Quinta-feira, 30.05.13

Três bons livros sobre a mega-crise que vivemos

 

 

 

 

 

 

Nestes tempos difíceis, é sempre bom ler livros escritos por pessoas que sabem muito do que falam e que nos ajudam a compreender melhor o que se passa. Aqui deixo três boas sugestões.

 

"Desta vez é diferente. Oito séculos de Loucura Financeira".

Escrito pelos professores de economia Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, e editado pela Actual, é um dos melhores livros sobre as crises financeiras jamais escrito. Passa em revista vários séculos, em centenas de países, e é muito fácil de compreender.

Reinhart e Rogoff estiveram recentemente envolvidos na famosa polémica do "erro do Excel", mas que se refere a outro trabalho deles, e não a este livro.

O que espanta na edição portuguesa é o prefácio ser de Vítor Gaspar, pois as conclusões do livro são as opostas às políticas que Gaspar tem levado à prática como ministro das Finanças.

Rogoff e Reinhart explicam que a auteridade provoca recessões prolongadas, que complicam ainda mais o problema da dívida dos países, além de reforçarem a ideia de que é um mito que as exportações salvem um país de uma crise grave. 

Por fim, defendem que só com uma reestruturação profunda das dívidas, que passou quase sempre por um perdão substancial, é que as crises se resolveram e as economias voltaram a crescer.

Esperemos que Gaspar tenha lido com atenção.

 

"Euro Forte, Euro fraco. Duas culturas, uma moeda: um convívio impossível?"

Escrito por Vítor Bento, e editado pela bnomics, é uma excelente explicação sobre as duas Europas que estão juntas no euro. De uma lado a Alemanha, e os países que gravitam à sua volta; do outro, a Europa do Sul, ou periférica, onde se inclui Portugal.

Vítor Bento enuncia as principais diferenças entre estas duas Europas, o que leva a que ambas dêem valor a questões diferentes, e por isso que façam escolhas políticas e económicas diferentes.

Por exemplo na questão da inflação, isso é evidente, pois os alemães não toleram inflação, enquanto os outros países se habituaram a décadas dela.

Como fazer funcionar um euro onde as culturas económicas são tão diferentes? Qual a Europa que se sobrepõe e porquê? E há possibilidade desta história acabar bem?

O livro é muito bom na análise, mas muito cauteloso e até receoso de propôr soluções. Dá a sensação que Vítor Bento não quis ir demasiado longe nas críticas a ninguém, nem a nacionais nem a internacionais, pois nunca se sabe o que o futuro nos traz...

 

"Porque devemos sair do Euro"

Escrito pelo economista João Ferreira do Amaral, e editado pela Lua de Papel, é a defesa corajosa e inteligente de uma saída controlada de Portugal do euro.

Há muitos anos que Ferreira do Amaral é um céptico desta moeda única, das suas regras e realidades.

E há muitos anos que defende que Portugal nunca devia ter entrado no euro, e que a nossa participação na União Monetária é a principal causa dos graves desequilíbrios que se geraram em Portugal, e que agravaram os que já existiam antes.

Muito lúcido sobre os terríveis efeitos do euro, Ferreira do Amaral não se alonga muito no processo de saída do euro. Diz que ele devia ser "controlado", mas não vai muito longe nos detalhes.

Ora, é precisamente isso que falta, um guião detalhado de uma saída controlada do euro, para que se possa perceber os perigos e os benefícios. Talvez num próximo livro...

publicado por Domingos Amaral às 14:55 | link do post | comentar
Segunda-feira, 19.11.12

A nossa dívida vai mesmo ser paga?

Será que os países que têm grandes dívidas externas as conseguem pagar? Para responder a esta questão, nada melhor do que ler o livro "This Time is Different, Eight Centuries of Financial Folly". Escrito pelos economistas Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, é um magnífico trabalho sobre crises de dívida, crises de inflação, crises cambiais e crises bancárias, em mais de 200 países, durante os últimos 800 anos, e só é pena não estar ainda publicado em português.

A sua leitura, que terminei este fim de semana, é também um verdadeiro duche de água gelada para quem tenha ilusões sobre as crises financeiras, em qualquer país do mundo, seja ele europeu, americano do norte ou do sul, asiático ou africano. Se há coisa em comum entre os países, sejam pobres ou ricos, é que em oito séculos, todos foram atingidos por muitas crises financeiras, e quase todas elas acabaram da mesma maneira.

Quais são os principais ensinamentos desta investigação? Reinhart e Rogoff demonstram que as graves crises financeiras provocam profundas quedas no PIB (em média mais de 9 por cento, ao longo de vários anos); aumentos acentuados do desemprego (em média, mais de 7 por cento); quedas no preços do imobiliário (cerca de 35 por cento, em média); e fortes quedas nas bolsas (de 56 por cento no preço das ações, em média).

Mais grave ainda, o valor das dívidas dos governos tende a explodir durante estas crises, aumentando cerca de 86 por cento face à dívida anterior à crise, devido aos custos de resgates aos bancos e à recapitalização do sistema bancário, mas também devido ao inevitável colapso das receitas fiscais dos Estados, que fazem os deficits orçamentais aumentarem consideravelmente, entre 3 a 15 pontos percentuais. 

Evidentemente, o risco soberano dos países cresce muito, bem como a aversão do capital estrangeiro a esses países durante as crises, cujo tempo de duração pode chegar por vezes aos 10 anos, como foi o caso na Grande Depressão, que começou em 1929 e só terminou com a 2ª Guerra Mundial.

E, para que não alimentemos ilusões, Reinhart e Rogoff mostram que são raríssimos os casos dos países que conseguiram pagar a sua dívida externa através de políticas de austeridade, ou de crescimento pela via das exportações, pois normalmente estas crises financeiras são globais e nenhum país consegue exportar muito quando todos os outros estão também em crise, como acontece no presente.

Qual é então a solução? Reinhart e Rogoff defendem que a solução mais eficaz é a reestruturação da dívida, ou renegociação, com um default parcial, pois é a única maneira de libertar as economias de um fardo tão pesado. Nos casos em que isso se verificou, o tempo de recuperação das crises foi muito menor. Ao fim de 2 ou 3 anos, os países saíram da crise, em vez de permanecerem 8 ou 10 anos num marasmo agonizante.

No caso europeu, a necessidade de reestruturação é já evidente em Portugal, mas também na Irlanda, em Espanha e em Itália, para não falar na Grécia. Foi isso aliás que Reinhart disse por video-conferência na passada sexta-feira, a uma plateia de importantes banqueiros portugueses, entre os quais o Governador do Banco de Portugal. "Não tenho boas notícias para vós", foi a sua frase inicial. 

Infelizmente, Merkel, Passos Coelho e Gaspar continuam obstinadamente a acreditar em milagres, e a crise europeia prolonga-se sem fim à vista. Convinha que alguém lhes dissesse que, em 800 anos de história, não se conhecem milagres económicos destes, e que se paga um preço altíssismo e inútil por teimosias deste calibre.   

publicado por Domingos Amaral às 11:45 | link do post | comentar
 

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