Salgado e a diferença entre a falência do GES e a falência do BES
Ontem, ao ouvir Ricardo Salgado, e depois de 100 dias de comissão de inquérito, fiquei com a absoluta certeza de que a responsabilidade pela falência do GES (Grupo Espírito Santo) é da família que o geria, com Salgado à cabeça.
Há anos que havia dívida a mais, maus negócios, um desastre angolano e uma fuga para a frente permanente.
O GES faliu porque a família e Salgado falharam rotundamente na gestão, disso não há qualquer dúvida.
Porém, o mesmo não se aplica ao BES.
Enquanto no GES as responsabilidades da família não têm de ser partilhadas com ninguém, no BES há mais responsáveis.
Durante um ano, era possível o Banco de Portugal, o Governo e a troika terem actuado e salvo o BES.
Ricardo Salgado podia e devia ter sido removido da presidência do BES, provavelmente ainda em 2013, depois do presente do construtor civil ou da declaração de IRS que teve de ser corrigida.
Esse teria sido o momento ideal para alterar o rumo do BES, e se o tivessem feito, o descalabro não teria acontecido.
Porém, durante um longo ano, o Banco de Portugal, o Governo e a "troika", mesmo sabendo do descalabro, deixaram Salgado continuar à frente do BES.
Aprovaram um aumento de capital vergonhoso, e prometeram que não iam deixar cair o banco, incluindo ao próprio Salgado, como se prova pelas cartas conhecidas ontem.
Mesmo depois disso, ainda podiam ter evitado o descontrole nefasto que atingiu o BES em Julho.
Não o fizeram porque não quiseram, e por isso são também responsáveis pela falência do BES, e pelo abalo sísmico que o sistema financeiro português sofreu.
Esta nefasta história podia e devia ter terminado de outra forma.