Porque é que Passos Coelho se irritou tanto com o manifesto?
Passos Coelho irritou-se muito com o manifesto que pede a reestruturação da dívida.
Ainda a coisa não tinha nascido e já estava ele a matá-la no ventre da mãe.
Furioso contra os notáveis, jurou que jamais a dívida seria reestruturada.
Até me espantou, pois Passos não costuma ligar muito ao que dizem os supostos "notáveis" do país.
O que se passou para Passos perder a paciência?
É evidente que podemos dizer que este não é o timing certo para falar em reestruturação da dívida.
A dois meses do final do programa de ajustamento, estou de acordo que não é o momento certo.
Agora, o importante é terminar o programa, diz Passos, e não criar dúvidas aos nossos credores.
Sim, mas porque é que Passos acha que o manifesto dos notáveis cria dúvidas aos credores?
Em todos os países, quando existem crises de dívida pública, há quem defenda a reestruturação ou renegociação.
Não há qualquer novidade na ideia, que não é nem absurda, nem inesperada.
Porém, qual o real poder dos signatários do manifesto?
Na verdade, nenhum.
São pessoas de esquerda, de direita, de centro, dali e daqui, mas nenhuma delas tem qualquer poder para condicionar Portugal.
Nem o PS, nem Cavaco, nem Portas, subscreveram o manifesto.
Então, porque se enfureceu Passos, como se tudo o que tinha feito até agora ficasse em causa?
Na realidade, Passos está sempre a criar inimigos, e precisa deles para se engrandecer.
Ontem, era o Tribunal Constitucional, hoje são os "notáveis do manifesto".
Alguém a quem se pode atirar culpas, alguém que se pode criticar.
Mas, se o TC ainda era uma instituição que podia limitar as escolhas do Governo, os "notáveis do manifesto" nem isso conseguem.
Enfurecer-se contra eles é uma inutilidade, é ruído sem sentido.
Ou será que Passos acha que a sra Merkel leu o manifesto dos notáveis portugueses e já nem dorme por causa disso?
Ou acha que o rating de Portugal vai ser abalado pelas ideias conjuntas de Louçã e Bagão Felix?