Sexta-feira, 28.02.14

Benfica e FC Porto: a Liga Europa é a nossa praia

Ontem, Benfica e FC Porto fizeram o que se esperava, e seguiram em frente na Liga Europa.

Na Luz, o Benfica confirmou que é claramente mais forte do que o PAOK, vencendo com facilidade.

Em Frankfurt, o jogo foi espectacular, o FC Porto esteve com um pé fora, mas recuperou epicamente, e o empate 3-3 garantiu a passagem.

É na Liga Europa que os clubes portugueses mais podem ter sucesso, pois a Champions está fora do nosso alcance neste momento.

Quem tem visto os jogos percebe que equipas como o Real Madrid, o Bayern, o Barcelona, o Paris Saint Germain, o Dortmund, o Chelsea ou o Atlético de Madrid estão noutra galáxia.

Mesmo o City ou o Arsenal, já para não falar no Zenit e no Schalke, não têm qualquer hipótese de seguir em frente.

Repare-se que o FC Porto teve muitas dificuldades contra o 13º da Bundesliga, o Eintracht; mas o Real Madrid goleou o Schalke em Gelsenkirchen por 6-1.

Há uma diferença colossal entre certas equipas europeias e as nossas, e por isso é preferível ser bom na Liga Europa em vez de ser humilhado na Champions.

 

Agora, seguem-se dois adversários muito fortes. Para o FC Porto, o Nápoles; para o Benfica, o Tottenham.

Comparem-se as qualidades em ambos os confrontos, para estimar as probabilidades das equipas portuguesas.

Em termos de ranking da UEFA, o FC Porto é o 11º, enquanto o Nápoles é o 31º. 

Nos últimos cinco anos, o FC Porto é uma equipa mais habituada do que a italiana a jogar bem na Europa.

Porém, se olharmos apenas para o coeficiente desta época, o Nápoles está à frente, pois fez uma fase de grupos da Champions bem melhor.

Quanto a treinadores, os italianos levam vantagem: Benitez é muito mais experiente que Paulo Fonseca, já venceu uma Champions e uma Liga Europa, com Liverpool e Chelsea.

Em termos de valor do plantel, segundo o site transfermarkt, o do Nápoles vale 253 milhões de euros, e tem jogadores muito bons como Reina, Hamsik, Higuain, Callejón, embora a defesa não seja muito forte.

Já o FC Porto, tem um plantel avaliado em 183 milhões de euros, com Jackson, Mangala e Fernando.

É difícil dizer quem é mais forte, e internamente estão ambos em 3º nas respectivas ligas, um pouco abaixo do que se esperava.

Segundo o Euro Club Index, o Nápoles tem mais possibilidades de chegar à final (8,8%) do que o FC Porto (5,5%), mas a diferença é curta.

Será uma eliminatória imprevisível, com uma pequena vantagem para os italianos, pois jogam a segunda mão em casa.

 

No caso do Benfica e dos ingleses, as coisas são também equilibradas.

No ranking da UEFA, o Benfica é o 6º classificado, enquanto o Tottenham está apenas em 19º lugar.

No ano passado, os Spurs ficaram-se pelos quartos-de-final da liga Europa, tendo sido eliminados pelo Basileia, enquanto o Benfica chegou à final de Amesterdão.

No que toca a treinadores, parece-me que o Benfica tem clara vantagem, pois Jesus é muito mais experiente e bem sucedido do que Tim Sherwood.

Já quanto ao valor dos plantéis, são os ingleses têm vantagem.

No transfermarkt, o clube inglês tem uma equipa avaliada em 271 milhões de euros, com jogadores como Lloris, Vertonghen, Dembelé, Eriksen, Lamela, Lennon, Soldado ou Adebayor

Quanto ao Benfica, tem uma equipa avaliada em 190 milhões de euros, com jogadores como Garay, Salvio, Gaitan, Cardozo ou Markovic.

Porém, segundo o Euro Club Index, o Benfica tem mais possibilidades de chegar à final que o Tottenham, 12,4% contra 6% dos ingleses, o que demonstra uma certa vantagem encarnada.

Será também uma eliminatória muito equilibrada e empolgante, embora me pareça que o Benfica é ligeiramente favorito, até porque joga a segunda mão na Luz.

publicado por Domingos Amaral às 10:58 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 27.02.14

Ucrânia: uma guerra civil às portas da Europa (parte II)

A capa da revista The Economist de sexta-feira passada era elucidativa. 

"Putin´s Inferno" era o título, e a revista mostrava uma imagem dos confrontos na Ucrânia.

Infelizmente, o inferno de Putin pode transformar-se também no inferno da Europa.

Ninguém parece dar muita importância ao que está a acontecer na Ucrânia, mas estão a acontecer por lá coisas gravíssimas, que podem gerar um tremendo caos em todo o continente europeu.

A Europa está envolvida naquela contenda, seja através da União Europeia, seja através de outras instituições que pretendem ajudar, como o FMI.

E também a América está envolvida, e escolheu claramente o lado da oposição durante os confrontos.

Só que, do lado de lá, apoiando o presidente deposto, está Putin.

O ditador russo não está parado, e já movimenta as suas tropas, aproximando-as das fronteiras da Ucrânia.

E, nos mares, há navios a navegar em direcção à Crimeia, uma península do Mar Negro que tem maioria étnica russa, e que foi anexada à Ucrânia por Khrushchev, diz-se que durante uma noite de bebedeira.

É lá, na Crimeia, que os apoiantes da Rússia não aceitam a revolta de Kiev, e já içaram bandeiras russas no parlamento local.

A coisa está mesmo a ficar feia, e é quase certo que Putin vai aproveitar esta situação para mostrar a sua força ao mundo.

O que pode a Europa fazer? E mesmo os Estados Unidos, o que pretendem fazer para parar Putin e os seus defensores na Ucrânia?

Ninguém acredita que possa haver uma guerra entre o Ocidente e a Rússia, mas e se Putin esticar a corda e invadir a Ucrânia?

O país está em queda livre, não há políticos capazes de criar consensos, e ninguém sabe o que farão os militares.

A Ucrânia, é bom não esquecer, tem bases onde há mísseis nucleares...

Por mais que nos pareça impossível, a verdade é que o desastre está prestes a acontecer, às portas da Europa.

A fragmentação da Ucrânia, em dois países, um ocidental e outro oriental, é uma possibilidade real, bem como a indepedência da Crimeia.

Mas duvido que tudo isso aconteça sem um terrível banho de sangue.

publicado por Domingos Amaral às 15:26 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quarta-feira, 26.02.14

Subir o IRS foi bom para a economia portuguesa

Os números da execução orçamental, que ontem foram revelados, são contundentes: a receita fiscal subiu bastante, e a despesa desceu pouco.

Ou seja, o deficit está claramente a diminuir porque as receitas dos impostos estão a subir, o que é muito bom sinal.

Ao contrário do que dizem a direita e a esquerda portuguesa, que nisso têm a mesma opinião, a subida de impostos foi boa para economia, e não má.

A economia portuguesa adaptou-se muito melhor à subida de impostos de 2013 e 2014, do que aos cortes profundas na despesa de 2012.

 

É evidente que esta realidade é impopular.

À direita, é muito mais popular dizer que se deve cortar na despesa e descer os impostos.

É o que dizem Passos Coelho e Portas, e os seus fiéis estão totalmente de acordo.

À esquerda comete-se erro semelhante.

Seguro ataca o Governo porque subiu os impostos, e ataca o Governo porque cortou na despesa.

Não quer nem uma coisa, nem outra, o que é absurdo.

Estão ambos errados.

 

A direita convenceu-se que é sempre melhor cortar na despesa e baixar os impostos, e não olha para a realidade dos números.

A verdade é que o corte profundo na despesa, realizado em 2012, com cortes dos subsídios e das despesas intermédias, provocou efeitos desastrosos em Portugal.

A recessão instalou-se, o desemprego cresceu muito, houve uma profunda quebra das receitas fiscais, e tudo parecia perdido.

Porém, com a forte subida do IRS em 2013, o que se verificou?

A economia voltou a crescer, o desemprego começou a baixar, as receitas fiscais subiram, e o deficit diminui muito mais!

A conclusão devia ser óbvia: a economia portuguesa absorveu muito bem a subida de impostos, e saiu da crise mais rapidamente.

 

É lamentável que ninguém aceite este facto, e que a direita passe os seus dias a dizer que vai descer os impostos e cortar mais na despesa, o que seria grave para a economia, e a esquerda passe os seus dias a dizer que quer aumentar a despesa e cortar os impostos, o que seria igualmente grave.

Ninguém parece perceber que os portugueses preferem pagar mais impostos e não executar tantos cortes nas despesas, nos salários ou nas pensões.

Ou seja, os portugueses estão dispostos a pagar mais impostos para manterem o Estado Social como está.

É essa a conclusão desta crise, e esquerda e direita deviam percebê-lo. 

Mas, é sempre mais popular dizer que se quer descer impostos ou aumentar despesa, e os políticos que temos caiem sempre nessa tentação da popularidade fácil e rápida. 

A verdade é que, se desde 2004 tivessemos todos pago mais impostos, o país não tinha acumulado os deficits que acumulou...

publicado por Domingos Amaral às 10:42 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Segunda-feira, 24.02.14

PSD: um Congresso com uma "saída limpa", ou mesmo "limpíssima"!

Este fim de semana, parecia que estava a viver num país diferente, onde não havia qualquer crise, qualquer drama social, qualquer problema económico.

O Congresso do PSD, que decorreu em Lisboa, mostrou um partido feliz, harmonioso, cheio de concórdia e motivação.

Bastaram umas estatísticas simpáticas, uns pontinhos positivos disto ou daquilo, e toda a psicologia do partido mudou, e já se sente a euforia a chegar.

Ouvem-se os discursos e sente-se no PSD uma espécie de triunfalismo realista.

Por um lado, há uma convicção profunda, um orgulho tremendo, devido ao facto da economia ter saído do buraco.

Há uma esfusiante sensação com a previsão, quase certa, de que Portugal terá a tão esperada "saída limpa" do programa de resgate.

Não há laranjinha que não esprema a sua genuína felicidade e alegria, olhando para nós com um ar feérico, os seus olhos perguntando: "estão a ver como conseguimos?"

Porém, para que isto não se torne demasiado óbvio, lá aparece sempre o PSD super-realista, a falar nas desgraças, no sofrimento das pessoas, no "preço alto" que pagámos.

É o tempêro do triunfalismo, uma espécie de pimenta ou piri-piri que eles colocam a si próprios na língua, para não embandeirar em arco. 

Passos Coelho, por exemplo, é uma verdadeira praga de pimenta negra, que nem sequer foi moída.

É cada bola de pimenta a explodir na boca, que até doi.

Mas, mal passa essa sensação desagradável, lá regressa o triunfalismo, a alegria, a fantástica sensação de vitória que se apodera do colectivo e o faz viver numa concórdia inesperada e jovial, onde se juntam todos, de Marcelo a Santana, de Marques Mendes a Relvas.

O país pode ainda não ter percebido que isto virou, mas o PSD já percebeu, e até Maio ainda há tempo de sobra para estraçalhar o Seguro.

Cuidado com os laranjinhas, estão imparáveis!

O país pode vir a ter uma "saída limpa", mas para já o que sabemos é que o PSD teve um Congresso com uma saída limpíssima!

publicado por Domingos Amaral às 10:59 | link do post | comentar
Sexta-feira, 21.02.14

Quem tem razão: Portas ou o FMI?

Esta semana, muitos foram o que escreveram sobre a suposta querela entre Portas e o FMI, que teriam interpretações muito diferentes sobre o que aconteceu, e o que está a acontecer, à economia portuguesa.

Para Portas, e de uma maneira geral para o Governo, há um "milagre económico".

As exportações portuguesas dispararam, o desemprego baixa, o ajustamento está completo, e o país pode libertar-se da "troika".

Para o FMI, o cenário não é tão cor-de-rosa, e não há qualquer "milagre económico".

Portugal apenas teve uma recessão muito forte, deixou de importar e por isso a balança comercial ficou positiva; as exportações cresceram pouco, e se não fosse a nova refinaria da GALP o resultado era minúsculo; e os salários ainda têm de descer muito, para o país ser competitivo.

Quem tem razão? Portas, com o seu entusiasmo; ou o FMI, com o seu cepticismo?

O que é interessante nesta questão é que ambos têm razão.

Aquilo que separa Portas e o FMI é uma emoção, um estado de alma, não uma realidade.

Portas está super-optimista, e o FMI está pessimista, e portanto cada um vê a realidade em função do sentimento de futuro que sente.

 

Vejamos a situação objectiva.

As exportações subiram? Sim, subiram, mas não subiram espectacularmente, e de facto, se tirarmos a refinaria da Galp do cenário, o crescimento é curto. 

Portas tem razão, quando diz que as exportações cresceram; mas o FMI também, quando alega que a estrutura de exportações não melhorou muito, Galp à parte.

Há crescimento económico? Sim, há, e isso deve ser celebrado, e aí Portas tem razão.

Porém, é frágil, como alerta o FMI, e baseia-se muito no turismo e nas exportações da Galp, e se o crescimento acelerar lá vai fazer crescer as importações outra vez, e complicar a balança comercial.

O desemprego está a descer? Sim, está, e isso é uma boa notícia, como diz Portas.

Contudo, como aponta o FMI, e outras entidades, na descida do desemprego contam muito a emigração e a sazonalidade do turismo, e por isso não se deve celebrar em demasia aquilo que pode esvair-se a qualquer momento.

E quanto à descida dos salários, quem tem razão? Os salários não têm de descer mais, como dizem Portas e Pires de Lima, e o ajustamento está feito?

Ou têm de continuar a descer, como dizem o FMI e a Comissão Europeia, para o país ser mais competitivo?

Em teoria, estas últimas entidades têm razão, mas há décadas que essa teoria económica foi contestada.

Em meados do século XX, Keynes avisou que há muita rigidez nos salários, e é muito difícil eles descerem, seja em que país for. Os ajustamentos salariais não funcionam bem por causa disso, e portanto outras soluções devem ser procuradas.

Pelos vistos, nem o FMI nem a Comissão leram Keynes, e a insistência neste ponto é uma tontaria.

O comportamento de Portas e Pires de Lima revela o que Keynes há muitos anos explicou: os países, as sociedades, os sistemas políticos, rejeitam as descidas de salários, e portanto não vale a pena ter grandes ilusões nesse campo.

Mas, nada como uma fútil polémica para entreter a malta... 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:44 | link do post | comentar
Quinta-feira, 20.02.14

É muito mal sinal quando o desporto pára

Um dos piores sinais de instabilidade que um país pode dar, é quando os seus eventos desportivos começam a parar.

É isso que está a acontecer na Ucrânia, por estes dias.

Um jogo da Liga Europa, que ia decorrer em Kiev, foi mudado de local e de país, por falta de condições de segurança.

Outro, que se iria disputar hoje noutra cidade, e onde o Tottenham está envolvido, está de debaixo de uma ameça de invasão, lançada pelas forças da oposição.

Nem o futebol escapa ao lento resvalar do país para um abismo terrível.

Mas, não é só o futebol que está a dar sinais destes. Em Sochi, onde decorrem as Olimpíadas de Inverno, o orgulho de Putin, já há atletas ucranianos a retirarem-se das provas.

Alegam que, ao ver o seu país natal a ferro e fogo, perderam a vontade e a capacidade para competir, e querem regressar a casa.

É compreensível: nas Olimpíadas, joga-se o orgulho dos povos, mas quando o país arde, ninguém consegue ser imune.

As imagens terríveis que vemos de Kiev são quase inimagináveis, mas estão a acontecer, a cada minuto há gente a morrer.

E se já nem os eventos desportivos conseguem o seu espaço e o seu tempo, é porque estamos já, não a caminho do abismo, mas a cair nele.

A Ucrânia está já em guerra civil, resta saber se ela ainda pode parar no início, ou se vai acelerar para um cenário horrível.

publicado por Domingos Amaral às 15:39 | link do post | comentar
Quarta-feira, 19.02.14

Ucrânia: uma guerra civil às portas da Europa

As imagens são impressionantes: a praça central de Kiev arde, há combates, tiros, fogos.

Lembra um país em guerra, e de certa forma já é um país em guerra.

Há já uma guerra na Ucrânia, um fogo que arde a ver-se, exposto aos nossos olhos.

 

As facções enfrentaram-se há três semanas, depois pararam, e a Europa suspirou de alívio.

Mas, foi um alívio curto, e frágil, lá estão eles outra vez a atirarem-se às goelas uns dos outros.

E há uma linha a dividi-los, uma narrativa que diz que uns são bons, porque querem mais Europa, e outros maus, porque querem mais Rússia.

Talvez seja simplificar demais a realidade, e talvez seja cair numa perigosíssima armadilha.

Se de um lado está a Europa, e do outro está a Rússia, e se ambos os lados entram numa guerra civil, é muito fácil a situação acabar mal, numa espécie de guerra entre Europa e Rússia por interpostas pessoas.

 

Ninguém quer uma guerra, mas também em 1914 e 1939 ninguém queria uma guerra na Europa e elas acabaram por acontecer, e foram tragédias violentas que marcaram a história da Humanidade.

É esse o perigo na Ucrânia.

Com gente menor, um presidente corrupto e autocrata, e do outro lado uma oposição liderada por um antigo boxeur, e onde existem radicais de extrema-direita, ligados a claques de futebol, à pedrada na rua; é um cenário de horror.

Nós podemos pensar que é longe, para nos sentirmos melhor, mas não é longe.

Kiev é muito perto da Rússia, e muito perto de Viena, de Varsóvia, de Berlim. 

As fagulhas de Kiev podem queimar uma Europa que está frágil e complexa, onde há Auroras Douradas na Grécia e Marines Le Pen em França.

 

Os radicalismos europeus estão a crescer outra vez, os extremos estão a ganhar força, e Kiev pode ser apenas um laboratório sinistro onde se cozinha o futuro europeu.

É preciso ter cuidado, e muito, com o que se passa na Ucrânia, para que não sejamos todos arrastados pelo redemoínho que nasce em Kiev.

publicado por Domingos Amaral às 11:14 | link do post | comentar
Segunda-feira, 17.02.14

O regresso mediático de Vítor Gaspar

Vítor Gaspar, anterior ministro das Finanças, regressou em força para "limpar" a sua imagem.

Agora, que o PIB já cresce, que o desemprego já desce, e que ganha força a hipótese de uma saída "limpa" do programa de ajustamento, Gaspar regressou para colher os louros que ele julga dele.

Tudo o que fez, diz Gaspar, foi bem feito.

Tudo o que disse, diz Gaspar, foi bem dito.

E se algo correu mal, diz Gaspar, a culpa foi de Portas, que desestabilizou o Governo.

 

A pergunta que fica, depois da leitura das entrevistas de Gaspar, é óbvia: então porque é que se foi embora?

Se tudo o que fez estava bem feito, e tudo o que disse foi bem dito, porque se demitiu Gaspar?

Porque disse, na sua carta de demissão, que as suas políticas tinham produzido resultados graves que o tinham "descredibilizado"?

É que, se estava tudo bem, e ele tinha razão em tudo, não fazia muito sentido demitir-se, pois não?

Ao ler as recentes declarações de Vítor Gaspar, a ideia com que se fica é que ele não aguentou a "pressão".

No pico da crise, com os resultados desastrosos que se viam em finais de 2012 e inícios de 2013, Gaspar deixou de acreditar em si próprio e foi abaixo, escolhendo a saída.

 

Na carta que escreveu, vê-se que já nem ele acreditava nas suas ideias, e já não tinha força psicológica e anímica para continuar.

É como o treinador que se demite a meio da época, e que depois do seu sucessor (o treinador adjunto) ter sido campeão, vem dizer que foi ele que decidiu tudo, e preparou tudo, e sem ele não haveria título.

Pois, mas quem ficará para a história como treinador campeão será Maria Luís Albuquerque, e não Gaspar.  

publicado por Domingos Amaral às 10:06 | link do post | comentar
Sexta-feira, 14.02.14

O mau tempo é o novo vilão do mundo

Nestes tempos escorregadios, já não há maus como deve de ser.

A URSS implodiu, a China mudou, Pinochet morreu, Fidel está em estado terminal.

E mesmo na Coreia do Norte, o novo ditador não parece mais que um psicopata pateta, que não provoca o medo que outrora os ditadores provocavam.

Putin, por mais defeitos que tenha, não chega aos calcanhares dos antigos homens do Politburo, e nas Américas latinas e centrais já não há generais foleiros, nem comunistas criminosos, e os Maduros e Morales são uma versão light dos líderes do passado.

A verdade é que, na época que atravessamos, há cada vez mais maus políticos, mas cada vez menos "maus" históricos.

Assim sendo, temos de descobrir um novo vilão para as narrativas do dia a dia, especialmente as mediáticas.

Os principais candidatos a vilões são o mau tempo e as catástrofes naturais.

No inverno, há nevões, avalanches, tempestades, chuvas e cheias.

No verão, há vagas de calor, furacões, incêndios.

Uma vez por outra, há mesmo uma catástrofe natural de grandes dimensões, como terramotos ou tsunamis.

E óbviamente, há as vítimas de todas estas balbúrdias atmosféricas, pessoas ou estruturas, que sofrem, morrem, ou são destruídas.

Enquanto espectadores, ficamos espantados com tanta fúria, tanta maldade dos elementos.

O mais difícil é que neste caso não é fácil encontrar culpados.

As narrativas têm de ter sempre vítimas e culpados, mas enquanto nas guerras e nos conflitos políticos ou económicos é mais fácil encontrar culpados, nas narrativas sobre o mau tempo e as catástrofes é difícil.

Excepto nos incêndios, onde estão eles? De quem é a culpa das tempestades, dos nevões, das cheias?

De Deus, de Alá, do Buda?

Até há uns anos, era viável a explicação de que era o Homem o culpado, pois o aquecimento global era causado pelo Homem e era essa mutação climatérica que explicava todas as outras.

Porém, nos últimos anos era teoria perdeu força. Mesmo nos meios académicos, há cada vez menos defensores dela, o que nos deixa sem culpados.

Pelos vistos, os climas mudam porque mudam, porque foi sempre assim na história do planeta Terra, e sempre será.

Não havia homens na Idade do Gelo, e no entanto os glaciares derreteram, e o clima mudou.

No presente, o clima também parece estar a mudar, mas ninguém consegue prever em que sentido.

O espectáculo permanente das tempestades vai prosseguir, pois o mundo comunicacional em que vivemos alimenta-se dele.

O fascínio aterrador da fúria do planeta vai continuar, e nós vamos continuar a vê-o, sentados no sofá. 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:23 | link do post | comentar
Quarta-feira, 12.02.14

O Benfica deve tentar ganhar tudo!

Ontem, no derby, foi evidente a superioridade do Benfica, que ganhou bem e mostrou uma competência e uma capacidade muito fortes.

A forma como a equipa acelera e ataca é vertiginosa, e a forma como defende, que era o ponto fraco no início da época, está cada vez mais eficiente, concentrada e compacta.

Acho que ninguém já terá dúvidas hoje da previsão que aqui fiz em Dezembro, de que o Benfica é o mais forte candidato ao título este ano, e que só não será campeão se cometer erros disparatados nos pequenos jogos.

Além de estar mais forte e muito eficaz, o Benfica tem dois adversários que têm problemas. 

O FC Porto está abalado e instável, e o Sporting tem ainda alguma imaturidade para se manter ao mesmo nível.

 

É evidente que, como Jesus e o presidente já disseram, o campeonato é o objectivo primordial.

Perdida a possibilidade, bastante fantasiosa, de chegar à final da Champions que será na Luz, é claro que todos querem ser campeões nacionais.

Mas, parece-me que estando a equipa a jogar tão bem, e tendo demonstrado uma superioridade tão evidente nos confrontos com FC Porto e Sporting, julgo que o Benfica deve aspirar também a vencer as outras duas competições nacionais, Taça de Portugal e Taça da Liga.

Na primeira, teremos duas mãos, uma no Dragão, outra na Luz, e considero que o Benfica tem capacidade para eliminar o FC Porto e estar presente no Jamor.

O mesmo se passa na Taça da Liga, seja contra quem for a meia-final. 

Embora estes jogos não devam desconcentrar o Benfica do objectivo campeonato, é possível ir às duas finais, a equipa tem soluções para isso, e no final do mês ainda haverá Salvio, já recuperado da lesão.

 

Por fim, a Liga Europa.

Ao contrário do presidente Luís Filipe Vieira, eu nunca achei possível o Benfica chegar à final da Champions, mas acho muito possível chegar à final da Liga Europa outra vez.

Há equipas muito boas, mas o Benfica é uma delas.

No site Euro Club Index, onde são calculadas as probabilidades das equipas vencerem a Liga Europa, o Benfica aparece em 3º lugar, com 10,3% de probabilidade de ser o vencedor.

Acima do Benfica, só a Juventus, com 19,6% de probabilidade de ser a vencedora, e o Tottenham, com 13,2% de probabilidade de vencer a Liga Europa.

Atrás da equipa da Luz, estão o FC Porto, com 9%, o Shakhtar Donetsk, com 8%, e o Nápoles, com 7%.

Portanto, não há razão nenhuma para Benfica e FC Porto não aspirarem a ir o mais longe possível, e nenhum deve deixar de tentar.

Até porque, e ao contrário do que se costuma dizer, não há uma diferença financeira tão grande entre as duas competições.

Em 2011/2012, o Benfica chegou aos quartos-de-final da Champions, onde foi eliminado pelo Chelsea, e recebeu em prémios da UEFA a quantia de 22,3 milhões de euros.

Em 2012/2013, o Benfica fez a fase de grupo da Champions, e seguiu para a Liga Europa, chegando à final, e faturando um total de prémios da UEFA de 21,7 milhões de euros, apenas menos 600 mil euros que no ano anterior.

Ou seja, atingir a final da Liga Europa vale quase tanto como os quartos-de-final da Champions, e é por isso que esse objetivo deve ser tentado.

 

Em conclusão: a jogar como tem jogado, o Benfica deve atacar em todas as frentes ao mesmo tempo, e não se concentrar apenas numa.

É assim com todas as grandes equipas da Europa, nunca desistem de objetivos, principalmente quando têm qualidade para aspirar a alcançá-los. 

 

publicado por Domingos Amaral às 12:17 | link do post | comentar
 

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