Sexta-feira, 31.05.13

Embora lá fazer de conta que a crise não existe?

De há uns tempos para cá, um mês, talvez dois, parece-me que os portugueses se andam a esforçar para pensar que a crise já não existe, ou que o pior já passou.

Com aquela habilidade tipicamente "tuga", tenta-se fazer de conta, pensar positivo, acreditar no futuro, para nos convencermos que isto não é tão mau como pintam a coisa.

É um processo psicológico típico: como pensar muito sempre na mesma coisa nos causa angústia, é melhor não pensarmos mais, que talvez a má sensação se vá embora. 

O que não falta neste país são pessoas que passam por optimistas, quando na verdade são apenas inconscientes. Há quem acredite que basta a dose certa de pensamento positivo para vencermos este obstáculo.

Normalmente, quando ouço esse tipo de pessoas a falar, sei pelo menos uma coisa sobre elas. Estão empregadas, e portanto podem dar-se ao luxo de ser "positivas". 

Agora, com o desemprego a subir da forma que tem subido, como acreditar que estamos no bom caminho? 

É uma das coisas que me causam perplexidade neste Governo. Sendo um Governo de centro-direita, eu pensava que era um Governo que queria diminuir o número de pessoas a depender da ajuda do Estado para viver. É isso que os liberais normalmente defendem.

Porém, com as políticas que este Governo tem promovido, há hoje muito mais portugueses a viverem à custa do Estado do que havia antes dele chegar. São às centenas de milhares a receberem subsídios de desemprego!

E as receitas do Estado, como se esperava já, continuam a descer a pique. É de facto um feito glorioso de Gaspar e Passos.

E tudo isto é feito em nome do "regresso aos mercados" e da "credibilidade financeira do país"! É um país maravilhoso, o que este Governo deseja. Um país pobrezinho mas honrado!

Onde é que eu já ouvi isto? Mas, hoje está um dia de sol e bem bonito, o melhor mesmo é amanhã ir à praia e...pensar positivo!

publicado por Domingos Amaral às 16:17 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 30.05.13

Três bons livros sobre a mega-crise que vivemos

 

 

 

 

 

 

Nestes tempos difíceis, é sempre bom ler livros escritos por pessoas que sabem muito do que falam e que nos ajudam a compreender melhor o que se passa. Aqui deixo três boas sugestões.

 

"Desta vez é diferente. Oito séculos de Loucura Financeira".

Escrito pelos professores de economia Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, e editado pela Actual, é um dos melhores livros sobre as crises financeiras jamais escrito. Passa em revista vários séculos, em centenas de países, e é muito fácil de compreender.

Reinhart e Rogoff estiveram recentemente envolvidos na famosa polémica do "erro do Excel", mas que se refere a outro trabalho deles, e não a este livro.

O que espanta na edição portuguesa é o prefácio ser de Vítor Gaspar, pois as conclusões do livro são as opostas às políticas que Gaspar tem levado à prática como ministro das Finanças.

Rogoff e Reinhart explicam que a auteridade provoca recessões prolongadas, que complicam ainda mais o problema da dívida dos países, além de reforçarem a ideia de que é um mito que as exportações salvem um país de uma crise grave. 

Por fim, defendem que só com uma reestruturação profunda das dívidas, que passou quase sempre por um perdão substancial, é que as crises se resolveram e as economias voltaram a crescer.

Esperemos que Gaspar tenha lido com atenção.

 

"Euro Forte, Euro fraco. Duas culturas, uma moeda: um convívio impossível?"

Escrito por Vítor Bento, e editado pela bnomics, é uma excelente explicação sobre as duas Europas que estão juntas no euro. De uma lado a Alemanha, e os países que gravitam à sua volta; do outro, a Europa do Sul, ou periférica, onde se inclui Portugal.

Vítor Bento enuncia as principais diferenças entre estas duas Europas, o que leva a que ambas dêem valor a questões diferentes, e por isso que façam escolhas políticas e económicas diferentes.

Por exemplo na questão da inflação, isso é evidente, pois os alemães não toleram inflação, enquanto os outros países se habituaram a décadas dela.

Como fazer funcionar um euro onde as culturas económicas são tão diferentes? Qual a Europa que se sobrepõe e porquê? E há possibilidade desta história acabar bem?

O livro é muito bom na análise, mas muito cauteloso e até receoso de propôr soluções. Dá a sensação que Vítor Bento não quis ir demasiado longe nas críticas a ninguém, nem a nacionais nem a internacionais, pois nunca se sabe o que o futuro nos traz...

 

"Porque devemos sair do Euro"

Escrito pelo economista João Ferreira do Amaral, e editado pela Lua de Papel, é a defesa corajosa e inteligente de uma saída controlada de Portugal do euro.

Há muitos anos que Ferreira do Amaral é um céptico desta moeda única, das suas regras e realidades.

E há muitos anos que defende que Portugal nunca devia ter entrado no euro, e que a nossa participação na União Monetária é a principal causa dos graves desequilíbrios que se geraram em Portugal, e que agravaram os que já existiam antes.

Muito lúcido sobre os terríveis efeitos do euro, Ferreira do Amaral não se alonga muito no processo de saída do euro. Diz que ele devia ser "controlado", mas não vai muito longe nos detalhes.

Ora, é precisamente isso que falta, um guião detalhado de uma saída controlada do euro, para que se possa perceber os perigos e os benefícios. Talvez num próximo livro...

publicado por Domingos Amaral às 14:55 | link do post | comentar
Terça-feira, 28.05.13

Os falsos mitos económicos da Europa

A Europa está infestada de mitos económicos, histórias falaciosas e fantasias grosseiras, que nos foram vendidas ao longo de duas décadas, e que a deixaram como está, em agonia e com um sombrio futuro pela frente.

E quais são esses mitos que ensombram a Europa? Aqui deixo uma pequena lista:

 

MITO 1 - As dividas dos países do Sul têm de ser pagas, custe o que custar. 

É o mais grave mito que atinge a Europa no presente, onde se mistura uma moralidade de merceeiros com a cegueira dos fanáticos.

Há uma coisa que os europeus deviam meter de vez na cabeça: os países do Sul não têm qualquer hipótese de pagar as dívidas.

Veja-se por exemplo Portugal: a dívida pública atinge 127% do PIB, e a dívida privada, de que se fala menos porque não dá jeito, atinge 340% do PIB.

Sim, leu bem, no total a dívida de Portugal quase chega aos 470% do PIB nacional! E, parecidos connosco, estão a Grécia, a Irlanda, Chipre, a Espanha, a Itália.

Estas dívidas nunca serão pagas.

Enquanto os europeus não perceberem isso, e não reestruturarem as dívidas, e mutualizarem uma grande parte delas, as economias europeias continuarão afocinhadas no desespero e no desemprego.

 

MITO 2 - As exportações vão salvar o crescimento dos países.

É outro mito fantástico, a que os países em crise se agarram, como os náufragos se agarram às bóias de salvação.

Com o consumo e o investimento privados retraídos, e com os gastos dos Estados impedidos de aumentarem, todos olham para as exportações como a salvação das pátrias!

Vã esperança, e patética fantasia. As exportações ajudam, mas não salvam. Não existem praticamente casos de países que tenham saído de recessões profundas só à custa de exportações. 

Para mais, quando quase todos os países europeus querem exportar, para onde vão eles exportar se ninguém quer importar?

 

MITO 3 -  A austeridade orçamental vai resolver o problema das dívidas.

Mais um mito muito promovido pela Europa, em especial pela Alemanha, que durante anos impôs aos outros este caminho.

Como se tem visto, a Europa inteira está em recessão, com um desemprego a crescer para níveis perigosos em muitos países, e não houve qualquer melhoria verdadeiramente significativa, nem nos déficits públicos, nem no crescimento económico, nem na capacidade de pagar dívidas.

Cinco anos depois de 2008, a Europa está cada vez mais pobre e mais paralisada.

 

MITO 4 - A inflação faz mal às economias.

Este é um mito repetido como se fosse um dogma, uma profissão de fé. Contudo, e ao contrário do que dizem os papagaios de poder, para os europeus era precisamente um pouco de inflação que dava jeito agora.

Principalmente no Norte da Europa, pois assim os salários no Norte subiriam mais do que os salários no Sul, permitindo a países como Portugal, Espanha, Grécia, Itália, Irlanda, recuperarem a "competitividade" relativa que perderam.

Mas, quem falar em inflação é queimado em auto-de-fé pela inquisição económica da Alemanha!

 

 

MITO 5 - A liberdade de movimentos de capitais é essencial para a Europa.

Outro terrível mito, que está na origem da maior parte das desgraças financeiras que assolam a Europa.

Infelizmente, foi devido à sagrada liberdade de movimentos de capitais que as economias do Sul se endividaram sem restrições.

Com os capitais a circularem pelos mercados financeiros à velocidade da luz, é impossível controlar as dívidas dos países. 

O que é necessário agora é alguma repressão financeira, que obrigue os bancos e os Estados a uma moderação, e que volte a impor restrições aos seus delírios financeiros.

Se os mercados financeiros não fossem tão livres, e tão gananciosos, talvez não estivéssemos onde estamos hoje. 

 

MITO 6 - A União Europeia não pode ser uma união de transferências dos países ricos para os países pobres

Eis a mitologia europeia em todo o seu esplendor! O mito diz que os povos do Norte não têm de "pagar", e que os povos do Sul não podem viver "à conta" dos do Norte. Pois...

Basta olhar para os Estados Unidos da América para perceber que uma união monetária não significa que vamos ser todos iguais.

Pelo contrário, haverá sempre Estados ricos e Estados pobres; tal como na Europa existirão sempre países ricos e países pobres.

E nos Estados Unidos são os Estados ricos que financiam os pobres, transferindo para lá dinheiros federais.

Se a Europa quiser sobreviver enquanto união monetária, é isso que terá de acontecer. Os países do Norte terão de transferir fundos para os do Sul, gostem ou não. Caso contrário, a união monetária não funciona.

Quem pensar o contrário continua a viver num mundo de fantasia.

 



 

publicado por Domingos Amaral às 12:15 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 27.05.13

As 4 razões para Jesus continuar no Benfica

Para mim, não há qualquer dúvida de que Jorge Jesus deve continuar no Benfica, e aqui deixo as 4 principais razões:

 

1 - O Benfica é o que mais fatura!

Se há coisa que Jesus trouxe ao Benfica foi faturação. Quando ele chegou, o FC Porto tinha receitas superiores ao Benfica. Com ele, ficámos sempre em primeiro lugar, com mais de 100 milhões de euros de receitas em cada um dos anos! 

Neste momento, o Benfica é o 22º clube do mundo com mais receitas e a Jesus se deve. Aumentaram os espectadores no estádio, o merchandising vendido, e as receitas com transferências atingiram valores que ninguém acreditaria antes de Jesus chegar.

Nas receitas, ninguém nos vence. 

 

2 - O Benfica é o 9º clube no ranking da UEFA

Antes de Jorge Jesus chegar ao Benfica, o clube estava muito lá para trás, em 22º lugar. Em apenas 4 anos, subiu 13º lugares, com boas prestações tanto na Liga dos Campeões como na Liga Europa.

Na próxima temporada, e pela primeira vez na sua história, o Benfica pode ser um dos cabeças-de-série da Liga dos Campeões, se o Arsenal não vencer o play-off que tem de disputar.

É um feito notável, e a maior subida de um clube europeu nos últimos cinco anos. E a Jesus se deve!

 

3 - O Benfica joga um futebol de ataque como poucos jogam na Europa

Muitos dos comentários de observadores internacionais, depois da final da Liga Europa, classificaram o Benfica como uma equipa que jogava um futebol entusiasmante, "que há muito não se via na Europa", como disse Cruiff. 

É esse o DNA do Benfica de Jorge Jesus, e isso deve-nos orgulhar. O futebol é golos e espectáculo, não é retranca e cinismo, e eu prefiro mil vezes as equipas de Jesus a outras, bem mais cautelosas mas que nos deixam ensonados e entediados. 

 

4 - Se Jesus sair do Benfica vai para o FC Porto

Sei, de fonte próxima de Jesus, que ele já foi convidado por Pinto da Costa para ir para o Dragão.

O almoço entre o presidente do FC Porto e Vítor Pereira foi para enganar o pagode, pois Pinto da Costa está à espera de saber se Jesus vai ou não ficar no Benfica.

Se Jesus sair, irá para lá, e essa será uma perda dramática e dolorosa, pois Pinto da Costa deseja uma vez mais humilhar o Benfica, provando que Jesus será um grande vencedor no Dragão.

E essa é uma óptima razão para ele não sair. Um dos graves erros do Benfica foi deixar sair talentosos treinadores (e jogadores) que depois saíram vitoriosos no Dragão, como Mourinho. Com Jesus isso não pode acontecer!

 

Explicadas essas quatro razões, há que acrescentar um ponto essencial, que a direção do Benfica e todos os sócios e adeptos têm de perceber. Só com grandes jogadores o Benfica é melhor que os outros!

A última vez que o Benfica foi campeão, tinha jogadores extraordinários. Cinco deles foram vendidos (Di Maria, Ramires, David Luiz, Fábio Coentrão e Javi Garcia); dois deles decaíram muito de qualidade (Aimar e Saviola); e três deles já estão mais entradotes (Luisão, Maxi Pereira e Cardozo).

Se compararmos a actual equipa com a que foi campeã em 2010, esta não é tão boa. Apesar de ter bons jogadores (Matic, Enzo, Garay, Gaitan, Salvio e Lima), não está ainda ao nível da equipa campeã.

É isso que o Benfica precisa outra vez: grandes jogadores! Sem eles, não seremos campeões. Com Jesus ou sem Jesus.

  

publicado por Domingos Amaral às 12:27 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Sexta-feira, 24.05.13

O amor deixa-nos sempre em alarme

"O amor deixa-nos sempre em alarme.

Alarma-nos quando começa, ou quando não é correspondido; alarma-nos enquanto dura, e mesmo que seja correspondido; alarma-nos quando acaba e nos dói; e continua a alarmar-nos mesmo que tenham passado mil anos desde o dia em que acabou.

Não há homem, nem mulher alguma, que não se alarme enquanto ama, e também não há homem nem mulher alguma que, ao cruzar-se com uma pessoa que um dia amou, não sinta um sacudimento de alarme.

Muito tempo já passou, e sabemos que já não amamos essa pessoa. No entanto, alarmamo-nos como se ainda a amássemos, como se a força dos sentimentos que um dia sentimos ainda nos dominasse.

Pode ser apenas por um breve instante, facilmente ultrapassado, mas não deixa de ser um estado de suprema perturbação, um alarme geral.  

É assim que me sinto agora, mesmo cinquenta anos depois estou alarmado com a ideia de rever uma mulher que tanto amei.

A culpa é tua, meu querido neto Paul. Disseste-me há pouco que descobriste essa espantosa mulher chamada Alice, e com isso perturbaste a minha paz e a minha serenidade, e deixaste-me assim, em estado de alarme.

(...)

Alice está viva? Tens a certeza que é ela?

Explicas-me que sim, falaram ao telefone, é a minha Alice, a Alice que amei loucamente entre 1941 e 1943, a Alice monumento físico que enlouquecia os homens, a Alice espia dupla que trabalhava para os nazis ao mesmo tempo que para o Michael, o meu melhor amigo, chefe no MI6, espião ao serviço de sua majestade em Lisboa.

“Dragonfly” era o seu nome de código, a bela Alice que eu expus e denunciei sem o saber, a inimitável Alice que eu amei enganado, a irrequieta Alice que elogiava Hitler só para me incomodar...

Meu Deus, será possível? Será a mesma Alice de quem me despedi uma noite no Guincho em 1943, pensando que iria partir para sempre de Portugal?

Dizes-me que sim, que é a mesma, e acrescentas que não sabias que eu a tinha voltado a encontrar em 1945.

Foi ela que te disse isso? Falaram disso porquê? Será que ainda me ama, será que tem saudades minhas?"

 

Estas são as palavras iniciais do meu novo livro, "O Retrato da Mãe de Hitler", que já está à venda nas livrarias. É a continuação do meu anterior livro, "Enquanto Salazar Dormia", e espero que os leitores gostem tanto de o ler como eu gostei de o escrever. 

publicado por Domingos Amaral às 15:59 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 23.05.13

Durão Barroso, a fuga ao fisco e o populismo fácil

Não há político europeu que se preze que não se indigne contra a "fuga ao fisco"! E não há jornalista, comentador ou economista que não urre de indignação e fúria contra a "evasão fiscal"!

Deve ser dos temas mais consensuais do mundo actual. Do Papa ao mais perigoso esquerdista, do mais acérrimo neo-liberal ao mais feroz socialista, todos são a favor do "ambiente" e contra a "evasão fiscal".

Ser contra a evasão fiscal, os "off-shores", e as aldrabices gerais dos que fogem ao fisco é um grito populista, que põe imediatamente as pessoas do nosso lado. 

Toda a gente está de acordo que, se os Estados pudessem "deitar a mão" a tanto "dinheiro sujo", os problemas do mundo ficavam magicamente resolvidos.

Quem dera! A verdade é que a questão é bem mais complexa do que o facilitismo populista de muitos deixa a entender.

Veja-se por exemplo o caso da Apple, a magnífica empresa multinacional "high-tech" cujo símbolo é uma maçã.

A Apple está presentemente a ser investigada pelas autoridades dos Estados Unidos por suspeitas de uma mega fuga ao fisco. E porquê?

Bem, o que se passa é que a Apple tem muitas sucursais na Irlanda, para onde transferiu os seus lucros mundiais, e obviamente por isso paga impostos muito mais baixos do que devia.

Na Irlanda? Mas, pergunto eu, o que é que isso tem de ilegal? Pois é, é aqui que a porca torce o rabo, por assim dizer.

Como todos sabemos há muitos anos, a Irlanda tem um IRC muito baixo, um dos mais baixos da Europa. E o que fizeram muitas empresas internacionais? Pois transferiram-se para a Irlanda, para pagarem muito menos impostos.

É ilegal? Não. É ilícito? Não parece. No entanto, é "fuga ao fisco", é evasão fiscal, pelo menos é o que pensam as autoridades americanas. E, ou me engano muito, ou a Apple vai ter mesmo de pagar uma pipa de massa ao fisco americano.

Eis pois como uma questão aparentemente boa - uma taxa mais baixa de IRC - se transformou com o tempo numa vergonhosa e descarada fuga ao fisco. 

Seria disto que Durão Barroso falava, quando referia que a economia digital era das que mais fugia ao fisco? Ou falaria ele da Google, também uma grande empresa americana, também muito "high tech", e cujo CEO se orgulhou publicamente da forma como "fugia ao fisco"?

E, quando falamos de paraísos fiscais na Europa, estamos a falar de quê? De Chipre, da Irlanda, do Luxemburgo? É que são três países que usaram o fisco como "arma económica competitiva" mas que, como se vê, se transformaram com o tempo em maravilhosos..."paraísos fiscais na bancarrota"!

É por essas e por outras que eu, quando ouço falar na "necessidade de Portugal descer drasticamente o IRC" franzo sempre o sobrolho. É assim que começam os sarilhos. Hoje baixamos muito o IRC, amanhã chamam-nos "paraíso fiscal", e depois de amanhã vão-nos aos depósitos nos bancos!

Chipre e a Irlanda eram paraísos, mas agora são infernos. Seremos nós os próximos a ir nessa conversa?

publicado por Domingos Amaral às 14:33 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quarta-feira, 22.05.13

Passos Coelho e as palavras do seu pai

António Passos Coelho, pai do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, declarou hoje ao jornal i que o seu filho "está morto por se ver livre disto", e que lá em casa vão "fazer uma festa" quando ele sair do Governo.

É um desabafo perfeitamente compreensível vindo da boca de um pai, preocupado e até desanimado, com o andamento da crise nacional, e a contar os dias até ao fim deste "calvário".

Porém, esta sensação de estar "farto disto" é uma coisa muito portuguesa. Quando a situação é mesmo dura e difícil, os portugueses "fartam-se" rapidamente, e normalmente fazem uma berraria, gritando aos quatro ventos que estão "fartos disto!"

Além de tipicamente tuga, esta situação de "fartura" é muito habitual na política portuguesa. Por cá, os políticos "fartam-se do país" muito depressa.

Coitados, eles têm tão boas intenções, mas o país resiste tanto às mudanças que eles se "fartam!"

Normalmente, isso acontece uns tempos antes de o país se fartar deles, mas como essa relação não é matemática, é difícil de prever quanto tempo aguentará um político "farto do país" antes do país se "fartar dele". 

Ao longo dos últimos vinte anos, vários foram os primeiro-ministros de Portugal que deram sinais idênticos. Cavaco várias vezes revelou falta de paciência para o país. Coitado, estava farto e tal como Passos, "mortinho para se ir embora". Mas demorou...

Guterres, também ele, ao final de uns anos, achou que isto era "um pântano", e à primeira oportunidade demitiu-se, esgotado com a estafante tarefa de governar um povo que não se deixa governar. "Fartíssimo" de tudo e todos, emigrou.

E que dizer de Durão Barroso? Logo à primeira oportunidade, pirou-se para Bruxelas, completamente "farto" da crise que se abatia sobre Portugal. "Morto para se ver livre disto", desapareceu em segundos do radar nacional!

Veio depois Santana, o mal amado, que também deu sinais de esgotamento precoce. Aliás, ainda na tomada de posse, já Santana parecia esgotado, "morto para se ver livre" daquilo. Como se sabe, não durou mais de seis meses. 

Portanto, não me surpreende que Passos Coelho esteja "morto por se ver livre disto"! É algo que acontece a quase todos os políticos portugueses.

E é o que nos vale. O que seria de nós se eles não se "fartassem"?

O último que nunca esteve "morto por se ver livre disto" (Sócrates) esteve claramente tempo a mais, e do penúltimo que nunca esteve "morto por se ver livre disto" (Salazar), é melhor nem falar... 

publicado por Domingos Amaral às 14:14 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 21.05.13

Carlos Abreu Amorim e uma piadinha racista

Carlos Abreu Amorim é vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD. Ou seja, é deputado, membro de um órgão de soberania, e supostamente representa o povo que o elegeu.

Mas Carlos Abreu Amorim é também adepto do FC Porto, e naturalmente excitado com a vitória do seu clube, escreveu um tweet entusiasmado, no domingo à noite, onde chamava "magrebinos" aos adeptos do Benfica.

Não me incomoda nada ser insultado enquanto adepto do Benfica, é coisa a que todos no futebol se habituaram já há muitos anos. O que me incomoda é que um deputado não perceba o racismo e o fomente.

O grave em Carlos Abreu Amorim não foi ele ter insultado os adeptos de um clube de futebol. O grave foi ele ter usado a palavra "magrebinos", como se os "magrebinos", pessoas nascidas no Magreb, fossem seres inferiores ou uma raça menor.

O racismo também é isto. Para melhor insultarmos alguém, tentamos despromovê-lo a pertencente de uma raça menor e inferior.

Para Carlos Abreu Amorim, na sua cabecinha, os "magrebinos" são uma escória, são seres desprezíveis. Eis a teoria racial no seu esplendor.

Ora, suspostamente, e sobretudo entre pessoas civilizadas, não há raças superiores nem inferiores. Mas, para Carlos Abreu Amorim, há pelo menos uma raça inferior, os "magrebinos". 

É portanto fácil de deduzir que Carlos Abreu Amorim se considera "superior", um membro de uma raça nobre e digna, muito mais valiosa e digna do que a "magrebina". 

Mas, qual será a raça de Carlos Abreu Amorim? Será ele caucasiano, indo-europeu, branco? Pela imagem é difícil de dizer a que raça pertence Carlos Abreu Amorim, mas talvez seja à famosa raça ariana, ou qualquer coisa no género.

E temos nós um deputado do PSD que, nos confins do seu cerebelo, tens convicções destas. Por mais pedidos de desculpa que peça, Carlos Abreu Amorim não apaga os estragos.

A partir de agora, vou sempre recordar que, debaixo daquela retórica toda, há um racistazinho supremacista à espreita...

publicado por Domingos Amaral às 12:59 | link do post | comentar | ver comentários (13)
Segunda-feira, 20.05.13

Porque é que o FC Porto é campeão e o Benfica não?

Mais uma vez, para grande tristeza dos benfiquistas e alegria dos portistas, o FC Porto foi campeão nacional de futebol. Parabéns pois aos azuis, mas parabéns também ao Benfica, que fez uma excelente temporada.

Aqui há uns meses, publiquei um livro onde defendi que quem paga mais em salários (fixos e prémios) aos jogadores e treinadores, é normalmente campeão. Ou seja, quem paga mais, ganha mais. E, mais uma vez, tive razão.

Embora ainda não se saibam os números definitivos da época, a verdade é que, nos relatórios semestrais de ambos os clubes, lá estava a diferença. Em seis meses, o FC Porto gastou 25,76 milhões de euros em salários e o Benfica gastou 23,55 milhões. Portanto...

A minha previsão é que, no final do ano, os valores serão cerca de 50 milhões para o FC Porto e cerca de 47 milhões para o Benfica, uma pequena mas relevante diferença em despesa salarial.

Para quem não acredita nesta relação muito forte entre a competitividade de uma equipa e a sua despesa salarial, é importante dizer que, nas últimas 12 temporadas a regra verifica-se em 10 casos!

Em 10 dos 12 anos, quem pagou mais foi campeão! E isso também se passou na primeira época de Jorge Jesus no Benfica, em que o Benfica foi campeão porque pagou mais aos seus jogadores e treinadores, tendo gasto 38,2 milhões de euros contra os 35,5 milhões do FC Porto.

É também esta a situação em quase todos os campeonatos da Europa, onde quem paga mais normalmente é campeão. O Benfica tem de perceber isto o mais depressa possível, e contratar ainda melhores jogadores, e pagar-lhes mais, para voltar a ser campeão. 

Porém, é evidente que esta regra não explica tudo. É uma regra necessária, mas não suficiente. Em futebol, quando duas equipas estão no mesmo patamar de qualidade, é nos detalhes que se vence e assim foi mais uma vez.

Alguns "pormaiores" deram o título ao FC Porto. A saber: um empate do Benfica com o Estoril, totalmente inesperado. Um golo aos 92 minutos no Dragão, também ele inesperado. 

Enfim, são detalhes que retiraram ao Benfica 2 pontinhos essenciais. Mas, a verdade é que, num campeonato tão equilibrado, os jogos entre FC Porto e Benfica foram fundamentais, e o FC Porto conseguiu vencer o Benfica no Dragão, mas o Benfica não conseguiu vencer o FC Porto na Luz.

A última vez que fomos campeões, essa vitória aconteceu e talvez só sejamos outra vez campeões quando repetirmos o feito.

De qualquer forma, qualquer pessoa que goste mesmo de futebol deve elogiar e aplaudir ambas as equipas, pelo excelente e emocionante campeonato que disputaram até ao último minuto. Assim sim, assim todos gostamos mais de futebol.

publicado por Domingos Amaral às 11:16 | link do post | comentar | ver comentários (16)
Sexta-feira, 17.05.13

Novo livro já nas livrarias: "O Retrato da Mãe de Hitler"

Já chegou às livrarias o meu novo livro, com o título "O Retrato da Mãe de Hitler". É mais um romance, e uma continuação de "Enquanto Salazar Dormia", o meu livro que os leitores mais gostaram.

A história passa-se em Lisboa, durante o ano de 1945, logo após o final da 2ª Guerra Mundial na Europa, e é a narrativa da fuga dos nazis através de Portugal e da nossa capital, trazendo com eles muitos tesouros roubados.

Os principais personagens são os mesmos de "Enquanto Salazar Dormia": o narrador, Jack Gil, um luso-inglês que foi espião durante a guerra; e as mulheres por quem ele se apaixonou, Luisinha e Alice. 

No mesmo dia em que Hitler morreu, 30 de Abril de 1945, um coronel das SS chamado Manfred apodera-se de uns tesouros nazis valiosos, roubando um cofre em Munique, dentro do qual estão alguns bens pessoais do próprio Fuhrer, entre os quais uma pistola dourada e o retrato da mãe de Hitler.

Perseguido pelos judeus, Manfred acaba por chegar a Portugal, onde irá tentar vender o seu tesouro aos colecionadores de relíquias nazis.

Jack Gil Mascarenhas Deane já não trabalha para os serviços secretos ingleses e a chegada do seu pai a Lisboa vai alterar a sua vida. O pai é um colecionador de tesouros nazis, e vai obrigar Jack Gil a ajudá-lo na sua demanda pelos valiosos artefactos, que muitos nazis, como Manfred, tentam vender em Lisboa, antes de fugirem para a América do Sul.

Dividido entre o desejo de ajudar o pai e o desejo de partir de Lisboa, Jack Gil está também dividido nos seus amores, pois embora esteja apaixonado por Luisinha, uma portuguesa que adora cinema e acredita na democracia; está perturbado pelo regresso de Alice, o seu amor antigo, uma mulher duvidosa, misteriosa mas entusiasmante, que fora a sua paixão de uns anos antes, e que desaparecera certa noite da sua vida. 

Espero que os leitores gostem tanto deste livro como gostaram de "Enquanto Salazar Dormia". 

publicado por Domingos Amaral às 11:43 | link do post | comentar | ver comentários (2)
 

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