Sem um bocadinho de inflação, não há retoma
Já há alguns sinais que a retoma económica, seja na Europa, seja até em Portugal, pode estar a abrandar o seu ritmo.
Se isso acontecer, é uma má notícia para todos, e também para Portugal.
Mas, não deve ser uma surpresa muito grande, pois toda a Europa está num processo de deflação, e quando assim é, tudo se torna mais difícil.
A deflação (queda dos preços) é uma inimiga do crescimento económico, e se os preços estão a cair, é difícil haver melhorias muito grandes no PIB.
Há sempre duas componentes no crescimento, a quantidade e o preço.
Se uma empresa vender 10 carros num ano, e no ano seguinte vender 11, aumentou a venda em quantidade, mas é preciso ver a que preço o conseguiu.
Se teve de baixar muito o preço, até pode não ter aumentado a receita.
Com um país é semelhante: podemos produzir mais e exportar mais quantidades, mas se os preços descem, podemos acabar com um crescimento pequeno, ou mesmo negativo.
É isso que se está a passar na Europa e também em Portugal: com a queda geral dos preços (deflação), por mais que os países produzam ou exportem, podem não conseguir resultados positivos no crescimento.
As pessoas até podem estar a consumir mais (em quantidade), e até podem aumentar a sua confiança, mas como os preços estão a descer, o PIB não aumenta por aí além.
Esta armadilha é especialmente perigosa para países que têm muita dívida, como é o nosso caso.
A inflação é amiga de quem tem dívidas, pois o dinheiro desvaloriza com o passar do tempo, e é mais fácil de pagar as dívidas.
Com a deflação, é ao contrário, cada ano que passa as dívidas tornam-se mais difíceis de pagar.
É nessa armadilha que continuamos, e na Europa o Banco Central, dominado pelos alemães, está relutante em estimular as economias.
Ora, se os preços continuarem a cair, não saímos da cepa torta.
Os juros podem estar baixos, já nos podemos financiar, mas a economia continua anémica.
É um sarilho europeu, e só se dai daqui com a ajuda do BCE.
Ou Draghi dá uma ajuda valente nos próximos meses, ou continuaremos a patinar na lama.