Drogas e Dívidas
Os países que têm dívidas a mais são uma espécie de "drogados", e a austeridade é uma espécie de "cura de desintoxicação"? Tenho ouvido muitas vezes esta comparação. Na ânsia de justificar esta "cura", apresentam-se os países como "viciados em dívidas", seres descontrolados que perderam a capacidade de contenção financeira, e que precisam de ser afastados da "dívida" como os drogados são afastados das suas drogas, fechados em clínicas de desintoxicação para se libertarem do jugo, para deixarem de ser "agarrados". Ora, não me parece nada inteligente a comparação. Afinal, aquilo que os portugueses, os gregos e muitos outros estão a fazer não é a "deixarem as dívidas", mas sim a sacrificarem-se para, em 2014, poderem drogar-se de novo com mais dívidas. Se as "dívidas" fossem drogas, a ideia não seria certamente sacrificarmo-nos hoje para voltarmos a drogar-nos amanhã, pois não? Quando alguém se liberta da droga, procura libertar-se para sempre e nunca mais tocar em drogas. Não é isso que se passa com os países. Então eles estão a fazer sacrifícios brutais durante dois ou três anos, para depois voltarem a drogar-se em 2014? Ganhar "credibilidade" através da austeridade, para depois voltar aos mercados em 2014, é como fazer uma cura de desintoxicação de dois anos e depois voltar ao mesmo regabofe! Além de que, nós não deixámos de nos "drogar", apenas trocámos de fornecedor. Antes eram "os mercados", agora é a "troika"! Portanto, comparar "dívidas" a "drogas" é um erro, mas lá que há muita gente a pensar assim, lá isso há.