Quinta-feira, 31.01.13

A onda e o McNamara

Odeio ondas grandes e ainda odeio mais ondas gigantes. Olho para a onda da Nazaré, que o maldito McNamara surfou, e fico com medo só de olhar. Aquilo parece um princípio de maremoto, um despertar de um tsunami. Sem saber bem porquê, odeio a ideia de que aquilo existe, aqui, tão próximo de nós, na Nazaré.   

Bem, na verdade eu sei porquê, qual a razão deste meu pânico. Tive um acidente aos 13 anos, ao mergulhar numa onda na praia do Guincho, que me provocou uma grave luxação no pescoço, e me obrigou a estar deitado dois meses, e a andar de colarinho durante outros dois, e nunca mais fiz as pazes com as ondas.

Foi um acidente um bocado estúpido, como a maior parte dos acidentes, mas a verdade é que mudou a minha relação com o mar. Até essa data, adorava ondas e ia com os meus amigos lá para fora de pé, e fazia carreirinhas dos diabos, no meio da espuma. Mas, a partir desse golpe na minha confiança, nunca mais fui o mesmo.

Passei a olhar para as ondas de uma maneira diferente, claramente hostil. Passei a achar que elas me podiam fazer mal, magoar, com a sua força imensa, e nunca consegui vencer essa relutância. Nunca fiz surf, nem quando tinha 16, nem aos 40, como muitos amigos meus que começaram a revelar paixões tardias, seja pelo surf seja pela maratona. (Qualquer dia tenho de escrever sobre isso...)

Maneira que, prefiro praia sem ondas, tipo Algarve, Caraíbas, do que praias com ondas. Nem entro na água se aquilo começa a subir demais à minha frente, e isso já me custou algumas humilhações. 

Contudo, e apesar desta inibição, gosto muito de ver surf, em Peniche ou no Amado, na televisão ou ao vivo. É um desporto saudável e barato, e acho que tem feito muito bem à saúde e à cabeça de muita gente, além de ser um desporto onde Portugal tem, claramente, uma vantagem comparativa.

Agora, uma coisa é surf, outra, completamente diferente, é "aquilo"! "Aquilo" não é uma onda, "aquilo" é uma brutalidade, um desequilíbrio perigoso da natureza. Porque é que alguém se lembrou de surfar "aquilo"?

Aliás, até há um ano, quem é que conhecia o canhão da Nazaré? Sim, quem é que já tinha ouvido falar que em Portugal havia ondas da dimensão daquelas? Qual foi a ideia do americano, porque é que ele cá veio para nos mostrar o que nós não queríamos saber que existia?

É evidente que os nossos surfistas são pessoas equilibradas, nunca se meteram com aquelas ondas. Para quê? Ao contrário do que se possa pensar, eu não acho que a "onda gigante" da Nazaré seja muito boa para nós. Quem vir "aquilo", se por acaso até lhe apetecia fazer surf em Portugal, vai pensar duas vezes. É pá, eu ali não me meto! "Aquilo" é para malucos, é melhor irmos ao Hawaii ou à Austrália, que as ondas lá são mais maneirinhas.

O canhão da Nazaré pode valer a capa do Times, mas é assim como o gajo que se atirou de 30 quilómetros em queda livre. Não faz sentido, é apenas um evento para o Guiness. Querem apostar comigo como ninguém mais se vai meter com aquela onda? Tenho a certeza absoluta que não sou só eu que tenho medo dela...

publicado por Domingos Amaral às 18:02 | link do post | comentar
Quarta-feira, 30.01.13

A RTP2 não pode passar para o cabo?

Se há empresa que anda a baralhar este governo, ela é claramente a RTP. Primeiro, o governo dizia que queria "concessionar" a RTP a privados, um perfeito disparate que não tinha pés nem cabeça. 

Depois, apareceu a mirabolante ideia da privatização parcial, a 49 por cento, outra patetice que só pode ter vindo de uma cabecinha que não percebe nada do assunto. Que sentido fazia entregar a gestão de um canal público a operadores privados que só teriam 49 por cento da empresa? 

Por fim, eis que o governo muda de ideias outra vez, e toca de pôr de lado a privatização, e avançar para uma "reestruturação profunda", que vai custar uma fortuna, fala-se em 45 milhões de euros, e que vai obrigar a RTP a contrair ainda mais dívida junto da banca, para poder custear esses encargos. Ou seja, a coisa ainda nos vai sair mais cara do que já é, o que diz bem da confusão tonta que paira na cabeça dos nossos governantes.

Havia uma solução muito mais simples, fácil e barata. Porque não passar a RTP 2 para um canal apenas no cabo? Dessa forma, vagava um lugar no canal aberta, e uma nova licença podia ser vendida a um operador privado, sendo a receita para o Estado.

A RTP1 mantinha-se como canal aberto e sem publicidade, sendo apenas financiada pela taxa da televisão. 160 milhões por ano é muito dinhero e acho que chega perfeitamente para um canal público. Ora, não havendo publicidade na RTP 1, o mercado publicitário chegava perfeitamente para três operadores (SIC, TVI e a tal terceira licença, referida no parágrafo anterior).

Além disso, no cabo, além da RTP2 podiam existir as outras RTPs que já existem (RTP Informação e RTP Memória), e mesmo mais canais, pois no cabo eles são muito mais viáveis, e podem ter publicidade!

É pena que ninguém pense num modelo desses, que mantinha a RTP1 em canal aberto e do Estado, como quer o CDS e como querem todos os partidos de esquerda; mas permitia a existência de mais um canal privado, como quer o PSD; além de baixar consideravelmente o custo para o Estado, como queremos todos enquanto contribuintes.

Além disso, criava-se mais emprego, pois assim quem tivesse que sair da RTP "reestruturada" podia ir diretamente para o novo canal privado, o que era bom também para os trabalhadores, que assim arriscam ir parar ao desemprego.

Mas, é provável que uma boa solução não seja possível enquanto o senhor Relvas andar por aí...

 

publicado por Domingos Amaral às 14:46 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 29.01.13

Quem tem a melhor defesa é campeão?

Há um velho adágio no futebol que diz o seguinte: "um bom ataque ganha jogos, uma boa defesa ganha campeonatos". Assim sendo, somos levados a concluir que, para ser campeão, mais importante que ter o melhor ataque, é ter a melhor defesa. 

No entanto, não é isso que a estatística mostra. Uma consulta aos resultados do futebol português dá resultados diferentes da máxima atrás referida, e leva-nos a concluir que essa é mais uma ideia feita que não é suportada pelos números.

Em 78 campeonatos nacionais disputados, verifica-se que em 28, o clube campeão teve o melhor ataque e a melhor defesa ao mesmo tempo. Portanto, temos que em 35,8% dos casos, é o campeão que consegue obter melhores resultados simultâneos, tanto a marcar golos como a não os sofrer.

De seguida, verifcamos que em 21 casos, o campeão foi a equipa que teve o melhor ataque, mas não a que teve a melhor defesa. Esta situação explica 26,9% dos casos. Mas, só em 19 campeonatos é que o campeão foi o clube com a melhor defesa, mas não com o melhor ataque. Só em 24,3% dos casos, a melhor defesa garantiu o título a um clube.

Por fim, e por estranho que isso pareça à primeira vista, houve 10 campeonatos que foram vencidos por equipas que não tinham nem o melhor ataque, nem a melhor defesa. São apenas 12,8% dos casos, mas mesmo assim já são alguns. 

A importância desta conclusão é que, pelos vistos, não é mais importante ter uma boa defesa, mas sim ter um bom ataque. Embora exista apenas uma pequena diferença de 2,6% entre os campeões só com melhor ataque e os campeões só com melhor defesa, a verdade é que marcar golos parece ser mais importante do que não os sofrer. 

Por vezes, as ideias feitas não são verdadeiras, nem sustentadas pelas estatísticas.

publicado por Domingos Amaral às 14:52 | link do post | comentar
Segunda-feira, 28.01.13

A "austeridade estruturalista" falhou ou está a resultar?

O título deste post é um bocado estranho, mas é mesmo necessário. Será que a mistura de austeridade com reformas estruturais está a resultar ou, pelo contrário, como dizem os críticos, está a falhar?

Bem, em primeiro lugar, explique-se o que é a "austeridade estruturalista". Este duplo palavrão pretende definir a crença que existe em muitos, europeus e portugueses, que uma mistura entre "austeridade" e "reformas estruturais" era o único caminho para sairmos da crise, europeia e portuguesa.

Como sempre defenderam Merkel, Schauble, Passos Coelho e Gaspar, só com a "austeridade" se recuperava a confiança perdida pelos investidores, e só com "reformas estruturais" se recuperava a competitividade das economias, como Portugal, Grécia e outras.

Mas, será que isto funcionou? Agora que a crise europeia parece ter amainado, e que Portugal já regressou aos mercados para uma primeira emissão de dívida, pode-se mesmo afirmar que a "austeridade estruturalista" deu bons resultados?

Comecemos pela crise do euro, ou crise das dívidas soberanas. Parece já evidente para todos que não foi a "austeridade estruturalista" que acabou com a crise de confiança no euro. Durante três anos, entre 2009 e 2012, a "austeridade estruturalista" não deu resultados, pelo contrário, só agravou a crise do euro. Os problemas começaram na Grécia, mas rapidamente alastraram a Portugal, Irlanda, Espanha e Itália.

Só quando o Banco Central Europeu disse que comprava dívida dos países, é que a crise amansou. E só quando a dívida grega foi perdoada em parte e reestruturada na outra parte, é que a crise do euro chegou ao fim.

Ou seja, e ao contrário da opinião da Alemanha e da Sra Merkel, só quando foi possível a intervenção do BCE e se aceitou o princípio do perdão ou da reestruturação se conseguiram bons resultados. A "austeridade estruturalista" perdeu claramente este combate.

E, na segunda frente de guerra, será que a "austeridade estruturalista" conseguiu vencer o combate? A resposta é não. Todos os países da periferia do euro estão em recessão. Portugal, Grécia, Espanha, Itália, Irlanda, e mesmo França e Alemanha, criaram desemprego e perderam crescimento económico.

Sobretudo na periferia, não há qualquer sinal de que a crise económica esteja a abrandar. A crise financeira de desconfiança pode ter sido ultrapassada, mas a crise económica, o desemprego e a recessão, não acabaram.  

Por um lado, a "austeridade" foi forte demais, por outro as reformas estruturais demoram muito tempo a produzir resultados. Assim, as economias amargam numa anemia desagradável, e o desemprego não pára de crescer.

Por mais que os defensores de Merkel e Passos Coelho queiram cantar vitória, a verdade é que a "austeridade estruturalista" não mostra resultados muito animadores. O que não é novidade. Quem conheça a história económica dos últimos 40 anos, sabe que estes programas de "austeridade estruturalista" deram quase sempre maus resultados. Em 107 intervenções do FMI desde 1970, só 19 correram bem...Pena que ninguém tenha aprendido com a história.

 

publicado por Domingos Amaral às 14:33 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 25.01.13

O FC Porto é o principal candidato ao título?

Agora que estamos precisamente a meio da época, está na altura de fazer um balanço. Quem está melhor, Benfica ou FC Porto?

Por mais que eu quisesse escrever o contrário, é preciso reconhecer que ainda é o FC Porto, e por isso acho que o clube azul é o principal candidato ao título.

As razões são as que passo a enumerar. Vejamos primeiro um indicador importante, a percentagem de vitórias. Chega-se a esse número dando dois pontos a cada vitória e um ponto a cada empate, somando esse total de pontos obtidos, e depois dividindo pelo total máximo que se poderia obter.

O FC Porto realizou 28 jogos, para as quatro competições e Supertaça. Conseguiu 21 vitórias, 5 empates e sofreu 2 derrotas. Ou seja, conseguiu um número total de 47 pontos em 56 possíveis, o que dá uma percentagem de vitórias de 83,9%.  

Já o Benfica realizou o mesmo número de jogos, 28, pois tem mais um na taça de Portugal do que o FC Porto mas não disputou a Supertaça. Conseguiu 20 vitórias, 6 empates e sofreu duas derrotas. Obteve pois 46 pontos em 56 possíveis, o que dá uma percentagem de vitórias de 82,1%, ligeiramente abaixo do FC Porto. 

No campeonato, o Benfica lidera pois tem melhor goal-average, e é o melhor ataque, embora o FC Porto seja a melhor defesa. Porém, o calendário da segunda volta é mais difícil para o Benfica, que tem duas deslocações de elevada dificuldade, a Braga e ao Dragão, enquanto o FC Porto só tem de ir a Alvalade, recendo Braga e Benfica em casa.

Na Europa, o FC Porto foi claramente melhor, pois continua na Liga dos Campeões, enquanto o Benfica caiu para a Liga Europa. Na Taça de Portugal, está melhor o Benfica, que já está nas meias-finais, enquanto o FC Porto foi eliminado. Na Taça da Liga estão iguais, ambos nas meias-finais, embora exista uma possibilidade real do FC Porto ser eliminado, devido a uma alegada irregularidade.

Para além disso, parece-me ainda que, no mercado de Inverno, o FC Porto se reforçou muito, contratando dois bons jogadores, Ismailov e Liedson, enquanto o Benfica vendeu Bruno César e ainda não contratou ninguém.

Acresce que, e como defendo no meu livro, normalmente quem gasta mais em salários é campeão, e o FC Porto tem também aqui uma ligeira vantagem, que deve aumentar depois da chegada dos dois jogadores já referidos.

Portanto, e em balanço, embora o Benfica esteja em quatro competições e à frente do campeonato, o FC Porto está mais forte, seja na percentagem de vitórias total, seja nos salários, seja no reforço do plantel, além de financeiramente ir ganhar mais porque continua na Champions. Por isso, é o mais forte candidato ao título e não me parece que existam razões para Vítor Pereira andar tão nervoso com as arbitragens!

publicado por Domingos Amaral às 16:18 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 24.01.13

Será que os alemães também não gostam dela?

Pouco se falou em Portugal esta semana da estrondosa e inesperada derrota de Angela Merkel e da CDU, este domingo, no estado da Baixa Saxónia. Os admiradores de Merkel estão calados, talvez perplexos, sem perceberem que pelos vistos não é só fora da Alemanha que não gostam da Sra Merkel. 

Infelizmente para todos nós, a sra Merkel esteve três anos a cometer graves erros, e isso prejudicou fortemente a Europa, o euro, e também os pequenos países, como Portugal.

Durante três longos anos, entre 2009 e 2012, a Sra Merkel boicotou sistematicamente, e obrigou a adiar, as soluções da crise do Euro. Não queria um resgate à Grécia, e só o aceitou com condições severas.

Três anos mais tarde, foi obrigada a reconhecer que a Grécia só podia aguentar-se no euro se a sua dívida fosse perdoada. E ainda dizem que ela é inteligente...

E só perante um ultimato dos dois Mários italianos, Draghi e Monti, é que foi obrigada a ceder, e aceitou a possibilidade do Banco Central Europeu comprar dívida dos estados diretamente. Foram precisos três anos para a senhora ver o óbvio. Mal o BCE teve esse poder, a crise do euro acabou.

Por último, Merkel obrigou a que os programas de resgate das "troikas" fossem duríssimos e profundos, e o resultado foi o óbvio: recessões cavadas nos países da periferia, que depois se expandiram a toda a zona euro. Só quando viu a recessão a chegar à Alemanha é que Merkel começou a compreender o mal que tinha feito à Europa. 

Pelos vistos, na Alemanha já há muita gente a perceber que Merkel não resolveu nada, e só piorou a crise. Quem sabe em Setembro os eleitores alemães façam à Europa o grande serviço de a despacharem definitivamente...

Mas, por cá ainda há quem a adore e ache que Merkel foi boa para Portugal e para a Europa. Não se percebe como. Não fossem os Mários italianos, o Monti e o Draghi, e talvez o euro já não existisse. 

publicado por Domingos Amaral às 17:28 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Quarta-feira, 23.01.13

Vítor Gaspar e os Universos Paralelos

Em Portugal, parece-me que existem dois universos paralelos, que quase nada têm a ver um com o outro, e só às vezes se tocam. 

O primeiro é o Universo da Alta Finança, onde reina Vítor Gaspar. Nessa galáxia, hoje foi um dia grande. Portugal voltou a emitir dívida a 5 anos, um feito histórico, e muito antes do que se previa, só lá mais para Setembro. O regresso aos mercados é, naturalmente e com justiça, festejado, e as nuvens negras sobre Portugal parecem estar defintivamente afastadas.

Porém, depois há o Outro Universo, o dos portugueses. Nesse universo, as coisas vão de mal a pior. O desemprego continua a crescer, as empresas não contratam, os impostos não param de subir, as falências não param de aumentar, e todos os portugueses se sentem a viver muito pior, desanimados e sem esperança.

A divergência entre os dois Universos Paralelos é cada vez maior. Enquanto no Universo da Alta Finança a crise geral do euro parece regredir todos os dias; cá em baixo, no Outro Universo, a depressão continua.

Esta cada vez mais aguda clivagem entre os dois Universos é preocupante, e paradoxalmente pode tornar-se um enorme sarilho para este governo. É que, enquanto existia uma crise no Universo da Alta Finança, havia uma grande justificação para as políticas fortíssimas de austeridade que Gaspar implementou. Com o Universo da Alta Finança em aflição, no Outro Universo criou-se uma sensação de inevitabilidade dos sacrifícios, e os portugueses foram aceitando tudo, mesmo o que nunca deviam ter aceite. Mas, era tudo em nome de uma grande causa, a salvação de Portugal no Universo da Alta Finança! Para salvar Portugal nesse planeta, era preciso o Outro Universo contrair, sofrer e penar.

Ora, se a crise acabou no Universo da Alta Finança, se Portugal já é tão bem visto que até já pode emitir dívida nos mercados, como justificar a penúria no Outro Universo? Como vai agora o Governo obrigar o país a tão profundos sacrifícios se no Universo da Alta Finança tudo voltou ao normal?

Esperemos para ver, mas a partir de agora, a ideia de inevitabilidade das políticas de austeridade perdeu grande parte da sua tração. Antes, era uma austeridade 4x4, às quatro rodas, mas agora perdeu a tração atrás e não sei mesmo se não a perdeu também à frente. 

publicado por Domingos Amaral às 14:46 | link do post | comentar
Terça-feira, 22.01.13

Já está tudo bem com os bancos?

Uma pessoa ouve as notícias e até tem dificuldade em perceber. Aparentemente, os bancos estão em grande, e as suas acções sobem vertiginosamente nas bolsas. Ao contrário de quase todos os outros negócios, parece que a alta finança não está a passar por crise nenhuma, o que não deixa de ser curioso.

Enquanto o PIB cai, o desemprego aumenta, os impostos sobem em flecha, as empresas têm quebras de faturação, e as despesas do Estado levam um corte, a banca funciona noutro mundo, e floresce, gloriosa e espetacular. Não tem crédito para dar a ninguém, mas está feliz.

Não é de estranhar. A banca apanhou um susto de morte, primeiro em 2009, e depois em 2011. Já poucos se devem lembrar, mas há cerca de dois anos, ou um ano e meio, os bancos privados portugueses estavam todos praticamente falidos. O BPN tinha implodido, o BPP também, o BCP estava um caco, a Caixa um farrapo, o Banif aos soluços e o BPI de joelhos. Por junto, safavam-se o BES e o Santander, que obviamente não é português e por isso tem uma segurança diferente.

O que aconteceu então? Bem, a Europa ajudou, através dos empréstimos do BCE, e a "troika" também. Podia não haver dinheiro para muita coisa, nem para pagar salários e pensões, mas para ajudar a banca havia sempre dinheiro.

Foram mais de 11 mil milhões de euros que o Estado português, financiado pela troika e pelo BCE, meteu na banca. Ajudas ao BPN, à Caixa, ao BCP, ao BPI e mais recentemente ao Banif. 

Com a mãozinha do Estado a segurá-la por baixo, confortavelmente à mama, a banca aguentou-se, e claro, começou a sair do buraco. Depois, mal a situação europeia desanuviou, não só saiu do buraco como se expandiu e já cresce, com alegria e pujança. Crise, qual crise? Na banca não há crise, nunca houve crise, e a crise dos outros que se lixe, que a nossa já passou!

Cortes na despesa do Estado? Isso é para os outros, para as escolas, os hospitais, as pensões, os subsídios, os funcionários públicos que têm de ser despedidos! Esses que aguentem a austeridade, como dizia o outro!

Agora, para a banca não há cá austeridade, nada disso! A banca é especial, precisa de ser protegida pelo Estado em formol, precisa de ser tratada com carinho e ternura, e ter muitas ajudinhas do Estado não vá algum banquinho aleijar-se, coitadinho. 

publicado por Domingos Amaral às 12:38 | link do post | comentar
Segunda-feira, 21.01.13

A queda de um herói é sempre triste

Durante muito tempo, acreditei fortemente na inocência de Lance Armstrong. O homem era, e para mim continua a ser, um herói. Tudo na história dele me comovia, especialmente a luta contra um cancro nos testículos, que ele vencera, ainda antes de se tornar um campeão da Volta à França.

Desde muito novo que gosto de ciclismo. Acompanhava o relato da rádio, ainda criança, das subidas à Torre, na Volta a Portugal, mas sobretudo das infindáveis montanhas dos Alpes e dos Pirinéus, aquando do Tour. O meu primeiro herói foi, é evidente, Joaquim Agostinho, mas também admirei Hinault e sobretudo Indurian. 

Só que Lance Armstrong parecia um ser de outro planeta, um deus do Olimpo, como só encontrei igual em Maradona, no futebol, e Jordan, no basquetebol. Parecia de outro mundo, completo como só os deuses, estético, poderoso, impressionante. E, pormenor fundamental, parecia-me simpático e cavalheiro, como nunca foi, por exemplo, Schumacher, na Fórmula 1.

O ciclismo é provavelmente o mais duro desporto do mundo. Subir montanhas àquele ritmo é coisa de seres únicos, diferentes do comum dos mortais. Nutro pelos grandes ciclistas uma admiração semelhante à que tenho pelos que atravessam a Mancha a nado, ou pelos exploradores dos Pólos. Parece-me sempre um esforço desumano, uma luta desigual contra as circunstâncias.

Nos últimos anos, o ciclismo tem vindo a destruir-se a si próprio. Já não recordo quantos vencedores de Voltas à França, Giros de Itália ou Voltas à Espanha ou a Portugal, foram desclassificados por "doping". Nem quero saber, o ciclismo parece-me já um mundo demasiado pantanoso para ter a certeza de alguma coisa.

Mas, de uma coisa estou certo. Lance Armstrong pode estar marcado hoje pela desonra e pela vergonha, mas um dia foi um deus, foi grande e por mais que lhe retirem os títulos e as vitórias, ele perdurará na minha memória como eu quero e não como querem os moralistas de hoje.

Para mim, será sempre um herói, e sempre um vencedor. E aos meus heróis eu tendo a desculpar quase tudo. Só não lhes desculpo quando morrem cedo demais, o que não foi o caso.

publicado por Domingos Amaral às 16:47 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 17.01.13

O Nassib vai perdoar a traição?

Para grande pena de muitos portugueses como eu, a Gabriela está a chegar ao fim, e está quase tudo resolvido, quem fica com quem, quem morre e quem vai embora, essas coisas. Só falta o mais importante: será que Nassib vai perdoar a Gabriela?

A história é toda sobre o amor e a liberdade, e o quanto o amor pode ser estragado pela suposta prisão que é o casamento, como Gabriela a sentia. Na verdade, ela ama Nassib, sempre o amou, não sabia era estar casada. A moral da história é essa: o casamento não presta, mais vale viver junto, que as coisas funcionam melhor.

Pois, pode ser, mas também pode não ser. O problema de Gabriela foi ter optado pela traição em vez da revolta dentro do casamento. Casada, ela não sabia como ser feliz, como colocar os seus valores acima dos de Nassib. Foi abafada pela "sociedade", e não conseguiu resistir. Por isso traiu.

Furioso, Nassib desfez-se dela, rejeitou-a, e conseguiu mesmo anular o casamento. Essa foi a sua grande vitória, pois se o casamento não existiu, então ele não era "corno", como se o traído fosse apenas o homem casado. 

Na verdade, trata-se de uma falsa questão. A traição não dói só quando se está casado, dói sempre que se ama. Dói quando somos namorados, dói quando somos casados, e doerá sempre até ao dia em que morrermos, seja qual for o nosso estado civil ou o sexo. 

Mas, será mais fácil às mulheres do que aos homens perdoar uma traição? Há quem diga que sim, eu por exemplo. Para mim, é insuportável como homem a ideia de perdoar uma traição. Pois, mas eu sou homem. Se fosse mulher, provavelmente pensava que era mais difícil para as mulheres.

O que sabemos é que está a ser difícil a Nassib perdoar a traição de Gabriela. Mesmo com ela dentro de casa, a tomar banho nua na banheira, a rir-se para ele, chamando-o com a força do seu sexo, ele tem resistido. Nunca mais, nunca mais, diz. Mas à noite sonha com ela, e chama o nome dela a dormir.

É evidente que ele vai perdoar. Nenhum homem com dois dedos de testa resistia à Juliana Paes nua numa banheira de madeira! Mesmo tendo sido encornado por ela, em Ilhéus é impossível encontrar melhor.

publicado por Domingos Amaral às 18:20 | link do post | comentar | ver comentários (2)
 

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