A Irlanda também já teve o seu perdão de dívida
Depois da Grécia em Dezembro, foi agora a vez da Irlanda. Hoje, foi aceite pelo Banco Central Europeu um monumental reescalonamento da dívida da Irlanda, o que na prática significa um perdão e um adiamento do pagamento de muitos milhões de euros em juros.
Mais de três anos depois da crise financeira do euro ter começado, a Europa aceitou finalmente fazer aquilo que muitos, desde 2009, diziam ser essencial: reestruturar a dívida pública dos países que estavam com excesso de dívida.
Foram precisos três anos para a lenta Sra Merkel aceitar o óbvio: a dívida da Irlanda, tal como a da Grécia e a de Portugal, e provavelmente também a de Espanha, não é pagável com austeridade, e só renegociando a dívida, e com os credores a aceitaram certas perdas e adiamentos longos de pagamentos, é que a situação se podia resolver.
Há três anos, ninguém aceitou este princípio de bom senso, e a Alemanha obrigou a programas de austeridade duríssimos, que obviamente não tornaram os países capazes de pagar as suas dívidas. Não é com milhões de desempregados que se pagam as dívidas excessivas dos países, e a austeridade desmiolada que se praticou provocou uma crise grave na Europa.
Agora, tanto a Grécia como a Irlanda já conseguiram renegociar a dívida. Só falta Portugal. Contudo, o nosso Governo parece bem mais determinado em prosseguir a austeridade fortíssima do que em renegociar a nossa dívida. Passos Coelho e Gaspar não param de falar na necessidade imperiosa de cortar 4 mil milhões de euros em despesa do Estado.
Ora, pergunto eu, porque não renegociar a dívida e baixar a fatura altíssima de juros? Se a Irlanda e a Grécia já o fizeram, porque não o faz Portugal? E, já agora, que sentido faz cortar 4 mil milhões de euros em despesas sociais quando se gastam quase 14 mil milhões nos nossos bancos? A austeridade não se aplica à banca e aos banqueiros?