Mário Soares e a união das esquerdas e do povo unido
Quando um governo de direita vira demasidado à direita e ainda por cima governa mal, não é de estranhar que a esquerda vire à esquerda e se comece a unir.
É a isso que temos estado a assistir nos últimos meses: uma progressiva união das esquerdas, juntando socialistas, comunistas, bloquistas, sindicalistas e ainda alguns radicais.
Além da Grândola e de Mário Soares, que tudo tem feito para patrocinar esta "frente popular" do século XXI, a cola que une a esquerda é a terrível crise económica em que este governo mergulhou o país, mas sobretudo uma rejeição ideológica fortíssima da postura deste PSD.
Passos Coelho não só pratica um neo-liberalismo de retórica, o que irrita a esquerda; como sobretudo parece ter uma permanente postura de afrontamento da Constituição, provocando um cisma no consenso geral que antes existia sobre os princípios fundamentais do regime.
Este ataque ideológico à Constituição e ao seu representante jurídico, o Tribunal Constitucional, não é ilegítimo, mas é um terrível erro político conjuntural.
Com tanta dificuldade que este Governo tinha para enfrentar, não se percebe que tenha escolhido intencionalmente uma luta ideológica e anti-Constituição, numa época em que o mais necessário era a existência de alguns consensos nacionais para enfrentar as dificuldades.
Mas, Passos Coelho não parece ter muito bom senso. No meio da tempestade financeira e económica, escolheu abrir ainda mais frentes de guerra, e promover uma luta contra a Constituição e contra alguns dos seus princípios.
O resultado não tem sido bonito de ver. Além de ter mergulhado o país numa profunda crise económica, Passos Coelho está a conseguir o que ninguém antes em Portugal tinha conseguido: unir as esquerdas.
Os sinais são cada vez mais evidentes. E não, não são apenas os apelos de Mário Soares, alguns compreensíveis, outros evidentes excessos e excitações.
São sobretudo as aproximações entre a UGT e a CGTP, os encontros de esquerda onde se vêem pela primeira vez socialistas, comunistas e bloquistas juntos; e uma lenta, mas segura, aproximação nos discursos e nas ideias.
É ainda possível declarar, com sobranceria, como fazem muitas pessoas de direita, que Soares está velho e já não risca nada.
E é possível também proclamar que Seguro não tem "carisma", nem nunca será o líder pelo qual a esquerda anseia.
É verdade, pelo menos por agora. Mas, cada dia que passa a esquerda está mais próxima da união, está maior e a crescer.
Um dia destes será indiferente quem a lidera, porque a união faz a força.