Vem aí a recessão em W?
Muitos economistas falam dela, mas poucos a viram!
Chama-se recessão em W, e é um fenómeno económico raro, mas possível de acontecer em Portugal por estes tempos.
Observem um W.
No início, há uma queda abrupta descendo pelo primeiro V abaixo.
Foi o que se passou em 2012, com uma contração económica violenta em Portugal, aumento do desemprego e tudo a falhar.
Depois, toca-se no fundo e volta-se a subir, acompanhando o V.
Foi o que se passou em Portugal durante o ano de 2013, com melhorias claras da situação económica, queda no desemprego e crescimento do PIB.
No entanto, em vez de se continuar a melhorar, há de repente uma inversão económica, e volta-se a descer, caindo no segundo V.
É a chamada recessão em W, que no fundo é uma dupla recessão.
Será que isso nos vai acontecer em 2014?
A julgar pelos números do primeiro trimestre isso pode já estar a acontecer, pois o crescimento voltou a ser negativo.
A economia voltou a parar um pouco, e os bons resultados parecem estar a diminuir.
As exportações também desceram, e aqui há um dado curioso: sempre que alguém falava que o crescimento da exportações se devia à Galp e à Autoeuropa, o Governo enfurecia-se, e dizia que era toda a economia que estava a exportar mais!
Agora que houve uma queda nas exportações como a explica o Governo?
Foram a refinaria da Galp e a Autoeuropa que caíram de produção...
O argumento é válido para o mal, mas não para o bem.
Estranho conceito...
Mas voltemos à recessão. Será que vamos cair a pique em 2014?
As previsões não apontavam para aí, mas sabemos que muitas vezes as previsões são mais desejos que realidades.
O Governo, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, o Banco de Portugal, a OCDE, todos eles desejam ardentemente que Portugal cresça e recupere, e por isso fazem previsões entusiasmantes.
Porém, como todos sabemos, todas as previsões destas magnas instituições já falharam redondamente no passado, sobretudo em 2012 e 2013.
Falharam para cima, e falharam para baixo, e portanto não é certo que não voltem a falhar.
Para mais, a situação na Europa não está nada melhor, ao contrário do que apregoa Barroso por aí.
A crise europeia não acabou, a Europa não cresce, os preços estão a cair e há deflação, a banca continua cheia de problemas e sem poder dar crédito.
Em finais de Maio, haverá eleições europeias, e sabe-se lá o que vai sair dali.
E a Leste, entre a Ucrânia e a Rússia, há instabilidade também.
Deveria ser absolutamente evidente para todos a necessidade de uma política europeia mais activa, fosse do BCE, fosse da Comissão.
O BCE tem de intervir em força, com estímulos monetários; e os Governos têm de abandonar esta nefasta via da austeridade, e depressa.
Se isso não for feito, a Europa continuará a patinar, anémica e sem força para se levantar, e os seus cidadãos continuarão desiludidos.
Por cá, as pessoas que não pensem que só porque saímos do programa de ajustamento terminou o calvário.
Não terminou, e pode até ter aumentado muito o risco de tudo piorar.
Lembrem-se uma coisa: a velocidade a que tudo muda é muito grande.
Há um ano, ninguém pensava em "saída limpa".
Daqui a um ano, quem sabe se não estaremos a lamentar a "entrada suja"...