Quem tem medo mata um cão
Percebo perfeitamente que as pessoas se assutem com uma doença que desconhecem, o ebola, e que é perigosa, pois não se encontrou ainda a cura.
Mas, parece-me que entrar em pânico não é o melhor caminho.
Os serviços de saúde espanhóis mataram um cão apenas com um argumento: o medo que ele propague a doença.
O Excalibur era o cão da enfermeira espanhola que foi contagiada com o vírus. As autoridades espanholas decidiram matá-lo.
Porém, o cão não estava doente. Ninguém lhe fez sequer uma análise!
Ninguém tinha qualquer certeza se ele ia adoecer, se ia contrair ou não a doença, ou se no caso de contrair a poderia pegar a seres humanos.
Nada disso se sabia, mas o cão foi mesmo assim abatido, só porque teve o azar de passar uns dias com a dona, depois dela ter adoecido.
Parece-me uma estupidez colossal.
O cão, em vez de ser morto, deveria ter sido analisado.
A ciência tem evoluído muito com o estudo dos animais, e este podia ajudar-nos a saber se o ebola passa de humanos para cães, e como se propaga.
Nada disso foi feito.
O pânico tomou conta das autoridades espanholas, e na dúvida, mais valia matar o cão do que esperar para ver se ele adoecia ou não.
A isto chama-se medo puro. Matou-se porque se teve medo.
Não se matou um cão doente. Matou-se um cão que nem sequer sabemos o que tinha.
Ou seja, não se evoluiu, não se fez nada para perceber a doença, apenas se matou porque se teve medo.
Diz o provérbio antigo que quem tem medo, compra um cão.
Em Espanha, quem tem medo, mata um cão.
Ora, já dizia Roosevelt, o presidente americano: "a única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo".
O medo infeta as pessoas, torna-as aterradas, cruéis, más, e dispostas a matar para acabar com esse medo.
O medo brutaliza-nos, afasta-nos da civilização, faz-nos regressar à barbárie.
Pessoas com medo, são pessoas perigosas.
Para combater o ebola, não podemos ter medo.
Temos de confiar que a nossa civilização é capaz de ter pessoas corajosas, que são capazes de estudar esta doença e tentar encontrar uma forma de a dominar.
Se essa coragem não existir, nunca vamos conter uma doença, porque nos recusamos a estudá-la.
Foi essa coragem que não existiu em Espanha.
As autoridades recusaram a coragem de ser humano e tentar perceber melhor a doença.
E isto não tem nada que ver com os direitos dos animais.
Eu não me comovo com cães agressivos, que matam crianças ou adultos.
Mas acho que um cão que nem sequer se sabe se tem qualquer doença deve ter o direito a continuar vivo.
Porque matar um animal só se justifica se ele for comprovadamente perigoso, não quando apenas temos medo que ele possa vir a ser, eventualmente, perigoso.