Os "Zandingas" e as "Mayas" da Economia
Os seres humanos sempre adoraram prever o futuro, e quem o consegue conquista um poder especial, quase divino. Os druidas gauleses observavam as entranhas dos peixes, a Nancy Reagan consultava uma cartomante, os meteorologistas avisam o tempo dos próximos dias, os espectadores matinais da SIC escutam os horóscopos da Maya, e os economistas do mundo inteiro fazem previsões sobre 2013 e 2014.
Para enfrentar a ansiedade da vida, nada melhor do que uma crença positiva sobre os dias de amanhã. Será que vai chover? Consulte-se o weather.com. É amanhã que ela vai descobrir o amor da sua vida? Ela é Peixes, e diz na revista que a próxima semana é fundamental no Amor! Ele irá ser bem sucedido na operação aos intestinos? A carta do Tarot anunciava um bem-estar radioso! Será que Portugal vai crescer em 2014? A previsão do Governo diz que sim, 0,8 por cento!
O problema do futuro é que há cada vez mais gente a tentar prevê-lo! Nas sociedades primitivas, esse poder era exclusivo dos sacerdotes, que mandavam matar quem os desafiasse. Com o tempo, o número de druidas cresceu exponencialmente, e hoje é escusado esventrar animais ou esfregar bolas de cristal, há modelos matemáticos que não sujam as mãos nem nos fazem passar por charlatão.
Só que, havendo tantos a prever o futuro, quem tem razão? Sim, é a Maya ou é o professor Bamba? Será o Tarot mais eficaz que o horóscopo Chinês? Será o weatherchannel mais preciso que o Instituto de Meteorologia? E quem está mais perto da verdade, nas suas previsões para 2013: o Banco de Portugal, o Governo ou o FMI?
Há umas décadas, na semana anterior a qualquer passagem do ano, os jornais publicavam as previsões dos astrólogos para o ano seguinte. Foram os tempos do saudoso Zandinga e de outros personagens semelhantes. Hoje, já não há Zandinga, mas há a OCDE, a União Europeia, o Conselho Económico Social, e muitos outros organismos capazes de nos adivinharem o futuro.
Mas quem é o melhor Zandinga da economia? Por exemplo, em 2013 o PIB poderá retrair-se 1 por cento (Zandinga do Governo); 1,6 por cento (Zandinga do Banco de Portugal); ou 2 por cento (outro Zandinga qualquer, cujo nome agora não recordo, mas que não era a Maya nem o professor Bamba). E o deficit poderá ser de 4%, 5%, 4,5%, ou mesmo 3,5%, consoante se consulte a cartomante de Berlim ou a de Bruxelas.
No final do dia, é natural que os portugueses estejam um pouco confusos. A guerra das previsões económicas é uma guerra feroz, onde cada druida tenta ganhar ascendente sobre os outros, provando que andou mais perto da verdade. Na realidade, o que isso interessa? Em 2013 já ninguém se vai importar com as previsões feitas um ano antes, e toda a gente já estará a consultar a Maga Patalógica para saber o que vai acontecer em 2014, ou mesmo em 2015.
E amanhã, será que vai mesmo chover? Pelo seguro, como dizia a minha avó, é melhor levar o guarda-chuva.