Alguém me explica o que se passa no Brasil?
Embora tenha gostado muito de lá ir por quatro vezes, a verdade é que conheço muito mal o Brasil.
Fui um mero turista, um mero consumidor apressado de sol e mar e calor. Visitei o Rio, Salvador, Fortaleza, as praias e pouco mais, e tenho pena de me ter ficado por aí.
Tenho saudades daquilo que nunca fiz no Brasil. Alimento a fantasia de um dia destes pegar nos filhos e na Sofia e ir fazer uma grande viagem de carro, de São Luís a Porto Alegre.
Enquanto esse dia não chega, tento perceber o que se passa lendo a Veja, visitando sites brasileiro, ou espreitando os canais que por cá existem.
Ora, no presente isso não chega.
De repente, as notícias encheram-se de um Brasil diferente, um país que protesta nas ruas, como a Grécia e a Turquia, com cartazes e cânticos e lutas com a polícia de choque.
Como um dique que rebenta, a multidão, como diz uma minha amiga brasileira, "meteu o foda-se" e saiu protestando, assobiando, culpando os poderes políticos.
No princípio, a justificação era "o preço dos transportes públicos", foi essa a primeira narrativa. Depois, surgiu a "a indignação contra os custos dos estádios de futebol", aproveitando a Taça das Confederações.
Mas logo se deu nova metamorfose na narrativa, nascendo um "protesto geral, contra a corrupção, a imoralidade, a falta de limpeza e moral da classe política". Ou seja, uma questão de regime, de apodrecimento das instituições.
Também ouvi que a culpa era do fim da bonança económica, que bafejou o Brasil na última década, da crise que já morde as pessoas.
Li igualmente que estas manifestações eram o espelho de um "novo Brasil", onde a classe média já bramava por direitos e serviços de qualidade, como num país desenvolvido e já não como num país "em vias de".
Porém, nenhuma destas explicações me satisfez. Tenho de de tentar perceber melhor.
O que se está a passar naquele país onde a direita não existe há décadas, e a esquerda, desde Fernando Henrique a Lula, tão bem tem governado?
O Brasil merece que vamos além da superfície, das racionalizações apressadas de sociologia, ciência política ou economia.
É preciso percebê-lo também com o coração, não só com a cabeça e é isso que tenho de tentar.