Credores e devedores
Agora que a "troika" está em Portugal para fazer mais uma das suas avaliações, gostaria aqui de refletir sobre um problema que é quase filosófico. Quando um país, um banco, uma empresa ou uma pessoa pede dinheiro a mais emprestado, e fica com uma dívida demasiado grande que não tem capacidade para pagar, de quem é a culpa? A culpa é do devedor, que pediu o dinheiro emprestado - seja ele um país, um banco, uma empresa ou uma pessoa - ou do credor, seja ele um ou vários bancos, nacionais ou estrangeiros? Quem pediu emprestado é que exagerou no total que pediu, ou quem emprestou é que avaliou mal a situação e emprestou mais do que devia? Salvo casos excepcionais, desastres, mortes ou acidentes imprevisíveis, a mim parece-me que na grande maioria dos casos a culpa é de ambas as partes. Tanto os devedores são culpados, por terem pedido dinheiro a mais, como são culpados os credores por terem emprestado demais. E, quando ambos verificam que a situação chegou a um nível insuportável, a solução deve ser procurada por ambos os lados, e ambos os lados devem assumir perdas e sacrifícios. É isso que se costuma verificar com as pessoas, as empresas e os bancos, no entanto não é isso que se tem verificado na Europa. Desde há três anos para cá, a "troika" e a sra Merkl impuseram o primado de que a culpa é dos devedores e devem ser eles a arcar com todos os sacrifícios e não os credores. É este o espírito das políticas de austeridade que têm sido impostas a países como a Grécia, a Irlanda, Portugal ou a Espanha. Apesar dos credores também terem muita responsabilidade (quem os mandou emprestar tanto dinheiro a países que pelos vistos não tinham possibilidades de pagar de volta esse dinheiro?), apesar disso, são os devedores que estão a fazer os sacrifícios todos, são os povos que estão a ser massacrados com mais e mais impostos e austeridade, enquanto os credores não perdem um tostão e ainda cobram juros. Não só me parece moralmente errado, como pelos vistos não está a resultar em lado nenhum.