Quarta-feira, 11.02.15

Champions da semana: Platão-Beethoven e Merkel-Tsipras!

Hoje é o dia do primeiro round do grande Alemanha - Grécia.

Poucos países europeus poderiam proporcionar um combate tão épico, e com tantas ressonâncias históricas e culturais. 

A Grécia, berço da Europa, contra a Alemanha, o país maior e mais rico.

Na cultura, por exemplo, trata-se de um fundamental combate entre a música clássica alemã e a filosofia grega.

Quem foi mais importante para a Europa?

É difícil de dizer, mas os quartos de final de uma liga dos Campeões cultural entre alemães e gregos são entusiasmantes.

 

Imaginem: um primeiro jogo entre a música de câmara de Bach e a Alegoria da Caverna de Platão.

Pela minha parte, é Bach 0 - Platão, 2.

E que tal um Sócrates - Beethoven? O Método Socrático contra a 9ª Sinfonia.

Aposto num Sócrates, 1 - Beethoven, 2.

O terceiro jogo, também ele épico, é entre Mozart e Aristóteles. A Flauta Mágica defronta a Lógica.

É um grande jogo, o mais disputado, mas Aristóteles acabará por vencer nos penalties.

Por fim, temos um Wagner - Xenofonte, onde o alemão ganhará vantagem, vencendo por 4-0, devido à grande cavalgada das Valquírias!

 

Nas meias-finais, teríamos dois grandes combates de Titãs: Platão versus Beethoven e Aristóteles contra Wagner!

Caramba, isto é que seria uma Champions cultural a sério!

Porém, na vida real não teremos alta cultura, mas sim boxe financeiro entre a Alemanha e a Grécia.

Na reunião do Eurogrupo, vão defrontar-se frontalmente o sr. Schauble, ministro das finanças da Alemanha, e o sr. Varoufakis, o responsável pela mesma pasta da Grécia.

 

A assistir, além do mundo inteiro, estarão os outros 16 ou 17 países do euro (não tenho bem a certeza quantos são, há sempre alguém a entrar...), que vão ouvir os argumentos de um lado e de outro, e depois dar pontuações.

Vantagem Schauble, ponto para Schauble, ponto para Varoufakis, grande serviço do grego, punch de direita de Schauble, upppercut, ponto para Schauble, etc. 

Enfim, será apenas o primeiro round, mas há muito tempo que na Europa não se assistia a um combate tão fascinante.

 

E no dia seguinte, o segundo round será ainda mais intenso, com a subida ao ringue de Merkel, a toda poderosa e campeã da Europa durante seis anos consecutivos, e o challenger Tsirpas, cheio de genica e pinta!

Cá estaremos todos, para ver. Merkel versus Tsipras é quase tão emocionante como uma final cultural entre Beethoven e Aristóteles.

Se bem que, se fosse um Platão-Wagner, era outra loiça, outro gabarito! 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:33 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Segunda-feira, 09.02.15

O Syriza e os deuses gregos

Ontem, enquanto esperava pelo derby, revi o filme "Tróia", que passou na RTP 1.

De repente, dei por mim a pensar nos deuses gregos, na mitologia antiga, e se ela nos pode ajudar neste momento de crise entre a Grécia e a Europa.

Irá Zeus apoiar Alexis Tsipras, como fez com Aquiles e Agamêmnon, possibilitando a queda de Tróia?

 

Quem será Varoufakis nesta história?

Pátrocolo, o amigo de Aquiles? 

Varoufkis mais pinta que isso, com aqueles casacos negros, tipo Manchester nos anos 90.

E também não creio que ele se vá disfarçar, como Pátrocolo fez, o que levou Heitor a matá-lo por engano, pensando que era Aquiles.

Não é provável que Varoufakis coloque uma peruca, e ainda menos que Schauble mate alguém, sobretudo por engano.

 

Mais importante ainda, é saber qual o calcanhar de Aquiles da Grécia no presente.

Aquiles era um guerreiro fabuloso, pois a sua mãe mergulhara-o na água de um rio mágico.

Só que a pobre mãe pegara-o por um dos calcanhares, que por isso não conseguiu molhar, e Aquiles ficou vulnerável nesse ponto. 

Bem, a Grécia actual não é nenhum Aquiles, forte e invulnerável, pois está cheia de problemas.

Mesmo assim, tem um calcanhar frágil.

Os bancos, de onde o dinheiro foge, são o elo mais fraco do país, e pode ser por aí que a Grécia se vá perder.

 

 

Mas, atenção: antes de ser morto, Aquiles matou Heitor! 

E, pelo caminho, os gregos destruíram a orgulhosa Tróia!

Será a saída da Grécia do euro o principio do fim da União monetária?

Toda a gente acha que não, os gregos que se lixem, nós continuamos sem eles, é o que se diz em Berlim.

Pois...Também ninguém acreditava que Tróia ia cair e foi o que se viu. 

Embora, convém lembrar, a guerra tenha durado dez anos...

Como ainda só vamos em quinze dias, temos tempo.

 

E terão Tsipras e Varoufakis na manga um cavalo de Tróia, com que iludam a Europa?

A ideia, ao que parece, terá sido de Ulisses, o rei de Ítaca e protagonista da Odisseia, que se diz ter dado o nome à cidade de Lisboa. 

Ligações a Portugal, ajudando os gregos? Com o que tenho ouvido dizer ao nosso governo, o Ulisses vai ser outro.

O mais provavel é aparecer um aliado vindo da Rússia, para a Grécia minar a Europa.

Tsipras pode sempre pedir dinheiro a Putin, o que deixaria a Europa muito irritada.

Contudo, esse seria um cavalo de Tróia um bocado burro. 

 

E será a bela Helena de Tróia alguma ministra do Syriza, que nós por agora ainda desconhecemos?

A pobre Helena apaixonou-se por Páris, que a roubou ao marido grego, o zangado Menelau.

Foi por isso que a guerra começou, e que os gregos se enfureceram com os troianos. 

Contudo, por mais que a gente puxe pela imaginação, não se vê nenhuma Helena na jogada.

Mulheres por quem valha a pena matar e morrer?

Nada disso: a querela entre a Europa e a Grécia não tem paixões dessas.

É sobre dinheiro, nada mais. Dívidas e coisas assim. 

 

Merkel, Hollande, Draghi, não estão à altura de um Heitor, de um rei Príamo, de uma Afrodite!

Merkel como deusa do amor é uma visão verdadeiramente horripilante!

E mesmo Tsipras e Varoufakis, ainda terão de penar muito para chegarem perto de um Ajax, já para não falar nos mirmidões ou em Aquiles. 

A verdade é que é difícil gerar heróis mitológicos com deficits orçamentais e dívidas públicas, essa é que é essa.

Um futuro Homero terá enormes dificuldades para escrever uma nova Ilíada. 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:02 | link do post | comentar
Sexta-feira, 06.02.15

David contra Golias, ou o Syriza contra uma hidra europeia com muitas cabeças

A luta entre o Syriza e a Europa é uma espécie de David contra Golias.

De um lado está um partido que nem sequer teve a maioria absoluta dos votos nas eleições, e que governa agora um país pequeno, que vale cerca de 2,5% da economia europeia. 

Do outro está uma hidra de muitas cabeças: a troika, o BCE, a Comissão Europeia, o FMI, a Alemanha, o Eurogrupo onde estão representados os outros 17 países do euro, etc. 

Não seria de esperar que o David, em menos de duas semanas, conseguisse obter grandes vitórias, e muito menos aquilo que defendeu em campanha eleitoral, onde na Grécia, tal como cá, se dizem muitas coisas só para ganhar!

 

Passos Coelho, por exemplo, na campanha eleitoral prometeu acabar com a austeridade, não descer salários nem pensões, e não aumentar os impostos. Depois, fez tudo ao contrário.

Para ganhar as eleições, diz-se muita coisa, e o Syriza fez o mesmo: perdão da dívida grega, fim da austeridade, subida geral dos salários, etc. 

Portanto, há sempre que dar um desconto nestas coisas: o que se diz em campanha, serve para tomar o poder. Depois, há que perceber o que se pode ou não fazer.

 

É pois normal que, ao longo destas primeiras duas semanas, o Syriza tenha anunciado algumas medidas que quer levar à prática (subida do salário mínimo, suspensão de duas privatizações, etc), e ao mesmo tempo deixado cair pelo menos uma das suas bandeiras, o perdão de metade da dívida grega. 

Isso só mostra que, apesar de querer mudar algumas políticas internas, o Syriza tem flexibilidade para compreender que não pode pedir loucuras aos seus parceiros europeus, nem subverter todas as regras da União.

 

Para já, parece-me que o Syriza marcou pontos na operação de charme que fez em várias capitais europeias. Em Londres, Paris, Roma, conseguiu algumas declarações simpáticas dos governantes locais. 

É verdade que na Alemanha não foi assim, mas também ninguém esperava que Schauble o recebesse com palmadinhas nas costas e de braços abertos.

 

Já quanto ao BCE o caso fia mais fino. 

A decisão do BCE em deixar de aceitar a dívida grega como colateral foi um golpe sério nas intenções do Syriza, aumentando o perigo de não existir acordo.

Porém, logo no dia seguinte, talvez com um pouco de sentimento de culpa, e certamente com vontade de não lançar demasiadas achas para a fogueira, o BCE fez saber que a ajuda de emergência aos bancos gregos pode ser usada, e há 60 mil milhões à disposição para qualquer eventualidade. 

Ou seja, deu um golpe forte, mas 24 horas depois tentou suavizá-lo. 

 

Como seria de esperar numa negociação entre um David e um Golias, ou mesmo vários Golias, é óbvio que o Syriza terá sempre muitas dificuldades, mas não me parece de todo impossível que possa existir um acordo entre todos.

É claro que o Syriza terá de ceder em algumas áreas, mas se conseguir uma folga para esbater a austeridade interna, se conseguir acabar com a instituição "troika", negociando diretamente com as partes, e se conseguir uma extensão dos prazos de pagamento da dívida, já será um bom feito.

 

É preciso recordarmos que este é apenas o início de um longo processo de negociações, um processo que não termina com o primeiro passo, um acordo para o programa de assistência, mas que se vai prolongar por vários meses, ou mesmo anos.

É evidente que este momento inicial é importantíssimo, mas é apenas a primeira de muitas batalhas, e não julgo que se vá poder dizer que o Syriza foi derrotado ou vencedor. 

Na Europa, as negociações são permanentes, não uma questão de tudo ou nada. 

Como dizem os chineses, uma longa jornada começa com o primeiro passo.

Se o Syriza conseguir que a Europa dê um primeiro passo em direção a uma mudança de políticas, já será muito bom.

publicado por Domingos Amaral às 11:13 | link do post | comentar
Segunda-feira, 02.02.15

E se o Syriza conseguir ajudar Portugal?

Em toda a Europa, Portugal e Espanha são os dois países que estão mais alinhados com a linha dura de Merkel.

Tanto Passos Coelho como Rajoy já fizeram saber que não querem ouvir falar em conferências sobre a dívida ou sobre o fim da austeridade.

Faz sentido esta linha tão dura?

 

É compreensível que quem passou mais de três anos a defender as suas políticas não queira mudar.

Além disso, há alguns resultados positivos, seja em Espanha, seja em Portugal.

Tanto num caso como no outro, há pequenos aumentos do crescimento económico, e uma pequena descida do desemprego.

Os bancos espanhóis e portugueses estão hoje um pouco melhor, e as exportações também se vão aguentando.

Mas talvez a razão seja outra: em ambos os países vai haver eleições depois do Verão.

 

Entende-se pois que Passos e Rajoy tenham escolhido a linha dura, e estejam contra o Syriza.

A vontade de alterar regras, acabar com a austeridade, ou discutir a questão das dívidas soberanas, é uma afronta para quem tanto defendeu essas políticas, tanto as praticou, e agora vê alguns sinais positivos.

Tanto Passos como Rajoy vão lutar com unhas e dentes pela sua estratégia, que eles julgam vencedora, e tudo o que não querem é que a Europa lhes tire o tapete a uns meses das eleições.

 

Porém, talvez fosse inteligente não ser tão radical, pois há sinais de que as coisas na Europa estão a mudar.

Por mais que se diga que os alemães não querem ceder, há outros intervenientes que defendem uma linha mais suave.

França, Itália e Irlanda já deram sinais de maleabilidade.

Junker, este fim de semana, levantou a possibilidade de a "troika" acabar, uma das imposições mais simbólicas do Syriza.

Também Obama se pronunciou contra a austeridade.

Embora no governo alemão Schauble faça de "polícia mau", as palavras de Merkel (o "polícia bom") não foram demasiado violentas, e fazem crer que se podem aceitar algumas mudanças.

 

A negociação entre a Grécia e a Europa ainda agora está a começar, e é por isso que me parece que a linha dura de Passos e Rajoy é um pouco prematura. 

Até porque, se o Syriza conseguir convencer a Europa de uma estratégia alternativa à austeridade para aplicar na Grécia, ou mesmo de um alívio na questão da dívida pública, isso é bom para os interesses de Portugal.

 

Ser muito definitivo, recusando qualquer mudança, faz sentido para tentar vencer eleições, mas pode não ser a estratégia que melhor serve o interesse nacional.

Portugal e Espanha podem beneficiar muito das lutas do Syriza, mesmo que os seus primeiros-ministros, por calculismo eleitoral ou fervor ideológico, não o queiram admitir. 

 

publicado por Domingos Amaral às 12:42 | link do post | comentar | ver comentários (4)
 

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