O ebola da bolsa
Não há nada que os mercados financeiros temam tanto como a desconfiança.
A desconfiança enche as pessoas de receios, temores de perda do seu dinheiro.
Daí ao medo é um pulo, e ao pânico um saltinho.
A desconfiança é o ebola das bolsas, um vírus que parece incontrolável e para o qual ainda não há remédio.
É esse ebola que parece pairar sobre a bolsa portuguesa.
Ontem caiu tudo, aos trambolhões, e até os juros da dívida subiram.
A bolsa ficou vermelha. E nos bancos e no Governo, o sinal voltou ao laranja.
Talvez seja um exagero o que se está a passar.
Roosevelt disse um dia que a única coisa de que devíamos ter medo era do próprio medo.
Estava a falar de guerra, mas podia estar a falar dos mercados financeiros.
Ou de Portugal, nos dias que correm.
Há medo, e esse medo, a sua existência, dá-nos mais medo, e andamos ali às voltas, presos numa espiral de aflição.
Mas convém respirar fundo, contar até dez, acreditar que há nisto uma dose de exagero.
As bolsas, muitas vezes, comportam-se como rebanhos de carneirada.
Para onde vai um, vão todos, e ninguém sabe bem porquê, nem quem é o líder.
E quando assim é, é difícil encontrar uma explicação racional para o que está a acontecer.
A solução "banco bom" e "banco mau" tem virtualidades.
Protege os depositantes, os clientes normais, os activos bons do BES.
Porém, tem dois pontos fracos.
Primeiro, penaliza muito os accionistas, e isso gera desconfiança na bolsa portuguesa.
Se os accionistas podem perder tudo, para quê ser accionista, sobretudo de bancos com problemas?
Este medo gera uma pressão de venda, pois quando o risco de perda sobe, todos querem evitá-lo.
É verdade, mas também é verdade que, na sexta-feira passada, as acções do BES já só valiam 12 cêntimos, quase nada.
A maior perda já tinha acontecido.
O segundo ponto fraco da decisão é a ideia de que serão os outros bancos a ter de resolver o problema do Novo Banco.
Se não for bem privatizado, a um bom preço, são os outros bancos que se chegam à frente e pagam a factura.
Parece injusto, e até um bocado absurdo.
Então são os bancos que nada tiveram a ver com o caso a ter de suportar o imbróglio?
Como, se também eles estão a sair da situação difícil em que estiveram nos últimos anos?
Foi isso que ontem penalizou, e muito, o BCP, o BPI e o Banif.
Também aqui, há que colocar um pouco de gelo na ferida.
Em primeiro lugar, esses não são os únicos bancos a actuar em Portugal.
Existem a Caixa, o Santander, o BBVA, o Deustche, o BIG, e muitas outras instituições financeiras.
O fundo de Resolução inclui todos os bancos, não apenas o BCP, o BPI e o Banif.
E pode até dar-se o caso de os futuros compradores nem serem bancos que hoje actuam em Portugal.
Além disso, é apressado concluir que isto se vai passar depressa.
O mais provável é a reprivatização do Novo Banco demorar algum tempo.
Poderá ser feita em parcelas, mas ninguém acredita que seja rápida.
Dois anos, menos que isso?
Talvez sim, talvez não.
Seja como for, é cedo para penalizar os outros por algo que não se sabe quando, ou como, vai acontecer.