Ucrânia: uma guerra civil às portas da Europa
As imagens são impressionantes: a praça central de Kiev arde, há combates, tiros, fogos.
Lembra um país em guerra, e de certa forma já é um país em guerra.
Há já uma guerra na Ucrânia, um fogo que arde a ver-se, exposto aos nossos olhos.
As facções enfrentaram-se há três semanas, depois pararam, e a Europa suspirou de alívio.
Mas, foi um alívio curto, e frágil, lá estão eles outra vez a atirarem-se às goelas uns dos outros.
E há uma linha a dividi-los, uma narrativa que diz que uns são bons, porque querem mais Europa, e outros maus, porque querem mais Rússia.
Talvez seja simplificar demais a realidade, e talvez seja cair numa perigosíssima armadilha.
Se de um lado está a Europa, e do outro está a Rússia, e se ambos os lados entram numa guerra civil, é muito fácil a situação acabar mal, numa espécie de guerra entre Europa e Rússia por interpostas pessoas.
Ninguém quer uma guerra, mas também em 1914 e 1939 ninguém queria uma guerra na Europa e elas acabaram por acontecer, e foram tragédias violentas que marcaram a história da Humanidade.
É esse o perigo na Ucrânia.
Com gente menor, um presidente corrupto e autocrata, e do outro lado uma oposição liderada por um antigo boxeur, e onde existem radicais de extrema-direita, ligados a claques de futebol, à pedrada na rua; é um cenário de horror.
Nós podemos pensar que é longe, para nos sentirmos melhor, mas não é longe.
Kiev é muito perto da Rússia, e muito perto de Viena, de Varsóvia, de Berlim.
As fagulhas de Kiev podem queimar uma Europa que está frágil e complexa, onde há Auroras Douradas na Grécia e Marines Le Pen em França.
Os radicalismos europeus estão a crescer outra vez, os extremos estão a ganhar força, e Kiev pode ser apenas um laboratório sinistro onde se cozinha o futuro europeu.
É preciso ter cuidado, e muito, com o que se passa na Ucrânia, para que não sejamos todos arrastados pelo redemoínho que nasce em Kiev.