Dr. Passos, isto não é uma questão de pessimismo!
Com um triunfalismo um pouco excessivo, Passos Ceolho afirmou que "o tempo do pessimismo está a acabar"!
Por vezes, tenho a sensação que está na moda este uso de explicações psicológicas e sentimentais para explicar as flutuações da economia.
É como se tudo se reduzisse a "estados de alma", "emoções", "comportamentos desviantes", coisas assim.
É evidente que a psicologia e as expectativas dos povos têm efeitos sobre a economia, mas convinha não exagerar.
A nossa crise não foi uma crise de pessimismo, nem de pessimistas.
A crise portuguesa existiu por muitas e variadas razões, e nenhuma delas foi psicológica.
Existiu porque houve uma terrível crise financeira internacional, em 2008.
Existiu porque essa crise gerou outra, uma crise do euro, a partir de 2009.
Existiu porque a crise do euro gerou a crise das dívidas soberanas, lançando muitas dúvidas sobre a capacidade de certos países conseguirem pagar as suas dívidas, e as taxas de juro subiram.
E existiu porque a linha que as troikas escolheram, e que Passos aplicou como aluno empenhado, provocou uma recessão brutal!
Reduzir tudo isso a "pessimismo" é um doce engano.
As pessoas não deixaram de consumir apenas porque estivessem "apreensivas" ou "pessimistas"!
As pessoas deixaram de consumir sobretudo porque pura e simplesmente têm muito menos dinheiro disponível agora, ou porque foram parar ao desemprego, o que é bem diferente de pessimismo...
Quem pensar que é com excitações psicológicas que tira o país da crise, está a alimentar uma estranha ilusão.
A melhoria recente da economia portuguesa não se deve a uma diminuição do pessimismo, ou a um súbito aumento de optimismo.
A verdade é que houve mais turismo, mais exportações, e taxas de juro um pouco mais baixas.
Ou seja, quem está optimista são os estrangeiros, os turistas que nos vêm visitar, os países que nos compram as exportações, e os investidores que compram a nossa dívida pública nos mercados internacionais.
Esses sim, já não estão pessimistas!
E isso melhora um pouco a nossa vida, mas não muito.
A verdade é que os portugueses, em geral, ainda não sentem grandes melhorias na sua vida.
Optimistas ou pessimistas, o pilim no final do mês continua curto.
E enquanto for assim, não há psicologia que nos valha...