Sexta-feira, 20.03.15

Salgado e a diferença entre a falência do GES e a falência do BES

Ontem, ao ouvir Ricardo Salgado, e depois de 100 dias de comissão de inquérito, fiquei com a absoluta certeza de que a responsabilidade pela falência do GES (Grupo Espírito Santo) é da família que o geria, com Salgado à cabeça.

Há anos que havia dívida a mais, maus negócios, um desastre angolano e uma fuga para a frente permanente.

O GES faliu porque a família e Salgado falharam rotundamente na gestão, disso não há qualquer dúvida.

 

Porém, o mesmo não se aplica ao BES. 

Enquanto no GES as responsabilidades da família não têm de ser partilhadas com ninguém, no BES há mais responsáveis.

Durante um ano, era possível o Banco de Portugal, o Governo e a troika terem actuado e salvo o BES.

Ricardo Salgado podia e devia ter sido removido da presidência do BES, provavelmente ainda em 2013, depois do presente do construtor civil ou da declaração de IRS que teve de ser corrigida.

Esse teria sido o momento ideal para alterar o rumo do BES, e se o tivessem feito, o descalabro não teria acontecido.

 

Porém, durante um longo ano, o Banco de Portugal, o Governo e a "troika", mesmo sabendo do descalabro, deixaram Salgado continuar à frente do BES.

Aprovaram um aumento de capital vergonhoso, e prometeram que não iam deixar cair o banco, incluindo ao próprio Salgado, como se prova pelas cartas conhecidas ontem.

Mesmo depois disso, ainda podiam ter evitado o descontrole nefasto que atingiu o BES em Julho.

Não o fizeram porque não quiseram, e por isso são também responsáveis pela falência do BES, e pelo abalo sísmico que o sistema financeiro português sofreu.

Esta nefasta história podia e devia ter terminado de outra forma. 

publicado por Domingos Amaral às 09:59 | link do post | comentar
Terça-feira, 17.03.15

Ulrich e a falência vergonhosa do BES

Finalmente, alguém foi à comissão de inquérito do BES dizer a verdade.

A prestação de Fernando Ulrich, ainda a decorrer, tem sido uma pedrada no charco da podridão que se instalou em Portugal nos últimos meses. 

O país da propaganda maravilhosa da "troika", como diz Ulrich, foi miserável na forma como lidou com o drama financeiro de um dos seus bancos privados mais importantes.

Ulrich tem sido arrasador: para a troika, para o governo, para o Banco de Portugal, para todos.

E o pior é que tem razão em quase tudo.

Hoje caíram finalmente e com estrondo vários mitos sobre o BES, graças a Ulrich, e todos deveríamos agradecer a sua honestidade e coragem.

 

O Mito de que ninguém sabia da dimensão do buraco do BES

É um mito falso. Todos sabiam. Sabia o governo, sabia Passos, sabia Vítor Gaspar, sabia o governador do Banco de Portugal, sabia a troika.

Todos, sem excepção, estavam informados sobre a gravíssima situação do BES.

E deixaram o banco entrar em colapso, sem fazer o que devia ser feito.

Desde meados de 2013 que Salgado devia ter sido afastado mas não foi, e desde finais de 2013 que o BES podia e devia ter sido salvo e não foi.

É absolutamente miserável que os poderes públicos portugueses e europeus tenham deixado acontecer a tragédia que aconteceu, sabendo de tudo há pelo menos um ano.

 

 

O Mito de que a "Troika" foi surpreendida.

É mais uma falsidade.

A "troika" sabia perfeitamente o que se estava a passar.

No entanto, o importante era Portugal sair do programa de ajustamento.

A propaganda da "troika", o caso de sucesso português era o essencial, o BES que se lixasse.

É evidente pelas declarações de Ulrich que houve um desejo intencional de branquear a situação até Maio, para que a troika pudesse sair de Portugal.

 

O Mito do Aumento de Capital Salvador. 

Como Ulrich bem diz, o aumento de capital do BES em 2014 nunca devia ter existido.

Foi uma vergonha um sistema financeiro ter aprovado um aumento de capital de um banco cuja situação era desastrosa.

Os accionistas foram violentamente prejudicados e as perdas de valor foram brutais.

Como é possível o Banco de Portugal ter aprovado um aumento de capital do BES quando já sabia que Salgado iria sair?

O prospecto do aumento de capital não informava sobre a saída de Salgado, mas todos, incluindo o Banco de Portugal, a troika e o governo sabiam que ela se ia dar mal o aumento de capital terminasse.

Ou seja, todos contribuíram para o brutal engano que essa operação foi.

Uma vergonha.

 

O Mito da Resolução como única solução possível.

Como Ulrich explicou, a "resolução" do BES foi uma péssima solução de recurso.

O Governo de Passos impediu outras possibilidades (nacionalização, empréstimo da troika, bail-in à Chipre).

A resolução é uma solução perigosa, e faz os outros bancos pagarem pelo desastre que não causaram.

Como Ulrich bem diz: "jogaram à roleta com o sistema financeiro português".

Veremos o que se vai passar em Agosto, quando forem conhecidas as propostas de compra do Novo Banco, e veremos se não haverá mais cataclismos financeiros.

 

Em conclusão: Ulrich falou e hoje tornou-se mais claro o que eu aqui escrevi no ano passado.

O Governo, o Banco de Portugal e a "troika" foram desastrosos no caso BES.

Com gente competente e séria nesses cargos, Salgado há muito que teria saído de cena, e o colapso do BES teria sido evitado. 

Mas, a propaganda do país das maravilhas é o que é. 

 

 

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 13:37 | link do post | comentar | ver comentários (4)
 

Livros à venda

posts recentes

últ. comentários

  • Li com prazer o seu primeiro volume volume de assi...
  • Caro Domingos Amaral, os seus livros são maravilho...
  • Caro Fernando Oliveira, muito obrigado pelas suas ...
  • Gostei muito dos dois volumes e estou ansiosamente...
  • Bela e sensata previsão!Vamos ganhar a Final?!...
  • A tua teoria do terceiro jogo verificou-se!No enta...
  • Gostei de ler, os 2 volumes de seguida. Uma aborda...
  • Neste momento (após jogo com a Croácia) já nem sei...
  • Não sei se ele só vai regressar no dia 11, mas reg...
  • No que diz respeito aos mind games humildes, é pre...

arquivos

Posts mais comentados

tags

favoritos

mais sobre mim

blogs SAPO

subscrever feeds