Quinta-feira, 29.08.13

Com o fogo não se brinca, já dizia a minha avó

É uma frase que qualquer criança ouve desde muito cedo: "com o fogo não se brinca!"

No entanto, dá-me a sensação que muitos réporteres de televisão esqueceram os conselhos das suas avós.

Todos os dias, ao ver as notícias, dou por mim a pensar quando vai magoar-se a sério o primeiro repórter televisivo.

É que, pela forma como as reportagens têm sido feitas dá a sensação que os repórteres e os homens das câmeras andam a brincar com o fogo.

Há diretos, extremamente espectaculares, com as labaredas quase a lamberem as costas dos repórteres.

Há imagens deles, a correr, a câmara aos saltos, a tremer, no meio de estradas, do fumo, dos populares desesperados. 

É como se a profissão de repórter dos incêndios fosse, também ela, uma profissão de risco.

Em busca da melhor imagem, os repórteres arriscam tudo, só para brilharem à noite, no telejornal.

Como já não há dinheiro para os jornalistas serem enviados para guerras distantes, eis os incêndios, como substituto à altura.

Em vez de correspondentes de guerra, temos correspondentes de fogos.

Até raparigas jovens se metem ali, entre o auto-tanque e a labareda.

Querem apanhar cada momento: o bombeiro, de máscara, que aponta a mangueira para as chamas imensas; o popular que chora, aterrado; a azáfama meio ensandecida da aldeia que vê o fogo aproximar-se; o movimento desordenado do jipes encarnados, sempre a circularem; o fumo que tudo cerca, como um nevoeiro sinistro.

Sim, o fogo é um tipo especial de guerra e mostrá-lo é um acto de coragem, mas também de orgulho.

Talvez os reporteres devessem ser mais cuidadosos, pois de tanta ânsia de mostrar, ainda se queimam um dia.

Morre gente, normalmente bombeiros, porque o fogo é um animal perigoso, imprevisível, letal, que quando se enfurece castiga quem o desafia.

A coragem, essencial no combate, tem de ser temperada pela lucidez permanente, senão o desastre é imediato.

E, só para filmar o espectáculo do fogo, não faz sentido arriscar a vida.

Dizia PJ O´Rourke que os jornalistas eram diferentes dos outros civis, pois quando todos os civis fugiam da guerra, os jornalistas iam a correr ter com ela.

E por isso muitas vezes morrem.

Com o fogo parece dar-se o mesmo fenómeno. Enquanto as pessoas fogem das labaredas, os jornalistas vão a correr ter com elas.

Tenho medo que isto um dia acabe mal. 

publicado por Domingos Amaral às 11:37 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 20.07.12

Incêndio em Tavira

Ontem à noite era impressionante a mancha de fumo que cobria toda a área costeira para leste de Tavira. O fogo foi colossal, cogumelos de fumo subiam no ar, como se naquela zona tivessem acabado de cair bombas, e depois uma mancha escura e densa cobriu os céus, aquecendo a terra cá em baixo. Por volta das nove e meia da noite, a temperatura subia, o calor aumentava lá fora, devido ao efeito de estufa criado pelos fumos no céu. Depois, já perto da meia-noite, o fogo pareceu acalmar, o combate teve algum sucesso e a noite voltou a uma relativa normalidade. Mas foi a única noite em que não se viram estrelas no bonito e sempre estrelado céu do Algarve.

publicado por Domingos Amaral às 11:15 | link do post | comentar
 

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