Espero que a América não se engane outra vez
Os americanos parecem decididos: a Síria usou armas químicas, e isso é inaceitável.
Para a punir, prepara-se um ataque, provavelmente à bomba, e alguns dizem que será já sexta-feira.
Mas, será que as provas são inatacáveis?
Os americanos já juraram ao mundo uma vez que havia mísseis no Iraque, e enganaram-se.
Invadiram, sem mandato da ONU, e geraram um caos durante anos, que ainda dura.
E das armas não se viu nada...
Agora, há igualmente muita incerteza. Que há uma guerra civil trágica e assassina, ninguém tem dúvidas.
Que o regime sírio tem armas dessas e as pode usar a qualquer hora, também é certo e seguro.
Mas, que as tenha já usado, não é assim tão sólido.
Há uns meses, também se gerou um "bruaaa" semelhante e depois foi falso alarme, truque de propaganda dos rebeldes.
Não tenho qualquer simpatia pelo facínora da Síria, como não tinha pelo do Iraque ou da Líbia, mas tenho simpatia pela América.
E não gosto de ver o país enxovalhado e descredibilizado, como o deixou George Bush, provavelmente o pior presidente dos últimos 100 anos.
Se há coisa que Barack Obama tem feito bem é recuperar o prestígio perdido da América.
Cumpriu o que prometeu, fosse no Iraque, fosse no Afeganistão.
Continuou a dar luta aos terroristas, matando Osama Bin Laden no seu covil.
Ajudou os líbios a verem-se livres do seu ditador, mas sem ter de enviar tropas ou bombardear cidades.
E, na Palestina, tem obrigado Israel a uma postura diferente, menos belicosa.
Passo a passo, a América tem recuperado a sua credibilidade, a sua moral, e perdido a arrogância estúpida dos tempos de Bush.
É esse activo que não se deve desperdiçar.
Para bombardear a Síria não basta a suspeita, é preciso a certeza absoluta de que foi cometido um crime contra a humanidade.
Devemos apoiar, até certo ponto, quem luta contra o fim da ditadura síria, mas é preciso cuidado.
O Médio Oriente é como as areias movediças, imprevisível, traiçoeiro, sufocante. Os amigos de hoje são os inimigos de amanhã.
Dar "tau-tau" no ditador, mandando-lhe umas bombas para os palácios, não resolve nada.
Sobretudo se ninguém tem a certeza se houve ou não uso de químicos.
Talvez fosse melhor esperar pelos relatórios dos inspectores da ONU...