Segunda-feira, 30.09.13

A vitória das esquerdas e a armadilha de Passos Coelho

Ontem, aconteceu o que muitos esperavam. As esquerdas voltaram a crescer, o PSD foi derrotado fortemente, e o CDS aguentou-se bem.

As esquerdas, do PS e da CDU, são quem pode cantar vitória, e pelos vistos a Grândola que se foi ouvindo no último ano, um pouco por todo o país, era um indicador que a CDU estava a renascer.

Se há alguém que pode cantar vitória, são os comunistas, ganharam muitas câmaras e ganharam bem, embora em Lisboa tenham descido.

Também o PS e Seguro são vencedores, muitas câmaras ganhas, maior partido autárquico, essas coisas.

O CDS aguentou-se, fez o "penta" de câmaras, e quem esperava ver Portas como um derrotado, enganou-se redondamente.

A tal crise "Portas", que tanta gente dizia que o iria penalizar, não passou de um mito.

Portas resiste, e até vence no Porto. 

Quanto ao PSD, só não foi uma hecatombe pior porque o PS perdeu câmaras para a CDU, caso contrário teria sido uma catástrofe para Passos.

No entanto, ele é cada vez mais um líder preso nas próprias armadilhas que criou, para si e para o país. 

Há pouco mais de dois anos, Passos vencera as eleições, derrotando Sócrates, e vinha cheio de confiança que ia construir um país novo, liberal e eficiente.

Disse, com convição, que iria para além da "troika", no seu programa de Governo.

Pelos vistos, a cegueira era total.

Passos nunca chegou a perceber o sarilho em se meteu, pois governar nestas condições seria sempre terrível, uma vez que o país iria ser obrigado a brutais sacrifícios por uma Europa de fanáticos da austeridade.

Dois anos e alguns meses depois, o resultado está à vista.

Passos gerou uma brutal crise económica, com um desemprego altíssimo e uma recessão fortísissima, os alimentos para o crescimento das esquerdas e sobretudo da CDU.

Além disso, alienou durante dois anos o PS, ignorando-o e hostilizando-o.

Pelos vistos, quem ganhou com isso foi Seguro, que todos subestimavam, mas está cada vez mais líder do PS.

No meio desta trapalhada toda, Passos desprezou também o CDS de Portas, não o ouvindo, não o amansando, o que levou Portas a deitar a toalha ao chão em Julho.

Os bem pensantes quiseram dar cabo dele, mas o que diz o povo? Portas cresce, é o que diz o povo, ouviram?

Portanto, temos hoje um primeiro-ministro cada vez mais pequenino e frágil.

Passos está na armadilha que criou a si próprio. 

A sua estratégia política, de afrontamento permanente, falhou; e a sua estratégia financeira de austeridade, também falhou.

Resta apenas saber se o falhanço será brutal, com a necessidade de um segundo resgate, ou será menos mau, com o tal programa cautelar.

Isto tinha se ser assim, não havia outro caminho a não ser a austeridade e o afrontamento?

Claro que havia, mas Passos quis ser "liberal" e "firme", e acabou assim, cada vez mais frágil, cada vez mais pequeno, cada vez mais solitário.

E o país, como se safa desta?

Ninguém tem certezas. Ainda há uma pequena margem para evitar o segundo resgate, mas ontem ficou ainda mais estreita.

Como sempre aqui escrevi, a brutal austeridade iria colocar o país numa terrível armadilha, a armadilha da dívida, donde não se consegue sair, e onde há crises e ranger de dentes permanentes.

Esta crise é mais uma, e mais haverão nos próximos tempos...

publicado por Domingos Amaral às 10:32 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 26.09.13

Desta vez, não concordo com o Tribunal Constitucional

Nos últimos tempos, estive de acordo por várias vezes com o Tribunal Constitucional.

Considerei justo que o TC tenha vetado, por duas vezes, os cortes dos subsídios dos funcionários públicos, pois me parecia uma medida desigual, que dividia os portugueses em dois grupos diferentes, sendo uns mais prejudicados que outros. 

Também considerei que a lei da mobilidade estava mal feita, e quebrava um princípio jurídico do Estado, que havia prometido estabilidade a quem assinara um contrato uns anos antes.

Mas, desta vez, no que toca ao Código do Trabalho, não estou de acordo com o TC.

Considerar inconstitucionais medidas que foram aprovadas pelo Governo e pelos parceiros sociais, com a excepção da CGTP, é logo sinal que algo de exagerado se está a fazer. 

Se até a UGT, uma central sindical, considerou que as mudanças eram "aceitáveis", e que faziam sentido numa economia moderna que se quer mais "flexível", é estranho que o TC alinhe pelas interpretações mais radicais do PCP ou do Bloco de Esquerda.

Juridicamente, não tenho habilitações para discutir o tema, mas parece-me pelo que li que a alteração de certas normas, possibilitando o despedimento, não fere nenhum princípio de humanidade ou importantes valores que seja preciso defender.

Infelizmente, e esta é uma leitura política de quem se considera uma pessoa moderada, ao tomar esta decisão o TC fica vulnerável, talvez demais, aos ataques da direita mais radical, que o considera uma "força de bloqueio".

As alterações da lei laboral, recentemente introduzidas, eram já quase consensuais na sociedade, e não valia a pena ter reaberto esta frente de guerra.

Ao fazê-lo, o TC mostra que a leitura ideológica que faz da Constituição é mais profunda do que parecia à primeira vista. 

publicado por Domingos Amaral às 14:38 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 25.09.13

É melhor subir os impostos ou cortar na despesa?

Para a direita, a resposta é simples: é melhor cortar na despesa, pois subir os impostos é sempre mau.

Para a esquerda, a resposta é menos simples: cortar na despesa é mau, e subir os impostos não é grande coisa também. 

E o que nos diz a realidade em Portugal, nos últimos anos?

A verdade é que a estratégia de Gaspar em 2012, com grandes cortes na despesa, sobretudo ao tirar os subsídios de férias e Natal aos funcionários públicos, teve efeitos muito graves.

A recessão foi profunda, o desemprego aumentou bem mais do que se previa, e as receitas fiscais desceram bem mais do que ele desejava.

Por fim, não se conseguiu um bom resultado no deficit, que ficou nos 6 por cento.

Portanto, o corte forte na despesa teve consequências recessivas fortíssimas.

Qual foi a estratégia em 2013?

Bem, como o Governo foi proibido pelo Tribunal Constitucional de repetir o corte dos subsídios, Gaspar viu-se obrigado ao tal "enorme aumento de impostos", sobretudo através do IRS.

E quais são os resultados até agora?

A recessão foi menos forte, o desemprego até já deu sinais de ligeira queda, e as receitas fiscais do IRS subiram muito, mais de 30 por cento, sendo que a previsão do deficit é ainda bastante arriscada. 

Há quem diga que vamos cumprir os 4,5%, e há quem diga que iremos chegar aos 6%.

Pela minha parte, acredito que iremos ficar acima dos 5%, mas não demasiado acima, o que dará um resultado final melhor que o de 2012.

Assim sendo, e comparando os dois anos, parece claro que subir os impostos é mais eficaz do que cortar a despesa.

Os efeitos directos são menos graves, e os indirectos mais positivos. 

Mas, o centro-direita não parece querer reconhecer esta evidência, e já fala em descida de impostos, seja do IRC, seja do IVA. 

Por outro lado, Passos Coelho continua a insistir no corte da despesa, que a "troika" abençoa, pois também ela está convicta de que isso é o necessário.

Por vezes, acho que se confundem crenças com realidades.

Uma coisa são os valores em que acreditamos, e a direita acredita que o Estado deve ser diminuído, que a sua despesa deve ser cortada e que os impostos devem ser baixos.

Outra coisa é a eficácia dessas políticas numa época tão recessiva como a que vivemos, e aí a direita não tem revelado grande lucidez.

Não aceita reconhecer que, nas circunstâncias actuais, se fecha mais depressa o déficit com a subida de impostos do que com o corte na despesa.

Há uma profunda convicção ideológica na direita, hostil ao Estado e ao aumento de impostos, que a impede de ver que, para resolver o problema em que estamos metidos, talvez fosse mais simples subir os impostos do que andar a lutar contra o mundo e as leis, só para dizer que se corta na despesa.

Cortar na despesa sempre foi muito difícil. Não há grandes exemplos de países que o tenham conseguido. 

Gera recessão profunda, gera combates legais, gera instabilidade política, e no final não é tão eficaz como se pensa.

Mas, para este Governo, é mais importante ser fiel às suas crenças do que ser eficaz a atingir metas.

Em vez de economistas e políticos eficazes, temos ideólogos. 

O resultado está à vista. 

A direita deveria talvez aprender que nem sempre o que nós queremos é o que funciona melhor. 

publicado por Domingos Amaral às 14:36 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Terça-feira, 24.09.13

Troika, 1 - Portas, 0

Depois das declarações de ontem de Mário Draghi, presidente do Banco Central Europeu, a guerra pela flexibilização do déficit está, para já, perdida.

Portas e Pires de Lima, bem como Cavaco, os parceiros sociais, muitos economistas e toda a oposição, queriam a subida do déficit para 4,5% ou mesmo mais.

Com isso, ganhavam margem, ou para descer o IRC e o IVA ligeiramente, ou para cortar menos nas pensões e nos salários.

A ideia, perfeitamente legítima e compreensível, era dar mais força à recuperação económica e tentar criar emprego, conseguindo subir o PIB, e assim fazer cair o rácio da dívida sobre o PIB.

Porém, pelo caminho agravava-se o déficit um pouco, o que podia dar uma ideia de fraqueza, e agravar a percepção negativa que os mercados têm de Portugal, fazendo subir as taxas de juro da dívida, e provavelmente arriscar um segundo resgate.

Foi assim que Draghi justificou a recusa do BCE em flexibilizar o déficit.

"Podia causar perturbação", ou "mesmo reacções brutais" nos mercados.

Ou seja, e também é importante que se perceba isso, Portugal não pode flexibilizar o déficit não apenas por razões domésticas, mas sobretudo por razões europeias.

Draghi, como muitos, sabe que a situação financeira na zona euro é instável, e qualquer faísca pode reacender o incêndio que ele conseguiu apagar a partir de Setembro do ano passado.

Com instabilidade na Grécia, em Chipre, em Itália, na Eslovénia, na Espanha, na Irlanda e em Portugal, o BCE não se pode dar ao luxo de mostrar "flexibilidade" com o nosso país.

Contudo, essa dureza, a continuação da austeridade, trará problemas adicionais, e a recuperação da economia do país será mais lenta.

Internamente, nesta primeira pequena batalha contra a "troika", Paulo Portas perdeu, pois as suas teses não vingaram.

Resta saber se isso nos conduz para uma melhor ou pior situação.

Mais austeridade é travagem no crescimento, menos emprego, e por isso também menos receitas fiscais.

Sendo o que os credores exigem, não é nada certo que seja a melhor solução para todos, devedores e credores.

Dois anos de austeridade não melhoraram a situação de Portugal, pelo contrário. Mais do mesmo, são mais problemas parecidos, não menos.

Não é assim que se consegue sair da armadilha da dívida em que muitos países europeus estão.

Mas esta é uma luta desigual. De um lado, Merkel, Draghi, os mercados. Do outro, pequenos países que têm pouca força para fazer vingar as suas ideias.

Não devia haver dúvidas sobre para que lado a balança pende... 

publicado por Domingos Amaral às 11:24 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Segunda-feira, 23.09.13

Portugal, Merkel, e a nossa armadilha da dívida

Portugal está na típica "armadilha da dívida".

Se cortar na despesa para fechar o deficit, causa recessão e desemprego, e a dívida pode aumentar porque o PIB cai.

Se estimular a economia, com descidas de impostos, agrava o deficit e a dívida pode aumentar.

Ou seja, façamos o que fizermos, há sempre algum objectivo que falha.

Ou falha o deficit, ou falha o crescimento, ou falha a dívida.

É a "armadilha da dívida" em todo o seu esplendor. Quanto mais pagamos, mais devemos.

Como sair deste imbróglio?

A "austeridade", tão do agrado de Passos, Gaspar ou Merkel, causou muitos danos, com um desemprego altíssimo e várias crises políticas.

Com isso, ganhou-se alguma credibilidade, mas não se alterou a marcha imparável do crescimento da dívida.

Agora, veio um pouco de crescimento económico, com mais turismo e exportações, mas também isso não impede os juros de subirem.

Há um preconceito contra Portugal, como disse ontem Passos Coelho?

O problema é mais profundo do que esse, infelizmente.

Ao contrário do que muitos têm dito nos últimos anos, dentro do euro não há uma solução nacional para a questão das "dívidas soberanas".

Nem Portugal, nem a Grécia, nem o Chipre, nem a Irlanda, têm capacidade para pagar sozinhos a monumental dívida que contraíram.

Estão presos numa armadilha: emitiram dívida numa moeda que não controlam, e a desconfiança que sobre eles paira é permanente.

Sozinhos, jamais sairão desta prisão.

Desenganem-se os que pensam que a austeridade, as reformas estrurais, ou as exportações vão permitir o crescimento necessário para pagar estas dívidas. Não vão.

Um segundo resgate, ou um programa cautelar, podem ser diferentes do ponto de vista político, mas não são muito diferentes do financeiro.

É mais dinheiro emprestado, com muitas condições, seja pela "troika", seja pelo BCE.

E não nos tira da armadilha.

A única solução é europeia.

Só a Europa, com os seus recursos, e a sua força política, poderá solucionar definitivamente a questão.

Mutualizar a dívida é absorver a dívida dos prevaricadores; mas também é impedir que esses países, no futuro, se endividem mais.

Porém, não parece ser esse o caminho da Sra. Merkel.

A sua vitória de ontem foi retumbante, e histórica. Mas, não chega para governar sozinha.

Mudará Merkel, aliada ao SPD ou aos Verdes; tornando-se mais europeia e menos alemã?

Ou continuará a insistir numa receita que causa muitos danos e não resolve o problema da dívida?

Portugal está no topo da preocupações de Merkel, diz hoje o Wall Street Journal, e pode despoletar mais uma crise do euro.

É tudo verdade, mas Merkel, se quisesse, podia caminhar noutro sentido, menos duro e punitivo.

As soluções nacionais, de sacrifício e "troikas", estão esgotadas.

Não há soluções solitárias, só de conjunto. 

Talvez Passos tenha mesmo de ir lá falar com ela, pedir-lhe compreensão e ajuda. Mas só isso, é insuficiente.

Mais Europa, é o que é preciso.

Caso contrário, irá prolongar-se este ciclo de agonias, com pequenos interlúdios de alívio, como foi este Verão. 



 

publicado por Domingos Amaral às 10:03 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Sexta-feira, 20.09.13

O amor incondicional causa muita estranheza

Eu não conseguia acreditar, quando me contaram. Aliás, ninguém conseguia acreditar.

Como é possível uma pessoa ser traída, enganada, abandonada, substituída por outra pessoa, e ainda continuar a amar?

E como é possível que, quando se dá o reencontro, ainda se seja capaz de suportar as dúvidas da outra pessoa na hora do regresso?

Sim, é possível, por mais que isso nos possa causar uma enorme confusão.

Uma pessoa descobre que o seu amor a anda a trair com outra pessoa, e sofre.

Uma pessoa descobre que o seu amor não só a anda a trair, com está mesmo apaixonada. 

Uma pessoa descobre que a pessoa que a anda a trair vai sair de casa, acabar com o casamento, porque quer ir viver com o seu novo amor.

Uma pessoa passa por isso tudo, a discussão sobre a custódia dos filhos, a saída da outra pessoa da sua vida, a solidão magoada.

Uma pessoa sente-se abandonada, e substituída. 

Uma pessoa, apesar disso tudo, continua a amar, e continua a tentar convencer a outra a voltar, coisa que a outra pessoa não faz.

Não pensa em partir para outra, não tem namoros importantes, não se apaixona por nenhuma outra pessoa que pudesse aliviar a ferida que ficou.

Uma pessoa vive um ano, dois, três, o tempo que for preciso, à espera que a outra relação, na outra casa, falhe.

E então isso dá-se, e cresce finalmente uma esperança. 

Mas, (há sempre um mas em todas as histórias de amor), a pessoa que um dia partiu, viu a sua nova relação falhar não porque tenha deixado de amar, mas porque a deixaram de amar a ela.

Ou seja, volta ao primeiro amor porque foi rejeitada pelo segundo, mas no fundo é esse que queria.

Por isso tem dúvidas.

E a primeira pessoa suporta essas dúvidas, compreende-as, aceita-as, e está disposta a esperar.

Não se importa de ter sido despromivida um dia, de primeiro amor para segundo. E também não se importa de continuar segundo.

Espera, espera sempre, e sempre ama, mesmo depois de todas as traições, enganos e falhas, continua apaixonada por ela.

Será isto o amor incondicional?

Ou será apenas uma submissão, uma terrível falta de autoestima, uma pessoa sem carácter, invertebrada, que engole tudo e nada exige?

Nos nossos dias, valoriza-se o orgulho, a guerrilha, a retaliação, a estratégia manhosa, e ninguém aceita "sair por baixo", todos querem "sair por cima".

Na dúvida, mais vale a sacanagem, pois ninguém confia muito em ninguém.

E ninguém perdoa.

Mas, há gente diferente. Há corações que perdoam tudo, aceitam tudo, amam sempre.

Quanto mais me magoas mais gosto de ti, será isso? 

É tão difícil de compreender quem ama assim, dessa forma perigosa, mas absolutamente límpida e honesta. 

publicado por Domingos Amaral às 10:20 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quinta-feira, 19.09.13

Viva o banco central Americano, o FED!

Ontem, para surpresa de muitos, o banco central americano, o FED, decidiu manter o seu programa de compras de obrigações, injectando mais dinheiro na economia.

Há uns tempos, aquando da sua última reunião, o FED tinha dito que ia reduzir o seu programa de compras, até o terminar totalmente em 2014.

Contudo, os resultados foram muito maus. 

Não só as bolsas começaram a cair a pique, com receio de menos liquidez; como as taxas de juro dos mercados de obrigações começaram também todas a subir.

Até a alemã subiu, e mesmo tendo o BCE (Banco Central Europeu) decidido que ia manter as taxas de juro, por toda a Europa subiram as taxas das obrigações da dívida pública de todos os países.

Além disso, houve crises graves nos mercados emergentes, como a India, e até o Brasil e a China sofreram com a decisão do FED.

Ao contrário do que muitos esperavam, a economia mundial e também a europeia, ainda não conseguem avançar sozinhas, e precisam de estar apoiadas pela política expansionista do FED.

Por isso, e muito bem, o FED voltou atrás na decisão e continua a estimular a economia.

No entanto, na Europa a conversa da "austeridade" mantém-se.

Merkel promete mais do mesmo, Durão Barroso também, e todos concordam que a única saída para a crise são os cortes na despesa do Estado, e uma muito limitada ajuda do BCE, que não compra obrigações como o FED.

A visão europeia para a saída da crise continua desesperadamente agarrada à crença que a redenção dos pecados se obtém com o sacrifício dos devedores.

Se cortamos a despesa, se fizermos "reformas estruturais", a crise vai passar e vamos sair mais fortes, é esse o mantra europeu.

É óbvio que não vamos. Não se vence a "armadilha da dívida" com mais cortes, mais austeridade, nem tão pouco com as exportações.

Ainda bem que, do lado de lá do Atlântico, há quem perceba mesmo de economia, como o FED e Obama.

Em vez de austeridade, ajuda do Estado e do banco central, para recuperar o crescimento e proteger o emprego.

Em vez de abruptos cortes na despesa, apenas uma subida de impostos para os mais ricos, e cortes mais leves, para não criar tanta recessão.

Só os europeus parecem ainda não ter percebido que Estado e economia privada são gémeos siameses.

Cortar num é cortar no outro, diminuir o Estado é diminuir a economia privada.

Assim, só mantendo a ajuda do Estado é que a economia privada pode recuperar.

A América tem feito o oposto da Europa, e a verdade é que está bem melhor! 

publicado por Domingos Amaral às 14:48 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quarta-feira, 18.09.13

O PSD ataca finalmente o FMI!

E, de repente, o partido que sempre disse que iria "além da troika", nas reformas e nas políticas, desata a atacar o FMI!

É verdade: o PSD, em palavras ditas pelo seu porta-voz e vice-presidente, Marco António Costa, defendeu que é preciso "combater a hipocrisia institucional do FMI, que faz proclamações muito piedosas, mas depois revela uma atitude inflexível nas negociações"!

Traduzindo por miúdos, para que todos entendam: o PSD acha que é lamentável e hipócrita o FMI publicar relatórios e documentos onde constata que "as políticas de austeridade foram um erro"; e que "é preciso ir mais devagar no corte nas despesas"; e depois, quando vem a Portugal, como membro da "troika", obriga a medidas cada vez mais duras e não mostra um pingo de flexibilidade nas metas do deficit.

Há aqui várias coisas importantes para notar.

A primeira é que o PSD, partido que sustenta o Governo, foi o grande defensor da necessidade da "troika" vir para Portugal.

Antes das eleições, muitos no PSD exigiam o "resgate internacional" e a "vinda do FMI", julgando eles que o resgate seria um poço de virtudes.

Por calculismo político, para derrotar Sócrates; e por crença ideológica na "diminuição do Estado", o PSD tornou-se o grande aliado da "troika" e do FMI.

Disse mesmo que "iria para além da troika", o que se revelou verdadeiro e ao mesmo tempo desastroso.

Em segundo lugar, é preciso relembrar que, ao longo de quase três anos, o PSD e o Governo nunca defenderam mais "flexibilidade", e Passos chegou mesmo a dizer, orgulhosamente, que Portugal não precisava nem de "mais tempo", nem de mais "dinheiro".

No entanto, os resultados da austeridade foram terríveis, e os vários países a quem foi aplicada a receita das "troikas" afocinharam em recessões muito mais duras do que se previa.

Aos poucos, Europa fora, todos foram percebendo que esta fórmula não estava a dar resultados, mas ninguém quis dizer isso muito alto, para não perder a face.

Honra lhe seja feita, o FMI foi até agora a única instituição que, em vários documentos e relatórios, já reconheceu os graves erros das políticas de austeridade, seja na Grécia, seja em outros países como Portugal.

Contudo, amarrado que está ao BCE e à Comissão Europeia, nas "troikas", e com muito dinheiro enterrado nesses países, o FMI não irá facilitar muito até ao final deste programa de resgate.

É evidente que há uma certa hipocrisia em dizer que se está a fazer mal, e contudo continuar a fazê-lo.

Mas, não haverá maior hipocrisia ainda no PSD, que sempre quis ir além "da troika" e agora se queixa dela?

Este partido, cujo líder é primeiro-ministro há mais de dois anos, e que implementou com convicção todas as medidas, agora vem dizer que é preciso a "troika" mostrar "flexibilidade"?

A verdade é que o PSD está preso no labirinto que criou para si próprio.

Acreditou tanto na troika e na austeridade, que agora que as coisas falharam, tem de arranjar um inimigo novo. 

Dos ataques ao Tribunal Constitucional, por não deixar executar cortes na despesa, passamos aos ataques ao FMI, por não praticar o oposto, deixando a despesa crescer mais! 

Coitado do PSD, está esquizofrénico mas ainda não percebeu. 

publicado por Domingos Amaral às 14:44 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Terça-feira, 17.09.13

Portas é muito mais hábil do que Passos Coelho

Ontem, e pela primeira vez em mais de dois anos, a reunião do Governo com os parceiros sociais correu bem.

No final, com a excepção da CGTP, todos os parceiros sociais alhinharam a uma só voz com o Governo.

UGT, patrões, confederações, num consenso raro, pediram o mesmo que o Governo: a troika deve aceitar um deficit maior para 2014.

A isto chama-se "consenso nacional", e foi isto que muita gente criticou o Governo por não fazer.

Nem Passos, nem Gaspar, nem o pobre Santos Pereira, conseguiram gerar esses consensos, e foram criticados por isso.

Ora, logo na primeira reunião a que presidiu, já com as suas novas funções depois da remodelação de Julho, Paulo Portas conseguiu "o consenso" de forma natural.

E conseguiu-o porque trabalhou para isso acontecer.

Para chegar a um "consenso" é preciso trabalho, cedências, paciência. 

O "consenso nacional" não nasce de geração espontânea, como as ervas ou o sol todos os dias. Dá muito trabalho chegar a um consenso, e é por isso que ele é sempre tão raro e valioso.

Mas, há uma coisa que eu sei: é que para chegar a um consenso não se pode ficar na nossa trincheira ideológica, não se pode ser radical nas posições.

Infelizmente, foi isso que o Governo de Passos e Gaspar sempre foi, radical e inflexível. O resultado foi péssimo, para todos.

Paulo Portas, está visto, tem uma habilidade diferente. 

Não está tão preocupado com ideologia radical liberal, nem com princípios vagos e modelos de Excel. Sabe que, para uma política ser aceite pelas populações, é necessária a participação dos parceiros sociais, o seu envolvimento nas decisões.

E, para isso, contrói unidade, em vez de semear discórdia. 

Como eu sempre aqui disse, Portas pagou um preço alto por ter dado um murro na mesa, mas no fim ganhou, e tem hoje mais poder para influenciar a governação do país.

Pelo que já podemos ver, Portugal só ficou a ganhar com isso.

Pelo menos consenso económico e social já voltámos a ter, e isso a Portas se deve.

publicado por Domingos Amaral às 11:19 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 16.09.13

Se eu fosse um jovem europeu gostava de ser universitário em Portugal

Portugal nunca virá a ser a maior praça financeira da Europa, nem nunca terá a indústria mais forte da União.

Nunca seremos os melhores em carros, medicamentos ou maquinaria pesada.

Mas, há duas faixas etárias em que o nosso país pode ser muito competitivo: na 3ª idade e nos jovens universitários.

Para os mais velhos, o que parece melhor: envelhecer em Portugal ou envelhecer na Alemanha?

Com o nosso clima e a nossa hospitalidade, sem problemas de crime, e com bons hospitais, é muito mais agradável envelhecer em Portugal, do Minho ao Algarve, do que envelhecer na Baviera, ou mesmo nas chuvosas Ardenas.

As pessoas, quando chegam a uma certa idade, querem é "papas e descanso".

E Portugal é um óptimo local para as "papas" (come-se melhor por cá do que na maior parte da Europa), e para os "descansos" (o clima é bom, e a serenidade total). 

Mas, também para os jovens Portugal é bastante atraente.

Preferem estudar em Varsóvia, Praga, Antuérpia ou Lisboa?

Meus amigos, se eu fosse jovem universitário europeu, não pensava duas vezes. 

Portugal é o único país da Europa onde se pode estudar de manhã, fazer surf à tarde e sair à noite para beber um copo. 

As praias são óptimas e não há outra capital europeia que tenha, à distância de uma pequena viagem de carro praias semelhantes ao Guincho, à Ericeira ou à Caparica. 

Além disso, a noite é boa. Sim, já foi melhor, mas o que há é bastante agradável, e as raparigas dançam muito bem.

É pois essencial que se faça uma aposta cada vez mais forte nas universidades, em muitos cursos, desde a engenharia à informática, desde a arquitectura à gestão.

Neste último caso, já estamos muito bem.

Tanto a Católica (onde dou aulas) como a Nova, estão muito bem colocadas nos rankings interncionais, tanto nos MBAs, como nos próprios cursos.

As aulas já são em inglês e muitos dos alunos são estrangeiros.

No meu caso, por exemplo, na cadeira de Sports Economics, do terceiro ano dos cursos de Economia e Gestão, de um total de 35 alunos, 15 ou 16 eram estrangeiros, provenientes de muitos países diferentes.

É uma tendência crescente, e Portugal tem de aproveitar essa vontade que os jovens sempre têm de estudar fora do seu país original. 

A Florida para os mais velhos, e uma Oxfam (Oxford e Cambridge) lusitana para os mais novos!

publicado por Domingos Amaral às 11:50 | link do post | comentar | ver comentários (5)
 

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