo com a Croácia) já nem sei...
  • Não sei se ele só vai regressar no dia 11, mas reg...
  • No que diz respeito aos mind games humildes, é pre...

arquivos

Posts mais comentados

tags

favoritos

mais sobre mim

blogs SAPO

subscrever feeds