Quarta-feira, 24.09.14

Quem quer para primeiro-ministro: Costa, Seguro ou Passos?

O último debate entre Seguro e Costa, que aconteceu ontem na RTP, foi o mais divertido.

Parecia um combate de boxe, onde Costa mostrou finalmente que sabia meter a mão na anca e dar "uppercuts".

Já Seguro foi fiel a si mesmo, e mostrou mais uma vez que só sabe viver no registo "tu traíste-me".

Se no primeiro debate fora ele o vencedor, para perder claramente no segundo, neste terceiro conseguiu um empate.

 

Contudo, Seguro dá a ideia de estar sempre tenso, sempre nervoso, sempre excitado em demasia.

Mesmo quando é demasiado pachorrento, Costa consegue transmitir uma serenidade que escapa totalmente a Seguro.

E, é evidente para todos, a questão relevante foi a colocada por Costa.

Quem querem os portugueses para primeiro-ministro: Passos, Seguro ou Costa?

 

No domingo, será a primeira volta desta resposta, e os militantes e simpatizantes do PS terão de dizer o que pensam.

Pela minha parte, parece-me evidente que Costa tem mais experiência, capacidade de liderança e habilidade política.

Seguro nunca foi ministro, nunca foi presidente da Câmara, e dá pouca confiança às pessoas para liderar um governo.

Ainda por cima, deu demasiada relevância às traições de Costa, como se a política não fosse, há mais de mil anos, sempre assim.

 

Parece-me pois que Costa acertou nos gráficos da sondagem que mostrou ontem à noite.

Entre ele e Passos, as pessoas preferem-no a ele; e entre Seguro e Passos, as pessoas preferem Passos.

É esse o drama de Seguro, que ele nunca conseguiu ultrapassar.

Mesmo com um Governo que massacrou os portugueses, e mesmo com um primeiro-ministro fraco, Seguro não inspira muita gente.

É o elo mais fraco dos três, e por isso deverá perder no Domingo.

publicado por Domingos Amaral às 09:53 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 19.12.13

As razões porque este Governo melhorou muito desde Julho

Nada como uma crise grave para obrigar um Governo a governar melhor.

O susto que Passos Coelho apanhou, quando viu Portas a fugir, e Cavaco a desejar um acordo com o PS, produziu bons resultados.

E, de então para cá, mesmo sem o dizer, o Governo tem corrigido alguns dos seus mais óbvios erros políticos e económicos.

Aqui se apresenta uma pequena lista das melhorias evidentes:

 

1 - O Governo passou a dar mais importância ao consenso político e social.

Nos primeiros dois anos, a teimosia de Gaspar e Passos conduziu a uma crispação evidente, seja com o PS, seja com os parceiros sociais.

No entanto, de Julho para cá, e mesmo apesar dos primeiros encontros com o PS terem sido inconclusivos, a verdade é que o Governo se tem esforçado por ir ao encontro da oposição e dos desejos dos parceiros sociais.

O acordo sobre o IRC é a melhor prova disso.

António José Seguro pode não ser o melhor político do mundo, mas é preferível o Governo entender-se com ele em certas áreas do que passar o tempo todo a criticar o PS.

 

2 - O Governo mudou a política orçamental e o país agradeceu.

Mesmo contrariado, o Governo foi obrigado a abandonar a política de cortes cegos na despesa, que em 2012 tão maus resultados produziram.

Para 2013, aumentou-se muito o IRS e o resultado foi..."um milagre económico"!

A recessão amainou, o desemprego começou a descer, e as receitas fiscais cresceram muito.

Ao contrário do que se passara em 2012, em 2013 a política do Governo não afundou o país, e isso fez diminuir a tensão em Portugal.

Lamentávelmente, não é certo que o Governo tenha aprendido esta lição, e para 2014 anunciam-se mais "cortes na despesa".

É pena que não se aprenda com os erros, mas se a economia melhorou, muito se deve à excelente adaptação do país ao aumento do IRS. 

 

3 - O Governo moderou os ataques ao Tribunal Constitucional

Sobretudo nos últimos meses, os ataques ao TC diminuíram, e foi executada pelo Governo uma estratégia mais inteligente, em parte de sedução, em parte de pressão internacional indireta, mas não um ataque frontal, como fizera Passos nos primeiros meses do ano.

Foi correto, e diminui a crispação.

Não se pode dizer que as culpas da má situação económica sejam do TC quando, como explicou um estudo do Jornal de Negócios, o TC deixou passar 80% da austeridade que o Governo queria aplicar! 

Veremos se hoje essa estratégia mais "soft" dá frutos positivos na questão das pensões.

 

4 - O Governo tem somado vitórias importantes nas privatizações

Depois da EDP e da Ana, vieram os CTT e em breve a Caixa Seguros.

São vitórias importantes e que melhoram as contas públicas.

Podemos discutir em teoria se é bom ou não privatizar certas empresas, mas uma vez tomada a decisão, é justo reconhecer que os objetivos estabelecidos foram atingidos. 

 

5 - O Governo desviou-se subtilmente da estratégia germânica de combate à crise na Europa

Em certos momentos, o Governo conseguiu deslocar ligeiramente das posições alemãs, mais duras; e já defendeu uma União Bancária mais profunda, ou mesmo a mutualização de certas dívidas. 

Ao mesmo tempo que a Europa se vai afastando subtilmente do nefasto discurso da austeridade (Oli Rehn, por exemplo, já diz que é preciso moderar o ritmo da consolidação!), o Governo vai também corrigindo o tiro.

 

Em conclusão: há males que vêm por bem, e Passos aprendeu muito com a crise de Julho!

publicado por Domingos Amaral às 10:29 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 03.06.13

Mário Soares e a união das esquerdas e do povo unido

Quando um governo de direita vira demasidado à direita e ainda por cima governa mal, não é de estranhar que a esquerda vire à esquerda e se comece a unir.

É a isso que temos estado a assistir nos últimos meses: uma progressiva união das esquerdas, juntando socialistas, comunistas, bloquistas, sindicalistas e ainda alguns radicais.

Além da Grândola e de Mário Soares, que tudo tem feito para patrocinar esta "frente popular" do século XXI, a cola que une a esquerda é a terrível crise económica em que este governo mergulhou o país, mas sobretudo uma rejeição ideológica fortíssima da postura deste PSD.

Passos Coelho não só pratica um neo-liberalismo de retórica, o que irrita a esquerda; como sobretudo parece ter uma permanente postura de afrontamento da Constituição, provocando um cisma no consenso geral que antes existia sobre os princípios fundamentais do regime.

Este ataque ideológico à Constituição e ao seu representante jurídico, o Tribunal Constitucional, não é ilegítimo, mas é um terrível erro político conjuntural.

Com tanta dificuldade que este Governo tinha para enfrentar, não se percebe que tenha escolhido intencionalmente uma luta ideológica e anti-Constituição, numa época em que o mais necessário era a existência de alguns consensos nacionais para enfrentar as dificuldades.

Mas, Passos Coelho não parece ter muito bom senso. No meio da tempestade financeira e económica, escolheu abrir ainda mais frentes de guerra, e promover uma luta contra a Constituição e contra alguns dos seus princípios.

O resultado não tem sido bonito de ver. Além de ter mergulhado o país numa profunda crise económica, Passos Coelho está a conseguir o que ninguém antes em Portugal tinha conseguido: unir as esquerdas. 

Os sinais são cada vez mais evidentes. E não, não são apenas os apelos de Mário Soares, alguns compreensíveis, outros evidentes excessos e excitações. 

São sobretudo as aproximações entre a UGT e a CGTP, os encontros de esquerda onde se vêem pela primeira vez socialistas, comunistas e bloquistas juntos; e uma lenta, mas segura, aproximação nos discursos e nas ideias.

É ainda possível declarar, com sobranceria, como fazem muitas pessoas de direita, que Soares está velho e já não risca nada.

E é possível também proclamar que Seguro não tem "carisma", nem nunca será o líder pelo qual a esquerda anseia.

É verdade, pelo menos por agora. Mas, cada dia que passa a esquerda está mais próxima da união, está maior e a crescer.

Um dia destes será indiferente quem a lidera, porque a união faz a força. 

publicado por Domingos Amaral às 10:23 | link do post | comentar | ver comentários (9)
Quinta-feira, 18.04.13

A secreta conversa entre Passos e Seguro (versão não autorizada!)

Eis o que se passou verdadeiramente ontem, no inesperado e emocionante encontro entre Passos Coelho e António José Seguro. Mal este último entrou, e depois de um cumprimento seco entre ambos, o primeiro-ministro deu início à conversa.

Passos - Ena, faz tempo que não nos víamos!

Seguro - Pois é, pá...

Passos (sorrindo ligeiramente) - A culpa é tua...Andas muito radical!

Seguro (surpreendido) - Eu? Ora essa!

Passos (sorrindo) - Ele é moção de censura, ele é eleições antecipadas, ele é Abril e Grândola, ele é rasgar o memorando!

Seguro (surpreendido) - Rasgar o memorando? Isso é completamente falso! Eu nunca disse isso!

Passos - Mas andas lá perto!

Seguro - Nada disso! Tu é que andas radical!

Passos (surpreendidíssimo) - Radical? Eu? Estás bom da cabeça?

Seguro (faz cara séria) - Sim, radical! Tirar os subísdios outra vez? É preciso ser casmurro! E não vês que isto está uma tragédia social?

Passos (encolhe os ombros) - Não me venhas com essa história da carochinha outra vez...E o Tribunal Constitucional é um ninho de esquerdalhos, toda a gente sabe!

Seguro (abanando a cabeça) - Tu não aprendes mesmo! Não olhas para o lado? Isto está uma desgraça!

Passos (franzindo a testa e olhando para o lado) - Isto o quê? Não gostas da decoração? Mantive tudo o que era do outro...

Seguro (sorri, enervado) - Não desvies a conversa! O país está de pantanas, é isso que eu quero dizer!

Passos (encolhendo os ombros) - Isso é passageiro! Tem de ser assim uns tempos, mas depois melhora!

Seguro (surpreendido) - Quando? Já lá vão dois anos e nada, está cada vez pior!

Passos (franze a testa) - Aí é que estás enganado...Os juros desceram, o país é credível, os credores acham que estamos a fazer um esforço. A Merkel adora-me, e o Schauble adora o Gaspar! Isso é que conta!

Seguro (espantado) - Mas, e o desemprego, e a recessão, e as pessoas na miséria?

Passos (suspira fundo) - Pois, é uma maçada. Mas tem de ser!

Seguro (enervado) - Não acho!

Passos (surpreendido) - Não percebo...

Seguro (ainda mais enervado) - Isto não era inevitável, a receita é que está errada, vocês foram longe demais!

Passos (sorri) - Qual é a parte da frase "Não há dinheiro!" que tu não percebes?

Seguro (ri-se divertido) - Essa não é tua, é do Gaspar...Mas já vi que neste Governo é ele que pensa!

Passos (mexe-se na cadeira, enervado) - Ó Tozé, tens de perceber uma coisa, a troika é que manda, a gente não manda nada. Nem eu, nem muito menos tu! Percebes, ou queres que te faça um desenho?

Seguro (mais calmo) - Estou a ver que te irritas com facilidade...

Passos (compõe-se rapidamente) - É pá, tem de ser. Eles é que mandam, o resto é conversa da treta!

Seguro (arqueando a sobrancelha) - Foram eles que te mandaram falar comigo?

Passos (faz de conta que não percebeu): Uhmfborrrbbvnb...eles...temos de...conversar com...

Seguro (divertido) - Foram mesmo eles! E tu fazes o que eles mandam!

Passos (incomodado) - Eles querem o consenso nacional, dizem que é muito importante...É isso, consenso, foquemo-nos nisso...

Seguro (desconfiado) - E isso o que quer dizer?

Passos (encolhe os ombros) - Não sei bem...mas é consensual...

Nasce um silêncio na sala. António José Seguro espera que Passos Coelho fale, e o primeiro-ministro espera que seja o líder do PS a tomar a iniciativa. Passam alguns minutos a olhar para a janela. De repente, entreabre-se uma porta e o novo ministro Marques Guedes espreita, sorridente.

Marques Guedes - Há novidades?

Passos e Seguro olham um para o outro e depois o primeiro diz que não com a cabeça. Desiludido, Marques Guedes retira-se, fechando a porta. Passos Coelho respira fundo e toma a iniciativa.

Passos - Então?

Seguro - Então o quê?

Passos - O que é que vocês vão apoiar? Quais cortes?

Seguro - Cortes? Que cortes?

Passos - Em todo o lado, a gente tem de cortar a direito, 800 milhões, talvez mais!

Seguro - Se for no Estado Social, estamos contra! E se for mais austeridade, também!

Passos (exasperado, abana a cabeça) - Estes tipos...

Seguro (irritado) - Qual é a parte da frase "Não queremos mais austeridade nem cortes no Estado Social" que não percebes?

Passos (preocupado) - É pá, mas isso vai levar a um segundo resgate! Não compreendes que temos de voltar aos mercados antes?

Seguro (de repente mais sério) - Nisso estamos de acordo! É essencial!

Passos (mais animado) - Então, temos um consenso?

Seguro (depois de pensar uns segundos) - Sim...pode-se dizer que temos um consenso. Mas não se pode dizer que estamos de acordo.

Passos (intrigado) - Um consenso sem acordo? E como é que isso funciona?

Seguro (encolhe os ombros) - Não sei...

Passos (enfadado) - Pois...

Seguro (compõe-se na cadeira) - Infelizmente é o que há...

Passos (suspira) - Estás quase igual ao CDS do Portas, dizem mal de tudo, mas estão connosco...

Seguro (sorri, quase imperceptivelmente) - Isso já não sei, cada um fala por si.

Passos (levanta-se subitamente) - Bom, tenho de ir. E...já agora, estamos de acordo em voltar a falar um dia destes?

Seguro (levantando-se também) - Com data ou sem data?

Passos (reflete durante uns segundos) - É melhor sem marcar, não achas?

Seguro (reflete também uns segundos) - Sim, claro! Desde que fique claro que o PS não está de acordo com a austeridade nem com os cortes no Estado Social, tenho todo o gosto em vir cá mais vezes...A decoração é um bocado feia, vê-se logo que andou aqui a mãozinha de alguém...

Passos (sorri) - Pois...Bom, até um dia destes...Vou ter de explicar isto ao Marques Guedes com alguma minúcia...Consenso sem acordo parece-me um bocado esdrúxulo, não achas?

Seguro (sorri também) - É como austeridade expansionista, não é?

Passos sorri mas é um sorriso um bocado amarelo...E decide que o melhor mesmo é chamar o Poiares Maduro, talvez ele tenha alguma ideia de génio.

 

 

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 16:19 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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