Quinta-feira, 29.05.14

Um Casamento de Sonho: a história

É hoje o lançamento do meu novo livro, "Um Casamento de Sonho".

Espero que muitos leitores possam estar presentes, e terei o prazer de autografar todos os livros aos que o desejarem.

Mas, para aqueles que estão fora, ou que não podem ir hoje, por mil e uma razões diferentes, aqui deixo um pequeno resumo da história.

 

"Um Casamento de Sonho" é a história da minha geração, nos últimos vinte anos.

Quem não se casou um dia numa quinta, numa bela festa, onde se dançou até às tantas?

Quem não saiu à noite, não namorou, não se emocionou quando lhe nasceram os filhos?

Quem não passou por crises de amor, separações, traições, divórcios?

Quem não comprou casa, fez viagens a ilhas, quem não sofreu com a crise económica?

"Um Casamento de Sonho" é a história dos nossos namoros, dos nossos casamentos, dos nossos filhos que nasceram, das nossas ambições profissionais, da nossa forma de viver, e também a história das nossas desilusões, das nossas separações ou divórcios, dos nossos falhanços e perdas.

Sim, é a história da maneira como vivemos e amámos e fomos felizes e fomos infelizes nos últimos vinte anos, das mudanças e das modas, das manias e das novidades, mas também das políticas e das economias em que vivemos.

 

É claro que todas as personagens são inventadas, o livro não é uma autobiografia, não é a minha vida em história, nem a de ninguém em particular.

Mas, apesar de serem inventadas, estas personagens vivem o que nós vivemos, e por isso são parecidas connosco. 

Há histórias de amor muito bonitas, que acabam bem, e histórias de amor menos bonitas, que acabam mal.

E há outras histórias de amor que não acabam, e continuam a durar.

Há pessoas felizes e há pessoas perdidas, há pessoas fiéis e há pessoas infiéis, há mulheres modernas e outras menos modernas, há homens convencidos e outros mais inseguros, e depois há os que andaram por aí.

 

"Um Casamento de Sonho" é a história de um grupo de amigos, da Constança e do Leonardo, do Rafael e das suas várias namoradas, da Patrícia e do Miguel, do Guilherme e da Ana, e de como as suas ligações entre eles foram evoluindo ao longo de vinte anos, passando por crises, reconciliações ou afastamentos.

É a história de amigos que se zangaram, que se traíram, mas também de amigos que foram leais sempre e nunca abandonaram os seus amigos.

É igualmente a história das suas famílias, pais, irmãos, tios e tias, e do quanto as famílias são essenciais para se compreender a maneira de ser e o estilo de vida dos portugueses.

 

Mas, "Um Casamento de Sonho" é também a história recente de Portugal, da sua política e do seu desencanto, e da sua economia com as suas ilusões e desilusões.

É a história de como a economia condiciona a vida das pessoas.

Quando na economia nascem dívidas, no amor nascem dúvidas, e muitos conflitos surgem.

Os afectos não são imunes às crises, nem aos momentos bons.

Quando tudo corria bem, era fácil ter um casamento feliz, mas será assim quando tudo na vida nos corre mal, e à nossa volta há uma crise brutal?

É sobre tudo isso o meu livro, mas é sobretudo uma história de amor e amizade, ou melhor dizendo, de vários amores e de várias amizades.  

publicado por Domingos Amaral às 10:45 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 13.03.14

Porque é que Passos Coelho se irritou tanto com o manifesto?

Passos Coelho irritou-se muito com o manifesto que pede a reestruturação da dívida.

Ainda a coisa não tinha nascido e já estava ele a matá-la no ventre da mãe.

Furioso contra os notáveis, jurou que jamais a dívida seria reestruturada.

Até me espantou, pois Passos não costuma ligar muito ao que dizem os supostos "notáveis" do país.

 

O que se passou para Passos perder a paciência?

É evidente que podemos dizer que este não é o timing certo para falar em reestruturação da dívida.

A dois meses do final do programa de ajustamento, estou de acordo que não é o momento certo.

Agora, o importante é terminar o programa, diz Passos, e não criar dúvidas aos nossos credores.

Sim, mas porque é que Passos acha que o manifesto dos notáveis cria dúvidas aos credores?

 

Em todos os países, quando existem crises de dívida pública, há quem defenda a reestruturação ou renegociação.

Não há qualquer novidade na ideia, que não é nem absurda, nem inesperada.

Porém, qual o real poder dos signatários do manifesto?

Na verdade, nenhum. 

São pessoas de esquerda, de direita, de centro, dali e daqui, mas nenhuma delas tem qualquer poder para condicionar Portugal.

Nem o PS, nem Cavaco, nem Portas, subscreveram o manifesto.

Então, porque se enfureceu Passos, como se tudo o que tinha feito até agora ficasse em causa?

 

Na realidade, Passos está sempre a criar inimigos, e precisa deles para se engrandecer.

Ontem, era o Tribunal Constitucional, hoje são os "notáveis do manifesto".

Alguém a quem se pode atirar culpas, alguém que se pode criticar.

Mas, se o TC ainda era uma instituição que podia limitar as escolhas do Governo, os "notáveis do manifesto" nem isso conseguem.

Enfurecer-se contra eles é uma inutilidade, é ruído sem sentido.

Ou será que Passos acha que a sra Merkel leu o manifesto dos notáveis portugueses e já nem dorme por causa disso?

Ou acha que o rating de Portugal vai ser abalado pelas ideias conjuntas de Louçã e Bagão Felix?

 

publicado por Domingos Amaral às 13:14 | link do post | comentar
Terça-feira, 11.03.14

A sra Merkel não deixa reestruturar a dívida!

Foi hoje revelado um manifesto de múltiplas "personalidades" que apela à reestruturação da dívida portuguesa.

Só peca por tardio, o dito manifesto.

Neste blog, por exemplo, há mais de ano e meio que escrevo que a "reestruturação" da dívida é das poucas saídas possíveis para Portugal.

Porém, não irá acontecer, com manifestos ou sem manifestos.

E não irá acontecer porque a Alemanha não deixa.

Empolgada com os resultados que começam a aparecer, de recuperação da zona euro, e sobretudo empolgada com a hipótese de Portugal conseguir regressar aos mercados em breve, a sra. Merkel nem quer ouvir falar em reestruturação da dívida.

Para ela, a austeridade é um caminho salvador, produz bons resultados, e resolverá a crise europeia.

E, além disso, a sra Merkel tem com ela todos os alemães, que não admitem "perder dinheiro" com os povos do Sul, esses libertinos e gastadores.

Pedir a "reestruturação" da dívida é pois pregar no deserto, pois os alemães estão-se nas tintas para o que nós pensamos, tal como se estão nas tintas para o que muitos economistas defendem.

 

É evidente, para quem conheça a história económica dos últimos setecentos anos, que não há casos relevantes de países que tenham saído da crise sem reestruturação de dívida.

O mito da "austeridade expansionista", tal como o mito do "crescimento pelas exportações", não passam disso mesmo, mitos.

Nenhum país conseguiu ultrapassar uma situação de dívida excessiva só com a austeridade ou com as exportações.

Mais tarde ou mais cedo, todos reestruturam as suas dívidas e a vida continuou.

Foi assim com a Alemanha, sobretudo a seguir à Segunda Guerra Mundial, mas também com muitos outros países por esse mundo fora.

Só que, havia uma diferença essencial entre esses países e o Portugal actual.

É que os países que reestruturaram as suas dívidas tinham uma moeda autónoma, e Portugal não tem.

 

Estar no euro muda tudo, principalmente porque estar no euro implica estar dependente de outros países para tomar decisões.

Dentro do euro, só se pode reestruturar a dívida se os nossos parceiros estiverem de acordo, e isso não acontece.

Nem vai acontecer nos tempos mais próximos, pois os alemães não se deixam persuadir nestas circunstâncias.

Uma reestruturação da dívida permitiria a Portugal pagar muito menos juros, o que libertaria fundos para estimular a economia.

Mas, para isso era preciso que os credores aceitassem essa reestruturação, recebendo menos dinheiro já.

Politicamente, tal hipótese é uma impossibilidade.

A carga pesada da dívida vai continuar sobre os nossos ombros, pois essa é a vontade da Alemanha.

E nada se faz na Europa sem a benção da mulher de Berlim, essa é que é essa.  

publicado por Domingos Amaral às 12:28 | link do post | comentar
Segunda-feira, 10.03.14

Programa cautelar: Cavaco bem quer, mas Merkel não deixa

O presidente da República tem feito tudo para avisar o país sobre a necessidade de um "programa cautelar".

Por mais que a situação tenha melhorado, para Cavaco estamos ainda numa zona perigosa, e sobretudo muito vulneráveis a qualquer mutação dos sentimentos dos mercados.

O esforço de consolidação orçamental foi enorme, as taxas de juro baixaram, mas apesar desses bons sinais a situação é ainda frágil.

Cavaco escreve, e avisa o país, apelando à prudência, pedindo cautela.

Temo que ninguém o oiça.

Embora na Europa muitos já tenham dito o mesmo (Barroso, Draghi, etc), nas últimas semanas o discurso europeu mudou, pois já todos perceberam que a Alemanha não quer que Portugal vá para um programa cautelar.

Merkel quer uma "saída limpa" de Portugal, para a apresentar como um "troféu".

Além disso, Merkel teme que se levasse um "programa cautelar" ao seu parlamento, ele fosse vetado, ou fossem impostas condições draconianas pelo SPD para aprovar tal coisa.

Por isso, vai obrigar Portugal a uma saída limpa, como fez com a Irlanda.

O caso Irlandês foi apresentado como uma vitória nacional de Dublin, mas não foi apenas isso, foi também uma obrigação imposta por Berlim.

O caso Português será semelhante.

Passos e o seu Governo vão apresentar a "saída limpa" como um colossal e esmagador triunfo das suas políticas, embora não estejam a fazer mais do que cumprir a vontade da Alemanha.

É uma situação arriscada, mas parece-me que ninguém quer saber o que Cavaco pensa.

Na Europa, manda Merkel, e os outros obedecem.

publicado por Domingos Amaral às 11:25 | link do post | comentar
Quarta-feira, 26.02.14

Subir o IRS foi bom para a economia portuguesa

Os números da execução orçamental, que ontem foram revelados, são contundentes: a receita fiscal subiu bastante, e a despesa desceu pouco.

Ou seja, o deficit está claramente a diminuir porque as receitas dos impostos estão a subir, o que é muito bom sinal.

Ao contrário do que dizem a direita e a esquerda portuguesa, que nisso têm a mesma opinião, a subida de impostos foi boa para economia, e não má.

A economia portuguesa adaptou-se muito melhor à subida de impostos de 2013 e 2014, do que aos cortes profundas na despesa de 2012.

 

É evidente que esta realidade é impopular.

À direita, é muito mais popular dizer que se deve cortar na despesa e descer os impostos.

É o que dizem Passos Coelho e Portas, e os seus fiéis estão totalmente de acordo.

À esquerda comete-se erro semelhante.

Seguro ataca o Governo porque subiu os impostos, e ataca o Governo porque cortou na despesa.

Não quer nem uma coisa, nem outra, o que é absurdo.

Estão ambos errados.

 

A direita convenceu-se que é sempre melhor cortar na despesa e baixar os impostos, e não olha para a realidade dos números.

A verdade é que o corte profundo na despesa, realizado em 2012, com cortes dos subsídios e das despesas intermédias, provocou efeitos desastrosos em Portugal.

A recessão instalou-se, o desemprego cresceu muito, houve uma profunda quebra das receitas fiscais, e tudo parecia perdido.

Porém, com a forte subida do IRS em 2013, o que se verificou?

A economia voltou a crescer, o desemprego começou a baixar, as receitas fiscais subiram, e o deficit diminui muito mais!

A conclusão devia ser óbvia: a economia portuguesa absorveu muito bem a subida de impostos, e saiu da crise mais rapidamente.

 

É lamentável que ninguém aceite este facto, e que a direita passe os seus dias a dizer que vai descer os impostos e cortar mais na despesa, o que seria grave para a economia, e a esquerda passe os seus dias a dizer que quer aumentar a despesa e cortar os impostos, o que seria igualmente grave.

Ninguém parece perceber que os portugueses preferem pagar mais impostos e não executar tantos cortes nas despesas, nos salários ou nas pensões.

Ou seja, os portugueses estão dispostos a pagar mais impostos para manterem o Estado Social como está.

É essa a conclusão desta crise, e esquerda e direita deviam percebê-lo. 

Mas, é sempre mais popular dizer que se quer descer impostos ou aumentar despesa, e os políticos que temos caiem sempre nessa tentação da popularidade fácil e rápida. 

A verdade é que, se desde 2004 tivessemos todos pago mais impostos, o país não tinha acumulado os deficits que acumulou...

publicado por Domingos Amaral às 10:42 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Sexta-feira, 21.02.14

Quem tem razão: Portas ou o FMI?

Esta semana, muitos foram o que escreveram sobre a suposta querela entre Portas e o FMI, que teriam interpretações muito diferentes sobre o que aconteceu, e o que está a acontecer, à economia portuguesa.

Para Portas, e de uma maneira geral para o Governo, há um "milagre económico".

As exportações portuguesas dispararam, o desemprego baixa, o ajustamento está completo, e o país pode libertar-se da "troika".

Para o FMI, o cenário não é tão cor-de-rosa, e não há qualquer "milagre económico".

Portugal apenas teve uma recessão muito forte, deixou de importar e por isso a balança comercial ficou positiva; as exportações cresceram pouco, e se não fosse a nova refinaria da GALP o resultado era minúsculo; e os salários ainda têm de descer muito, para o país ser competitivo.

Quem tem razão? Portas, com o seu entusiasmo; ou o FMI, com o seu cepticismo?

O que é interessante nesta questão é que ambos têm razão.

Aquilo que separa Portas e o FMI é uma emoção, um estado de alma, não uma realidade.

Portas está super-optimista, e o FMI está pessimista, e portanto cada um vê a realidade em função do sentimento de futuro que sente.

 

Vejamos a situação objectiva.

As exportações subiram? Sim, subiram, mas não subiram espectacularmente, e de facto, se tirarmos a refinaria da Galp do cenário, o crescimento é curto. 

Portas tem razão, quando diz que as exportações cresceram; mas o FMI também, quando alega que a estrutura de exportações não melhorou muito, Galp à parte.

Há crescimento económico? Sim, há, e isso deve ser celebrado, e aí Portas tem razão.

Porém, é frágil, como alerta o FMI, e baseia-se muito no turismo e nas exportações da Galp, e se o crescimento acelerar lá vai fazer crescer as importações outra vez, e complicar a balança comercial.

O desemprego está a descer? Sim, está, e isso é uma boa notícia, como diz Portas.

Contudo, como aponta o FMI, e outras entidades, na descida do desemprego contam muito a emigração e a sazonalidade do turismo, e por isso não se deve celebrar em demasia aquilo que pode esvair-se a qualquer momento.

E quanto à descida dos salários, quem tem razão? Os salários não têm de descer mais, como dizem Portas e Pires de Lima, e o ajustamento está feito?

Ou têm de continuar a descer, como dizem o FMI e a Comissão Europeia, para o país ser mais competitivo?

Em teoria, estas últimas entidades têm razão, mas há décadas que essa teoria económica foi contestada.

Em meados do século XX, Keynes avisou que há muita rigidez nos salários, e é muito difícil eles descerem, seja em que país for. Os ajustamentos salariais não funcionam bem por causa disso, e portanto outras soluções devem ser procuradas.

Pelos vistos, nem o FMI nem a Comissão leram Keynes, e a insistência neste ponto é uma tontaria.

O comportamento de Portas e Pires de Lima revela o que Keynes há muitos anos explicou: os países, as sociedades, os sistemas políticos, rejeitam as descidas de salários, e portanto não vale a pena ter grandes ilusões nesse campo.

Mas, nada como uma fútil polémica para entreter a malta... 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:44 | link do post | comentar
Segunda-feira, 17.02.14

O regresso mediático de Vítor Gaspar

Vítor Gaspar, anterior ministro das Finanças, regressou em força para "limpar" a sua imagem.

Agora, que o PIB já cresce, que o desemprego já desce, e que ganha força a hipótese de uma saída "limpa" do programa de ajustamento, Gaspar regressou para colher os louros que ele julga dele.

Tudo o que fez, diz Gaspar, foi bem feito.

Tudo o que disse, diz Gaspar, foi bem dito.

E se algo correu mal, diz Gaspar, a culpa foi de Portas, que desestabilizou o Governo.

 

A pergunta que fica, depois da leitura das entrevistas de Gaspar, é óbvia: então porque é que se foi embora?

Se tudo o que fez estava bem feito, e tudo o que disse foi bem dito, porque se demitiu Gaspar?

Porque disse, na sua carta de demissão, que as suas políticas tinham produzido resultados graves que o tinham "descredibilizado"?

É que, se estava tudo bem, e ele tinha razão em tudo, não fazia muito sentido demitir-se, pois não?

Ao ler as recentes declarações de Vítor Gaspar, a ideia com que se fica é que ele não aguentou a "pressão".

No pico da crise, com os resultados desastrosos que se viam em finais de 2012 e inícios de 2013, Gaspar deixou de acreditar em si próprio e foi abaixo, escolhendo a saída.

 

Na carta que escreveu, vê-se que já nem ele acreditava nas suas ideias, e já não tinha força psicológica e anímica para continuar.

É como o treinador que se demite a meio da época, e que depois do seu sucessor (o treinador adjunto) ter sido campeão, vem dizer que foi ele que decidiu tudo, e preparou tudo, e sem ele não haveria título.

Pois, mas quem ficará para a história como treinador campeão será Maria Luís Albuquerque, e não Gaspar.  

publicado por Domingos Amaral às 10:06 | link do post | comentar
Quinta-feira, 06.02.14

Europa ou América: quem se safou melhor?

Há cada vez mais diferenças entre a América e a Europa na forma como a crise económica tem sido combatida, e por mais que os amantes da austeridade estejam a cantar vitória, a realidade é muito menos agradável do que eles pensam.

 

Veja-se por exemplo, o que fez Obama.

Desde 2008, ajudou os bancos para evitar o colapso e tentou estimular a economia com programas de despesa pública.

Depois, evitou os cortes mais drásticos que os republicanos queriam executar, subiu o IRS para os mais ricos, e agora até já anunciou uma subida do salário mínimo para certos funcionários públicos.

Ao mesmo tempo, o banco central americano, o FED, esteve quatro anos a injectar fundos na economia, para a estimular pois ela estava longe do pleno emprego, e só nos últimos meses reduziu essas injeções para um ritmo menor. 

Ou seja, Keynes e Friedman ao mesmo tempo.

E quais foram os resultados?

Embora lentamente, a economia americana começou a crescer, crescimento esse que acelerou em 2013, e está agora a caminho dos 3% por ano, com o desemprego a cair, e o dólar num valor razoável.

As bolsas estão bem, a dívida não cresceu muito, e a América está com uma saúde económica muito superior à de outras regiões do mundo.

Obama foi keynesiano, e só não foi mais porque os republicanos não deixaram.

E o FED foi intervencionista, como dizia Friedman, e imprimiu moeda porque a economia estava longe do pleno emprego e não havia perigo de inflação.

Os americanos atacaram a recessão com todas as armas que tinham, fiscais e monetárias, e a América levantou-se do chão.

 

Agora, vejamos o que fez a Europa.

Desde 2009, ajudou os bancos com dinheiros públicos, e tentou estimular inicialmente as economias com despesa pública.

Porém, em inícios de 2010 os alemães entraram em pânico, e a Europa entrou numa cruzada de austeridade violenta, cortando a despesa pública à bruta, rejeitando qualquer subida dos salários mínimos, e com subidas generalizadas de impostos.

Ao mesmo tempo, o Banco Central Europeu demorou três anos até declarar que intervinha nos mercados comprando dívida pública, e desde então para cá nunca o fez, apenas mexendo ligeiramente nas taxas de juro, que desceu. 

A Europa rejeitou Keynes, e ignorou Friedman.

E quais foram os resultados?

A Europa afocinhou numa gravíssima crise, que atingiu o seu pico entre 2012 e 2013.

Embora existam áreas que estão a crescer um pouco, o crescimento económico na Europa é muito frágil e curto.

Além disso, o desemprego está em níveis muito elevados, e os salários desceram em muitas regiões.

Pior, as dívidas públicas de muitos países cresceram , em vez de descerem.

Além disso, a Europa está em deflação, os preços estão a cair demais, o que ainda complica mais a vida dos países com problemas, pois as pessoas adiam ainda mais os seus consumos se esperam que os preços desçam no futuro.

Em conclusão, a Europa foi anti-keynesiana, e a intervenção do BCE foi demasiado tímida, anti-Friedman, e o resultado é muito pouco abonatório.

 

Os defensores da austeridade a todo o custo deviam pensar nisso: qual a estratégia que resultou melhor, a americana (Keynes + Friedman)? Ou a europeia (nem Keynes, nem Friedman)?

A resposta é óbvia! 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:11 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 30.01.14

Os "mercados" são mares nunca dantes navegados!

Quando se discute se Portugal deve ou não ter um programa cautelar ou uma "saída limpa", costuma-se sempre pensar que essa decisão depende da vontade do Governo.

É uma doce ilusão. 

Na verdade, o regresso aos mercados ou o programa cautelar, dependem muito mais das condições dos próprios mercados do que de nós.

É evidente que, se o Governo conseguir manter os números do déficit e da economia dentro ou até acima dos objectivos, isso ajuda e é importante, mas não chega.

Se usarmos uma analogia marítima, podemos dizer que é essencial ter um bom barco, e uma boa tripulação, mas isso não significa que se controle o estado do mar, as tempestades ou as calmarias.

É assim também com o regresso aos mercados: o barco Portugal pode estar em melhores condições, e a tripulação preparada, mas não sabemos como estarão as correntes, se vai haver borrasca ou se as ondas sobem muito até Maio.

Ou seja, essa parte não depende de nós, e nem sequer é possível fazer grandes previsões.

Na passada semana, por exemplo, no mesmo dia que o Governo anunciava um número muito bom para o déficit, as taxas de juro da dívida, em vez de subirem, desciam, por causa da Argentina e dos mercados emergentes!

De um dia para o outro, a turbulência dos mercados logo criou um contexto mais difícil para Portugal.

Ora, até Maio, ninguém sabe o que se vai passar nos mercados financeiros. 

O FED pode cortar os estímulos monetários, a Turquia pode entrar em crise, a Ucrânia pode ir para uma guerra civil, o BCE pode mudar de ideias e subir taxas, etc, etc. 

Os mercados financeiros são sempre mares nunca dantes navegados, e por isso mais vale esperar para ver o que acontece, em vez de decidir à pressa.

publicado por Domingos Amaral às 11:28 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 24.01.14

As estatísticas são como os biquinis, mostram muito, mas não mostram tudo...

Nas últimas semanas, várias têm sido as estatísticas positivas divulgadas sobre a economia portuguesa.

O PIB cresceu, sobretudo no último trimestre de 2013.

O desemprego diminuiu, tendência que se notou ao longo do segundo semestre do ano passado.

A receita fiscal subiu muito, em especial a do IRS e do IRC, embora a do IVA tenha crescido pouco.

O deficit vai ficar abaixo dos 5,5% do PIB, combinados com a troika, o que revela capacidade de contenção e cumprimento de objectivos.

As exportações continuam a subir, embora as importações tenham também subido um pouco.

Este somatório de estatísticas positivas não deve ser ignorado, mas também é preciso perceber um pouco melhor porque isto acontece, e qual o verdadeiro impacto na vida dos portugueses.

 

As estatísticas são como os biquinis, mostram muito, mas não mostram tudo...

É verdade que o PIB cresceu, e isso é bom, mas o crescimento é ainda muito pequeno, frágil e há dúvidas se está bem sustentado. 

Crescemos porque houve mais turismo, mais exportações, mais consumo, mas não porque tenha existido mais investimento durante 2013.

O modelo económico português continua o mesmo, e se os estrangeiros não puxarem por nós, é sempre difícil crescer.

Além disso, os cortes orçamentais previstos para 2014, como avisou ontem a Universidade Católica, vão travar o crescimento e podem mesmo contraí-lo.

 

É evidente que a queda do desemprego é o número mais relevante, pela importância social e indivdual que tem, mas há dúvidas sobre se ele cai porque há mais emigração, ou se há mesmo mais emprego a ser criado. 

De qualquer forma, uma taxa de desemprego nos 15% é ainda muito alta, e muito maior do que era hábito.

O grande desafio é perceber se, daqui para o futuro, a economia portuguesa tem capacidade para absorver este desemprego, ou se vamos passar uma década com números desta dimensão, o que será sempre um drama social.

 

Quanto à parte fiscal, o deficit desce sobretudo porque os impostos cresceram, e isso é positivo.

Na verdade, e embora o Governo não o deseje reconhecer, a economia portuguesa adaptou-se muito melhor à subida de impostos de 2013 do que aos cortes brutais na despesa de 2012.

Como a recessão não foi tão funda, as receitas fiscais subiram, e o deficit desceu.

Porém, o governo para 2014 decidiu regressar aos cortes, e por isso é incerto qual será esse impacto em 2014. 

 

É evidente que, com este panorama de sinais positivos, e com as taxas de juro da dívida pública em baixa, muito próximas dos 5 por cento, há condições para Portugal sair do programa de ajustamento em Maio, e até para não necessitar de um programa cautelar.

Mas, cuidado, pois até Maio ainda faltam cinco meses, e as condições económicas têm mudado muito depressa.

O BCE já avisou que a crise não acabou, que os bancos europeus têm graves problemas, e a deflação espreita ao fundo do corredor.

Estar bem em Janeiro não significa que em Maio se vai estar melhor...

 

Por fim, há algo que este Governo parece esquecer.

O povo não se alimenta de boas estatísticas, e embora do ponto de vista psicológico se sintam melhorias em relação ao ano anterior, os benefícios ainda não começaram a chegar ao bolso dos portugueses.

Crescimento económico nem sempre significa crescimento dos rendimentos das pessoas, sobretudo se são valores pequenos.

E há ainda muitos portugueses para quem 2014 vai ser um calvário de sacrifícios, como os funcionários públicos e os pensionistas.

Se contarmos as suas respectivas famílias, são muitos milhões de pessoas que não sentem qualquer melhoria na sua vida.

Tentar criar expectativas positivas com as estatísticas não muda o essencial: o que o biquini esconde não é, neste caso, nada bonito de se ver. 

publicado por Domingos Amaral às 10:17 | link do post | comentar
 

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