Quinta-feira, 28.02.13

Os cavalos também se comem?

Anda por aí uma enorme histeria europeia, por causa do uso de carne de cavalo na mistura de carnes picadas. Mas, pergunto eu: já alguém comeu carne de cavalo para saber se é má? E, pergunto eu de seguida, qual é o problema da carne ser de cavalo?

A maior parte das pessoas, aposto eu, nunca comeu carne de cavalo, por isso não sabe distinguir uma carne da outra. A carne de cavalo é mais encarnada do que a de vaca? Eu não faço ideia, nunca comi. E será mais saborosa? Também não faço ideia, nunca comi. E faz mal ao nosso organismo? Também não tenho conhecimentos suficientes para dar uma resposta esclarecida.

Contudo, parece-me claramente que o problema aqui não é de saúde pública. Ou seja, não há uma histeria mediática porque alguém tenha a sua saúde em risco devido à carne de cavalo. Ao que me dizem, a carne de cavalo não faz mal a ninguém, não está contaminada, nem provoca doenças. O problema é outro.

O problema é que os seres humanos não estão habituados a comer cavalos. Ao longo de milhares de séculos, a humanidade, em especial no Ocidente, habituou-se a comer vacas, coelhos, porcos, frangos, perus, avestruzes e algumas coisas ainda mais estranhas como cobras, mas não se habituou a comer carnes de outros tipos de bichos, como cães, gatos ou cavalos.

A questão não é pois de saúde pública, mas sim de emoção civilizacional. A nós, faz-nos impressão comer animais com quem estamos habituados a conviver muito, como os cães ou os gatos, mas também outros que usamos para outros fins, como os cavalos.

Ninguém sabe muito bem porquê, mas esse tipo de animais ficou colocado numa categoria à parte, a categoria dos Animais Não Comestíveis A Não Ser Que O Mundo Esteja A Acabar. No mundo ocidental (já sabemos todos que noutras partes do mundo não é assim), cavalos, gatos e cães são animais safos da dura realidade da morte para alimentação.

Para comerem, os ocidentais não se importam nada de matar vacas, coelhos ou frangos (que também são muito queriduchos); mas nada de matar cães, gatos ou cavalos para as almoçaradas ou jantaradas.

Será que isto faz sentido? Porque é que nos faz impressão comer carne de cavalo e não de vaca? As vacas também sofrem quando morrem, também não se conseguem defender, também são criadas para dar leite, e no entanto, não nos faz impressão nenhuma comer a sua carne.

Será apenas por uma questão de sabor? Será que nós apenas matamos vacas, coelhos, frangos ou perus porque a carne deles é mais saborosa do que a dos cavalos, cães ou gatos?

É difícil de dizer, sobretudo para mim que nunca experimentei carne de cavalo, cão ou gato, mas porque é que sentimos repugnância ao pensar em comer esses animais, e não a sentimos quando falamos dos outros, como as vacas, os coelhos ou os perus?

Estas histerias mediáticas são sempre um bocado estranhas...Mas, pronto, eu sou um conservador no que toca à alimentação, e se há milhares de anos que os humanos não comem carne de cavalo, por alguma razão deve ser.   

publicado por Domingos Amaral às 15:45 | link do post | comentar | ver comentários (7)
Quarta-feira, 27.02.13

Cristiano Ronaldo é o maior!

Hoje estava para escrever sobre a expectativa com que os portugueses estão, à espera de notícias da "troika", que anda por aí em Lisboa. Contudo, depois pensei um bocado e achei melhor escrever sobre o Cristiano Ronaldo.

Que grande jogo fez ele ontem em Nou Camp! Mais uma vez, Ronaldo calou os críticos e calou também os adeptos do Barcelona, que apesar de terem Messi na equipa, já têm pesadelos permanentes com o nosso Cristiano, pois ele farta-se de marcar golos contra eles.

Ontem, foram mais dois. Um de penalty e outro a concluir uma grande jogada do muito saudoso Di Maria (que falta ele faz ao Benfica...) Ronaldo é assim, é alguém em quem se pode confiar, diz sempre presente, mesmo nos momentos mais difíceis.

Essa é uma das suas mais fortes características, raramente falha ou se esconde nos momentos mais complicados. Está sempre lá, e quando a pressão aumenta, ele aumenta a velocidade e a vontade. A diferença em relação a Messi ontem foi abissal. Onde estava o suposto melhor jogador do mundo que ninguém o viu? Ontem, Messi, o maravilhoso Messi, desapareceu para parte incerta, fartou-se de falhar passes, e parecia um jogador banal e até, em certos momentos, medíocre.

Já Ronaldo, cada vez que tocava na bola, era uma emoção. O que é que ele vai fazer?, perguntava Alex Ferguson, há umas semanas, antes do seu Manchester ir a Madrid jogar com o Real. É a melhor pergunta que se pode fazer quando se vê Ronaldo com a bola nos pés. O que vai sair dali?

Os génios são assim e Ronaldo é um génio. Temos muita sorte de ele ser português, essa é que é a verdade.

Que se lixe a troika, enquanto ele jogar não pensamos nisso!

publicado por Domingos Amaral às 15:32 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 26.02.13

Itália: as festas Bunga-Bunga vencem a terrível austeridade

Embora os resultados das eleições italianas sejam bastante complexos e confusos, por causa do sistema eleitoral local, há pelo menos quatro lições que se devem retirar:


Primeira Lição - "A austeridade não fez a Itália sair da crise, pelo contrário".

A economia italiana continua anémica, há muito desemprego, a dívida pública é gigantesca, e não há sinais positivos de crescimento económico. O mix de "austeridade estruturalista", uma mistura de austeridade com reformas estruturais, não melhorou nada a situação, até a piorou. E note-se que Itália foi, de todos os país do Sul da Europa, aquele que praticou menos austeridade! 


Segunda Lição - "A austeridade não é de direita, nem de esquerda". 

Ao contrário do que se tem passado na maior parte dos casos, em que as políticas de "austeridade estruturalista" têm sido conduzidas por partidos de centro-direita - Portugal, Grécia, Espanha - em Itália passou-se o oposto. O país estava a ser governando por Monti, que é de centro-esquerda, mas foi Berlusconi que atacou mais as "políticas de austeridade". Ou seja, neste caso a direita está contra a austeridade, e ganhou votos com isso. 


Terceira Lição - "Ser contra a austeridade dá votos, mesmo que se goste de festas Bunga-Bunga".

Em Itália, o discurso contra a austeridade foi muito popular, seja à esquerda, com a subida do comediante Beppe Grilo e o do seu movimento "Cinco Estrelas"; seja à direita, permitindo a surpreendente ressureição de Berlusconi, um político duvidoso, envolvidos em escândalos sexuais, e que organizava as célebres festas "Bunga-Bunga", uma espécie de orgias porno soft. A incomodidade dos italianos com a austeridade é tal, que até se permitem a votar em políticos como Berlusconi!


Quarta Lição - "A austeridade provoca crises políticas".

É talvez a mais importante lição a retirar destas eleições. A austeridade provoca instabilidade social e política, e leva as pessoas a votarem contra o sistema, e contra o poder instalado, qualquer que ele seja, e normalmente isso provoca instabilidade forte. Foi assim na Grécia, e foi assim agora em Itália. Veremos o que se passará noutros países, mas a crise do euro pelos vistos não tem fim à vista, e tem sido um cemitério de governos. 

 

PS: Eu bem sei que Passos Coelho se está a "lixar" para as eleições, mas por este caminho vai deixar Portugal não só economicamente mais fraco, como politicamente mais instável. É o que dão as políticas de austeridade...

publicado por Domingos Amaral às 10:14 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 25.02.13

FC Porto e Benfica são gémeos siameses?

FC Porto e Benfica parecem este ano gémeos siameses, inseparáveis e praticamente idênticos em tudo. Apenas uns ligeiros pormenores os diferenciam.

O registo de ambos é quase igual, nas várias competições. No total, o FC Porto já fez 34 jogos esta época, para todas as competições em que participou. Venceu 26 jogos, empatou 6 e apenas perdeu 2 jogos (em Paris e em Braga). Este registo dá uma percentagem de vitórias de 85 por cento, o que é muito bom.

Já o meu Benfica fez mais jogos, ao todo 36, obteve 27 vitórias, cedeu 7 empates e também teve duas únicas derrotas (em casa, com o Barcelona, e em Moscovo). Assim, tem uma percentagem de vitórias de 84,7 por cento, praticamente idêntica à do FC Porto.

Ambos estão a fazer uma temporada muito forte, e não há forma de se gerarem distâncias relevantes entre os dois. Ontem, por exemplo, muita gente temia o Paços de Ferreira, que está a fazer um extraordinário campeonato, mas a verdade é que o Benfica não deu qualquer hipótese, e venceu facilmente por 3-0.

Benfica e FC Porto estão claramente noutra galáxia futebolística de todos os outros clubes nacionais, e mesmo Braga e Sporting têm muitas dificuldades para conseguir bater o pé aos dois grandes. Embora o FC Porto vá a Alvalade na próxima jornada, ninguém acredita que não vai ganhar aos leões.

É evidente que ainda faltam 10 jornadas, e há muitos jogos difíceis pela frente, mas se as duas equipas mantiverem este registo, a coisa vai ferver até ao fim! Quem separa este gémeos siameses? Será que temos mesmo de esperar pelo jogo no Dragão? 

Isto é o que se passa dentro do campo. Já fora do campo há claras diferenças. Enquanto Pinto da Costa dá moral e confiança a Vítor Pereira, para as bandas da Luz começam os disparates, e lá veio um vice-presidente do clube. o senhor Varandas Fernandes, fazer ultimatos a Jorge Jesus, dizendo que o contrato dele só será renovado se ele ganhar títulos!

O Benfica continua cheio de gente que não percebe que esse tipo de ameaças só desestabilizam, e podem desconcentrar o treinador e os jogadores, num momento em que todos precisam de estar focados no presente, e não no futuro.

Jesus é o melhor treinador do Benfica das últimas três décadas, o melhor desde Eriksson, e só pessoas que não percebem nada de futebol acham que ele se deve ir embora! O senhor vice-presidente devia era estar calado! 



 

publicado por Domingos Amaral às 11:01 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Sexta-feira, 22.02.13

Vítor Gaspar devia demitir-se e já!

As notícias desta última semana são arrasadoras para o Governo, mas sobretudo para Vítor Gaspar, o grande mentor da estratégia da austeridade que este Governo seguiu desde que tomou posse, há quase dois anos.

A recessão agravou-se, o desemprego subiu para níveis espantosos, a economia está em coma, a dívida pública não pára de subir, e o deficit do Estado não atinge as metas a que Gaspar se propôs.

Ou seja, o Governo falhou, e falhou em praticamente tudo, não apenas em alguns indicadores. Gaspar parece um daqueles malabaristas que lança bolas ao ar, e depois as deixa cair todas, sem conseguir apanhar nenhuma.

Como aqui muitas vezes escrevi ao longo do último ano, a estratégia da austeridade era brutal e não iria resultar. Para quem conheça um pouco de história económica, de Portugal e do Mundo, sabe que a grande maioria destes "ajustamentos" falharam sempre, e tiveram péssimas consequências para os países que os colocaram em prática.

Quando um país se vê numa situação de excesso de dívida pública, a forma de resolver esse problema não é praticar austeridade à bruta e o mais depressa possível, como Gaspar decidiu. Sobrecarregar um país com excesso de impostos e cortes nas despesas, nos salários e nas pensões, provoca uma enorme recessão, envia centenas de milhares de pessoas para o desemprego, e não resolve o problema da dívida.

Pelo contrário. Como muitos já estão agora a perceber, quanto mais Portugal paga em juros, mais deve, pois a dívida pública não pára de subir em percentagem do PIB! O país foi colocado numa situação terrível, numa espiral depressiva, e entrou na chamada "armadilha da deflação e da dívida", quando existe em simultâneo uma recessão profunda e um aumento da dívida. 

Há responsáveis por isto. É claro que, em grande parte, a responsabilidade é sobretudo da Europa e da Alemanha. Foram os alemães da nefasta sra Merkel que impuseram esta estratégia suicida de "austeridade" aos países do Sul da Europa. Mas, não foram só eles.

Em Portugal, o principal responsável por esta estratégia "kamikaze" foi o ministro Vítor Gaspar. Foi ele que convenceu Passos Coelho (que obviamente não percebe patavina de economia) mas também o resto do Governo, que esta ideia iria funcionar.

Ora, quase dois anos depois, os resultados do fanatismo de Gaspar estão à vista. O país está de rastos, a economia está aniquilada em muitas actividades, e ninguém vê uma saída para este enorme buraco negro em que nos encontramos. Gaspar meteu-nos na Boca do Inferno!

É por isso que ele tem de se ir embora. Passos Coelho, se quiser continuar mais tempo, tem de dispensar o actual ministro das Finanças, e chamar outro para o seu lugar, que possa inverter a situação. Gaspar falhou, e falhou rotundamente. É talvez o pior ministro das Finanças que Portugal teve desde o 25 de Abril, aquele que mais se enganou na sua estratégia.

O seu tempo chegou ao fim. Se Passos Coelho se vir livre de Gaspar, talvez consiga sobreviver até 2015. Eu não sou dos que acham que o Governo se deve demitir. Foi eleito, tem legitimidade, e deve prosseguir. Mas, deve mudar de ministro das Finanças, e já!

 

publicado por Domingos Amaral às 12:07 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 21.02.13

O problema sexual da Igreja Católica

Não é preciso ser psiquiatra, nem sequer séxologo, para perceber que a Igreja Católica Apostólica Romana tem um problema com o sexo.

Há séculos que tem um problema, e não há maneira de o resolver. Aliás, nas últimas décadas, o problema em vez de melhorar piorou, e drasticamente.

Quase não há mês que passe sem se ouvir falar de problemas sexuais na Igreja. Ou bem que são os padres pedófilos, ou os padres homossexuais, ou então ouvimos falar na condenação do sexo sem ser para efeitos de procriação, ou nos perservativos, ou em qualquer outra coisa no género.

Esta semana, por exemplo, o tema do momento em Portugal é uma acusação de assédio sexual por parte de um bispo; e o tema internacional é, no contexto da eleição do novo Papa, a possibilidade de participar na eleição um cardeal que fez vista grossa a situações de pedofilia no seu país.

Porque é que isto é assim? Porque é que se passa a vida a falar de questões sexuais relacionadas com a Igreja Católica? Bem, a resposta é simples: a Igreja Católica rejeita o sexo como algo natural a todos os seres humanos (qualquer que seja a sua preferência sexual) e considera o sexo, na maior parte das vezes, como um pecado, só o aceitando como essencial para procriar. 

Ou seja, a Igreja Católica não considera o sexo como uma coisa natural no ser humano, mas sim um mal, um mal necessário em certos casos (para fazer bebés e se as pessoas forem casadas), mas mesmo assim uma coisa a evitar. É este o seu discurso para os crentes, há milhares de anos, e não parece ir mudar.

Além disso, a Igreja Católica continua a obrigar aqueles que a servem a full-time (os padres, bispos e cardeiais) à castidade, que é a proibição total de ter sexo. 

Esta combinação de ideias (o sexo como uma coisa anti-natural e pecaminosa para os crentes, e a obrigação de celibato para os padres) resulta numa situação explosiva permanente, pois a confrontação destas máximas com a vida real dos seres humanos (crentes e padres) é totalmente absurda e irrealista.

A maior parte dos seres humanos não segue as orientações da Igreja Católica nas questões sexuais, e pratica sexo quando quer e à hora que quer, sem sentir que isso é mal ou pecado.

E os padres, na sua grande maioria, têm enormes dificuldades de cumprir o celibato, e por isso se multiplicam as descobertas de "prevaricadores". 

Mais tarde ou mais cedo, esta distância entre o que a Igreja defende e a realidade do mundo vai ter de ser diminuída.

A mim parece-me evidente que não vai ser o mundo a mudar, terá de ser a Igreja. Mais tarde ou mais cedo, chegará um Papa mais esclarecido ao Vaticano, que terá a coragem de confrontar a questão do sexo para a Igreja, e libertá-la deste terrível problema sexual que a consome há séculos.

Faz sentido o sexo ser mal visto, e não um necessidade natural em todos os seres humanos? Faz sentido condenar-se as preferências sexuais das pessoas? Faz sentido impôr o celibato a seres humanos? Faz sentido proibir o uso de perservativos? São essas as questões que a Igreja terá de resolver nas próximas décadas.

Enquanto isso não acontecer, enquanto a Igreja não vencer o seu profundo trauma sexual, e não mudar, vamos continuar a ouvir falar todos os meses de "escandaleiras" que envolvem padres, mais graves ou menos graves.

E também vamos continuar a fazer de conta que ouvimos o que a Igreja nos tem a dizer sobre sexo e que seguimos as suas orientações, o que obviamente quase ninguém faz.

Eu acho que está na altura da Igreja resolver o seu trauma sexual. Talvez o próximo Papa possa ajudar.  

publicado por Domingos Amaral às 15:20 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Quarta-feira, 20.02.13

O regresso de Grândola Vila Morena

Ao que parece, a moda está a pegar. Agora, de cada vez que um membro do Governo aparece em público para falar sobre algum assunto, levanta-se logo um grupo de pessoas que começa a cantar o "Grândola Vila Morena", a célebre música de Zeca Afonso, que serviu como senha para o início da revolução, em 25 de Abril de 1974. 

Passos Coelho foi a primeira vítima do Grândola, no parlamento, mas não lhe deu para cantar a acompanhar os protestos. Já Miguel Relvas, ontem, caiu na asneira de tentar trautear a música. O resultado foi um perfeito desastre. As imagens de Relvas a cantarolar a Grândola são patéticas, e aquele sorriso forçado que acompanha a cantoria roufenha vai ficar para a história dos momentos mais ridículos da nossa democracia. 

Mas, o que me importa hoje é o simbolismo destes protestos. Ao fim de quase dois anos de Governo, Passos Coelho e Gaspar castigaram de tal forma o país que estão a conseguir unir as esquerdas, e o traço dessa união começa com coisas tão simples como músicas, no caso a Grândola Vila Morena.

A austeridade brutal a que Passos e Gaspar têm submetido o país e os seus terríveis resultados, mas sobretudo a ideia de que esta austeridade é ideologicamente motivada, e que há uma intenção clara de destruição do Estado Social como o conhecíamos, tudo isso somado, está a gerar no país uma profunda revolta, e mais grave ainda, está a unir as esquerdas, num ódio e num propósito comum, contra o Governo.

É sempre assim: quando a direita vira demasiado à direita, a esquerda une-se. Contudo, em Portugal, isso nunca aconteceu desde o 25 de Abril. A direita portuguesa, e nela incluo o CDS e o PSD, nunca tinha virado tanto "à direita" como no presente. Nem a AD de Sá Carneiro, ou as de Marcelo ou Durão Barroso; nem o PSD de Cavaco, tinham sido tão "à direita" enquanto foram governos.

No passado e durante quase 40 anos de democracia, houve sempre nas direitas portuguesas, sobretudo quando estavam no Governo, importantes políticas sociais-democratas no PSD e democratas-cristãs no CDS, que impediam a governação de virar demasiado "à direita". E certamente por isso, a união das esquerdas nunca se deu. Com a excepção de acordos pontuais, por exemplo na Câmara de Lisboa, nunca o PS se uniu ao PCP e ao Bloco para governar o país.  

Agora, pela primeira vez em 40 anos, isso pode mudar. Pé ante pé, as esquerdas estão-se a unir. A canção Grândola Vila Morena será, daqui para a frente, uma espécie de guarda-chuva debaixo do qual se dará a união das esquerdas. Qualquer dia, veremos Seguro, Semedo, Jerónimo, Arménio Carlos, e muitos outros, também a cantarem a Grândola à primeira oportunidade, e isso terá um profundo significado simbólico.

Ou muito me engano, ou a grande consequência do desastre económico que Passos e Gaspar provocaram, será um governo de Esquerda, onde pela primeira vez veremos sentados o PS, o PCP e o Bloco. O desastre que a direita gerou vai provocar uma união à esquerda, e os mais fervorosos apoiantes de Passos, de Gaspar e da austeridade, terão de engolir pela boca a baixo uma frente de esquerda como nunca houve em Portugal.

É sempre assim, no mundo inteiro. Quando a direita vira demasiado à direita, a esquerda cresce a seguir, e muito.   

publicado por Domingos Amaral às 10:36 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 19.02.13

Em Portugal, os fiscais das Finanças "tomam no c..." ou "levam no c..."?

Caro Francisco José Viegas

Escrevo-te não só para me solidarizar com a tua saudável revolta, contra os fiscais das finanças que andam à caça de quem não pede faturas, mas sobretudo para te colocar uma intrigante questão linguística!

Na tua já famosa missiva, dizias que se um fiscal te aparecesse à frente o mandarias "tomar no c..." Ora, foi essa expressão que me causou perplexidade. Porquê o uso de um brasileirismo? No Brasil é que se usa a expressão "tomar no c...".

Já em Portugal, ela não existe. Os portugueses tomam remédios e xaropes, tomam banhos em casa e no mar, mas que eu saiba não "tomam no c..." Em Portugal, a expressão que se usa é "levar no c..." e não "tomar no c..." 

É evidente que podes ter considerado que era demasiado abrutalhado usar a expressão portuguesa. Na verdade, quando se trata de expressões já de si vernáculas, os portugueses são bastante exagerados. Usam o "levar no c..." como se isso fosse equivalente a levar uma carga de porrada.

Há outros exemplos famosos em Portugal. Por exemplo, os portugueses usam muito as expressões "vai-te fod..." ou "vai para o car...lho" como se isso fossem coisas horríveis. Ora, é um pouco estranho, não é? Desde quando é que uma pessoa "ir fod..." é mau?

E mesmo no caso do "vai para o cara..." eu tenho bastantes dúvidas que seja mau. Quer dizer, eu por exemplo conheço imensas mulheres que "vão para o car..." com alegria, vivacidade e até uma certa gula feminina. "Ir para o cara..." não tem de ser mau, nem para quem vai, e muito menos para quem recebe...

Mas, voltemos ao "tomar no c..." Provavelmente, tu usaste a expressão brasileira porque assim, de certa forma, diminuias ligeiramente a agressividade do insulto. O brasileirismo foi uma espécie de vaselina verbal, para tornar a expressão mais suave e deslizante, e não tão agreste como a original dos lusitanos. É compreensível, embora soe um pouco estranho.

Contudo, aquilo que também me surpreendeu, foi a certeza, implícita no teu uso da expressão, de que o fiscal das Finanças que poderia aparecer à tua frente seria um macho heterossexual. Só assim se compreende o insulto.

"Tomar no c..." só é mau se o fiscal for macho, caso contrário pode não ser. Imagina por exemplo que o fiscal das Finanças era gay. Nesse caso, o potencial insultuoso e rebelde da tua expressão perde-se completamente.

Um fiscal heterossexual ficaria ofendido se o mandasses "tomar no c...", mas um fiscal gay poderia até desatar a bater as pestanas, todo animado com a ideia, e a tua fúria poderia até ser interpretada como um convite, o que não foi certamente a tua ideia original!

Mas, nem só esse caso levanta problemas. Imagina que o fiscal que te aparecia à frente era uma mulher. Bem, nesse caso é um bocado imprevisível a reação do fiscal. Como se sabe, a actividade de "tomar no c..." divide bastante as mulheres. Há as que não gostam nada, mas também há as que gostam, e nunca sabemos bem em qual dos grupos se coloca uma mulher antes de a conhecer mais intimamente. É pois um risco mandar uma mulher "tomar no c..."

Na tua carta aberta, foi basicamente isto que me causou perplexidade. Quanto ao resto, estou de acordo contigo, é um perfeito abuso e um enorme disparate os fiscais andarem a multar quem não pede faturas. 

Um abraço amigo

Domingos Amaral  

publicado por Domingos Amaral às 10:52 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Segunda-feira, 18.02.13

Um penalty no último minuto dá cá um gozo!

Há sonhos assim, que acabam com a nossa equipa a vencer com um golo marcado em cima da hora, já no final dos descontos, o que nos dá uma importântíssima vitória! Mas, ontem não foi um sonho, foi mesmo realidade! 

O jogo contra a Académica, que fui ver ao estádio da Luz com o meu filho Duarte, foi o mais difícil que lá jogámos este ano. Um jogo chato, chatíssimo, contra uma equipa desagradável e sem ambição, chatíssima, como ontem foi a Académica.

Eles não meteram o autocarro em frente à baliza, eles meteram um porta-aviões em frenta à baliza! E ainda por cima têm um bom guarda-redes, um jovem português chamado Ricardo que, ou muito me engano, ou vamos ouvir falar muito dele no futuro.

Também é verdade que o Benfica esteve um bocado perro, sem grande imaginação ou velocidade, e portanto o jogo transformou-se num sofrimento. À medida que o tempo passava, o nosso nervosismo crescia, e ao chegarmos aos 90 minutos ainda com o 0-0, já muitos comentavam que o campeonato ia acabar ali, pois o FC Porto ficaria à frente, e nós já não os conseguiríamos agarrar.

Porém, o futebol é terrível para os nervos mas é também maravilhoso, e a um minuto do fim dos descontos, um jogador da Académica comete um penalty, e o estádio explode de alegria. Lima marca bem o golo, e lá ganhamos o mais difícil jogo, com a mais saborosa vitória, aquela que se consegue a um minuto do final e ainda por cima de penalty! Melhor era impossível, e foi um justo castigo para a pior Académica dos últimos anos que vi no meu estádio.

Contudo, passada a alegria esfusiante que nos consumiu, dei por mim a pensar que o Benfica está num momento menos bom, apesar da excelente vitória em Leverkusen.

Espero que o cansaço que se sente em alguns jogadores - Ola John, Salvio, Garay - e a desinspiração de outros - Rodrigo, Maxi - não nos provoque uma quebra nesta altura. O FC Porto já nos deu uma abébia, ao empatar em casa contra o Olhanense. Mas não dá mais...

publicado por Domingos Amaral às 11:32 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 15.02.13

"The Walking Dead" e os nossos "mortos-vivos"

Passei a terça-feira de Carnaval a ver a série de "The Walking Dead", e é uma coisa bastante viciante. Passa na Fox e na quarta-feira recomeçou a 3ª temporada, para alegria dos milhões de fãs por esse mundo fora.

A ideia dos "mortos-vivos" não é propriamente original no cinema, nem em televisão, mas mesmo assim a série é muito boa. Uma espécie de praga de "mortos-vivos" espalha-se pelo mundo, e os humanos são atacados por hordas de seres que caminham devagar, e os tentam matar, à dentada.

O pior é que se um humano for mordido, ou se morrer por qualquer outra razão, transforma-se de imediato num "morto-vivo", o que obriga os outros humanos a matá-lo, com um tiro ou uma catanada na cabeça, pois só assim os "mortos-vivos" morrem mesmo.

Este cenário dantesco e apocalíptico é o pano de fundo da série, mas o importante não são os "mortos-vivos", mas os humanos, que tentam sobreviver em grupo, fugindo dos monstros que os perseguem. E, no grupo de humanos, há os bons e os maus, os que aguentam e os que não aguentam, os que traiem e os que são leais.

Na terceira temporada, há também uma pequena cidade, que conseguiu construir umas muralhas para se defender dos "mortos-vivos", e onde existe um Governador, uma espécie de político tirano, que é muito mau, e que não quer humanos a fazerem-lhe concorrência. 

É evidente que "The Walking Dead" é uma série de terror, e quem não gosta do género dificilmente gostará da série, mas quem gosta fica normalmente um fã fiel e atento. Por vezes, é difícil convencer as meninas da família para verem a série, mas os homens - eu e o meu filho - lá conseguem e ficam colados, como que viciados neste mundo aterrador de mosntros sangrentos.

Na verdade, a série não é sobre isso, mas sim sobre como podem os humanos sobreviver em situações difíceis, e o que elas mudam o carater das pessoas. A coragem, a resistência, a confiança, a lealdade, a mentira, o egoísmo humano, são os ingredientes principais da série, para além dos efeitos especiais de terror e da excelente caracterização.

De certa forma, "The Walking Dead" é também uma espécie de estranha metáfora sobre um mundo que está submetido a grandes calamidades. Às vezes, tenho a sensação de que a Grécia, e também um pouco Portugal, já estão num mundo de "mortos-vivos". Somos uma espécie de zombies económicos, todos as tentar sobreviver, mas nem sempre é fácil, pois há sempre uns monstros que nos dão umas dentadas nos rendimentos...

publicado por Domingos Amaral às 12:00 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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