Quarta-feira, 16.01.13

Passou a tempestade no euro...

Como nas últimas semanas já vieram dizer Draghi, Lagarde ou Durão Barroso, a crise financeira de confiança no euro parece ultrapassada.

E como eu sempre aqui escrevi, essa crise terminaria no dia em que se dessem duas garantias. A primeira era a de que o BCE podia comprar dívida dos Estados, e a segunda era que a Grécia não saía do euro, mesmo que para isso precisasse de ver a sua dívida perdoada, ou reestruturada. 

Se a Europa tivesse feito isso logo em inícios de 2010, a grave crise do euro não teria acontecido, e se calhar Portugal nunca teria precisado de um resgate da "troika". Contudo, foram precisos três longos anos para a Europa reconhecer o óbvio. 

Só em Junho de 2012, uma primera declaração de Draghi, a dizer que "tudo faria para salvar o euro", começou a acalmar os mercados, e viram-se as primeiras descidas nas taxas de juro. A segunda vaga de descida iniciou-se em Setembro, quando o BCE aprovou a compra de dívida dos Estados (apesar da oposição da Alemanha). E a terceira vaga de descida, a que mais beneficia Portugal, deu-se logo após a decisão de reestruturar a dívida da Grécia. 

Infelizmente para todos os europeus, foram necessários 3 longos anos para convencer os alemães de que esta era a única saída, e que só assim se salvaria o euro. Durante 3 anos, a Sra Merkel e o Bundesbank resistiram a todas as mudanças, convictos que só a austeridade fiscal chegaria para resolver uma crise que era sobretudo de confiança.

Primeiro recusaram os resgates, depois recusaram os fundos de estabilização europeus, e depois ainda tentaram recusar a possibilidade do BCE intervir e a união bancária. Porém, o resto da Europa conseguiu convencê-los que a austeridade, sozinha, não resolvia nada.

Infelizmente, esta cegueira alemã obrigou alguns pequenos países, como Grécia, Portugal e Irlanda, a sofrerem muito mais do que era necessário. Só quando a crise ameaçou a Espanha, a Itália, e até um pouco a França, é que os alemães tomaram juízo e se renderam às evidências.

Os planos forçados de austeridade, impostos pelas "troikas" aos pequenos países da Europa, são filhos desta teimosia e desta cegueira germânica. Já toda a gente percebeu que foram exagerados, na profundidade e na rapidez dos ajustamentos exigidos. Geraram recessões cavadas, desemprego altíssimo, instabilidade social e política, e não foram eles que resolveram a crise do euro, mas sim o BCE.

Estes 3 anos de fúria austeritária deixaram a Europa mais enfraquecida. Como Juncker disse, na hora da despedida, a Europa foi bruta com os fracos, não resolveu o drama do desemprego e foi pouco solidária.

Além disso, a crise geral do euro pode ter chegado ao fim, mas a crise específica desses países não chegou. Na Grécia, na Irlanda, em Espanha, em Portugal, continua um sofrimento desnecessário. Até quando?

Até quando demorarão os poderosos da Europa a perceber que, para resolver uma crise financeira que podia ter sido resolvida facilmente pelo BCE, geraram crises económicas prolongadas que não sabem como resolver?

Em Portugal, no meio da recessão, o Governo quer cortar mais 4 mil milhões de euros de despesa, cerca de 2,5 por cento do PIB. Pior precipício orçamental não há. Até quando esta gente continuará cega? Será que é com 1 milhão de desempregados que se pagam as dívidas do país? 

publicado por Domingos Amaral às 15:34 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 15.01.13

Carta de uma jovem portuguesa

Paulo Portas disse recentemente que há muitos sectores da sociedade portuguesa onde impera o desânimo. É bem verdade, e por vezes sinto que esse desânimo é ainda maior entre os jovens e os estudantes, e aqueles que querem trabalhar pela primeira vez e não podem. 

No entanto, por mais desanimados e pessimistas que estejam, os nossos jovens não deixam de pensar, de acreditar e, sobretudo, de amar Portugal. Foi isso que senti quando me foi enviado o texto que aqui deixo para os meus leitores. Foi escrito por uma rapariga de 16 anos, estudante em Tomar, chamada Laura Antunes, e comoveu-me pela lucidez, pela inteligência e pela sensibilidade que mostra. Convido-vos a ler. 

 

Jovens de Portugal 

É muito difícil ser-se jovem responsável nos dias de hoje. É muito difícil passar o dia na escola, estar sentado nas mesas das salas de aula, com atenção à matéria dada e ao mais ínfimo pormenor dito pelos professores, escrever apontamentos nos cadernos, manter o estudo em dia, dar tudo por tudo, semana após semana, teste após teste, para que os resultados sejam melhores. Mas fazemo-lo e continuamos a fazê-lo porque fomos educados aprendendo que serão esses resultados o nosso passaporte para o futuro. No entanto, as pessoas que nos ensinaram a esforçarmo-nos, a dar tudo por tudo, a dar o nosso melhor em tudo o que fazemos, a lutar pelo que queremos alcançar, são as mesmas pessoas que quando nos encontram à mesa de jantar, todos os dias, falam, sem cessar, sobre todas as cargas fiscais a que se vêem constantemente sujeitos. 

Como filhos que somos, percebemos que os impostos e os cortes orçamentais que ultimamente têm crescido em número e em valor, resultam num efeito negativo nas nossas famílias, não só financeira, mas também psicologicamente. Não temos filhos, mas somos crescidos o suficiente para entendermos que o pouco dinheiro que os nossos pais começam a possuir aflige-os, sobretudo, pelo medo que têm de não nos poderem dar o futuro que gostariam. E esse receio é bem fundamentado. A verdade é que se tivermos más notas, mas possuirmos dinheiro, tiramos uma licenciatura, mestrado e, com uma “cunha”, temos emprego bem remunerado ainda antes de acabar o curso. Por oposição, se tivermos boas notas, mas formos da classe média/pobre, o futuro é incerto. Terão os nossos pais dinheiro para suportar propinas, renda e todos os custos que uma ida para a faculdade inclui? Acho que esta pergunta os persegue ainda mais do que o medo de não conseguir alcançar os desejos nos persegue a nós. 

Porém, não existe apenas o problema da faculdade. Ainda que os nossos pais consigam “mover montanhas” e nós consigamos licenciar-nos, onde está o nosso futuro? Onde está um emprego? Onde estão as empresas sedentas do nosso sangue novo? Onde estão as oportunidades para ser agarradas? Onde estão as iniciativas? Onde está o espírito empreendedor? Onde está um governo que incentive os jovens? Onde estão os locais que nos possibilitem pôr em prática tudo o que aprendemos? Onde estão os sítios que nos ofereçam meios para podermos dar asas ao nosso espírito crítico e criativo? Pois é... Não há disto em Portugal. A solução é abandonar o país onde crescemos, onde vivemos, onde fomos educados, que aprendemos a amar como sendo a nossa “casa”, mas que nos expulsa como animais leprosos, alegando não precisar de nós. 

E aqui chegamos ao cerne da questão. O que nos magoa enquanto jovens responsáveis, não é não irmos para a faculdade por os nossos pais não conseguirem fazer milagres e não vermos o dinheiro “cair das árvores”. O que nos magoa não é não ter mil portas abertas à nossa espera assim que somos licenciados. O que nos magoa não é a falta de dinheiro para não podermos comprar a mais alta das tecnologias. O que nos magoa não é termos de pagar cada vez mais para usufruir de bens que deveriam ser gratuitos, por serem indispensáveis ao ser humano. O que nos magoa verdadeiramente é esta sensação de sermos escorraçados pelo nosso próprio país e sentirmos que não temos qualquer utilidade aqui. É triste pensar que temos de sair do nosso Portugal para podermos trabalhar e fazer aquilo que 

sabemos fazer de melhor. Entristece-nos que Portugal só nos dê valor depois de outros países, com os quais não temos qualquer ligação, nos reconheçam como bons profissionais. Sentimo-nos como filhos órfãos, de um pai que nos abandonou. Chegamos a repudiar este Portugal que amamos, mas que não nos ama. 

Apesar de todo o cenário de terror que se avizinha, continuamos a empenhar-nos nos estudos, fazendo de tudo para que o nosso futuro seja, tanto quanto possível, risonho. Não sonhamos com luxo nem com ostentações. Acreditamos sim em vidas dignas, em direitos justos, numa sociedade igual que nos trate a todos da mesma forma, que dê importância a valores do campo psicológico e não do campo financeiro. Afinal, o que nos distingue hoje na sociedade se não o dinheiro? Dá que pensar... As pessoas que aparecem na televisão pedindo aos nossos pais esforços e prometendo que esses sacrifícios resultarão no bem-estar de todos nós, são as mesmas que surgem sempre com roupas das mais prestigiadas marcas, conduzem automóveis do mais alto calibre e têm vidas de muitíssimo elevado custo. Tudo isto à nossa frente. Aos olhos de todos, menos dos que não querem ver. Será isto justo? No século XVIII, lutava-se por sociedades que tratassem todos por igual e a História diz-nos que as Revoluções Liberais conseguiram tal objetivo. No entanto, atualmente, em pleno século XXI, observamos toda uma panóplia de atos que em tudo divergem dos valores de bom senso que aprendemos e que nos continuam a incutir. A nossa pergunta é: porquê? 

Gostávamos de ser úteis no nosso País, gostávamos que nos dessem oportunidades de mostrar o que valemos, gostávamos de ser incentivados a seguir os nossos sonhos e a fazer o que gostamos, gostávamos que nos abrissem portas, pondo de parte a única que, de momento, olha para nós de forma aliciante: a de saída. Gostávamos que olhassem para nós de outra forma, que não generalizassem a nossa geração. Nós existimos e temos uma voz. Nós somos os jovens de Portugal, com o sangue na guelra para lutar contra todos os obstáculos que se colocarem no nosso caminho, com a força e as ferramentas necessárias para erguer um novo Portugal, se, claro, nos derem essa oportunidade. 

Confiamos em ti, Portugal. Temos a esperança que todo o nosso esforço na escola vai ser recompensado por ti. Confia em nós também para te ajudarmos a voltar a ser o Portugal de antigamente, o Portugal das conquistas, o Portugal invejado, o Portugal das grandes glórias. Nós amamos-te Portugal. Ama-nos a nós também. 

Os teus jovens. 

publicado por Domingos Amaral às 16:01 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 14.01.13

Só os burros falam de arbitragens?

Grande jogaço, ontem na Luz, onde fui com o meu filho Duarte. Quinze minutos de pura loucura. Assim o futebol vale a pena, dá espetáculo e entretem as pessoas, no estádio e na televisão. Só foram estranhas certas declarações no final, mas como disse Pinto da Costa há tempos, só os burros falam de arbitragens... 

Foi pena o Benfica ter dado tantas facilidades. No primeiro golo do FC Porto, logo aos 7 minutos, houve uma desatenção geral, e a bola acabou dentro da baliza. Depois, o Benfica empenhou-se e empatou dois minutos depois, num golão de Matic, e numa grande jogada da equipa. (Mas só os burros falam de arbitragens...)

Só que era o dia das borlas na Luz. Artur oferece o golo ao FC Porto, num erro tremendo. E lá tem o Benfica de se empenhar outra vez, desenhando mais uma boa jogada, e empatando aos 16 minutos. (Mas só os burros falam de arbitragens...)

Com pouco mais de um quarto de hora de jogo, parecia que ia acontecer um resultado histórico. Contudo, acho que o FC Porto percebeu que não valia a pena marcar mais golos, pois o Benfica irritava-se e conseguia sempre empatar, e então a equipa azul deixou de procurar a vitória. Entre os vinte e os noventa minutos, acho que o FC Porto deve ter rematado uma ou vez à baliza. (Mas só os burros falam de arbitragens...)

Infelizmente, o treinador Vítor Pereira, em vez de nos ter explicar a falta de ambição azul, lançou-se num enorme choradinho, fazendo um melodrama por causa das arbitragens. E logo a seguir, o presidente Pinto da Costa falou também do mesmo tema. (Então não eram só os burros que falavam de arbitragens?) 

Em dez anos, deve ter sido a primeira vez que Luís Filipe Vieira venceu o bate-boca com o presidente do FC Porto. Quando lhe perguntaram o que tinha a dizer sobre as declarações do treinador e do presidente do FC Porto, tão inflamadas, ele respondeu com ironia: "o presidente do FC Porto disse, há uns dias, que só os burros falam de arbitragens, por isso..." Calou-e, e fez muito bem, e marcou pontos na minha consideração. 

Aliás, acho que essa frase de Pinto da Costa devia ser a máxima futebolístico de 2013. Um cartaz devia ser colocado em todos os balneários dos clubes, e em todas as sedes, dizendo: "SÓ OS BURROS FALAM DE ARBITRAGENS". Podia ser que assim as pessoas começassem a aprender...

Voltando ao clássico, depois das emoções, é natural que tenha acabado empatado. Benfica e FC Porto estão muito próximos este ano, tanto em despesas com salários, como em percentagens de vitórias.

Em 27 jogos, em todas as competições, o FC Porto venceu 20, empatou 5 e perdeu 2. Tem uma percentagem de vitórias de 83, 3 por cento. Já o Benfica, fez 26 jogos, tem 18 vitórias, 6 empates e duas derrotas, o que dá uma percentagem de vitórias de 80 por cento. Ou seja, estão muito iguais, e é pois natural que o resultado tenha sido um empate. Mas, enfim, hoje fala-se de outras...burrices!

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 09:45 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Sexta-feira, 11.01.13

Viagens dentro de um supermercado

Adoro supermercados. Adoro o ritual de empurrar o carrinho, depois de meter a moedinha, e passear pelos corredores carregados de produtos e bens. Não sei bem explicar porquê, mas os supermercados provocam-me bem estar psicológico, ao contrário das outras lojas mais pequenas, de que não sou grande fã. 

Num supermercado, além de haver coisas boas, que apetece comer ou beber num segundo, há normalmente bastante espaço, excepto no Pão de Açúcar das Amoreiras, que apesar de muito bem fornecido de bens e de pessoas, é um bocado atarracado, tal como alguns Pingos Doce lisboetas. 

Como uma vez aqui já escrevi, o meu supermercado de férias é o Intermarché. Mas, no dia a dia, durante alguns anos abasteci-me no El Corte Inglés, só porque estava mesmo ao lado do meu trabalho na Cofina, e dava bastante jeito.

Sim, eu sei que é mais caro, e principalmente por isso desde há mais de um ano mudei de poiso, e passei a frequentar com mais regularidade o Jumbo do Alegro, para as compras por atacado, e o Dia em frente ao estádio do Restelo, para as eventualidades.

É evidente que este último é o mais barato, mas tem o inconveniente de não ter tudo o que eu preciso para abastecer uma casa onde vivem dois adultos, quatro crianças e dois cães. Portanto, o Jumbo é agora o meu parque de diversões preferido.

Já tenho gravado um mapa do caminho do meu GPS (Grande Passeio no Supermercado). Primeiro começo pelas frutas e legumes, depois vou ao pão e às tostas, continuo para os frangos, perus e outras carnes, passo pelos queijos e fiambres, e entro então na magnífica zona das docas.

A zona das docas é formada por vários corredores onde se pode parar o barco e dar uns mergulhos nas prateleiras sem grandes dramas. Há a doca do leite, a doca dos congelados, dos açúcares e das bolhachas, das massas, dos molhos, dos arrozes, das batatas, das bebidas, etc.

Depois de navegar por entre elas, e de encher o carrinho a mais de meio, regresso ao rio central, o Jumboriver. Para trás, fica toda uma vasta zona que nunca visitei, a que eu chamo a Forest Jumbo, onde me recuso a ir, pois não preciso de roupas, madeiras, coisas para o jardim, mobílias, sei lá mais o que por lá há.

Portanto, dou aos remos no rio central e investigo mais docas, desta vez as do lado direito. É aí que se descobrem as fraldas, os dodots, as pastas de dentes, os detergentes, os guardanapos de papel e os papéis higiénicos, e muitas outras coisas necessárias para a lida da casa. Por fim, mesmo antes de apontar à caixa, passo pelos ovos, iogurtes e manteigas.

Se há coisa que aprendi é a olhar para os preços. Durante muitos anos, comprava quase por impulso, sem olhar. Se me apetecia salmão comprava, se me apetecia profiteroles também. Agora, investigo tudo com minúcia. Estou atento às promoções, contabilizo as doses, calculo o que preciso, e só levo o que é mesmo essencial. Os tempos não estão para despesas superfluas, e mesmo sendo um prazer ir ao supermercado, poupam-se muitos euros se andarmos de olho vivo. 

 

publicado por Domingos Amaral às 16:15 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 10.01.13

Já começou a revolução neoliberal?

Odeio revoluções. São precipitadas, causam enormes sofrimentos, e só servem para atrasar o desenvolvimento económico dos países. Se as revoluções fossem boas, o Haiti era riquíssimo. E não me interessa a cor delas. Não tenho pachorra para cravos, vermelhos ou brancos. 

Em 1975, já tivemos um PREC (Período Revolucionário em Curso) de esquerda. E agora parece que iremos ter um PREC de direita. O relatório do FMI, se for levado à prática, provocará uma revolução no país. Tão profunda e precipitada como a que tivemos em 1974 e 75, só que de sinal contrário.

É importante relembrar que o PREC de esquerda foi uma tragédia. Nacionalizou milhares de empresas, paralizou a banca, degradou a economia, e deu exagerados poderes, e direitos, aos trabalhadores. Com ele, Portugal perdeu anos de desenvolvimento.  

Agora, está em preparação um PREC de direita, um PREC neoliberal, tão utópico e precipitado como o anterior. Milhares de funcionários públicos para a rua, 20 por cento é o número avançado pelo FMI! Cortes drásticos nos salários, mudanças violentas na função pública, na educação, na saúde. Um arraso no Estado, que para os neo-liberais é o grande Satanás!

É evidente que há importantes diferenças entre os dois PREC. O PREC de esquerda atacou os bancos, os ricos, os industriais, os grupos económicos. Já o PREC de direita proteje os bancos e as grandes empresas, mas ataca os funcionários públicos, os remediados, os professores, os desempregados e os pensionistas.

Mas, há uma relevante semelhança entre os dois PREC: o timing errado. O PREC de esquerda foi feito em má hora, depois de uma grande subida dos preços do petróleo. Já o PREC de direita é anunciado quando o país está mergulhado numa profunda crise. Cortar 4 mil milhões de euros à despesa do Estado é cortar 2% do PIB, e agravar a recessão. Se os desempregados já são 800 mil, despedem-se mais 150 mil pessoas? E para quê, para lhes ter de pagar indemnizações e subsídios de desemprego? Como é possível pagar a dívida do país com quase 1 milhão de pessoas sem trabalho? 

E o pior de tudo é que, depois da revolução e como é costume, teremos de aturar a contra-revolução. Se a direita aplica o seu PREC agora, daqui a uns tempos perde as eleições e aparece a contra-revolução de esquerda, que anula a maior parte das medidas agora tomadas. Já vi o filme várias vezes, e é isso que acontece quando não se procura um consenso social, e se faz as coisas à pressa.

Sejam de que cor forem, os PREC não prestam. Se a estabilidade política tem ajudado Portugal a vencer a crise, para quê estragá-la com uma revoluçãozinha neoliberal?

   

publicado por Domingos Amaral às 14:10 | link do post | comentar
Quarta-feira, 09.01.13

Ainda existem pessoas fiéis?

Uma mulher de quem gosto muito costuma dizer que as pessoas que se casam não deviam jurar fidelidade, porque ninguém vai cumprir essa jura.

Os homens já há dez mil anos que não a cumprem, e as mulheres, metade também há diz mil anos que não a cumpre, e a outra metade deixou de cumpri-la de há vinte anos para cá.

A promessa de fidelidade, diz essa realista mulher, é portanto inútil e enganadora, pois só serve para nos iludirmos. Um dos dois será infiel, essa é que é essa, e a única dúvida é saber qual será o primeiro. 

Sendo assim, o que devíamos era fazer uma promessa diferente. Deveríamos prometer que íamos tentar não ser infiéis. E só por cinco anos, de cada vez. Prometes tentar não ser infiel nos próximos cinco anos? Sim, prometo. Daqui a cinco anos veremos.

É que, nos dias que correm, a infidelidade mudou muito, já não é a mesma velha senhora do passado. A infidelidade está mais magra, mais reduzida no seu conceito. Coisas que antes eram consideradas infidelidade, hoje não produzem mais que um mero encolher de ombros.

Veja-se as fantasias, por exemplo. As mulheres que fantasiam em segredo com o Brad Pitt, ou os homens que suspiram à primeira visão da Juliana Paes, estão a ser infiéis, mas os seus sonhos são inofensivos, banais e nada graves. Metem-se os cornos na imaginação, mas "no passa nada".

Depois, há também aquela infidelidade social superficial, que incluiu a troca de olhares furtivos, as conversas picantes, os sms cheios de segundas intenções. É muito habitual nos nossos dias: as pessoas comem-se com os olhos, enviam evidentes e permanentes sinais, mas é tudo teatro, e os contatos íntimos não passam de uma mão nas costas, as palavras não são mais que uma piadinha permanente, que tudo deixa em suspenso.

É a infidelidade em "stand-by", no "pause", mas é muito comum nos nossos dias, e é até socialmente aceite e incentivada. Quem não for brincalhão e muito sexy, é visto como pouco "cool".

Infelizmente para muitos, estas brincadeiras, à superfície inofensivas, podem despoletar incêndios graves. Há maridos e esposas que se passam da cabeça só por apanherem um comentário mais ousado no Facebook. Há zaragatas e ranger de dentes, mas se realmente estiver apenas em "stand by", essa infidelidade só mói, não mata. Ninguém se separa só porque há um smile duplo no telemóvel do marido ou da mulher...

Também é cada vez mais aceite a infidelidade Easy Jet. Um desvario pontual, uma noite de loucura, se tiver acontecido no estrangeiro, a mais de 400 km de casa, não é causa para tragédias. A infidelidade Easy Jet, além de ser fácil de negar, é fácil de ignorar. Ninguém a viu, ninguém a lembra.

O que é doloroso aceitar é um par de cornos social, em dez mil anos não se avançou nada nestas coisas. O que custa, além da traição, é o preço da vergonha, as amigas e os amigos a comentarem, a humilhação em grupo. A infidelidade, quando é pública, nunca se consegue privatizar, como a TAP. Mas são raros, é verdade, os que conseguem evitá-la. 

Portanto, o que se devia era jurar que se vai tentar não ser infiel. Prometes que vais tentar não ser infiel? Sim, prometo. E a promessa devia ser renovada a cada cinco anos. Prometes mais cinco anos? Sim, prometo tentar mais cinco anos. Mesmo assim, era capaz de não ser fácil cumprir, mas pelo menos tentávamos.  

  

publicado por Domingos Amaral às 15:23 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Terça-feira, 08.01.13

O Sporting pode acabar?

O principal problema do Sporting chama-se instabilidade. Instabilidade na presidência do clube, instabilidade no banco de treinadores, e instabilidade nas políticas de gestão desportiva. No Sporting, aplica-se diariamente a célebre máxima de Pimenta Machado, uma espécie de cúmulo da instabilidade: "no futebol, o que hoje é verdade, amanhã é mentira". 

Veja-se a instabilidade na presidência. Nos últimos 30 anos, enquanto o FC Porto teve 1 presidente, o Sporting teve 10. Vários deles, nem duraram dois anos no lugar, como foi o caso de Amado de Freitas, Jorge Gonçalves, Pedro Santana Lopes ou José Eduardo Bettencourt. E o actual, Godinho Lopes, não parece ir durar muito mais do que estes antecessores.

Depois, há a instabilidade no banco dos treinadores. Em 30 anos, desde 1982, o Sporting teve 44 treinadores, se contarmos com Oceano, e Jesualdo será o quadragésimo quinto! Apenas em 12 temporadas não mudou de treinador a meio, e em certos anos, como o actual, chegou a ter 4 treinadores numa época. Nesta temporada, até Janeiro, já se sentaram no banco Sá Pinto, Oceano, Vercauteren e agora será a vez de Jesualdo. 

É claro que esta dupla instabilidade, na presidência e no banco, não trouxe nada bons resultados. O Sporting apenas foi campeão 3 vezes em 30 anos, em 1982, 2000 e 2002.

E a política desportiva foi mudando de rumo, como um imprevisível vento. Umas vezes estava nortada, outras de este, e outras ainda levante. Primeiro apostava-se na formação, depois comprava-se galáticos (Sousa Cintra); voltava a virar-se para os meninos, juntando-lhe uns brasileiros e a seguir apostava-se forte nas estrelas (Jardel e João Pinto), para mais à frente se entrar numa grande redução salarial, que impediu Paulo Bento de lutar por campeonatos.

No entanto, mal Paulo Bento saiu, logo se descobriu o dinheiro, que Bettencourt e Godinho não souberam gastar, pois não têm talento para presidentes de clubes de futebol profissionais. Quando tinha talentos, o Sporting não tinha dinheiro e por isso vendia os talentos. Quando tinha dinheiro, já os talentos tinham fugido.

Godinho Lopes é mais uma demonstração cabal de incompetência. Começa a comprar que nem um desalmado, acho que foram 19 jogadores, todos apresentados com grande fanfarra em Alvalade. Mas mal o barco abana, despede o treinador, Domingos, num absurdo de gestão impossível de compreender. De então para cá, não pára o chorrilho de disparates. Sá Pinto, Oceano, Vercauteren, todos já queimados na fogueira dos resultados.

Há quem diga que o problema é outro: não há dinheiro, e os salários já estão atrasados, por isso os jogadores não correm e não estão comprometidos com as vitórias do clube. Não sei se é verdade, mas parece. O que é verdade é que esta queda a pique é confrangedora e não se vêem saídas airosas.

Um clube grande pode acabar? Não é provável. Não se conhecem histórias de grandes clubes europeus, com muitos sócios, que tenham fechado as portas. Mas podem passar por momentos duríssimos, como foi o caso da Fiorentina e agora do Glasgow Rangers. Talvez seja necessária uma cura purificadora. Os bancos terão de perdoar a já impagável dívida, os notáveis terão de desamparar a loja, e alguém com capital e juízo terá de pegar neste zombie actual e ressuscitá-lo.

Talvez o BES possa comprar o clube, ou aterrem na Portela os russos do Bruno de Carvalho. Para um clube com tantos sócios como o Sporting, morrer não é uma opção. Mas também ninguém quer um morto-vivo, a arrastar-se pelos relvados.   

 

publicado por Domingos Amaral às 16:10 | link do post | comentar
Segunda-feira, 07.01.13

Cortar na despesa do Estado? Nunca ninguém conseguiu!

Passos Coelho disse recentemente que Portugal tinha de cortar 4 mil milhões de euros na despesa do Estado, um plano que deveria ser apresentado à troika lá para Fevereiro, para começar a ser posto em prática no Verão. Onde irá ele encontrar esses 4 mil milhões de euros é um bom exercício para fazer, mas duvido que o consiga.

Há mais de 25 anos que ouvimos, por todo o mundo, esse grande e imperioso objectivo de cortar na despesa do Estado. Reagan e Thatcher já queriam cortar na despesa, Clinton queria cortar na despesa (embora menos), tal como Tony Blair. Durão Barroso, quando foi primeiro-ministro, também quis cortar na despea, tal como Sócrates, no início, em 2005 e 2006. E George W. Bush também quis, tal como Merkel, e como Cameron, e dezenas de primeiros-ministros japoneses.

Contudo, a realidade é esta: ninguém conseguiu. É verdade, nem conservadores, nem liberais, nem socialistas ou sociais-democratas, nem americanos nem japoneses, nem alemães nem italianos, nem ingleses ou gregos. Não há praticamente nenhum exemplo no mundo ocidental de Estados cujas despesas tenham reduzido muito. 

Existiram, é certo, alguns casos de pequenos Estados onde existiram reduções pontuais da despesa do Estado, e alguns momentos em que, em grandes países, a despesa do Estado em proporção do PIB desceu um pouco. Contudo, os primeiros casos são pouco singificativos. A Estónia ou a Lituânia contam pouco e servem pouco como exemplo. E no segundo caso, a descida da percentagem de despesa do Estado deveu-se não à descida da despesa do Estado em valor absoluto, mas sim ao crescimento da economia privada, que aumentou o seu peso no PIB (foi o caso da América na época de Clinton).

Digam-me qual o país que conseguiu cortar as despesas do seu Estado? A Alemanha? Não! A França? Não! A Inglaterra da Sra Thatcher? Não, a despesa aumentou com Thatcher, o mesmo se passando com Reagan e George W. Bush na América!

A conclusão que se deve retirar é que é quase impossível cortar a despesa dos Estados, porque as intenções dos políticos, por melhores que sejam, esbarram em resistências sociais, políticas, jurídicas ou mesmo económicas. Os países, os povos que os suportam, não querem que se cortem as despesas, e a  maioria dos políticos nem sequer tenta, pois sabe que o descontentamento vai ser de tal ordem que mais vale não o enfrentar. Veja-se Obama, por exemplo, que ignorou olimpicamente qualquer necessidade de cortes na despesa, pelo menos para já.

Passos Coelho bem pode tentar, e vai tentar, mas é provável que as suas intenções esbarrem num muro. Além disso, de que vale ao Estado português cortar despesas, procurar 4 mil milhões de cortes, quando esse dinheiro é todo torrado a salvar ou ajudar os bancos? 

Quase sem darmos por isso, o Estado português já resgatou o BPN (3,5 mil milhões de euros); o BPI, a Caixa e o BCP (num somatório de 6,6 mil milhões de euros) e esta semana resgatou o Banif (1,1 mil milhões de euros). Somados, estes resgates chegam a 11,2 mil milhões de euros! Sim, leram bem, 11,2 mil milhões de euros! Portanto, agora que o Estado já torrou todo este dinheiro nos bancos, onde será possível encontrar 4 mil milhões?  

É por estas e por outras que nunca ninguém conseguiu cortar na despesa do Estado. Há sempre alguma coisa importante, alguém a quem tem de se deitar a mão. Os Estados, e os políticos que os governam, estão sempre um bocado reféns dos grupos sociais, sejam eles sindicatos, construtores civis, militares, professores ou banqueiros. Há sempre grupos, públicos ou privados, com força para obrigar os Estados a não cortarem nas suas despesas. Assim, por mais que Passos corte de um lado, há sempre mais um banco que ele terá de para ajudar, e a despesa vai sempre crescer no fim!

 

 

publicado por Domingos Amaral às 14:51 | link do post | comentar
Sexta-feira, 04.01.13

Adoro (e odeio) a Dona Doroteia!

Como todos sabem, sou um fã incondicional da telenovela Gabriela. Os diálogos são fantásticos, o enredo magistral, os personagens soberbos, os atores e as atrizes quase todos muito bons. Mas, é preciso reconhecer: sem a Dona Doroteia, a Gabriela não seria a mesma!

Qualquer boa telenovela, como qualquer bom filme, tem de ter maus! E a Dona Doroteia é má como as cobras! Como uma talibã, ela vigia Ilhéus, para garantir que "a moral e os bons costumes" são respeitados. Faz mexericos, lança intrigas, apresenta denúnicas, espia quem lhe parece suspeito, e nunca baixa a guarda, arrasando todos com a sua bengala e com a sua virtude. Dona Doroteia quer ser tão boa que é má. 

Mas, não é uma má qualquer. É má mesmo, é verrinosa, malévola, castradora, vingativa, e além disso tudo, ainda é gulosa, o que é a única qualidade que lhe podemos ver em tantos episódios. Mulheres adúlteras, invertidos, quengas, meninas namoradeiras ou maridos cornudos, todos são atingidas pelo veneno permanente de Dona Doroteia e suas aliadas. 

A interpretação de Laura Cardoso é simplesmente fenomenal. Consegue que a odiemos, que tenhamos raiva dela, que lhe desejemos mal, e isso diz bem da força do personagem. Só com uma má tão má é que os outros, à sua volta, podem ser bons. Aliás, basta-lhes serem um bocadinho melhores que ela para já serem bons. 

Como é evidente, este pilar da moral conservadora, maligno e doentio, tinha um segredo. Soube-se esta semana que Dona Doroteia foi quenga na juventude, e prostituía-se alegremente e com gosto, sendo conhecida pelo seu maravilhoso e grande traseiro! Mas, se pensam que ela se calou por causa disso, estão enganados. Má como sempre, continuou igual a si própria, massacrando as mulheres mais novas e dando uma tareia ao filho, o coronel maricas.

A dona Doroteia é uma genial criação, e vou ter saudades dela e do seu "Jesus, Maria, José"! 

publicado por Domingos Amaral às 16:42 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 03.01.13

O melhor para a constipação!

Todos os anos, tenho sempre duas ou três constipações por Inverno. É a minha média. Raramente chego a ter gripes graves, com imensa febre, mas sou facilmente apanhado pelas gripes médias, daquelas que incomodam sem prostrar.

Ao longo das décadas, já experimentei quase tudo para me ver livre destas pequenas maleitas, mas dou-me mal com a maioria dos remédios que existe. A Aspirina, por exemplo, provoca-me enorme acidez no estômago, e deixei de tomá-la nos anos 20. Depois, passei pelo americano Tylenol, mas foram apenas dois anos a viver na América, e por cá não existe.

Seguiu-se a época Panasorbe da minha vida. É o mais leve deste tipo de medicamentos, uma coisa suave, mas para ser mesmo eficaz tem de ser acompanhada por um remédio mais duro. Serve bem para as ressacas e dores de cabeça, mas resulta menos bem nas gripes, embora tenha um efeito secundário interessante, que são as erecções matinais.

Durante algum tempo, talvez nos anos 30, descobri o Brufen, em comprimidos, mas rapidamente notei que me provocava estranhas alergias, umas borbulhas esquisitas no pescoço e na cara, e ainda hoje tremo só de olhar para a caixa de comprimidos, e recuso-me a tomá-lo.

Passei depois por uma fase algo turbulenta, onde variava entre o Constipal e o Cêgripe, mas os resultados não foram os melhores. O primeiro dava-me uma soneira que me arrombava, deixando-me incapaz de trabalhar durante horas. Já o segundo, era mais manhoso, e atacava por trás, por assim dizer. Causava-me uma tal acidez anal que depressa me quis ver livre dele.

Foi então que, o ano passado, em plenos anos 40, descobri finalmente o amor da minha vida gripal, o Ilvico. Não me perguntem porquê, mas nunca o tinha tomado, em 45 anos de vida. Já me tinham falado dele, mas havia sempre algum outro remédio que chegava primeiro e tomava conta de mim. Porém, mal tomei a primeira vez Ilvico, fiquei outro.

O Ilvico é o que melhor se dá com o meu organismo, fazendo o pleno da bonança com todos os órgãos. Não me acidifica o estômago, resolve-me as dores de cabeça, não me arromba nem me provoca alergias, e não me complica as idas à casa de banho. Além disso, as manhãs são interessantes, como na época Panasorbe, mas o mais importante é que as gripes e constipações vão mesmo à vida, e assim eu posso ir à minha.     

publicado por Domingos Amaral às 15:03 | link do post | comentar | ver comentários (19)
 

Livros à venda

posts recentes

últ. comentários

  • Li com prazer o seu primeiro volume volume de assi...
  • Caro Domingos Amaral, os seus livros são maravilho...
  • Caro Fernando Oliveira, muito obrigado pelas suas ...
  • Gostei muito dos dois volumes e estou ansiosamente...
  • Bela e sensata previsão!Vamos ganhar a Final?!...
  • A tua teoria do terceiro jogo verificou-se!No enta...
  • Gostei de ler, os 2 volumes de seguida. Uma aborda...
  • Neste momento (após jogo com a Croácia) já nem sei...
  • Não sei se ele só vai regressar no dia 11, mas reg...
  • No que diz respeito aos mind games humildes, é pre...

arquivos

Posts mais comentados

tags

favoritos

mais sobre mim

blogs SAPO

subscrever feeds