Sexta-feira, 01.11.13

Tem toda a razão, Dr. Álvaro Santos Pereira, é pena é que...

Álvaro Santos Pereira, ex-ministro da Economia de Passos Coelho, abriu ontem a alma.

Liberto das amarras do poder, disse finalmente o que pensa sobre o que se passa em Portugal e na Europa.

Para ele, não há qualquer hipótese de assim se pagar a dívida pública nacional. A única forma de o fazer é reescalonar a dívida, pagando a 40 ou 50 anos.

Para ele, a austeridade cega está a destruir as economias, as sociedades e até as democracias, e se continuar, pode gerar ditaduras em certos países.

Para ele, é terrível quando os ministros das Finanças mandam na Europa, sem dar espaço aos outros.

Para ele, Portugal não voltará ao crescimento económico se não for feita uma enorme descida da carga fiscal.

Devo dizer que sempre gostei de Álvaro Santos Pereira, e ainda gosto mais de o ouvir dizer isto tudo, quase tudo coisas que aqui venho defendendo, ou pelo menos soluções semelhantes, no mesmo sentido das dele.

Nem sempre estive de acordo com certas soluções do Ministro, como por exemplo no corte nos feriados, que como hoje se vê não altera rigorosamente nada à produtividade dos portugueses. 

No entanto, sempre senti em Santos Pereira um enorme desconforto, nem sempre verbalizado, com a solução que a Europa impôs à bruta, e que Passos Coelho quis cumprir na íntegra, ou até mais além.

É pois reconfortante ouvir Santos Pereira reconhecer a realidade e as suas convicções.

De facto, a dívida pública nacional não se paga com autoridade e exportações, só se paga se for reestruturada, reescalonada ou mutualizada pela Europa.

Não há outra solução, e só os teimosos, os estúpidos e os mal intencionados não o admitem.

E é evidente para todos que a austeridade está a destruir certas economias, e está a levar ao crescimento dos populismos de direita ou de esquerda, pondo em risco as democracias. Só não vê quem não quer ver.

Também estou de acordo com ele quando diz que, se os ministros das Finanças mandam na Europa, a coisa fica feia.

Schauble e os seus acólitos são demasiado obtusos e tortos para perceberem o que está em causa, e tem sido trágico que só eles comandem o destino da Europa, ajudados por uns metecos sem ideias, como Barroso, Merkel e outros.

A minha grande pena é que pessoas inteligentes, como Santos Pereira, não sejam capazes de mudar o poder por dentro, e só falem quando já não estão em posições de poder.

Antes de Santos Pereira, tinha sido Juncker, o luxemburguês, a dizer coisas semelhantes.

Mas, a verdade é que o poder está na mão do Império do Mal, dos Darth Vader da austeridade.

São eles que mandam, e enquanto isso acontecer, a Europa não vai mudar. 

publicado por Domingos Amaral às 16:06 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Terça-feira, 17.09.13

Portas é muito mais hábil do que Passos Coelho

Ontem, e pela primeira vez em mais de dois anos, a reunião do Governo com os parceiros sociais correu bem.

No final, com a excepção da CGTP, todos os parceiros sociais alhinharam a uma só voz com o Governo.

UGT, patrões, confederações, num consenso raro, pediram o mesmo que o Governo: a troika deve aceitar um deficit maior para 2014.

A isto chama-se "consenso nacional", e foi isto que muita gente criticou o Governo por não fazer.

Nem Passos, nem Gaspar, nem o pobre Santos Pereira, conseguiram gerar esses consensos, e foram criticados por isso.

Ora, logo na primeira reunião a que presidiu, já com as suas novas funções depois da remodelação de Julho, Paulo Portas conseguiu "o consenso" de forma natural.

E conseguiu-o porque trabalhou para isso acontecer.

Para chegar a um "consenso" é preciso trabalho, cedências, paciência. 

O "consenso nacional" não nasce de geração espontânea, como as ervas ou o sol todos os dias. Dá muito trabalho chegar a um consenso, e é por isso que ele é sempre tão raro e valioso.

Mas, há uma coisa que eu sei: é que para chegar a um consenso não se pode ficar na nossa trincheira ideológica, não se pode ser radical nas posições.

Infelizmente, foi isso que o Governo de Passos e Gaspar sempre foi, radical e inflexível. O resultado foi péssimo, para todos.

Paulo Portas, está visto, tem uma habilidade diferente. 

Não está tão preocupado com ideologia radical liberal, nem com princípios vagos e modelos de Excel. Sabe que, para uma política ser aceite pelas populações, é necessária a participação dos parceiros sociais, o seu envolvimento nas decisões.

E, para isso, contrói unidade, em vez de semear discórdia. 

Como eu sempre aqui disse, Portas pagou um preço alto por ter dado um murro na mesa, mas no fim ganhou, e tem hoje mais poder para influenciar a governação do país.

Pelo que já podemos ver, Portugal só ficou a ganhar com isso.

Pelo menos consenso económico e social já voltámos a ter, e isso a Portas se deve.

publicado por Domingos Amaral às 11:19 | link do post | comentar | ver comentários (4)
 

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