Quarta-feira, 27.03.13

As audiências de Sócrates: descubra em que grupo se encaixa

Hoje à noite, por volta das 21 horas, quando Sócrates aparecer para a sua muito aguardada entrevista, centenas de milhares de portugueses vão sintonizar o canal público, formando a maior audiência de sempre da RTP dos últimos cem anos!

Há mesmo quem diga que serão vários milhões de portugueses, mas é evidente que isso só se saberá nos dias seguintes. Porém, o que é já certo é que as motivações dos portugueses para verem a entrevista de Sócrates serão muito diversas. É mesmo possível fazer uma tipologia das audiências, dividindo os portugueses em diferentes grupos. A saber:

 

1- Grupo "Matem o Gajo Já!"

São os portugueses enraivecidos com a ressureição de Sócrates. Hoje à noite, a frase mais proferida por elementos deste grupo será "Este filho da p... devia era estar preso". Este grupo, que prima pelo palavrão e pela fúria cega, inclui muitos jornalistas de centro-direita, muitos taxistas e muitos indignados de extrema-direita e de extrema-esquerda. Independentemente do partido em que votam - do CDS ao Bloco, passando pelo PSD e pelo PCP - são o grupo mais extremista, cuja lucidez é quase nula, mas cuja raiva é imensa. Alguns deverão mesmo aparecer à porta da RTP, só para dar uns gritos.

 

2 - Grupo "Volta para Paris Já!" 

Não se devem confundir estas pessoas com as do primeiro grupo, pois estas são mais bem educadas, embora igualmente punitivas. São normalmente pessoas calmas com tendências ditadoriais dentro, que acham que Sócrates devia ser proibido de voltar a Portugal, mas que não têm poder para fazer nada. Limitam-se a pensar que Sócrates é um ser maligno, e devia voltar para Paris imediatamente, mas acabam por ouvi-lo, nem que seja só para confirmar que ele não tem razão em nada do que diz.

 

3 - Grupo "Fora da RTP Já!"

São milhares de pessoas, a julgar pela petição que circulou nas redes sociais. Não querem propriamente calar Sócrates, apenas o que querem calar...na RTP. São pessoas que estão naturalmente ainda indignadas pela forma como Sócrates governou o país, e que acham que o seu dinheiro de contribuintes não deve ser usado para promover o regresso de um dos maiores responsáveis da actual crise do país. Já destilaram a raiva assinando a petição, mas como não deu em nada, vão acabar por ver a entrevista, e dizer uns palavrões pelo caminho.

 

4 - Grupo "Atenção que o Gajo é Perigoso!"

É um grupo recém-formado, mas que tem cada vez mais portugueses, especialmente vindos dos partidos da maioria, CDS-PP e PSD. Com os dias a passarem, estes portugueses têm-se vindo a dar conta que "o gajo até tinha razão em muita coisa" e por isso o seu regresso é perigoso para o Governo, pois vai contribuir ainda mais para o descrédito de Passos Coelho. Alguns destes, depois da entrevista, vão provavelmente passar para os dois grupos acima referidos.

 

5 - Grupo "Isto Já Não Está Nada Seguro!" 

Estão obviamente neste grupo muitos socialistas que, sabendo das fragilidades da liderança de António José Seguro, temem que um Sócrates renovado e revigorado por dois anos em Paris a estudar filosofia seja um enorme sarilho para Seguro. O próprio Seguro deve estar neste grupo...

 

6 - Grupo "Será Que Este Gajo É Melhor Que O Coelho?"

São portugueses que votam em muitos partidos diferentes mas que não são militantes fervorosos de nenhum e que, em parte porque a situação está má, em parte porque até têm algum respeito por Sócrates, estão curiosos para o ouvir, pois as atuais lideranças dos partidos não os convencem muito. Este é um grupo que está em claro crescimento nos últimos dias, embora o Governo não se tenha dado conta disto. 

 

7 - Grupo "I Love Sócrates Forever!"

São os fanáticos socráticos, que lançaram petições a favor do regresso do seu herói, e que o defendem de forma empolgada nas redes sociais, listando os imensos méritos dos seus Governos. Estão enfurecidos com os portugueses que se lembraram de querer proibir Sócrates na RTP, dizendo que isso é censura e outras pérolas no género. Hoje à noite, há quem acredite que muitas garrafas de champanhe serão abertas por este grupo!

 

8 - Grupo "Chico-Espertos Laranjinhas" 

É um pequeno grupo instalado na presidência do Conselho de Ministros, formado à volta de Miguel Relvas e com o apoio do próprio Passos Coelho, que está muito orgulhoso com a ideia genial que tiveram de colocar o país a discutir o regresso de Sócrates, em vez de discutir as incompetências do Governo. Na aparência, o regresso de Sócrates é bom para este grupinho, mas há quem tema um ricochete... 

 

PS: Além destes grupos, há ainda um grupo muito vasto que, ao que parece, não fará parte da audiência, que é o Grupo "Não Vou Ver o Gajo Nem Morto!" Embora eu desconfie que alguns destes ainda vão acabar por saltar para um dos grupos 1 a 6...

 

   

publicado por Domingos Amaral às 15:02 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Terça-feira, 04.12.12

Um Governo subserviente aos alemães e desorientado com os portugueses

Se há coisa que incomoda neste Governo é a subserviência à Alemanha, que é todos os dias evidente. Na semana passada, depois do Eurogrupo ter tomado importantes decisões sobre a Grécia, muitas delas contra a vontade da Alemanha, vieram logo Passos e Gaspar dizer, com alegria e entusiasmo, que Portugal ia beneficiar dessas decisões, talvez com descidas de juros e mais tempo.

Mas, logo nos dias seguintes, e apesar da fanfarra dos jornais em Portugal, começaram a ouvir-se vozes europeias e dizer que não eram bem assim. Ontem, foi a vez do ministro alemão Schauble "desaconselhar" Portugal a ir por esse caminho. A Alemanha falou, e o que se viu logo? Passos Coelho e Vítor Gaspar corrigiram de imediato o discurso, dizendo que afinal não queriam nada as condições da Grécia!

A Alemanha manda, Portugal diz amen, é a estratégia do Governo em todo o seu esplendor, mesmo que isso implique que Passos e Gaspar se tenham de contradizer a si próprios, apenas sete dias depois. Esta impressão de subserviência é fatal para a credibilidade interna do governo, embora possa ser muito importante para ficarmos "bem vistos" aos olhos do alemães, o que parece ser o principal e único objectivo do Governo.

Mas, os sinais deste tipo de desorientação são cada vez mais evidentes, e não só na questão internacional. Veja-se por exemplo na Educação. Na entrevista à TVI, Passos disse que as famílias iriam ter de partilhar o financiamento da educação pública. No dia seguinte, o ministro Crato negou tal ideia, e uns dias depois, o mesmo Passos proclamou que nunca falara em tal coisa, os chamados co-pagamentos. Em que é que ficamos?

E nem vale a pena referir a RTP, sobre a qual há mais ideias do que canais. Primeiro era a privatização total, depois era só a de um canal (a RTP 2), depois ouvimos o magnífico António Borges lançar a ideia mirabolante da concessão; e agora já vamos na privatização parcial (só 49%) mas entregando a gestão a privados! Enfim, para a semana ou coisa assim deve haver uma ideia nova, não vale a pena preocuparmo-nos de mais.

Mais valia perguntar ao Sr. Schauble o que ele pensa da educação pública paga e da privatização da RTP! Assim sempre sabíamos o que pensa quem realmente manda em Portugal, e acabava-se esta cacofonia permanente de palavras ocas!

publicado por Domingos Amaral às 12:28 | link do post | comentar
Quinta-feira, 30.08.12

Passos Coelho e a RTP

Passos Coelho esteve bem acalmar a "histeria" sobre a RTP, a expressão é dele. E disse o que tem de ser dito. Primeiro, que é importante sabermos que serviço público queremos ter. Segundo,que é importante saber quanto dinheiro queremos gastar com ele. São exactamente esses os dois pontos fundamentais da questão. Pela minha parte, quero uma RTP 1 que faça aquilo que os privados não fazem bem, e não o que eles fazem. Não faz sentido o Estado gastar o nosso dinheiro com concursos, filmes de Hollywood, jogos de futebol, ou séries de segunda categoria. Isso existe a granel nos canais privados e no cabo. Só faz sentido a RTP fazer informação, nacional e regional; fazer revelação, documentários, etc; fazer recordação (memória); e fazer ficção nacional de qualidade, nomeadamente séries históricas que os privados não fazem porque são muito caras. Assim, parece-me que chegava perfeitamente ter um canal aberto (RTP 1) e depois ter quatro canais no cabo (RTP 2, RTP Memória, RTP Informação, e RTP ficção). A RTP África e a Internacional podiam ser substituídas por estes canais nos satélites, que ninguém perdia nada com isso. E para pagar um canal aberto e quatro no cabo chegam perfeitamente os 160 milhões de euros que o Estado ganha com o pagamento da taxa de televisão. Neste cenário, a RTP 1 não devia ter publicidade, e devia ser vendida mais uma licença a um operador privado, para tomar o lugar da RTP 2 nos canais abertos.  

publicado por Domingos Amaral às 10:30 | link do post | comentar
Segunda-feira, 27.08.12

Privatizar a RTP (Episódio 2)

Em vez de inventar soluções mirabolantes como a "concessão", o Governo devia voltar à sua solução inicial de privatizar um dos canais públicos, mantendo o outro em canal aberto, mas sem publicidade. Um dos canais da RTP podia perfeitamente continuar em sinal aberto, desde que a sua programação fosse reformulada e não fosse como é, exactamente igual à dos privados. Na verdade, a actual RTP 1 é um canal privado cujo proprietário é o Estado, pois transmite o mesmo que os privados: entertenimento barato, desporto, filmes e séries internacionais. Ora, não faz qualquer sentido o Estado gastar dinheiro a fazer o que os privados fazem bem. Além da SIC e da TVI, há dezenas e dezenas de canais no cabo que transmitem filmes de Hollywood, concursos da Endemol ou da Freemantle, séries da Fox ou da HBO, e desporto até dizer chega.

Portanto, o que o canal aberto da RTP devia fazer é o que os privados não fazem bem, ou seja, actuar onde existem "falhas de mercado": ficção nacional histórica (cinema e séries), teatro e revista nacionais, debates informativos, fóruns de intervenção popular, informação cultural e regional. No fundo, o canal da RTP não devia ser nem como a RTP 1 (com programação demasiado "privada"), nem como a RTP 2 (com programação demasiado marginal), mas sim o meio caminho, uma espécie de RTP 1/2, e para a qual chegavam perfeitamente os 160 milhões de euros que o Estado nos cobra na taxa do audiovisual. Além disso, a RTP podia ter, como já tem, alguns canais no cabo - Informação, Memória - ao qual se podia juntar um canal "revelação", que seria uma espécie de RTP 2 no cabo.

Nesse modelo, o segundo canal aberto do Estado podia e devia ser privatizado, e passariam a existir três canais privados que lutavam pela publicidade - SIC, TVI, e o novo - e um canal de serviço público, a RTP, sem publicidade e bem mais barata do que a actual. Esta solução não só permitia ao Governo cumprir o que prometeu no seu programa eleitoral, como também seria mais consensual em Portugal e na Europa, onde em todos os países existe serviço público de televisão. Contudo, como os interessses privados estão contra e exigem negócios sem qualquer risco, o governo inventou esta ideia da "concessão", uma patetice sem nome. 

publicado por Domingos Amaral às 11:24 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Privatizar a RTP (Episódio 1)

A proposta de concessionar um dos canais da RTP e extinguir o outro é um perfeito disparate, mas mais grave do que isso é quase um insulto a quem votou nos partidos da coligação, PSD ou CDS. No seu programa eleitoral, este governo prometeu privatizar um dos canais da RTP, ficando o outro em serviço público, o que não tem nada a ver com esta ideia mirabolante de "concessionar" a privados a RTP 1 e fazer desaparecer a RTP 2. "Concessionar" é pois uma quebra grave do ideal prometido. Além disso, esta proposta tem dois defeitos importantes que deviam levar o governo a enfiá-la numa gaveta, de onde nunca devia ter saído. O primeiro é que não é consensual. Nem os partidos da oposição - PS, PCP e Bloco - nem ao que parece o CDS, estão de acordo com ela, o que deveria merecer mais atenção do PSD, pois esta é uma das áreas em que não se devia mexer muito sem um consenso nacional alargado, mais do que não seja para que, uns anos depois e caso mude o poder político, não se volte a ter de mudar tudo, perdendo tempo e sobretudo dinheiro. O segundo defeito desta proposta é que parece feita à medida dos interesses dos privados e não do Estado. Assim, não se complica a vida dos dois privados já existentes - SIC e TVI - que obviamente resistem à ideia de ter um novo concorrente que lute por publicidade. E ao mesmo tempo, dá-se de bandeja ao "concessionário" um bolo fantástico de receitas que é a taxa que todos pagamos na conta da electricidade. No fundo, é uma espécie de PPP para a televisão, e provavelmente será mais um belo negócio que o Estado dá aos privados sem risco nenhum.    

publicado por Domingos Amaral às 10:56 | link do post | comentar
 

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