Em vez de inventar soluções mirabolantes como a "concessão", o Governo devia voltar à sua solução inicial de privatizar um dos canais públicos, mantendo o outro em canal aberto, mas sem publicidade. Um dos canais da RTP podia perfeitamente continuar em sinal aberto, desde que a sua programação fosse reformulada e não fosse como é, exactamente igual à dos privados. Na verdade, a actual RTP 1 é um canal privado cujo proprietário é o Estado, pois transmite o mesmo que os privados: entertenimento barato, desporto, filmes e séries internacionais. Ora, não faz qualquer sentido o Estado gastar dinheiro a fazer o que os privados fazem bem. Além da SIC e da TVI, há dezenas e dezenas de canais no cabo que transmitem filmes de Hollywood, concursos da Endemol ou da Freemantle, séries da Fox ou da HBO, e desporto até dizer chega.
Portanto, o que o canal aberto da RTP devia fazer é o que os privados não fazem bem, ou seja, actuar onde existem "falhas de mercado": ficção nacional histórica (cinema e séries), teatro e revista nacionais, debates informativos, fóruns de intervenção popular, informação cultural e regional. No fundo, o canal da RTP não devia ser nem como a RTP 1 (com programação demasiado "privada"), nem como a RTP 2 (com programação demasiado marginal), mas sim o meio caminho, uma espécie de RTP 1/2, e para a qual chegavam perfeitamente os 160 milhões de euros que o Estado nos cobra na taxa do audiovisual. Além disso, a RTP podia ter, como já tem, alguns canais no cabo - Informação, Memória - ao qual se podia juntar um canal "revelação", que seria uma espécie de RTP 2 no cabo.
Nesse modelo, o segundo canal aberto do Estado podia e devia ser privatizado, e passariam a existir três canais privados que lutavam pela publicidade - SIC, TVI, e o novo - e um canal de serviço público, a RTP, sem publicidade e bem mais barata do que a actual. Esta solução não só permitia ao Governo cumprir o que prometeu no seu programa eleitoral, como também seria mais consensual em Portugal e na Europa, onde em todos os países existe serviço público de televisão. Contudo, como os interessses privados estão contra e exigem negócios sem qualquer risco, o governo inventou esta ideia da "concessão", uma patetice sem nome.