Terça-feira, 18.06.13

Todos se portaram muito mal nesta greve

Sindicatos dos professores ou Governo, ambos saem muito mal na fotografia, depois do que se passou ontem. 

Em muitos anos, não me lembro de um conflito onde as partes se tenham portado tão mal como aconteceu com esta greve em tempo de exames.

Dos dois lados, assistimos aos piores e mais maliciosos comportamentos de que há memória. De um lado e do outro, não me lembro de ver tanta má-fé, tanta irresponsabilidade, tanto desejo de escalada do conflito, tanta falta de maleabilidade ou inteligência.

Se o Governo dizia mata, os sindicatos diziam esfola.

Ao primeiro, só interessava a sua demonstração de autoridade musculada, uma exibição pífia e pouco lúcida.

Aos segundos, só interessava a radicalização, numa nostaliga tonta de lutas libertárias de um passado que já nada tem a ver com o presente. 

Ambas as partes agiram com uma vergonhosa incapacidade, e se isto é um Governo de direita, e se isto são sindicatos de esquerda, mal vamos como país.

Temos uma direita e uma esquerda incompetentes e deformadas, que dão mais importância à imagem de durões, uns, e de trauliteiros, outros, do que à substância dos problemas que ambos enfrentam.

E quando as elites governativas e sindicais são deste calibre rasteiro, não é difícil de prever quem se trama pelo caminho. É sempre o mexilhão. Neste caso, os alunos.

 

 

Veja aqui o anúncio ao meu último livro, "O Retrato da Mãe de Hitler"

http://www.youtube.com/watch?v=NhEFjqG26yA&feature=youtu.be

publicado por Domingos Amaral às 11:41 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Sexta-feira, 14.06.13

A esquizofrenia económica e mediática do Governo

Qualquer estudante de Economia sabe que a psicologia dos povos é tão ou mais importante para a economia do que as decisões reais dos governos. 

Desde Keynes até aos pensadores das expectativas racionais, todos estão de acordo que os "estados de alma" de um povo, o seu optimismo e pessimismo, a sua esperança ou a sua descrença no futuro, podem determinar o andamento da economia.

Não é pois de estranhar que os Governos tentem, com os seus discursos, influenciar a psicologia de um país. Por vezes com avisos, como o de Cavaco, com o célebre "gato por lebre"; ou o de Barroso, com o não menos célebre "o país está de tanga". 

Por outras, há uma intenção clara dos políticos de tentar inverter as expectativas, passar do pessimismo ao optimismo. Foi isso que vez Vítor Gaspar, quando há uns dias atrás proclamou bem alto: "este é o momento do investimento"!

Porém, estes discursos psicológicos têm de ser coerentes. Se o discurso visa "arrefecer" a economia, tem de se ser consistente durante uns tempos. Se, pelo contrário, o discurso visa "reanimar" a economia, não se pode dar boas notícias à segunda-feira e más notícias à sexta.

Ora, é precisamente essa coerência que não vejo neste Governo. Tão depressa Passos diz que "as condições de financiamento estão a melhorar", como diz que "o desemprego vai continuar a aumentar". 

Num dia fala-se em "voltar a crescer", passados dois dias fala-se em "cortes substanciais nos salários e nas pensões". De manhã acorda-se a dizer que há "sinais muito positivos na receita fiscal", e à tarde decide-se não pagar os subsídios de férias porque "não há dinheiro".

Esta permanente montanha-russa de boas e más notícias mostra bem o descontrole comunicacional do Governo. Como acreditar que "este é o momento do investimento" quando se anuncia ao mesmo tempo profundos "cortes nas pensões e nos salários"? Como acreditar que há "sinais encorajadores" quando o desemprego bate recordes todos os meses?

Cada semana que passa fico mais convencido que este Governo teve um ataque agudo de esquizofrenia económica, é um Governo bipolar, que anda a deixar os portugueses à beira de um ataque de nervos.

E as coisas não parecem estar a melhorar. Há dois dias, por exemplo, Passos Coelho zurziu no FMI por este ter feito umas críticas à União Europeia, e Cavaco chegou a pedir a saída do FMI da "troika".

Porém, apenas um dia depois, o Governo confirmou que vai levar à prática todas as medidas que o FMI propôs para cortar na despesa. Em que é que ficamos? Então o FMI é duvidoso, mas fazemos o que ele manda?

É natural que o país ande confundido. Nestes altos e baixos permanentes, vivemos entre crenças que duram uns dias e depressões que duram umas semanas. Como os infelizes pais de um filho esquizofrénico, estamos esgotados e sem saber em quem acreditar.

 

publicado por Domingos Amaral às 11:22 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Sexta-feira, 10.05.13

A Europa e a Sra. Merkel deviam pagar os nossos subsídios de desemprego

Já é evidente para todos que a Europa se espetou ao comprido no combate à crise económica e financeira que a invadiu.

O desemprego europeu é avassalador, há cinco países a serem resgatados (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Chipre) e as más notícias não param.

Quase cinco anos depois do início da Grande Crise Financeira de 2008, são por demais evidentes os graves erros cometidos pelos europeus, na resposta àquela que era apenas uma crise financeira e bancária, entre 2008 e meados de 2010.

O primeiro erro foi precisamente esse: os europeus não compreenderam que uma crise financeira devia ser resolvida com medidas financeiras, e não com a economia. Ao obrigarem as economias a sofrer, os europeus transformaram uma crise financeira grave numa crise económica gravíssima.

Em 2009, bastaria o Banco Central Europeu ter dito o que disse três anos mais tarde, em 2012 - que faria o que fosse preciso para "salvar o euro" - e as coisas teriam sido bem mais fáceis para todos.

Contudo, os europeus preferiram um caminho diferente. Liderada pela Alemanha, a Europa decidiu dar sermões e pregar moralidade e aplicar "um castigo" aos países com dívidas excessivas.

O ajustamento teria de ser feito exclusivamente pelos "devedores", esses irresponsáveis que viveram "acima das suas possibilidades"! Esta moralidade durona, típica de Merkel e Schauble, esquecia uma verdade essencial: para existirem devedores "irresponsáveis" também têm de existir credores "irresponsáveis", e os ajustamentos devem ser feitos por ambos, e não apenas pelos "devedores".

Mas, a fúria punitiva e castigadora dos alemães levou a vitória, e os programas de ajustamento aplicaram-se somente aos devedores. E à bruta. As "troikas" dedicaram-se à violência e à rapidez. A austeridade tinha de ser depressa e muita, para funcionar.

Vários anos depois, os resultados desta "Cruzada Austeritária" estão à vista de todos: desemprego brutal, recessão económica profunda nos países intervencionados, e recessão económica geral no resto da Europa.

É claro que, em certos casos, como o de Portugal, os efeitos nefastos foram amplificados por um Governo mais "troikista" do que a própria "troika", e agora ninguém vê forma de Portugal sair deste buraco negro. Mas, a culpa principal é da Europa, e não nossa.

É por todas estas razões que faz cada vez mais sentido a proposta de ser a Europa a pagar os subsídios de desemprego dos países que estão sob intervenção. Se a política europeia foi um erro de proporções gigantescas, o fardo das consequências devia ser suportado sobretudo pela Europa, e não pelos países.

Uma importante parte do desemprego criado em Portugal, na Grécia, na Irlanda, em Chipre e até em Espanha ou Itália, resulta directamente das erradíssimas políticas que os alemães nos impuseram a todos. Ora, porque não mandar-lhes a conta?

Era assim que devia ser. Merkel impôs uma política brutal, essa política falhou e gerou um desemprego brutal, pois então que seja a causadora disto tudo a suportar o preço, pagando os nossos subsídios de desemprego. Talvez assim a senhora aprendesse...

   

publicado por Domingos Amaral às 16:28 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 06.05.13

Gaspar e a Quimioterapia Fiscal

Ao ouvir o Governo nos últimos dias, uma pergunta continua a bailar no meu espírito? Porque perderam dois anos a encharcar a economia com aumentos de impostos?

Sim, quando o Governo chegou, não podia ter começado logo a aprovar medidas como as que agora quer implementar, cortando na despesa do Estado, nas despesas de funcionamento dos ministérios, e coisas assim?

Porque não alterou as regras dos funcionários públicos, porque não propôs programas de rescisão amigável, porque não equalizou as benesses entre trabalhadores públicos e privados? 

Sim, porque é que em vez de ir fundo na reforma, o Governo se entreteve a massacrar os portugueses com impostos e mais impostos, e a fazer ilegalidades inconstitucionais, como sejam a retirada de subsídios a uns e não a outros?

Gaspar, em dois anos, atirou para cima dos portugueses uma verdadeira Quimioterapia Fiscal, em vez de ter feito o que devia, que era cortar a despesa do Estado. Porquê?

Agora, que já estamos todos afocinhados numa violenta recessão, arriscamo-nos ainda a criar mais recessão com estas medidas. Agora, o quadro é muito mais negro do que era há dois anos.

A Quimioterapia Fiscal de Gaspar, como aqui tantas vezes escrevi, não foi apenas errada, foi totalmente inútil. 

publicado por Domingos Amaral às 14:50 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Terça-feira, 09.04.13

Um governo muito Sado-Masoquista...

Era uma vez um Governo que tinha uma clara disfunção. Era um Governo sado-masoquista, no sentido em que os piores erros que cometia, e que o descredibilizavam, eram ideias com que se magoava a si próprio (como um masoquista); e as piores ideias que tinha para o país nasciam sempre como resposta vingativa a rejeições que o pobre Governo sentia (como um sádico).

O masoquismo do Governo era evidente. Ele tomava decisões, mas elas eram erradas ou ilegais, e eram as próprias decisões que tomava que feriam a sua legitimidade. Como alguém que usa cilícios em cima da pele, o Governo sangrava-se a si próprio. 

Um dia, por exemplo, o Governo decidiu ter uma ideia, que julgou muito boa. A ideia era cortar os subsídios de férias e de Natal a todos os funcionários públicos e pensionistas.

Contudo, esta maravilhosa ideia, uma verdadeira pérola política, tinha a desagradável característica de ser inconstitucional. Não houve niguém no Governo que tivesse pensado nessa possibilidade, e por isso a ideia foi rejeitada pelo Tribunal competente, e acabou por provocar grandes estragos ao Governo, que ficou com a sua imagem e as suas contas baralhadas.

Irritadíssimo, o Governo decidiu então ser sádico. Ai não posso cortar subsídios? Então tomem lá com as alterações da TSU! Como uma criatura furiosa por ter visto a sua genial ideia rejeitada, o Governo vingou-se na população. Qual sádico espumante pelos cantos da boca, pegou na chibata e decidiu aumentar a TSU para os trabalhadores e diminui-la para os patrões, em mais uma pérola política de valor incalculável.

Esta sádica proposta rapidamente fez ricochete e se transformou num acto de puro masoquismo. É evidente que o país em peso se revoltou contra as alterações na TSU e o Governo lá teve de deixar cair mais uma ideia. Pelo caminho, magoou-se mais uma vez a si próprio, como bom masoquista que é. Em vez de chicotear o povo, fustigou-se a si mesmo nas costas, qual penitente nas Filipinas! 

Nova rejeição provocou novas fúrias, e lá ressuscitou o sádico. Ai não aceitam mexidas na TSU? Então tomem lá um "enorme aumento de impostos no IRS", acompanhado de cortes nos subsídios de férias de funcionários públicos e pensionistas. A vingança pela derrota na TSU foi terrível, o sadismo vastíssimo! O Governo ergueu um ferro em brasa e preparou-se para queimar o povo no lombo!

Porém, como já seria de esperar, os masoquistas magoam-se sempre a si próprios com as suas taras mirabolantes. Enervadíssimo e vingativo, o Governo cometeu novo erro, e voltou a ferir-se, espetando o ferro na própria anca! Uns meses depois, o Tribunal Constitucional declarou ilegais os cortes nos subsídios, e o Governo lá teve de lamber as feridas auto-infligidas uma vez mais.

Só que (onde é que já vimos isto?), é habitual que o masoquista se torne sádico quando é rejeitado, e lá veio de novo o Governo, espumando raiva, prometer cortes e mais cortes. É outra vez o sádico a erguer-se ameaçador, de tridente numa mão e bola de pregos na outra.

Espera-se muita dor e ranger de dentes nos próximos tempos? Infelizmente esperam-se sobretudo mais ideias ilegais ou inaceitáveis pela população. Ou seja, mais do mesmo, um boomerang sado-masoquista permanente e interminável.  

É assim a nossa sina: temos um Governo que, antes de fazer mal ao país, faz sobretudo mal a ele próprio, com a sua incompetência ou fanatismo cego. Se cair um dia destes, cai por culpa própria, porque foi inábil e inepto. Como sempre são os sado-masoquistas... 

publicado por Domingos Amaral às 10:34 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 03.04.13

Se parece um nabo, normalmente é um nabo!

Os americanos têm um excelente provérbio: quando algo se parece com um pato, anda como um pato e grasna como um pato, é porque é um pato!

É isso que eu sinto nos últimos tempos em relação a António José Seguro: se parece um nabo, se age como um nabo e se fala como um nabo, então se calhar é porque António José Seguro é mesmo um nabo!

Depois de um Outono razoável, Seguro perdeu-se durante o Inverno e está a evidenciar uma nabice pura com a chegada da Primavera. Não sei se terá sido a pressão de António Costa ou a do regresso de Sócrates que o desequilibrou, mas a verdade é que ele todos os dias me parece menos capaz.

Seguro anda atarantado. Num dia lança uma moção de censura, sem dizer quando, e pede eleições antecipadas, sem dizer para quando. No outro, grita que quer renegociar o memorando com a troika. Mas, no entretanto, escreve cartas à mesma troika, para que ela não se assuste com a "instabilidade", dando garantias de ferro sobre a sua fidelidade aos compromissos internacionais. 

Por um lado, grita contra a austeridade, mas por outro, desestabiliza o país, falando em eleições antecipadas. Com que propósito? Estará o PS de Seguro convencido de que ganhava as eleições agora, se elas fossem convocadas por Cavaco, por exemplo para Junho?

Se assim é, convém alguém dizer a Seguro que, com ele à frente do PS, essa garantia não existe, bem pelo contrário. A julgar pelas sondagens, o país não tem grande crença no António José. 

Por outro lado, e embora Passos sempre tenha dito que ia governar sem pensar nas eleições, essa é uma declaração datada. Se a decisão do Tribunal Constitucional for muito dolorosa para o Governo, obrigando-o a alterar de cima a baixo o orçamento, Passos pode bem despoletar uma crise, e alegar que assim não consegue governar o país. E depois?

Bom, e depois preparem-se para a nova AD. Sim, preparem-se, pois o mais certo é Passos e Portas fazerem uma aliança pré-eleitoral, com listas conjuntas, e apresentarem-se unidos às eleições, contra Seguro e o seu PS. 

Se há coisa que tem sido óbvia no último mês é a permanente aproximação do CDS ao PSD. Depois da crise da TSU e curadas as feridas, há agora entre Portas e Passos muito mais em comum, pois Passos já percebeu que sem Portas vale muito menos. A arrogância inicial de Passos esbateu-se na dureza da crise, e ele precisa cada vez mais do CDS.

Pé ante pé, o centro-direira juntou-se sem quase darmos por isso. Aliás, o regresso intempestivo de Sócrates só ajudou ao clima de pré-união. O ódio que existe nas bases do PSD e do CDS a Sócrates unificou o centro-direita, é uma cola poderosa como nenhuma outra.

E alguém duvida que, irmanados e aliados numa AD, Passos e Portas teriam mais votos do que Seguro e o seu PS? Acho que não há dúvidas. Com uma AD pré-eleitoral, Passos e Portas podiam não ter maioria absoluta, mas ficariam sempre à frente do PS de Seguro. Depois, poderiam até chamá-lo para um governo a três, mas sempre com o PSD a comandar. É isso que Seguro quer?

Se não é, parece. Esta moção de censura que hoje se vota é uma tontaria. Pedir eleições neste momento é um erro colossal do PS de Seguro. Se as eleições fossem convocadas agora, uma AD ganhava sempre ao PS de Seguro, e ficava quase tudo na mesma. Para quê então perder tempo em eleições?

 

PS: É claro que o PS pode sempre deixar cair Seguro e apresentar António Costa às eleições, mas um golpe de teatro desses é capaz de ser agora mais difícil...E também não é certo que Costa vencesse uma AD unida.

 
publicado por Domingos Amaral às 12:03 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Quarta-feira, 20.03.13

Os seis graves erros deste Governo

Quase dois anos depois de ter tomado posse, é já possível listar quais foram os seis erros mais graves deste Governo, que o fizeram perder muita credibilidade e legitimidade aos olhos dos portugueses. Aqui vai a lista:

 

1 - Desvio estratégico em relação ao memorando original assinado com a "troika".

Como ontem aqui escrevi, as principais medidas emblemáticas deste Governo (sobretaxa de IRS, corte nos subsídios dos funcionários públicos e pensionista, tentativa de mudar a TSU, e aumento enorme de IRS) não estavam escritas no memorando original assinado entre Portugal e a "troika" em Maio de 2011. Na ânsia de despachar o ajustamento, o Governo decidiu medidas de austeridade muito mais graves e profundas do que aquelas que estavam acordadas. Com isso, agravou brutalmente a recessão e o desemprego subiu para valores altíssimos. A estratégia da austeridade "dura e rápida", cuja responsabilidade é de Vítor Gaspar, falhou rotundamente. 

 

2 - Falta de equidade nos sacrifícios. 

Ao decidir cortar os subsídios de férias e Natal para funcionários públicos e pensionistas, deixando os trabalhadores do sector privado de fora, o Governo dividiu os portugueses, passando a existir portugueses de primeira, que não se sacrificavam tanto, e portugueses de segunda, que suportavam mais sacrifícios. Isso foi um erro grave, de equidade e de moral, além de ter sido uma ilegalidade jurídica, como muito bem o Tribunal Constitucional veio dizer, proibindo a solução para 2013. Mas, o mal estava feito. 

 

3 - Incapacidade para cortar na despesa permanente do Estado

Desde o Verão de 2011 que o Governo decidiu que, em vez de cortar na despesa estrutural do Estado, como estava previsto no memorando original, era mais fácil sobrecarregar o país com impostos, ou então retirar subsídios a certos grupos de pessoas (funcionários públicos e pensionistas). Com isso, demonstrou a sua incapacidade total para perceber a raiz do problema, e preferiu as soluções mais fáceis e rápidas. Como se viu, gerou um problema ainda maior e não conseguiu resolver o problema original. 

 

4 - Desprezo pelo consenso político e social

Em Maio de 2011, quando o memorando original foi assinado, existia um amplo consenso político e social em Portugal, que permitia ao Governo contar com o apoio do PS e dos parceiros sociais. No entanto, durante quase um ano e meio, Passos Coelho desprezou o PS e os parceiros sociais, nunca os tratando com o respeito que eles mereciam. Evidentemente, com o tempo a passar, e sentindo a hostilidade permanente do Governo, tanto o PS como os parceiros sociais se foram afastando, e o consenso nacional necessário rompeu-se. Foi a arrogância do Governo que criou esta situação, o que foi um erro grave. 

 

5 - Colagem patética às posições da Alemanha na Europa.

Desde que iniciaram a sua governação, Passos Coelho e Vítor Gaspar alinharam, de forma acéfala e seguidista, com as ideias da Alemanha sobre como resolver a crise europeia e as crises nacionais dos países com elevadas dívidas. Em momento algum o Governo percebeu que essa colagem era prejudicial aos interesses de Portugal, e que por mais que fosse necessário ganhar credibilidade nos mercados financeiros, era igualmente necessário ter uma posição mais crítica contra a linha dura da Sra Merkel e do Sr. Schauble. Como se viu na questão da renegociação dos prazos da dívida, o Governo da Alemanha está-se nas tintas para os nossos problemas, e só pensa em ser reeleito, e não mostrará qualquer boa vontade para com Portugal antes de isso acontecer. Qual foi então o benefício de estarmos colados à Alemanha?

 

6 - Relvas e companhia

É evidente que manter Relvas no Governo foi um erro, bem como alguns outros personagens menores. No entanto, comparado com os outros erros e o que eles custaram ao país, este foi o menos grave. Mas, o seu simbolismo é ainda assim bastante degradante da credibilidade de Passos Coelho.  

 

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 14:47 | link do post | comentar | ver comentários (14)
Terça-feira, 19.03.13

O PSD e o memorando da troika: a mentira

Nos últimos dias, muitas pessoas próximas do PSD e do Governo têm procurado passar a ideia de que o "memorando da troika" estava mal desenhado desde o princípio (Maio de 2011), e que é por isso que as medidas do Governo estão a falhar, e não por culpa do próprio Governo. Há poucas ideias mais falsas do que esta, e convém que os portugueses não se deixem manipular assim.

Vamos por partes. Em primeiro lugar, quem quiser ler o memorando original que foi assinado entre o Governo de Sócrates e a "troika", em Maio de 2011, pode ir lê-lo, o link está no final deste post. Relembro apenas que o documento teve o apoio expresso não só do PS, mas também do PSD e do CDS.

Se o lerem com atenção, vão verificar que não existem em lado nenhum as quatro medidas mais emblemáticas do Governo de Passos Coelho. Não está lá escrito que é necessária uma sobretaxa no IRS (aplicada no Natal em 2011); nem que é necessário cortar os subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos e pensionistas (aplicada em 2012); nem que é necessária uma alteração na TSU (tentada sem sucesso em Setembro de 2012); nem está lá dito que é necessário um "enorme aumento" do IRS (aplicado em 2013).

Ou seja, no memorando original, a estratégia escolhida era muito mais de cortes no lado da despesa, e não de aumentos de impostos ou de cortes salarias ou de subsídios. Foi Vítor Gaspar que, mal se viu ministro das Finanças, decidiu escolher uma via diferente, e optar pelas escolhas que optou. 

Pode mesmo dizer-se que, não fossem as invenções graves de Gaspar, e a sua mudança abrupta de estratégia relativamente ao que estava acordado com a "troika", e certamente a recessão não teria sido tão grave como está a ser.

Vítor Gaspar, bem como um grupo de pessoas em seu redor (António Borges, Carlos Moedas, Braga de Macedo) é que conseguiram impor a sua via ao Governo, convencendo um inábil e pouco preparado Passos Coelho de que o ajustamento na sua versão PSD, ultra-rápida e à bruta, iria resultar muito melhor do que o ajustamento "light" que estava previsto no memorando original. 

O PSD é pois responsável por este ajustamento e pelos seus resultados cruéis, e não pode agora vir dizer que era o memorando que estava mal desenhado. Isso é absolutamente falso. Foi Gaspar quem adulterou o memorando, e seguiu outro caminho. A culpa não é da "troika", a culpa é de Vítor Gaspar e do Governo.

Contudo, não se pense que a culpa é só deles, porque não é. Há muita gente inteligente e poderosa que apoiou de uma forma acéfala e acrítica a estratégia "hard line" de Vítor Gaspar, que falhou rotundamente. Infelizmente, o PSD contou com o apoio expresso de muita luminária, em todos os sectores.

Nem vale a pena falar de António Borges, mas há mais gente. Na banca, Fernando Ulrich foi o grande campeão do apoio ao Governo, chegando a falar em "ditadura do Tribunal Constitucional" (!!!!) e a dizer, com um certo gozo, que o país "aguentava" mais austeridade!

Na sociedade civil, Isabel Jonet também foi uma grande apoiante desta estratégia, e na maior parte da comunicação social escrita, houve muita gente que deve andar agora envergonhada do que escreveu há dois anos! Nem vou falar em Camilo Lourenço, pois esse está para além da salvação possível...

Era bom que toda esta gente levasse a mão à consciência e a sentisse pesada, pois foi com o apoio de muitos deles que chegámos onde chegámos. Mas, é esperar demais. A humildade não é uma característica dos iluminados... 

 

Para ler o memorando original vá a:
(http://www.portugal.gov.pt/media/371372/mou_pt_20110517.pdf).

publicado por Domingos Amaral às 10:42 | link do post | comentar | ver comentários (14)
Quarta-feira, 12.12.12

Lista de Presentes de Natal para o Governo

Para quem esteja com dúvidas sobre o que comprar e o que oferecer a alguns dos nossos governantes no próximo Natal, eis aqui umas sugestões:

 

Pedro Passos Coelho - um coelinho a pilhas da Duracell, que dura, e dura e dura...O livro do prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, com o título "Acabem Com Esta Crise Já!". Um CD do Paulo de Carvalho, com uma gravação da Nini, ao vivo no Coliseu, para se recordar sempre daquela noite. 

 

Vítor Gaspar - Um curso rápido de operador de telemarketing, para ele aprender a falar mais depressa. Um dicionário português-alemão para se entender ainda melhor com o seu congénere Schauble. Um kit de modelismo para ele poder "modelar" as medidas que quisesse. 

 

Paulo Portas - Muito papel de carta e envelopes lacrados, e uma caneta Bic, para nunca lhe faltar com que escrever cartas à "troika". Um vídeo sobre malabarismos em cima do arame, perigosos mas muitas vezes bem sucedidos. 

 

Miguel Relvas - Uma televisão, com home cinema e 200 canais à escolha, para ele matutar sobre todos os modelos possíveis para a RTP. Um par de castanholas para ele actuar mais vezes no rancho fóclórico. Um curso rápido de inglês, fácil de terminar. 

 

Miguel Macedo - Um livro de fábulas de La Fontaine, para se inspirar, e uma embalagem de Baygon para poder eliminar cigarras. E formigas. E melgas.

 

Álvaro Santos Pereira - Um combóio eléctrico, uma retroescavadora e muitos camiões, todos da Playmobil, para ele lançar a reindustrialização do país e da Europa a partir de casa.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 12:32 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 20.11.12

Os "Zandingas" e as "Mayas" da Economia

Os seres humanos sempre adoraram prever o futuro, e quem o consegue conquista um poder especial, quase divino. Os druidas gauleses observavam as entranhas dos peixes, a Nancy Reagan consultava uma cartomante, os meteorologistas avisam o tempo dos próximos dias, os espectadores matinais da SIC escutam os horóscopos da Maya, e os economistas do mundo inteiro fazem previsões sobre 2013 e 2014. 

Para enfrentar a ansiedade da vida, nada melhor do que uma crença positiva sobre os dias de amanhã. Será que vai chover? Consulte-se o weather.com. É amanhã que ela vai descobrir o amor da sua vida? Ela é Peixes, e diz na revista que a próxima semana é fundamental no Amor! Ele irá ser bem sucedido na operação aos intestinos? A carta do Tarot anunciava um bem-estar radioso! Será que Portugal vai crescer em 2014? A previsão do Governo diz que sim, 0,8 por cento!

O problema do futuro é que há cada vez mais gente a tentar prevê-lo! Nas sociedades primitivas, esse poder era exclusivo dos sacerdotes, que mandavam matar quem os desafiasse. Com o tempo, o número de druidas cresceu exponencialmente, e hoje é escusado esventrar animais ou esfregar bolas de cristal, há modelos matemáticos que não sujam as mãos nem nos fazem passar por charlatão.

Só que, havendo tantos a prever o futuro, quem tem razão? Sim, é a Maya ou é o professor Bamba? Será o Tarot mais eficaz que o horóscopo Chinês? Será o weatherchannel mais preciso que o Instituto de Meteorologia? E quem está mais perto da verdade, nas suas previsões para 2013: o Banco de Portugal, o Governo ou o FMI?

Há umas décadas, na semana anterior a qualquer passagem do ano, os jornais publicavam as previsões dos astrólogos para o ano seguinte. Foram os tempos do saudoso Zandinga e de outros personagens semelhantes. Hoje, já não há Zandinga, mas há a OCDE, a União Europeia, o Conselho Económico Social, e muitos outros organismos capazes de nos adivinharem o futuro. 

Mas quem é o melhor Zandinga da economia? Por exemplo, em 2013 o PIB poderá retrair-se 1 por cento (Zandinga do Governo); 1,6 por cento (Zandinga do Banco de Portugal); ou 2 por cento (outro Zandinga qualquer, cujo nome agora não recordo, mas que não era a Maya nem o professor Bamba). E o deficit poderá ser de 4%, 5%, 4,5%, ou mesmo 3,5%, consoante se consulte a cartomante de Berlim ou a de Bruxelas.

No final do dia, é natural que os portugueses estejam um pouco confusos. A guerra das previsões económicas é uma guerra feroz, onde cada druida tenta ganhar ascendente sobre os outros, provando que andou mais perto da verdade. Na realidade, o que isso interessa? Em 2013 já ninguém se vai importar com as previsões feitas um ano antes, e toda a gente já estará a consultar a Maga Patalógica para saber o que vai acontecer em 2014, ou mesmo em 2015.

E amanhã, será que vai mesmo chover? Pelo seguro, como dizia a minha avó, é melhor levar o guarda-chuva.    

 

publicado por Domingos Amaral às 11:34 | link do post | comentar | ver comentários (4)
 

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