Os ataques furiosos a Paulo Portas dão-me vontade de rir
Churchill dizia que na guerra só se pode morrer uma vez, mas na política pode morrer-se várias vezes, e por isso ele preferia ser político.
Ao ler a imprensa neste dias, e ao ouvir muitos comentadores na televisão, parece que Portas já morreu, politicamente.
Mais, parece-me mesmo que há muita gente com vontade de o matar, tal é a fúria e a raiva contra a sua demissão.
Curiosamente, formou-se nos últimos dias uma enorme "aliança anti-Portas", que consegue o inesperado feito de ser muito mais convicta do que era a aliança pró-governo, que também existia.
De repente, mesmo os que, no centro-direita, diziam mal deste Governo, agora já o desejam em funções, e urram contra Portas, chamando-lhe todos os nomes.
Quem compõe esta inesperada aliança anti-Portas?
Bem, em primeiro lugar, o PSD, com as suas múltiplas cabeças falantes.
Marcelo, Jardim, Marques Mendes, até Santana, já vieram esta semana atacar violentamente o líder do CDS, eles que em certos casos, passaram dois anos a criticar o governo...Mas pronto, o PSD é assim, os seus líderes são maus, mas a culpa é sempre de Portas e do seu carácter!
Em segundo lugar, aparece a direita dos interesses, a direita da finança, furiosa e assustadissima com as consequências. Então não é que o malfadado Portas vai pôr em causa o nosso dinheirinho? Ai jesus, olhem para as taxas de juro!
Esta direita está obviamente a borrifar-se para o facto de existirem mais de 1 milhão de desempregados, o país estar em recessão profunda, o deficit estar nos 10,6%, a carga fiscal estar a esmagar os portugueses, e a dívida já ir nos 127% do PIB. Que interessa isso? Desde que o nosso dinheirito não esteja em causa...
Segue-se a direita da "Lei e da Ordem", formada por pessoas muito sérias e responsáveis, que quer dar boa imagem do país, e sempre achou Portas um líder imprevisível e amalucado.
Para esta direita, não se podem admitir "birras" destas. As pessoas sérias não se portam assim, isso é coisa de maluquinhos. Pois...
A acrescentar a toda esta tropa, há ainda uma espécie nova, recém-nascida, que é a dos "comentadores de direita". É aqui que se encontra a maior ferocidade anti-Portas, e têm-se escrito nos jornais insultos como eu nunca tinha visto sobre ninguém.
Os Camilos, os Tavares, os Raposos, os Guerreiros, pegam nas suas augustas penas (ou teclados) e desatam a insultar: "idiota", "fedelho", "traidor", e por aí fora, a ver quem vence o campeonato do insulto fácil. E ainda dizem que a net é só insultos...Pelos vistos, o estilo rasquinha da net chegou à imprensa "mainstream" e respeitável.
Contudo, esta estranha aliança, este estranho unanimismo "politicamente correcto da direita", tem sido bem fraquinho nos argumentos. Quase só ataca o carácter de Portas, nesta coisa muito tuga que é discutir o acessório e o teatral para não ter de discutir o essencial.
A todos escapa um ponto importante: é que as divergências entre Portas e Passos são profundas e tocam em quatro áreas fundamentais.
Portas está contra a política económica deste Governo, e quer que ela mude. Já percebeu que a austeridade não funciona, e que só mudando a política se salva o país.
Portas está contra o alinhemento internacional de Portugal com a linha dura da Alemanha e da austeridade, e quer uma postura negocial diferente com "esses senhores" da troika, como ele lhes chama.
Portas está contra a relação de poder absloutamente desquilibrada que Passos estabeleceu entre o PSD e o CDS, que é insultuosa e humilhante.
Por fim, Portas está contra o "estilo de liderança" de Passos, arrogante e unilateral.
É evidente que, para que todos percebessem que chegou a hora da verdade, era preciso tomar uma atitude drástica. Passos Coelho, em dois anos, nunca quis saber desses "detalhes".
Porém, quem não percebe a bem, percebe a mal.
É por isso que estes furiosos ataques a Portas me dão vontade de rir. Todos, de uma forma ou de outra, têm passado o último ano a criticar Passos. Mas quando alguém quer mudar verdadeiramente as coisas, toca de o insultar e matar em público.
O que vale é que, como dizia Churchill, em política se pode morrer muitas vezes.