Terça-feira, 09.04.13

Um governo muito Sado-Masoquista...

Era uma vez um Governo que tinha uma clara disfunção. Era um Governo sado-masoquista, no sentido em que os piores erros que cometia, e que o descredibilizavam, eram ideias com que se magoava a si próprio (como um masoquista); e as piores ideias que tinha para o país nasciam sempre como resposta vingativa a rejeições que o pobre Governo sentia (como um sádico).

O masoquismo do Governo era evidente. Ele tomava decisões, mas elas eram erradas ou ilegais, e eram as próprias decisões que tomava que feriam a sua legitimidade. Como alguém que usa cilícios em cima da pele, o Governo sangrava-se a si próprio. 

Um dia, por exemplo, o Governo decidiu ter uma ideia, que julgou muito boa. A ideia era cortar os subsídios de férias e de Natal a todos os funcionários públicos e pensionistas.

Contudo, esta maravilhosa ideia, uma verdadeira pérola política, tinha a desagradável característica de ser inconstitucional. Não houve niguém no Governo que tivesse pensado nessa possibilidade, e por isso a ideia foi rejeitada pelo Tribunal competente, e acabou por provocar grandes estragos ao Governo, que ficou com a sua imagem e as suas contas baralhadas.

Irritadíssimo, o Governo decidiu então ser sádico. Ai não posso cortar subsídios? Então tomem lá com as alterações da TSU! Como uma criatura furiosa por ter visto a sua genial ideia rejeitada, o Governo vingou-se na população. Qual sádico espumante pelos cantos da boca, pegou na chibata e decidiu aumentar a TSU para os trabalhadores e diminui-la para os patrões, em mais uma pérola política de valor incalculável.

Esta sádica proposta rapidamente fez ricochete e se transformou num acto de puro masoquismo. É evidente que o país em peso se revoltou contra as alterações na TSU e o Governo lá teve de deixar cair mais uma ideia. Pelo caminho, magoou-se mais uma vez a si próprio, como bom masoquista que é. Em vez de chicotear o povo, fustigou-se a si mesmo nas costas, qual penitente nas Filipinas! 

Nova rejeição provocou novas fúrias, e lá ressuscitou o sádico. Ai não aceitam mexidas na TSU? Então tomem lá um "enorme aumento de impostos no IRS", acompanhado de cortes nos subsídios de férias de funcionários públicos e pensionistas. A vingança pela derrota na TSU foi terrível, o sadismo vastíssimo! O Governo ergueu um ferro em brasa e preparou-se para queimar o povo no lombo!

Porém, como já seria de esperar, os masoquistas magoam-se sempre a si próprios com as suas taras mirabolantes. Enervadíssimo e vingativo, o Governo cometeu novo erro, e voltou a ferir-se, espetando o ferro na própria anca! Uns meses depois, o Tribunal Constitucional declarou ilegais os cortes nos subsídios, e o Governo lá teve de lamber as feridas auto-infligidas uma vez mais.

Só que (onde é que já vimos isto?), é habitual que o masoquista se torne sádico quando é rejeitado, e lá veio de novo o Governo, espumando raiva, prometer cortes e mais cortes. É outra vez o sádico a erguer-se ameaçador, de tridente numa mão e bola de pregos na outra.

Espera-se muita dor e ranger de dentes nos próximos tempos? Infelizmente esperam-se sobretudo mais ideias ilegais ou inaceitáveis pela população. Ou seja, mais do mesmo, um boomerang sado-masoquista permanente e interminável.  

É assim a nossa sina: temos um Governo que, antes de fazer mal ao país, faz sobretudo mal a ele próprio, com a sua incompetência ou fanatismo cego. Se cair um dia destes, cai por culpa própria, porque foi inábil e inepto. Como sempre são os sado-masoquistas... 

publicado por Domingos Amaral às 10:34 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 10.09.12

As 50 sombras de Passos

Foi inesperado, à bruta, aquele anúncio de sexta-feira, em que Passos Coelho informou o país de que ia trazer mais sombras às nossas vidas. Houve algo de sádico naquelas decisões, que pareciam menos dolorosas antes das contas serem feitas, mas depois se revelaram uma monstruosidade. Passos ainda não sabe, mas já perdeu o país. A partir de sexta-feira, o jogo mudou, a opinião pública virou, e as explosões de raiva vão germinar, como num ovo de uma serpente germina o perigo. Os portugueses estão a fartar-se deste jogo de sado-masoquismo a que o governo e a Europa nos estão a submeter. A destruição de toda e qualquer expectativa para o futuro dá cabo dos nossos sonhos, deprime-nos e subjuga-nos. Passos encheu-nos de sombras, e muito mais do que cinquenta sombras vão cair sobre nós. No entanto, o masoquismo com que os portugueses têm vivido estes tempos, onde interiorizámos a culpa, chicoteando-nos nas costas por termos vivido "acima das nossas possibilidades", como diz o discurso do poder, esse masoquismo está a terminar. Infelizmente, o sadismo não está a terminar, antes pelo contrário, ganhou na sexta-feira uma dimensão diferente e perigosíssima. O chicote austero do governo, a chibata que nos fustiga, rasgou as feridas definitivamente, e agora vão nascer as revoltas e as cobras. Nenhum povo pode aguentar calado e quieto tanta e tão desnecessária brutalidade. Há outro caminho, há sempre outro caminho, e só os dormentes ou os estúpidos suportam a destruição permanente dos seus sonhos. A política Sado-Masoch continua, mas só os escravos têm de aguentar calados... 

publicado por Domingos Amaral às 12:17 | link do post | comentar | ver comentários (5)
 

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