Quarta-feira, 03.09.14

Draghi contra Merkel, ou o bom contra a vilã

Mario Draghi é um dos poucos líderes europeus que merece o meu apreço.

Há dois anos, em Julho de 2012 e em plena crise financeira europeia, salvou o euro com uma frase e uma promessa.

Enquanto os outros queriam era recuperar a confiança com austeridade draconiana, ele percebeu que a Europa precisava era de um banco central que estivesse totalmente comprometido com a moeda única.

Na altura, os fanáticos da austeridade não quiserem reconhecer o óbvio: depois de Draghi falar, as taxas de juro da dívida pública dos países caíram a pique.

Aquilo que anos de austeridade não tinham conseguido, Draghi conseguiu com umas meras palavras.

 

Foi isso que Draghi veio reconhecer na semana passada, no seu já célebre discurso de Jackson Hole.

Para ele, não foi o excesso de dívida pública de certos países que colocou em causa o euro, mas sim uma falha no papel do BCE como credor de última instância.

Se o BCE tivesse agido a tempo, como fizeram o FED americano ou o Banco de Inglaterra, o pânico europeu não teria crescido.

Mas Draghi disse mais: defendeu que as políticas monetárias e orçamentais devem ser expansionistas, para acabar com a grave crise que assola a Europa.

 

Ora, dizer isto é chocar de frente contra a linha dura da Europa, a linha germânica, defendida por Merkel, Schauble ou Oli Rehn.

Os fanáticos da austeridade, com a Alemanha à cabeça, espumaram de raiva ao ouvir as palavras de Draghi.

Merkel telefonou-lhe logo, a pedir satisfações; e Schauble disse que ele tinha sido mal interpretado.

Para os alemães, não há qualquer dúvida, só a austeridade continua a poder salvar a Europa.

 

Deviam olhar em volta e ver os estragos que as suas políticas provocaram.

A Europa continua afocinhada na crise, com Itália, França e Alemanha em recessão, e outros países em crescimento mínimo.

O desemprego é muito alto, e a deflação já grassa. 

São esses os resultados da austeridade germânica, mas Merkel e Schauble, teimosos e fanáticos, não querem dar o braço a torcer.

Para eles, na Europa germânica só há uma verdade, a da Alemanha e mais nenhuma.

 

Esta é a grande luta europeia do momento, os austeritários contra o BCE.

Merkel, Rehn, Schauble, Passos e Maria Luís, contra Draghi.

Que Deus dê muita força ao super Mário Draghi, é o que eu desejo, para ver se damos cabo dessa gente tão pouco inteligente.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:35 | link do post | comentar
Terça-feira, 27.05.14

A austeridade é a mãe de todos os radicalismos

A dívida pública portuguesa voltou este ano a subir, e já ultrapassa os 130% do PIB.

Quanto mais pagamos, em juros e amortizações, mais devemos.

É a armadilha da dívida em todo o seu esplendor dramático, um local terrível para um país estar.

Mas, não era imprevisível, pelo contrário.

Quem tenha lido este blog, já sabe que houve dezenas de países que caíram nesta situação nos últimos cinquenta anos.

Perante uma forte recessão económica, os países optam por fazer austeridade dura, o que só agrava as suas contas, e mesmo que as exportações cresçam, não conseguem crescimento económico muito forte.

Assim, com a dívida já grande, o PIB cai com a austeridade, e a dívida no final é ainda maior.

Quanto mais se paga, mais se deve.

 

Foi quase sempre assim nas dezenas de "programas de ajustamento" que foram aplicados a muitos países por esse mundo fora.

E Portugal e Irlanda não são excepções.

Podem ter "regressado aos mercados", mas as suas dívidas públicas são hoje muito maiores do que eram há 4 anos atrás.

Se o problema era a "dívida excessiva", e foi com isso que se justificou a austeridade, o que dizer agora, que a dívida é maior do que era?

O que dizer agora, quando é agora bem mais difícil pagar a dívida do que era há quatro anos?

Há alguém que acredite mesmo que será possível Portugal e Irlanda pagarem esta dívida nos próximos 50 anos?

Mesmo que o nosso crescimento fosse superior a 4% ao ano, isso seria difícil, quanto mais com crescimento que anda à volta de 1% ao ano.

 

A verdade é esta: as políticas de austeridade não resultam.

Pelo contrário, só agravam a armadilha da dívida.

A confiança dos mercados é importante, mas não altera o essencial: a dívida assim não pode ser paga, é impossível.

Isto, já muitos sabiam há quatro ou cinco anos.

Krugman, De Grauwe, Soros, Stiglitz, até Rogoff, todos eles eminentes economistas, já tinham dito que isto ia acabar como está a acabar: com uma dívida ainda maior e mais difícil de pagar.

Porém, a Europa de Merkel e seus seguidores passou quatro longos anos obcecada pela "austeridade" e os resultados estão à vista.

Não há crescimento económico que se veja (excepto na Alemanha, claro); o desemprego alastra; a deflação é um perigo real; os partidos extremistas de direita ou de esquerda crescem; e há um desencanto geral com a Europa, que pode levar ao seu desagregamento.

E tudo isto para quê?

 

Basta olhar para os Estados Unidos para perceber qual devia ter sido o caminho.

Obama recusou-se a fazer austeridade, e limitou-se a aumentar os impostos aos mais ricos.

O FED está há quatro anos a ajudar a economia com estímulos monetários, e ninguém quer ouvir falar em austeridade.

Compare-se com o que aconteceu na Europa, com a austeridade draconiana, e com a inércia do Banco Central Europeu, e está explicado porque é que a Europa está à deriva, triste e paralisada. 

 

E Portugal está também paralisado, e com o sistema político à beira da desagregação.

É isto o que a austeridade faz aos países: mata-os por dentro.

Que depois nasçam monstros, ninguém se pode admirar.

As Marines Le Pen, as Auroras Douradas, o Beppe Grillos e outros, são os filhos bastardos da austeridade. 

A austeridade é a mãe de todos os radicalismos europeus, foi nela que eles se amamentaram.

Veremos o que acontece à Europa quando eles crescerem e forem grandes...

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:23 | link do post | comentar
Sexta-feira, 16.05.14

Vem aí a recessão em W?

Muitos economistas falam dela, mas poucos a viram!

Chama-se recessão em W, e é um fenómeno económico raro, mas possível de acontecer em Portugal por estes tempos.

Observem um W.

No início, há uma queda abrupta descendo pelo primeiro V abaixo.

Foi o que se passou em 2012, com uma contração económica violenta em Portugal, aumento do desemprego e tudo a falhar.

Depois, toca-se no fundo e volta-se a subir, acompanhando o V.

Foi o que se passou em Portugal durante o ano de 2013, com melhorias claras da situação económica, queda no desemprego e crescimento do PIB.

No entanto, em vez de se continuar a melhorar, há de repente uma inversão económica, e volta-se a descer, caindo no segundo V.

É a chamada recessão em W, que no fundo é uma dupla recessão.

 

Será que isso nos vai acontecer em 2014?

A julgar pelos números do primeiro trimestre isso pode já estar a acontecer, pois o crescimento voltou a ser negativo.

A economia voltou a parar um pouco, e os bons resultados parecem estar a diminuir.

As exportações também desceram, e aqui há um dado curioso: sempre que alguém falava que o crescimento da exportações se devia à Galp e à Autoeuropa, o Governo enfurecia-se, e dizia que era toda a economia que estava a exportar mais!

Agora que houve uma queda nas exportações como a explica o Governo?

Foram a refinaria da Galp e a Autoeuropa que caíram de produção...

O argumento é válido para o mal, mas não para o bem.

Estranho conceito...

 

Mas voltemos à recessão. Será que vamos cair a pique em 2014?

As previsões não apontavam para aí, mas sabemos que muitas vezes as previsões são mais desejos que realidades.

O Governo, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, o Banco de Portugal, a OCDE, todos eles desejam ardentemente que Portugal cresça e recupere, e por isso fazem previsões entusiasmantes.

Porém, como todos sabemos, todas as previsões destas magnas instituições já falharam redondamente no passado, sobretudo em 2012 e 2013.

Falharam para cima, e falharam para baixo, e portanto não é certo que não voltem a falhar.

Para mais, a situação na Europa não está nada melhor, ao contrário do que apregoa Barroso por aí.

A crise europeia não acabou, a Europa não cresce, os preços estão a cair e há deflação, a banca continua cheia de problemas e sem poder dar crédito.

Em finais de Maio, haverá eleições europeias, e sabe-se lá o que vai sair dali. 

E a Leste, entre a Ucrânia e a Rússia, há instabilidade também. 

 

Deveria ser absolutamente evidente para todos a necessidade de uma política europeia mais activa, fosse do BCE, fosse da Comissão.

O BCE tem de intervir em força, com estímulos monetários; e os Governos têm de abandonar esta nefasta via da austeridade, e depressa. 

Se isso não for feito, a Europa continuará a patinar, anémica e sem força para se levantar, e os seus cidadãos continuarão desiludidos.

Por cá, as pessoas que não pensem que só porque saímos do programa de ajustamento terminou o calvário.

Não terminou, e pode até ter aumentado muito o risco de tudo piorar.

Lembrem-se uma coisa: a velocidade a que tudo muda é muito grande.

Há um ano, ninguém pensava em "saída limpa".

Daqui a um ano, quem sabe se não estaremos a lamentar a "entrada suja"...

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:09 | link do post | comentar
Terça-feira, 29.04.14

Sem um bocadinho de inflação, não há retoma

Já há alguns sinais que a retoma económica, seja na Europa, seja até em Portugal, pode estar a abrandar o seu ritmo.

Se isso acontecer, é uma má notícia para todos, e também para Portugal.

Mas, não deve ser uma surpresa muito grande, pois toda a Europa está num processo de deflação, e quando assim é, tudo se torna mais difícil.

 

A deflação (queda dos preços) é uma inimiga do crescimento económico, e se os preços estão a cair, é difícil haver melhorias muito grandes no PIB.

Há sempre duas componentes no crescimento, a quantidade e o preço.

Se uma empresa vender 10 carros num ano, e no ano seguinte vender 11, aumentou a venda em quantidade, mas é preciso ver a que preço o conseguiu.

Se teve de baixar muito o preço, até pode não ter aumentado a receita.

Com um país é semelhante: podemos produzir mais e exportar mais quantidades, mas se os preços descem, podemos acabar com um crescimento pequeno, ou mesmo negativo.

 

É isso que se está a passar na Europa e também em Portugal: com a queda geral dos preços (deflação), por mais que os países produzam ou exportem, podem não conseguir resultados positivos no crescimento.

As pessoas até podem estar a consumir mais (em quantidade), e até podem aumentar a sua confiança, mas como os preços estão a descer, o PIB não aumenta por aí além.

Esta armadilha é especialmente perigosa para países que têm muita dívida, como é o nosso caso.

A inflação é amiga de quem tem dívidas, pois o dinheiro desvaloriza com o passar do tempo, e é mais fácil de pagar as dívidas.

Com a deflação, é ao contrário, cada ano que passa as dívidas tornam-se mais difíceis de pagar.

 

É nessa armadilha que continuamos, e na Europa o Banco Central, dominado pelos alemães, está relutante em estimular as economias.

Ora, se os preços continuarem a cair, não saímos da cepa torta.

Os juros podem estar baixos, já nos podemos financiar, mas a economia continua anémica.

É um sarilho europeu, e só se dai daqui com a ajuda do BCE.

Ou Draghi dá uma ajuda valente nos próximos meses, ou continuaremos a patinar na lama.

 

publicado por Domingos Amaral às 12:36 | link do post | comentar
Quinta-feira, 06.02.14

Europa ou América: quem se safou melhor?

Há cada vez mais diferenças entre a América e a Europa na forma como a crise económica tem sido combatida, e por mais que os amantes da austeridade estejam a cantar vitória, a realidade é muito menos agradável do que eles pensam.

 

Veja-se por exemplo, o que fez Obama.

Desde 2008, ajudou os bancos para evitar o colapso e tentou estimular a economia com programas de despesa pública.

Depois, evitou os cortes mais drásticos que os republicanos queriam executar, subiu o IRS para os mais ricos, e agora até já anunciou uma subida do salário mínimo para certos funcionários públicos.

Ao mesmo tempo, o banco central americano, o FED, esteve quatro anos a injectar fundos na economia, para a estimular pois ela estava longe do pleno emprego, e só nos últimos meses reduziu essas injeções para um ritmo menor. 

Ou seja, Keynes e Friedman ao mesmo tempo.

E quais foram os resultados?

Embora lentamente, a economia americana começou a crescer, crescimento esse que acelerou em 2013, e está agora a caminho dos 3% por ano, com o desemprego a cair, e o dólar num valor razoável.

As bolsas estão bem, a dívida não cresceu muito, e a América está com uma saúde económica muito superior à de outras regiões do mundo.

Obama foi keynesiano, e só não foi mais porque os republicanos não deixaram.

E o FED foi intervencionista, como dizia Friedman, e imprimiu moeda porque a economia estava longe do pleno emprego e não havia perigo de inflação.

Os americanos atacaram a recessão com todas as armas que tinham, fiscais e monetárias, e a América levantou-se do chão.

 

Agora, vejamos o que fez a Europa.

Desde 2009, ajudou os bancos com dinheiros públicos, e tentou estimular inicialmente as economias com despesa pública.

Porém, em inícios de 2010 os alemães entraram em pânico, e a Europa entrou numa cruzada de austeridade violenta, cortando a despesa pública à bruta, rejeitando qualquer subida dos salários mínimos, e com subidas generalizadas de impostos.

Ao mesmo tempo, o Banco Central Europeu demorou três anos até declarar que intervinha nos mercados comprando dívida pública, e desde então para cá nunca o fez, apenas mexendo ligeiramente nas taxas de juro, que desceu. 

A Europa rejeitou Keynes, e ignorou Friedman.

E quais foram os resultados?

A Europa afocinhou numa gravíssima crise, que atingiu o seu pico entre 2012 e 2013.

Embora existam áreas que estão a crescer um pouco, o crescimento económico na Europa é muito frágil e curto.

Além disso, o desemprego está em níveis muito elevados, e os salários desceram em muitas regiões.

Pior, as dívidas públicas de muitos países cresceram , em vez de descerem.

Além disso, a Europa está em deflação, os preços estão a cair demais, o que ainda complica mais a vida dos países com problemas, pois as pessoas adiam ainda mais os seus consumos se esperam que os preços desçam no futuro.

Em conclusão, a Europa foi anti-keynesiana, e a intervenção do BCE foi demasiado tímida, anti-Friedman, e o resultado é muito pouco abonatório.

 

Os defensores da austeridade a todo o custo deviam pensar nisso: qual a estratégia que resultou melhor, a americana (Keynes + Friedman)? Ou a europeia (nem Keynes, nem Friedman)?

A resposta é óbvia! 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:11 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 30.01.14

Os "mercados" são mares nunca dantes navegados!

Quando se discute se Portugal deve ou não ter um programa cautelar ou uma "saída limpa", costuma-se sempre pensar que essa decisão depende da vontade do Governo.

É uma doce ilusão. 

Na verdade, o regresso aos mercados ou o programa cautelar, dependem muito mais das condições dos próprios mercados do que de nós.

É evidente que, se o Governo conseguir manter os números do déficit e da economia dentro ou até acima dos objectivos, isso ajuda e é importante, mas não chega.

Se usarmos uma analogia marítima, podemos dizer que é essencial ter um bom barco, e uma boa tripulação, mas isso não significa que se controle o estado do mar, as tempestades ou as calmarias.

É assim também com o regresso aos mercados: o barco Portugal pode estar em melhores condições, e a tripulação preparada, mas não sabemos como estarão as correntes, se vai haver borrasca ou se as ondas sobem muito até Maio.

Ou seja, essa parte não depende de nós, e nem sequer é possível fazer grandes previsões.

Na passada semana, por exemplo, no mesmo dia que o Governo anunciava um número muito bom para o déficit, as taxas de juro da dívida, em vez de subirem, desciam, por causa da Argentina e dos mercados emergentes!

De um dia para o outro, a turbulência dos mercados logo criou um contexto mais difícil para Portugal.

Ora, até Maio, ninguém sabe o que se vai passar nos mercados financeiros. 

O FED pode cortar os estímulos monetários, a Turquia pode entrar em crise, a Ucrânia pode ir para uma guerra civil, o BCE pode mudar de ideias e subir taxas, etc, etc. 

Os mercados financeiros são sempre mares nunca dantes navegados, e por isso mais vale esperar para ver o que acontece, em vez de decidir à pressa.

publicado por Domingos Amaral às 11:28 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 09.01.14

Porque é que 2013 foi melhor do que 2012?

Hoje, que Portugal regressou de novo aos mercados, vai haver muitas mensagens triunfalistas, dizendo que o caminho da "austeridade" deu os seus frutos e coisas assim.

É evidente, para qualquer pessoa que seja honesta intelectualmente, que a persistência de Passos Coelho foi importante, e ele conseguiu recuperar uma parte da credibilidade perdida pelo país entre 2009 e 2011.

No entanto, não se deve concluir daí que as políticas escolhidas por este Governo foram as mais indicadas. 

Pelo contrário.

Na verdade, em 2012, no ano em que este Governo fez o que queria, cortar na despesa à bruta, retirando os subsídios aos funcionários e pensionistas, e cortando muitos consumos intermédios do Estado, os resultados foram desastrosos.

Em 2012, o PIB desceu a pique, o desemprego subiu terrivelmente, as receitas fiscais caíram, e o deficit quase não diminuiu.

Porém, em 2013 as coisas foram bem diferentes.

Contrariado, o Governo foi obrigado pelo Tribunal Constitucional a não repetir a dose de austeridade, e optou por uma enorme subida no IRS.

O que se verificou foi que a economia portuguesa se adaptou muito melhor à subida do IRS de 2013 do que aos cortes na despesa de 2012.

Em 2013, apesar da subida do IRS, houve já crescimento económico, o desemprego desceu, e as receitas fiscais cresceram muito, o que permitiu diminuir o déficit bem mais do que em 2012!

Quem negar esta evidência está a ser intelectualmente pouco sério.

Para além disso, para o desanuviar das tensões na Europa, muito contribuiu a acção do BCE, que acalmou os mercados financeiros; bem como a recuperação económica dos EUA, da China e do Japão.

O que podemos dizer é que, apesar dos graves erros cometidos pelo Governo, sobretudo em 2012, em que exagerou claramente na dose de austeridade, instituições fundamentais da nossa vida coletiva (como o Tribunal Constitucional e o Banco Central Europeu) deram uma grande ajuda à economia portuguesa.

Tal como os turistas europeus, e os exportadores portugueses, também os juízes do TC e o Sr. Mário Draghi deviam ser considerados obreiros desta viragem no rumo da economia portuguesa.

A Passos Coelho reconheço um mérito: o de ter mostrado determinação e sangue-frio em não abandonar o posto, mesmo nos momentos mais difíceis.

Vai agora recolher os frutos políticos dessa determinação, mesmo não percebendo nada do que fez à economia. 

publicado por Domingos Amaral às 12:24 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Terça-feira, 17.12.13

Draghi acabou com as esperanças de Passos?

Sem ser muito específico, Mário Draghi, presidente do Banco Central Europeu, foi ontem taxativo quando disse que Portugal precisará de outro programa quando acabar o programa da "troika".

O que quer isto dizer? Se bem entendi as palavras de Draghi, isto significa que ele não acredita numa solução à irlandesa, numa "saída limpa", direta para os mercados.

Portugal, apesar da melhoria da situação económica e sobretudo financeira, não terá ainda em Junho capacidades para andar pelo seu próprio pé, e portanto vai precisar de algum tipo de ajuda.

Na verdade, se formos mais precisos, teremos de reconhecer que Draghi não afasta totalmente a possibilidade de um segundo resgate, mas é suficientemente subtil para não abrir a porta a mais especulações.

Portanto, o mais provável, para o presidente do BCE, é Portugal precisar do chamado "programa cautelar", uma espécie de assistência do BCE às idas ao mercado para vender dívida.

Quais serão as regras desse programa, ainda ninguém sabe, e foi essa uma das razões porque a Irlanda quis seguir sozinha, temendo a confusão europeia.

É provável que Portugal não consiga fazer o mesmo, mas talvez seja ainda cedo para ter certezas.

Daqui até Junho ainda muita água vai correr.

Mas, se assim for e Portugal tiver necessidade de um programa cautelar, será apenas uma meia vitória para o Governo de Passos.

Sair do programa da troika é uma vitória política, mas seguir para um cautelar é menos bom, pois continuará a austeridade forte.

publicado por Domingos Amaral às 11:07 | link do post | comentar
Quarta-feira, 04.12.13

Portugal pode regressar aos mercados sem programa cautelar?

A maioria das pessoas parece pensar que estão mais próximas tanto a hipótese má, segundo resgate, quanto a menos má, programa cautelar.

Mas, há quem pense que o regresso direto aos mercados é uma possibilidade.

A Irlanda conseguiu-o, e justificou-o de duas formas.

Em primeiro lugar, com as condições dos mercados, as baixas taxas que a Irlanda usufrui. Em segundo, com a confusão ou dúvida europeia perante um programa cautelar.

Como ninguém na Europa sabe o que implica um programa cautelar, os irlandeses temiam, e bem, que a trapalhada europeia os pudesse prejudicar.

E são essas duas situações idênticas ou semelhantes no caso português?

A resposta é sim e não.

Sim, no caso da confusão europeia. Se Portugal necessitar de um programa cautelar, terá de haver mais uma ou duas ou três rondas de conselhos europeus que duram até às tantas da manhã, e no final a solução pode ser desagradável para Portugal, para pacificar alemães e outros.

Nisso, devemos suspeitar da Europa, como a Irlanda fez.

Quanto ao não, é porque as condições de mercado de que Portugal beneficia são ainda muito piores do que as da Irlanda.

Neste momento, em Dezembro, é difícil fazer um regresso directo aos mercados, mas isso não significa que até Junho tal não seja possível.

 

O regresso de Portugal aos mercados vai depender de 3 factores essenciais:

1) A política monetária do BCE. Se Draghi praticar uma política monetária expansionista, seja com novas baixas de juros, seja com outros instrumentos, as taxas de juro da dívida pública de todos os países tenderão a cair, pois haverá mais liquidez no mercado. A queda da taxa portuguesa poderá ser maior, e isso ajudará muito.

2) A política monetária do FED. Se o banco central americano mantiver a sua política monetária expansionista mais alguns meses, as taxas também terão tendência para descer. No entanto, se começar a reduzir a liquidez, o FED pode provocar, como já aconteceu a meio de 2013, uma subida das taxas. A primeira hipótese ajuda Portugal, a segunda prejudica.

3) As medidas orçamentais portuguesas. Se o Tribunal Constitucional vetar a convergência das pensões e os cortes salariais, o governo terá de encontrar medidas para substituir essas, mas pode ver afectada a sua credibilidade. O rating da república pode voltar a descer, e isso impedirá um regresso directo aos mercados. 

No entanto, se o TC não vetar as medidas, haverá um efeito positivo, o rating poderá até melhorar, e nesse caso o regresso aos mercados é perfeitamente possível.

 

Em conclusão: o regresso directo de Portugal aos mercados em 2014, depende da força ou intensidade destes três efeitos. Se todos eles ajudarem, o regresso é possível. Se isso não acontecer, o mais certo é um programa cautelar, seja lá o que isso for...

publicado por Domingos Amaral às 09:55 | link do post | comentar
Sexta-feira, 29.11.13

A euforia bolsista é sinal de que as coisas estão melhores?

As bolsas de todo o mundo andam eufóricas!

Na América, os índices Dow Jones e S&P batem recordes históricos, e o mesmo sucede na Alemanha, com o índice Dax.

No Japão, também o Nikkei tem subido bem, nos últimos meses, e o mesmo se passa em vários países europeus, como França, Espanha ou Portugal, onde os respectivos índices, CAC, Ibex e PSI, têm estado sempre a subir.

O que é que isto quer dizer, que estamos todos a sair da grave crise que assola o mundo desde 2008?

Há várias explicações para este fenómeno geral de euforia bolsista, mas em primeiro lugar temos de separar dois mundos, que devem ser examinados em paralelo.

Há o mundo da alta finança, das bolsas, dos bancos centrais, dos mercados obrigacionistas e de futuros ou matérias primas, e depois há o mundo da economia real, das empresas e das pessoas.

No mundo financeiro, há uma clara melhoria da situação. Os pânicos de 2008 e anos seguintes estão afastados, as taxas de juro estão muito baixas, e o sistema bancário mundial está mais sólido do que há uns anos atrás.

A acção dos três ou quatro bancos centriais mais importantes do mundo (o FED americano, o BCE europeu, o Banco do Japão e o Banco de Inglaterra) tem sido a acertada, com políticas monetárias expansionistas, seja através de compra de títulos, seja de baixas de taxas de juro.

É essencialmente esta política monetária que tem feito subir as bolsas, pois aumenta a liquidez, dá segurança e portanto faz subir o preço dos ativos financeiros (ações, obrigações, etc).

Embora existam diferenças, (as subidas são mais fortes nos EUA do que na Europa, pois o FED é mais activista que o BCE), há uma sensação geral de forte melhoria da alta finança.

Porém, o que é também habitual, pois a alta finança costuma andar mais depressa que a economia, seja a crescer, seja a descer, a verdade é que situação económica geral é ainda frágil.

Na América, há crescimento económico, embora não espectacular, pois o Congresso, dominado pelos republicanos, obriga a permanentes cortes na despesa do Estado, o que traz alguma recessão.

No Japão, também começa a haver melhorias económicas, embora ainda ténues. O mesmo se passa em Inglaterra, e até na China.

Porém, é na Europa que as coisas são mais mistas.

A Europa parece dividida ao meio. Há um grupo de países, liderado pela Alemanha, que está muito bem.

E depois há um grupo de países do Sul, onde se contam Portugal, Itália, Grécia, Espanha, Irlanda e Chipre, que está carregado de problemas, com elevadas dívidas e alto desemprego.

No seu conjunto, a Europa quase não cresce, e ninguém sabe bem como resolver a armadilha em que está apanhada, com muita dívida, desemprego e até deflação, pois aquilo que é bom para a Alemanha é mau para outros países, e aquilo que é bom para o Sul é mau para a Alemanha.

Veremos o que trazem os próximos meses, e se a melhoria financeira que tanto contagia as bolsas traz também alguma melhoria económica, ou se os desequilíbrios se mantém.



 

publicado por Domingos Amaral às 10:25 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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