Segunda-feira, 16.09.13

Se eu fosse um jovem europeu gostava de ser universitário em Portugal

Portugal nunca virá a ser a maior praça financeira da Europa, nem nunca terá a indústria mais forte da União.

Nunca seremos os melhores em carros, medicamentos ou maquinaria pesada.

Mas, há duas faixas etárias em que o nosso país pode ser muito competitivo: na 3ª idade e nos jovens universitários.

Para os mais velhos, o que parece melhor: envelhecer em Portugal ou envelhecer na Alemanha?

Com o nosso clima e a nossa hospitalidade, sem problemas de crime, e com bons hospitais, é muito mais agradável envelhecer em Portugal, do Minho ao Algarve, do que envelhecer na Baviera, ou mesmo nas chuvosas Ardenas.

As pessoas, quando chegam a uma certa idade, querem é "papas e descanso".

E Portugal é um óptimo local para as "papas" (come-se melhor por cá do que na maior parte da Europa), e para os "descansos" (o clima é bom, e a serenidade total). 

Mas, também para os jovens Portugal é bastante atraente.

Preferem estudar em Varsóvia, Praga, Antuérpia ou Lisboa?

Meus amigos, se eu fosse jovem universitário europeu, não pensava duas vezes. 

Portugal é o único país da Europa onde se pode estudar de manhã, fazer surf à tarde e sair à noite para beber um copo. 

As praias são óptimas e não há outra capital europeia que tenha, à distância de uma pequena viagem de carro praias semelhantes ao Guincho, à Ericeira ou à Caparica. 

Além disso, a noite é boa. Sim, já foi melhor, mas o que há é bastante agradável, e as raparigas dançam muito bem.

É pois essencial que se faça uma aposta cada vez mais forte nas universidades, em muitos cursos, desde a engenharia à informática, desde a arquitectura à gestão.

Neste último caso, já estamos muito bem.

Tanto a Católica (onde dou aulas) como a Nova, estão muito bem colocadas nos rankings interncionais, tanto nos MBAs, como nos próprios cursos.

As aulas já são em inglês e muitos dos alunos são estrangeiros.

No meu caso, por exemplo, na cadeira de Sports Economics, do terceiro ano dos cursos de Economia e Gestão, de um total de 35 alunos, 15 ou 16 eram estrangeiros, provenientes de muitos países diferentes.

É uma tendência crescente, e Portugal tem de aproveitar essa vontade que os jovens sempre têm de estudar fora do seu país original. 

A Florida para os mais velhos, e uma Oxfam (Oxford e Cambridge) lusitana para os mais novos!

publicado por Domingos Amaral às 11:50 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Terça-feira, 15.01.13

Carta de uma jovem portuguesa

Paulo Portas disse recentemente que há muitos sectores da sociedade portuguesa onde impera o desânimo. É bem verdade, e por vezes sinto que esse desânimo é ainda maior entre os jovens e os estudantes, e aqueles que querem trabalhar pela primeira vez e não podem. 

No entanto, por mais desanimados e pessimistas que estejam, os nossos jovens não deixam de pensar, de acreditar e, sobretudo, de amar Portugal. Foi isso que senti quando me foi enviado o texto que aqui deixo para os meus leitores. Foi escrito por uma rapariga de 16 anos, estudante em Tomar, chamada Laura Antunes, e comoveu-me pela lucidez, pela inteligência e pela sensibilidade que mostra. Convido-vos a ler. 

 

Jovens de Portugal 

É muito difícil ser-se jovem responsável nos dias de hoje. É muito difícil passar o dia na escola, estar sentado nas mesas das salas de aula, com atenção à matéria dada e ao mais ínfimo pormenor dito pelos professores, escrever apontamentos nos cadernos, manter o estudo em dia, dar tudo por tudo, semana após semana, teste após teste, para que os resultados sejam melhores. Mas fazemo-lo e continuamos a fazê-lo porque fomos educados aprendendo que serão esses resultados o nosso passaporte para o futuro. No entanto, as pessoas que nos ensinaram a esforçarmo-nos, a dar tudo por tudo, a dar o nosso melhor em tudo o que fazemos, a lutar pelo que queremos alcançar, são as mesmas pessoas que quando nos encontram à mesa de jantar, todos os dias, falam, sem cessar, sobre todas as cargas fiscais a que se vêem constantemente sujeitos. 

Como filhos que somos, percebemos que os impostos e os cortes orçamentais que ultimamente têm crescido em número e em valor, resultam num efeito negativo nas nossas famílias, não só financeira, mas também psicologicamente. Não temos filhos, mas somos crescidos o suficiente para entendermos que o pouco dinheiro que os nossos pais começam a possuir aflige-os, sobretudo, pelo medo que têm de não nos poderem dar o futuro que gostariam. E esse receio é bem fundamentado. A verdade é que se tivermos más notas, mas possuirmos dinheiro, tiramos uma licenciatura, mestrado e, com uma “cunha”, temos emprego bem remunerado ainda antes de acabar o curso. Por oposição, se tivermos boas notas, mas formos da classe média/pobre, o futuro é incerto. Terão os nossos pais dinheiro para suportar propinas, renda e todos os custos que uma ida para a faculdade inclui? Acho que esta pergunta os persegue ainda mais do que o medo de não conseguir alcançar os desejos nos persegue a nós. 

Porém, não existe apenas o problema da faculdade. Ainda que os nossos pais consigam “mover montanhas” e nós consigamos licenciar-nos, onde está o nosso futuro? Onde está um emprego? Onde estão as empresas sedentas do nosso sangue novo? Onde estão as oportunidades para ser agarradas? Onde estão as iniciativas? Onde está o espírito empreendedor? Onde está um governo que incentive os jovens? Onde estão os locais que nos possibilitem pôr em prática tudo o que aprendemos? Onde estão os sítios que nos ofereçam meios para podermos dar asas ao nosso espírito crítico e criativo? Pois é... Não há disto em Portugal. A solução é abandonar o país onde crescemos, onde vivemos, onde fomos educados, que aprendemos a amar como sendo a nossa “casa”, mas que nos expulsa como animais leprosos, alegando não precisar de nós. 

E aqui chegamos ao cerne da questão. O que nos magoa enquanto jovens responsáveis, não é não irmos para a faculdade por os nossos pais não conseguirem fazer milagres e não vermos o dinheiro “cair das árvores”. O que nos magoa não é não ter mil portas abertas à nossa espera assim que somos licenciados. O que nos magoa não é a falta de dinheiro para não podermos comprar a mais alta das tecnologias. O que nos magoa não é termos de pagar cada vez mais para usufruir de bens que deveriam ser gratuitos, por serem indispensáveis ao ser humano. O que nos magoa verdadeiramente é esta sensação de sermos escorraçados pelo nosso próprio país e sentirmos que não temos qualquer utilidade aqui. É triste pensar que temos de sair do nosso Portugal para podermos trabalhar e fazer aquilo que 

sabemos fazer de melhor. Entristece-nos que Portugal só nos dê valor depois de outros países, com os quais não temos qualquer ligação, nos reconheçam como bons profissionais. Sentimo-nos como filhos órfãos, de um pai que nos abandonou. Chegamos a repudiar este Portugal que amamos, mas que não nos ama. 

Apesar de todo o cenário de terror que se avizinha, continuamos a empenhar-nos nos estudos, fazendo de tudo para que o nosso futuro seja, tanto quanto possível, risonho. Não sonhamos com luxo nem com ostentações. Acreditamos sim em vidas dignas, em direitos justos, numa sociedade igual que nos trate a todos da mesma forma, que dê importância a valores do campo psicológico e não do campo financeiro. Afinal, o que nos distingue hoje na sociedade se não o dinheiro? Dá que pensar... As pessoas que aparecem na televisão pedindo aos nossos pais esforços e prometendo que esses sacrifícios resultarão no bem-estar de todos nós, são as mesmas que surgem sempre com roupas das mais prestigiadas marcas, conduzem automóveis do mais alto calibre e têm vidas de muitíssimo elevado custo. Tudo isto à nossa frente. Aos olhos de todos, menos dos que não querem ver. Será isto justo? No século XVIII, lutava-se por sociedades que tratassem todos por igual e a História diz-nos que as Revoluções Liberais conseguiram tal objetivo. No entanto, atualmente, em pleno século XXI, observamos toda uma panóplia de atos que em tudo divergem dos valores de bom senso que aprendemos e que nos continuam a incutir. A nossa pergunta é: porquê? 

Gostávamos de ser úteis no nosso País, gostávamos que nos dessem oportunidades de mostrar o que valemos, gostávamos de ser incentivados a seguir os nossos sonhos e a fazer o que gostamos, gostávamos que nos abrissem portas, pondo de parte a única que, de momento, olha para nós de forma aliciante: a de saída. Gostávamos que olhassem para nós de outra forma, que não generalizassem a nossa geração. Nós existimos e temos uma voz. Nós somos os jovens de Portugal, com o sangue na guelra para lutar contra todos os obstáculos que se colocarem no nosso caminho, com a força e as ferramentas necessárias para erguer um novo Portugal, se, claro, nos derem essa oportunidade. 

Confiamos em ti, Portugal. Temos a esperança que todo o nosso esforço na escola vai ser recompensado por ti. Confia em nós também para te ajudarmos a voltar a ser o Portugal de antigamente, o Portugal das conquistas, o Portugal invejado, o Portugal das grandes glórias. Nós amamos-te Portugal. Ama-nos a nós também. 

Os teus jovens. 

publicado por Domingos Amaral às 16:01 | link do post | comentar | ver comentários (4)
 

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