Terça-feira, 17.09.13

Portas é muito mais hábil do que Passos Coelho

Ontem, e pela primeira vez em mais de dois anos, a reunião do Governo com os parceiros sociais correu bem.

No final, com a excepção da CGTP, todos os parceiros sociais alhinharam a uma só voz com o Governo.

UGT, patrões, confederações, num consenso raro, pediram o mesmo que o Governo: a troika deve aceitar um deficit maior para 2014.

A isto chama-se "consenso nacional", e foi isto que muita gente criticou o Governo por não fazer.

Nem Passos, nem Gaspar, nem o pobre Santos Pereira, conseguiram gerar esses consensos, e foram criticados por isso.

Ora, logo na primeira reunião a que presidiu, já com as suas novas funções depois da remodelação de Julho, Paulo Portas conseguiu "o consenso" de forma natural.

E conseguiu-o porque trabalhou para isso acontecer.

Para chegar a um "consenso" é preciso trabalho, cedências, paciência. 

O "consenso nacional" não nasce de geração espontânea, como as ervas ou o sol todos os dias. Dá muito trabalho chegar a um consenso, e é por isso que ele é sempre tão raro e valioso.

Mas, há uma coisa que eu sei: é que para chegar a um consenso não se pode ficar na nossa trincheira ideológica, não se pode ser radical nas posições.

Infelizmente, foi isso que o Governo de Passos e Gaspar sempre foi, radical e inflexível. O resultado foi péssimo, para todos.

Paulo Portas, está visto, tem uma habilidade diferente. 

Não está tão preocupado com ideologia radical liberal, nem com princípios vagos e modelos de Excel. Sabe que, para uma política ser aceite pelas populações, é necessária a participação dos parceiros sociais, o seu envolvimento nas decisões.

E, para isso, contrói unidade, em vez de semear discórdia. 

Como eu sempre aqui disse, Portas pagou um preço alto por ter dado um murro na mesa, mas no fim ganhou, e tem hoje mais poder para influenciar a governação do país.

Pelo que já podemos ver, Portugal só ficou a ganhar com isso.

Pelo menos consenso económico e social já voltámos a ter, e isso a Portas se deve.

publicado por Domingos Amaral às 11:19 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 17.06.13

Prefere ter dívidas ou ter desempregados?

A pergunta que dá o título a este post é a pergunta que devemos todos fazer sobre Portugal e sobre a Europa.

O que é mais grave para um país ou para a Europa, ter dívidas ou ter desempregados?

Desde Setembro de 2009, data em que a senhora Merkel venceu as eleições na Alemanha, a resposta da Europa foi simples: não é aceitável ter dívidas!

Os países mais fortes, com a Alemanha à cabeça, foram peremptórios: não pagavam as dívidas dos países mais pobres! 

Quem se endiviou demais, que pague pelos seus erros, foi esta a máxima exemplar da Europa, com Merkel a ser a cara desta direção geral. 

Depois, um pouco por todo o Sul da Europa, os "merkelianos" tomaram conta do assunto, e começaram a impôr doses cavalares de austeridade.

Parecia simples: se tens dívidas a mais, deixa de gastar, corta nas despesas e paga o que deves!

Simples, mas estúpido. Aos "merkelianos", apaixonados pela austeridade, escapou um pequeno mas muito importante detalhe. É que um país não é um família, e uma União Europeia não é uma quintarola qualquer.

Ao começarem a praticar austeridade todos ao mesmo tempo, primeiro na Europa do Sul e depois mesmo no norte, na Holanda, na França, na Finlândia e até na Alemanha, os "merkelianos" esqueceram os efeitos "sistémicos" que isso iria trazer a todos. 

Parecia muito fácil dar ordens austeras à Grécia, impôr a Portugal e à Irlanda umas "troikas" exigentes. A coisa ia ao sítio de certeza.

Porém, só com o passar do tempo os "merkelianos" descobriram que massacrando as pequenas partes, um dia o todo ia também sofrer.

E foi isso que aconteceu. A recessão, em vez de ser localizada, expandiu-se como um vírus. A austeridade, tão bela e virtuosa, transformou-se numa ceifeira de empregos e empresas. Os Estados mirraram, algemados pela sra Merkel e pelos seus papagaios locais, como Gaspar e Passos.

Quatro anos depois, a Europa descobre o paradoxo que o economista Irving Fisher descobriu há mais de 80 anos: se todos cortarem nos gastos, nos salários e nas despesas ao mesmo tempo, todos ficam mais pobres!

Olha-se hoje para a Europa, do Atlântico até aos fiordes, de Paris a Atenas, e o que se vê é um mar de desempregados, um lago recessivo onde ninguém faz mais do que boiar, tentando não naufragar.

É este o legado da Sra Merkel e dos seus seguidores, é esta a herança da austeridade. Em pânico com as dívidas, os europeus geraram um monstruoso e arrepiante desemprego. É isso que preferem? Preferem ter desempregados aos magotes em vez de dívidas?

Sempre aqui escrevi que Merkel foi a pior coisa que aconteceu à Europa em muitas décadas. Uma mulher lenta de raciocínio, uma pata choca com uma moral de merceeira, sem qualquer visão lúcida sobre o destino comum da Europa.

Só peço a Deus, todos os dias, que os alemães corram com ela. Caso contrário, o desastre não vai parar. No seu cérebro de foca mal amestrada, a sra Merkel nunca irá perceber que é muito mais grave para a Europa ter desempregados do que ter dívidas. 

 

publicado por Domingos Amaral às 12:33 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Sexta-feira, 31.05.13

Embora lá fazer de conta que a crise não existe?

De há uns tempos para cá, um mês, talvez dois, parece-me que os portugueses se andam a esforçar para pensar que a crise já não existe, ou que o pior já passou.

Com aquela habilidade tipicamente "tuga", tenta-se fazer de conta, pensar positivo, acreditar no futuro, para nos convencermos que isto não é tão mau como pintam a coisa.

É um processo psicológico típico: como pensar muito sempre na mesma coisa nos causa angústia, é melhor não pensarmos mais, que talvez a má sensação se vá embora. 

O que não falta neste país são pessoas que passam por optimistas, quando na verdade são apenas inconscientes. Há quem acredite que basta a dose certa de pensamento positivo para vencermos este obstáculo.

Normalmente, quando ouço esse tipo de pessoas a falar, sei pelo menos uma coisa sobre elas. Estão empregadas, e portanto podem dar-se ao luxo de ser "positivas". 

Agora, com o desemprego a subir da forma que tem subido, como acreditar que estamos no bom caminho? 

É uma das coisas que me causam perplexidade neste Governo. Sendo um Governo de centro-direita, eu pensava que era um Governo que queria diminuir o número de pessoas a depender da ajuda do Estado para viver. É isso que os liberais normalmente defendem.

Porém, com as políticas que este Governo tem promovido, há hoje muito mais portugueses a viverem à custa do Estado do que havia antes dele chegar. São às centenas de milhares a receberem subsídios de desemprego!

E as receitas do Estado, como se esperava já, continuam a descer a pique. É de facto um feito glorioso de Gaspar e Passos.

E tudo isto é feito em nome do "regresso aos mercados" e da "credibilidade financeira do país"! É um país maravilhoso, o que este Governo deseja. Um país pobrezinho mas honrado!

Onde é que eu já ouvi isto? Mas, hoje está um dia de sol e bem bonito, o melhor mesmo é amanhã ir à praia e...pensar positivo!

publicado por Domingos Amaral às 16:17 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 07.05.13

A estranha ligação entre os juros da dívida e o Tribunal Constitucional

Aqui há um mês, quando o Tribunal Constitucional vetou algumas das decisões do Governo para 2013, caiu o Carmo e a Trindade.

Que era uma ditadura do TC, que era inadmissível que o Governo não pudesse governar, que a imagem de Portugal ia ficar em risco, sei lá que mais.

Passos Coelho, numa comunicação televisiva ao país, chegou a culpar o TC por um eventual segundo resgate, alegando que a sacrossanta credibilidade de Portugal estava em causa, e que os mercados iam de novo desconfiar de nós. Ainda se lembram disto?

Pois, passado um mês, o que aconteceu às taxas de juro da dívida portuguesa, de curto, médio ou longo prazo? Seria de esperar que subissem! Mas, bem pelo contrário, desceram e muito! 

Em que ficamos? Os mercados são malucos? Então um Tribunal Constitucional abre um rombo de 1,3 mil milhões de euros no orçamento e os mercados acham bem? Então e o melodrama que Passos Coelho fez, o que é que lhe aconteceu? 

A relação entre as políticas orçamentais e os juros da dívida pública parece um bocado esquizofrénica. Quando há decisões de austeridade, a gente espera que as taxas desçam, e as sacanas sobem! E quando há decisões anti-austeridade, a gente espera que as taxas subam, e as sacanitas descem! É preciso descaramento! 

Querem exemplos concretos? Nos últimos três orçamentos austeritários de Estado - 2011, 2012, 2013 - na mesma semana em que Portugal aprovava no seu parlamento esses orçamentos, as taxas de juro da dívida em vez de descerem, como deveria ser, pois o país estava a provar que ia fazer cortes, subiram!

E agora isto: o TC abre um buraco orçamental, e as taxas em vez de subirem, desconfiando das capacidades do país de cumprir as suas metas, toca de desatarem a descer. Mas os mercados acham que somos a Alemanha, ou piraram de vez?

Na verdade, tudo não passa de um enorme equívoco. No caso de países pequenos, como Portugal, as taxas de juro da dívida pouco têm a ver com a actuação dos respectivos Governos. Façam eles mal ou bem, as taxas não lhes ligam patavina. Só querem saber o que faz o Banco Central Europeu, o resto é conversa.

O mundo da alta finança, e bem, dá muito mais importância ao senhor Draghi, do que ao errático Vítor Gaspar.   

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Segunda-feira, 06.05.13

Gaspar e a Quimioterapia Fiscal

Ao ouvir o Governo nos últimos dias, uma pergunta continua a bailar no meu espírito? Porque perderam dois anos a encharcar a economia com aumentos de impostos?

Sim, quando o Governo chegou, não podia ter começado logo a aprovar medidas como as que agora quer implementar, cortando na despesa do Estado, nas despesas de funcionamento dos ministérios, e coisas assim?

Porque não alterou as regras dos funcionários públicos, porque não propôs programas de rescisão amigável, porque não equalizou as benesses entre trabalhadores públicos e privados? 

Sim, porque é que em vez de ir fundo na reforma, o Governo se entreteve a massacrar os portugueses com impostos e mais impostos, e a fazer ilegalidades inconstitucionais, como sejam a retirada de subsídios a uns e não a outros?

Gaspar, em dois anos, atirou para cima dos portugueses uma verdadeira Quimioterapia Fiscal, em vez de ter feito o que devia, que era cortar a despesa do Estado. Porquê?

Agora, que já estamos todos afocinhados numa violenta recessão, arriscamo-nos ainda a criar mais recessão com estas medidas. Agora, o quadro é muito mais negro do que era há dois anos.

A Quimioterapia Fiscal de Gaspar, como aqui tantas vezes escrevi, não foi apenas errada, foi totalmente inútil. 

publicado por Domingos Amaral às 14:50 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Segunda-feira, 15.04.13

Portas: a sua vitamina E(de economia) não está a funcionar!

Tenho lido por aí que a verdadeira razão pela qual Paulo Portas não foi no sábado à tomada de posse dos novos ministros, não foi por estar longe de Lisboa, mas sim por estar "amuado".

Como a remodelação do Governo não foi mais profunda, e o CDS não foi bem tratado por Passos, Portas fez uma pequena birra.

É bem possível que assim seja. Quem tenha seguido com alguma atenção os últimos meses de Portas, descobriu certamente uma tendência florescente na sua actividade ministrial: a sua enorme vocação para a Economia.

A maior parte das aparições de Portas pelo mundo, do Brasil ao Dubai passando pela Índia e pela Comporta, incluem intervenções de política económica.

Ele gaba as exportações nacionais, a sua vitalidade e o quanto são essenciais; e ele exorta os estrangeiros a investir, declarando que este é o melhor momento para isso.

Lá fora e cá dentro, há mais de um ano, Portas pratica um permanente discurso económico positivo, tentando apontar a luz ao fundo do túnel.

Na verdade, ele apresenta-se como um farol da esperança económica, usando uma espécie de kriptonite verbal para estimular os desanimados indígenas, ou administrando-lhes doses de Vitamina E (de economia), que revitalizem e relancem o país. 

Dessa forma, Portas procura ser o contraponto de Vítor Gaspar. Enquanto Gaspar lança impostos, Portas lança investimentos; quando Gaspar deprime, Portas anima; sempre que Gaspar massacra os portugueses com mais austeridade, Portas tenta aliviá-los dessa canga. Se Gaspar é o pólo negativo das pilhas do Governo, Portas tenta ser o positivo.

Em termos de imagem isto tem funcionado, e Portas tem subido nas sondagens, mas na realidade as coisas são menos eficazes. Por mais que Portas tente espevitar a economia com infusões de optimismo e exportações para o resto do mundo, a verdade é que na terra natal o efeito Vitamina E pouco se sente, tal é a enxurrada de austeridade que Gaspar promove, com a benção e o apoio de Passos.

Além disso, os discursos de Portas tornaram evidente o seu oculto desejo: ser Ministro de Estado e da Economia. Era uma espécie de brinde 2 em 1. Por um lado, Portas era promovido na hierarquia do Governo, por outro e com a ajuda do seu talento, rapidamente se transformaria num "ministro do Bom Estado da Economia", dando agradáveis notícias a todos, baixando IRC´s, semeando investimentos e colhendo exportações, aplicando um choque vitamínico E Super Plus ao nosso tão mal-tratado país.

Contudo, é melhor Portas tirar esse cavalinho da chuva, pois tal nunca irá acontecer. Passos Coelho não é ingénuo e não vai entregar o ouro, não ao bandido, mas ao parceiro da coligação. Dar ao CDS a pasta da Economia seria convocar a tragédia para o PSD e para o Governo, e é fácil perceber porquê.

Desde Setembro de 2012, com a questão da TSU, que se tornou clara a guerrilha de Portas às ideias de Gaspar, que o "enorme aumento de impostos" que se seguiu só serviu para amplificar. Portas está contra a estratégia "hard line" de Gaspar na austeridade, e tudo tem feito para a minar.

Dar-lhe a pasta da Economia seria transformar uma guerrilha de atrito numa guerra aberta. Ministro de Estado e da Economia, Portas teria um poder de fogo enorme para afrontar Gaspar e tentar, a prazo, correr com ele.

Ora, Passos não vai cair nessa armadilha. O primeiro-ministro, mal ou bem, confia em Gaspar e nada fará para o afrontar ou incomodar. Dar a Portas a Economia seria transformar cada conselho de ministros numa arena semanal de luta entre a Vitamina E, de Portas, e a Quimioterapia Financeira, de Gaspar. Tal batalha de gigantes só causaria desgaste interno e cisões profundas no Governo, podendo acelerar o seu prematuro fim.

Assim sendo, Portas terá de se contentar com minúsculas retaliações cirurgícas, enquanto incentiva os queixumes públicos do leal escudeiro Pires de Lima, e viaja pelas Arábias a vender azeites, vinhos ou chouriços.

A Vitamina E de Portas tem os limites que Passos deixa, não os que Portas quer...

 

publicado por Domingos Amaral às 11:19 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 08.04.13

As crises da dívida são como o teatro: aí está o 3º acto!

Aqui há uns meses, escrevi neste blog um post em que comparava as crises da dívida ao teatro ou à ópera, pois têm sempre uma estrutura em 3 actos, como esses espectáculos culturais. 

O primeiro acto é o "incidente inicial", que em Portugal foi o pedido de resgate, feito precisamente há dois anos. É o pico inicial da crise, com os seus culpados e os seus defensores, com muita trapalhada e eleições, normalmente com um novo governo que diz muito mal do anterior, e promete fazer tudo bem para o futuro.

Em 2011, Passos Coelho não só derrubou Sócrates prometendo acabar com a austeridade, como prometeu ir muito para além do memorando da troika, inventando um novo país, bem gerido e cumpridor!

O segundo acto, tal como no teatro, é passado em enormes dificuldades, de mini-crise em mini-crise, mas com a situação económica sempre a piorar.

O Governo vai aplicando mais e mais austeridade, a economia vai definhando, a dívida e o desemprego crescem, e o país vai-se cansando cada vez mais desta crise e deste governo.

Por cá, foram óbvias as mini-crises. Primeiro, foi o primeiro veto do Tribunal Constitucional, em 2012, seguiu-se a crise da TSU, e agora viveu-se mais uma mini-crise, com o segundo chumbo do Tribunal Constitucional.

O ambiente está de cortar à faca, e a situação piora a olhos vistos, tanto cá dentro como lá fora. Como era esperado, o "mau da fita", o sr. Schauble, já veio dizer que Portugal tem é de cortar mais e que não espere simpatia dos credores!

Estamos pois a entrar em pleno 3º acto da crise. Tal como no teatro é aqui que se vai viver o climax desta história. Com a situação económica sempre a piorar, o Governo vai implementar mais austeridade, vai cortar mais na despesa, os credores vão endurecer a posição, e Portugal vai passar de "bom aluno" a "mau aluno".

A situação de crise económica e social ameaça tornar-se insustentável, e a crise política vai ser permanente, com um Governo cada vez mais incapaz de resolver o que quer que seja, e com a população enfurecida com ele.

E, um dia destes, a coisa estoira. E estoira à séria. É evidente que ainda ninguém sabe qual será o final, mas prevejo que vai dar-se uma mega-crise política, e também uma mega-crise económica, que pode passar ou por um segundo resgate, ou mesmo por uma saída do euro no espaço de um ou dois anos.

Infelizmente para todos nós, o guião desta peça de teatro já estava escrito há muito tempo e nós não nos afastámos muito do que tem acontecido por esse mundo fora nos países a quem é imposto um ajustamento deste tipo. É sempre o mesmo filme: a violência da austeridade violenta as sociedades e eles revoltam-se!

Em 120 ajustamentos feitos pelo FMI nos últimos 50 anos, apenas 19 tiveram resultados mais ou menos safisfatórios, e sempre em casos que era possível desvalorizar a moeda do país, como se passou em Portugal em 1983. 

Ao contrário do que dizem os "falcões da austeridade", como a Sra Merkel e o sr. Schauble, o sr. Rehn ou o sr. Barroso, os senhores Passos e Gaspar, bastava olhar para a história económica do último século para saber que esta "onda austeritária" que varre a Europa ia acabar mal, muito mal.

Um a um, a austeridade está a empurrar os países para uma catástrofe, e se não parar depressa vai levar com ela a Europa e o euro.

Nós portugueses, somos apenas mais uma vítima desta decisão europeia de castigar os devedores com austeridade e proteger os ricos credores de qualquer perda. O que se está hoje a passar em Portugal, é mais um episódio da saga "Como Destruir o Euro com a Austeridade", que pode ver num teatro grátis perto de si, ou seja, todas as noites ao vivo na televisão.  

Como somos um país inculto em economia, passamos o tempo a discutir os draminhas da paróquia, quem tem culpa do quê e outras coisas do género. A culpa é do Sócrates, do Cavaco, do Gaspar e dos Passos, do Estado que é grande demais, dos portugueses que viveram acima das suas possibilidades, dos bancos que emprestaram demais, etc, etc, etc. E todos têm razão, e têm as suas razões e as suas culpas.

Porém, há uma coisa que os portugueses deviam perceber. Portugal, e muitos outros países da Europa, têm dois problemas pela frente. O primeiro chama-se Alemanha, pelas condições que impôs desde o início ao funcionamento do euro. E o segundo chama-se Alemanha, pelas regras draconianas que impôs aos "programas de resgate", obrigando a que o ajustamento fosse feito só pelos devedores e não também pelos credores. 

Portanto, podemos ir zangando-nos todos uns com os outros cá na paróquia que não mudamos o essencial. Enquanto a Alemanha impuser aos outros país as suas regras de austeridade, não há saída para o problema.

Esta peça de teatro só tem dois fins: ou a Alemanha muda a sua orientação e aceita um perdão geral e substancial das dívidas dos países pequenos, ou vários países terão de sair do euro. O resto é conversa para entreter...

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:39 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Sábado, 09.03.13

Ninguém lixa a troika!

Por mais que os portugueses queiram ver-se livres da troika, isso não está para acontecer, nem para breve! A "troika" decidiu ficar por cá mais uns dias e isso é uma péssima notícia, para Portugal e para o Governo.

Pelos vistos, não vai acontecer aquilo que o Governo queria, que fossem suavizados ou mesmo adiados os famosos cortes de 4 mil milhões de euros na despesa pública. A "troika" não vai deixar, e foi por isso que ficou mais uns dias em Portugal, para impor esses cortes ao Governo e ao país.

Não valeu de nada a tentativa de Paulo Portas e Vítor Gaspar, que há pouco mais de uma semana, no Parlamento, deram a entender que era possível "suavizar" os cortes e adiá-los no tempo. Qual suavização, qual quê! A "troika" não vai deixar que isso aconteça, e Portas e Gaspar andaram a criar expectativas erradas nos portugueses.

É preciso os portugueses todos perceberem finalmente uma coisa: o Governo não manda nada. Quem manda são os patrões de Bruxelas e Berlim, os senhores Rehn e a senhora Merkel, que controlam a "troika" e mandam executar o que desejam, sem os portugueses terem qualquer hipótese de se opor.

Na verdade, como já aqui escrevi, eles são os patrões da quinta. Passos Coelho e Gaspar não passam de meros feitores da quinta, de caseiros que fazem o que os patrões mandam. Os 4 mil milhões são para cortar, queiram eles ou não, e não há nada que Portugal possa fazer para parar esta carnificina que está a acontecer ao país.

Isto não vai ser nada bonito de se ver... 

publicado por Domingos Amaral às 18:24 | link do post | comentar
Sexta-feira, 22.02.13

Vítor Gaspar devia demitir-se e já!

As notícias desta última semana são arrasadoras para o Governo, mas sobretudo para Vítor Gaspar, o grande mentor da estratégia da austeridade que este Governo seguiu desde que tomou posse, há quase dois anos.

A recessão agravou-se, o desemprego subiu para níveis espantosos, a economia está em coma, a dívida pública não pára de subir, e o deficit do Estado não atinge as metas a que Gaspar se propôs.

Ou seja, o Governo falhou, e falhou em praticamente tudo, não apenas em alguns indicadores. Gaspar parece um daqueles malabaristas que lança bolas ao ar, e depois as deixa cair todas, sem conseguir apanhar nenhuma.

Como aqui muitas vezes escrevi ao longo do último ano, a estratégia da austeridade era brutal e não iria resultar. Para quem conheça um pouco de história económica, de Portugal e do Mundo, sabe que a grande maioria destes "ajustamentos" falharam sempre, e tiveram péssimas consequências para os países que os colocaram em prática.

Quando um país se vê numa situação de excesso de dívida pública, a forma de resolver esse problema não é praticar austeridade à bruta e o mais depressa possível, como Gaspar decidiu. Sobrecarregar um país com excesso de impostos e cortes nas despesas, nos salários e nas pensões, provoca uma enorme recessão, envia centenas de milhares de pessoas para o desemprego, e não resolve o problema da dívida.

Pelo contrário. Como muitos já estão agora a perceber, quanto mais Portugal paga em juros, mais deve, pois a dívida pública não pára de subir em percentagem do PIB! O país foi colocado numa situação terrível, numa espiral depressiva, e entrou na chamada "armadilha da deflação e da dívida", quando existe em simultâneo uma recessão profunda e um aumento da dívida. 

Há responsáveis por isto. É claro que, em grande parte, a responsabilidade é sobretudo da Europa e da Alemanha. Foram os alemães da nefasta sra Merkel que impuseram esta estratégia suicida de "austeridade" aos países do Sul da Europa. Mas, não foram só eles.

Em Portugal, o principal responsável por esta estratégia "kamikaze" foi o ministro Vítor Gaspar. Foi ele que convenceu Passos Coelho (que obviamente não percebe patavina de economia) mas também o resto do Governo, que esta ideia iria funcionar.

Ora, quase dois anos depois, os resultados do fanatismo de Gaspar estão à vista. O país está de rastos, a economia está aniquilada em muitas actividades, e ninguém vê uma saída para este enorme buraco negro em que nos encontramos. Gaspar meteu-nos na Boca do Inferno!

É por isso que ele tem de se ir embora. Passos Coelho, se quiser continuar mais tempo, tem de dispensar o actual ministro das Finanças, e chamar outro para o seu lugar, que possa inverter a situação. Gaspar falhou, e falhou rotundamente. É talvez o pior ministro das Finanças que Portugal teve desde o 25 de Abril, aquele que mais se enganou na sua estratégia.

O seu tempo chegou ao fim. Se Passos Coelho se vir livre de Gaspar, talvez consiga sobreviver até 2015. Eu não sou dos que acham que o Governo se deve demitir. Foi eleito, tem legitimidade, e deve prosseguir. Mas, deve mudar de ministro das Finanças, e já!

 

publicado por Domingos Amaral às 12:07 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 20.02.13

O regresso de Grândola Vila Morena

Ao que parece, a moda está a pegar. Agora, de cada vez que um membro do Governo aparece em público para falar sobre algum assunto, levanta-se logo um grupo de pessoas que começa a cantar o "Grândola Vila Morena", a célebre música de Zeca Afonso, que serviu como senha para o início da revolução, em 25 de Abril de 1974. 

Passos Coelho foi a primeira vítima do Grândola, no parlamento, mas não lhe deu para cantar a acompanhar os protestos. Já Miguel Relvas, ontem, caiu na asneira de tentar trautear a música. O resultado foi um perfeito desastre. As imagens de Relvas a cantarolar a Grândola são patéticas, e aquele sorriso forçado que acompanha a cantoria roufenha vai ficar para a história dos momentos mais ridículos da nossa democracia. 

Mas, o que me importa hoje é o simbolismo destes protestos. Ao fim de quase dois anos de Governo, Passos Coelho e Gaspar castigaram de tal forma o país que estão a conseguir unir as esquerdas, e o traço dessa união começa com coisas tão simples como músicas, no caso a Grândola Vila Morena.

A austeridade brutal a que Passos e Gaspar têm submetido o país e os seus terríveis resultados, mas sobretudo a ideia de que esta austeridade é ideologicamente motivada, e que há uma intenção clara de destruição do Estado Social como o conhecíamos, tudo isso somado, está a gerar no país uma profunda revolta, e mais grave ainda, está a unir as esquerdas, num ódio e num propósito comum, contra o Governo.

É sempre assim: quando a direita vira demasiado à direita, a esquerda une-se. Contudo, em Portugal, isso nunca aconteceu desde o 25 de Abril. A direita portuguesa, e nela incluo o CDS e o PSD, nunca tinha virado tanto "à direita" como no presente. Nem a AD de Sá Carneiro, ou as de Marcelo ou Durão Barroso; nem o PSD de Cavaco, tinham sido tão "à direita" enquanto foram governos.

No passado e durante quase 40 anos de democracia, houve sempre nas direitas portuguesas, sobretudo quando estavam no Governo, importantes políticas sociais-democratas no PSD e democratas-cristãs no CDS, que impediam a governação de virar demasiado "à direita". E certamente por isso, a união das esquerdas nunca se deu. Com a excepção de acordos pontuais, por exemplo na Câmara de Lisboa, nunca o PS se uniu ao PCP e ao Bloco para governar o país.  

Agora, pela primeira vez em 40 anos, isso pode mudar. Pé ante pé, as esquerdas estão-se a unir. A canção Grândola Vila Morena será, daqui para a frente, uma espécie de guarda-chuva debaixo do qual se dará a união das esquerdas. Qualquer dia, veremos Seguro, Semedo, Jerónimo, Arménio Carlos, e muitos outros, também a cantarem a Grândola à primeira oportunidade, e isso terá um profundo significado simbólico.

Ou muito me engano, ou a grande consequência do desastre económico que Passos e Gaspar provocaram, será um governo de Esquerda, onde pela primeira vez veremos sentados o PS, o PCP e o Bloco. O desastre que a direita gerou vai provocar uma união à esquerda, e os mais fervorosos apoiantes de Passos, de Gaspar e da austeridade, terão de engolir pela boca a baixo uma frente de esquerda como nunca houve em Portugal.

É sempre assim, no mundo inteiro. Quando a direita vira demasiado à direita, a esquerda cresce a seguir, e muito.   

publicado por Domingos Amaral às 10:36 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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