A economia está melhor, mas ninguém vai sentir muito...
Ontem, a "troika" aprovou as suas avaliações a Portugal, e o Governo confirmou que as medidas austeras são para manter em 2014.
No entanto, Passos, Portas e a "troika", todos nos dizem que a economia "está melhor", e que 2014 será "melhor" que 2013.
É provável que assim seja, mas no seu quotidiano a maior parte dos portugueses não irá sentir muito essas melhorias.
O desemprego pode descer umas décimas, mas os impostos continuarão altos, as pensões sofrerão cortes, bem como os salários dos funcionários públicos.
O crédito também não aliviará muito, nem para as empresas, nem para os particulares.
Tal como durante tantos anos no passado, parece haver uma disfunção clara entre uma entidade abstrata chamada Portugal, e a vida real dos portugueses.
Durante quase uma década, entre 2002 e o presente, os números económicos e financeiros de "Portugal" nunca foram brilhantes.
O crescimento foi fraco, com poucas excepções; o déficit esteve sempre alto, fora dos limites de Maastricht; o déficit comercial foi-se agravando sempre, porque havia muito mais importações do que exportações; os impostos foram sempre subindo; etc, etc.
No entanto, como havia crédito fácil e todos se endividavam (Estado, empresas e pessoas), havia sempre muito dinheiro disponível, e este "efeito riqueza" dava a ilusão a todos que se vivia cada vez melhor.
E, de facto, era verdade. Os portugueses viveram bem, mesmo que os números de Portugal fossem medíocres.
Agora, no presente, e depois de uma violentíssima crise financeira e económica, o que ouvimos é o oposto.
Os números de Portugal começam a melhorar. Há mais crescimento, menos déficit, ligeiramente menos desemprego.
Porém, os portugueses sentem-se muito pior, e todos se habituaram a viver com muito menos dinheiro do que antes.
É estranho, mas os portugueses não parecem ser os habitantes dessa entidade mítica chamada Portugal.
Há entre eles e Portugal um desfasamento permanente, como se não conseguissem acertar com o passo um do outro numa dança.
Quando Portugal parecia anémico, os portugueses dançavam vertiginosamente.
Quando Portugal parece arrebitar, os portugueses estão macambúzios e deprimidos...
Será que algum dia o passo desta valsa acerta?