Segunda-feira, 12.05.14

Passos e Portas: vitória nas finanças, derrotas nas urnas?

A acreditar nas várias sondagens que vão sendo publicadas, tanto sobre as europeias deste Maio, como as relativas às legislativas, o PSD e o CDS, mesmo coligados, dificilmente vencerão as eleições.

E o PS, mesmo com Seguro, dificilmente não as vencerá.

Isto é o que toda a gente espera, seja para finais de Maio, seja para 2015.

Mas, será que é mesmo isso que se vai passar?

 

Vejamos primeiro as eleições europeias.

Falta já muito pouco tempo para elas, e em duas semanas, mesmo com uma boa campanha de Passos e Portas, é difícil inverter a cabeça da maioria das pessoas.

E a verdade, pelo menos até agora, parece ser esta: mesmo sabendo que terminou com sucesso o "ajustamento", as pessoas não estão satisfeitas com o trabalho do Governo.

Até agora, o PSD e o CDS não conseguiram transformar um sucesso financeiro - o fim do programa da troika - num sucesso político que leve os portugueses a votarem em massa na aliança dos dois partidos.

Aparentemente, o link entre o povo eleitoral e o Governo está danificado e não dá sinais de "restart".

O desgaste muito forte a que a população foi sujeita - com cortes, impostos, taxas, e tudo o mais - levou a muitas dúvidas sobre a capacidade do Governo, o seu sentido de justiça, a sua habilidade, e até a sua moral.

Além disso, este Governo parece ter um prazer especial em confundiar as pessoas, e a última semana foi a melhor prova disso, com as trapalhadas comunicacionais sucessivas sobre a descida ou o aumento de impostos.

 

Em resumo: é quase certo que o Governo vai perder as europeias, e que o PS as vai ganhar.

A grande questão é saber por quanto, se a vitória do PS será curta ou se será esmagadora.

Para quem deseja ardentemente a substituição de Seguro por António Costa (como grande parte do PS, e até muita gente ao centro e à direita); seria melhor que a vitória de Seguro fosse frágil.

Conheço gente na área do PS que não vai votar só para correr com Seguro.

Porém, não sei se serão suficientes, e o mais provável é ele continuar até 2015.

 

Será aí que o grande teste se fará.

Em um ano e meio, o Governo ainda tem algum tempo e algumas armas poderosas para tentar recuperar votos.

Se as coisas melhorarem muito, com o desemprego a cair, e a economia a acelerarar, talvez Passos e Portas ainda tenham uma hipótese de, pelo menos, ficarem à frente de Seguro.

Quem joga na derrota certa do Governo em 2015 deve pensar duas vezes.

A velocidade a que as circunstâncias mudam é muito alta neste dias.

Há um ano atrás, o Governo estava nas ruas da amargura, e toda a gente pensava que íamos a caminho de um segundo resgate, incluindo o próprio Passos Coelho.

Portanto, mais vale o PS e Seguro não enbandeirarem em arco já... 

publicado por Domingos Amaral às 10:26 | link do post | comentar
Sexta-feira, 15.11.13

A vitória da Irlanda é uma vitória da Europa da austeridade?

A Irlanda anunciou ontem que não irá necessitar de um programa cautelar, e que vai regressar aos mercados sozinha, sem a assistência da Europa.

É evidente que, à superfície, esta é uma vitória da Europa da austeridade, das troikas e dos ajustamentos.

É evidente também que esta é uma vitória da própria Irlanda, cujo governo conseguiu trabalhar bem e recuperar a credibilidade perdida com as graves crises bancárias irlandesas, a partir de 2008.

Mas, antes da Europa entrar em euforia e triunfalismo, declarando que o seu modelo de resolução destas crises foi o correto, é preciso perceber que o problema irlandês era, e é, muito diferente dos outros.

Na Irlanda, não havia um Estado com desequilíbrios orçamentais, nem a dívida pública era demasiado elevada, em 2009.

O que se passou na Irlanda foi a mais grave crise bancária dos últimos 50 anos num país europeu.

Os bancos irlandeses enlouqueceram, entre 2001 e 2009, e cresceram em demasia, ganhando uma dimensão brutal, superior à economia do próprio país.

Quando a crise de 2008 explodiu, a banca irlandesa explodiu também, caindo com estrondo.

Para evitar uma corrida aos bancos, que era eminente, o Estado irlandês foi obrigado a engolir os bancos privados do país, nacionalizando-os, ou assumindo as suas colossais dívidas.

De um ano para o outro, a dívida do Estado multiplicou-se, não porque o Estado gastasse demais, mas porque teve de absorver a dívida dos bancos.

A credibilidade do Estado irlandês nunca esteve em causa, e a austeridade só foi necessária para tranquilizar os investidores.

Se o BCE tivesse anunciado mais cedo o seu programa de compras de dívida pública, que só existiu a partir de Setembro de 2012, a Irlanda provavelmente nem sequer tinha de ser "resgatada".

No entanto, desenganem-se os que pensam que o regresso aos mercados resolve os graves problemas da Irlanda, porque não resolve.

A dívida privada, na Irlanda, é colossal, seja ela de pessoas, de empresas, pequenas ou grandes, ou de bancos.

Como têm o orçamento do Estado equilibrado, se não contarmos com as dívidas dos bancos, a Irlanda tem mais margem para emitir dívida, mas a sua economia continua atolada em sarilhos.

Ninguém sabe ainda como resolver o problema das colossais dívidas da Irlanda, mas pelos vistos eles vão resolver como sempre se resolveu, com mais dívida.

Voltar aos mercados, no caso da Irlanda, é isso: pagar dívidas com mais dívidas, rolar a dívida para a frente e esperar que o futuro resolva o que o presente não consegue resolver.

Veremos quanto tempo dura este equilíbrio instável de mais um país europeu.

Não nos iludamos, o monstro da dívida continua lá, bem vivo, e pode explodir a qualquer momento. 

publicado por Domingos Amaral às 12:43 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quinta-feira, 19.09.13

Viva o banco central Americano, o FED!

Ontem, para surpresa de muitos, o banco central americano, o FED, decidiu manter o seu programa de compras de obrigações, injectando mais dinheiro na economia.

Há uns tempos, aquando da sua última reunião, o FED tinha dito que ia reduzir o seu programa de compras, até o terminar totalmente em 2014.

Contudo, os resultados foram muito maus. 

Não só as bolsas começaram a cair a pique, com receio de menos liquidez; como as taxas de juro dos mercados de obrigações começaram também todas a subir.

Até a alemã subiu, e mesmo tendo o BCE (Banco Central Europeu) decidido que ia manter as taxas de juro, por toda a Europa subiram as taxas das obrigações da dívida pública de todos os países.

Além disso, houve crises graves nos mercados emergentes, como a India, e até o Brasil e a China sofreram com a decisão do FED.

Ao contrário do que muitos esperavam, a economia mundial e também a europeia, ainda não conseguem avançar sozinhas, e precisam de estar apoiadas pela política expansionista do FED.

Por isso, e muito bem, o FED voltou atrás na decisão e continua a estimular a economia.

No entanto, na Europa a conversa da "austeridade" mantém-se.

Merkel promete mais do mesmo, Durão Barroso também, e todos concordam que a única saída para a crise são os cortes na despesa do Estado, e uma muito limitada ajuda do BCE, que não compra obrigações como o FED.

A visão europeia para a saída da crise continua desesperadamente agarrada à crença que a redenção dos pecados se obtém com o sacrifício dos devedores.

Se cortamos a despesa, se fizermos "reformas estruturais", a crise vai passar e vamos sair mais fortes, é esse o mantra europeu.

É óbvio que não vamos. Não se vence a "armadilha da dívida" com mais cortes, mais austeridade, nem tão pouco com as exportações.

Ainda bem que, do lado de lá do Atlântico, há quem perceba mesmo de economia, como o FED e Obama.

Em vez de austeridade, ajuda do Estado e do banco central, para recuperar o crescimento e proteger o emprego.

Em vez de abruptos cortes na despesa, apenas uma subida de impostos para os mais ricos, e cortes mais leves, para não criar tanta recessão.

Só os europeus parecem ainda não ter percebido que Estado e economia privada são gémeos siameses.

Cortar num é cortar no outro, diminuir o Estado é diminuir a economia privada.

Assim, só mantendo a ajuda do Estado é que a economia privada pode recuperar.

A América tem feito o oposto da Europa, e a verdade é que está bem melhor! 

publicado por Domingos Amaral às 14:48 | link do post | comentar | ver comentários (2)
 

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