Quinta-feira, 05.06.14

A conspiração geral contra António Costa

A decisão de António Costa se candidatar á liderança do PS foi o verdadeiro terramoto eleitoral da semana.

De repente, o pânico instalou-se em quase todos os partidos, à esquerda ou à direita.

Primeiro, instalou-se na cúpula do PS.

Seguro ficou totalmente siderado.

Julgava ele que, depois de uma média vitória nas autárquicas e de uma minúscula vitória nas europeias, o seu caminho estava aberto para chegar a S. Bento.

Pode mesmo dizer-se que Seguro, no domingo às oito da noite, já via a luz no fundo do túnel.

Porém, como uma vez disse um escritor americano, temos de ter cuidado com a luz que se vê ao fundo do túnel, pois pode ser um combóio a vir na nossa direção.

Foi o que se passou com o pobre do Seguro: já via a luz ao fundo do túnel, e de repente essa luz é o combóio de António Costa a vir contra ele!

 

Mas, o pânico também se instalou na cúpula dos partidos de centro-direita, PSD e CDS.

No domingo, era indisfarçável o contentamento.

A maior derrota de sempre do centro-direita ficara muito saborosa pois o PS só tivera 31 por cento!

E, como revelava uma sondagem da TVI, isso queria dizer que a derrota nas legislativas não era certa, contra Seguro ainda se podia vencer.

António Costa estragou este cenário idílico, esta fantasia tonta que se apossara de Passos e de Portas.

De repente, o perigo surgiu, fortíssimo.

Ao contrário de Seguro, Costa podia dar cabo de Passos e Portas, era um adversário perigosíssimo!

Em pânico, Passos e Portas desataram a dramatizar, criando mais uma crise constitucional.

A ideia, óbvia, é convencer Cavaco que há mau funcionamento das instituições em Portugal, pois o TC não deixa o Governo governar, e por isso é necessário irmos já para eleições.

 

Ao mesmo tempo que isto se passava, mais duas coisas aconteceram.

Primeiro, Seguro inventou um esquema demorado para a eleição de um novo líder do PS, saindo-se com a ideia das primárias.

De caminho, ia dizendo a Cavaco que o melhor mesmo era pedir eleições antecipadas.

Em segundo lugar, o PCP de Jerónimo, contente com os resultados das europeias, dizia também que queria eleições antecipadas.

No espaço de apenas uma semana, a decisão de António Costa se candidatar à direção do PS produziu estes curiosos efeitos.

Tanto Seguro, como Jerónimo, como Passos e Portas, querem eleições antecipadas.

Todos eles, sem excepção, desejam eleições antes que Costa tome conta do PS, pois todos eles temem perder votos com Costa a liderar o PS.

Há uma evidente aliança objetiva entre o centro-direita que nos governa, os comunistas e Seguro, para evitar que Costa vença o PS.

O terror de Seguro (perder o PS para Costa), o terror de Jerónimo (perder votos para Costa), e o terror de Passos e Portas (perder as eleições legislativas para Costa), têm todos o mesmo fundamento e motivo.

É essa a conspiração contra Costa, todos o querem parar e depressa.

 

A minha única dúvida é Cavaco Silva.

Quererá o presidente acelerar o calendário político, marcando eleições antecipadas por exemplo para Setembro, contribuindo assim para impedir que Costa tome conta do PS até lá, por falta de tempo?

Não faço ideia do que vai na cabeça do presidente da República, mas será grave a existência de uma crise política prematura, cujo único objectivo é afastar um homem do cargo de primeiro-ministro.

É que, no meio de todos estes jogos políticos, temos de pensar em Portugal.

Quem é que a maioria dos portugueses preferem para primeiro-ministro, Costa ou Seguro?

Em quem têm mais confiança para governar o país?

É que a visão de um país onde o PCP cresce muito, o PSD e o CDS estão abaixo de 30 por cento, e o primeiro-ministro e líder de um PS que só vale 31 por cento é António José Seguro, é uma visão aterradora.

Cavaco devia refletir sobre que país vamos ter se ele marcar já eleições antecipadas...

publicado por Domingos Amaral às 11:39 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Segunda-feira, 10.03.14

Programa cautelar: Cavaco bem quer, mas Merkel não deixa

O presidente da República tem feito tudo para avisar o país sobre a necessidade de um "programa cautelar".

Por mais que a situação tenha melhorado, para Cavaco estamos ainda numa zona perigosa, e sobretudo muito vulneráveis a qualquer mutação dos sentimentos dos mercados.

O esforço de consolidação orçamental foi enorme, as taxas de juro baixaram, mas apesar desses bons sinais a situação é ainda frágil.

Cavaco escreve, e avisa o país, apelando à prudência, pedindo cautela.

Temo que ninguém o oiça.

Embora na Europa muitos já tenham dito o mesmo (Barroso, Draghi, etc), nas últimas semanas o discurso europeu mudou, pois já todos perceberam que a Alemanha não quer que Portugal vá para um programa cautelar.

Merkel quer uma "saída limpa" de Portugal, para a apresentar como um "troféu".

Além disso, Merkel teme que se levasse um "programa cautelar" ao seu parlamento, ele fosse vetado, ou fossem impostas condições draconianas pelo SPD para aprovar tal coisa.

Por isso, vai obrigar Portugal a uma saída limpa, como fez com a Irlanda.

O caso Irlandês foi apresentado como uma vitória nacional de Dublin, mas não foi apenas isso, foi também uma obrigação imposta por Berlim.

O caso Português será semelhante.

Passos e o seu Governo vão apresentar a "saída limpa" como um colossal e esmagador triunfo das suas políticas, embora não estejam a fazer mais do que cumprir a vontade da Alemanha.

É uma situação arriscada, mas parece-me que ninguém quer saber o que Cavaco pensa.

Na Europa, manda Merkel, e os outros obedecem.

publicado por Domingos Amaral às 11:25 | link do post | comentar
Quinta-feira, 31.10.13

Portas e Passos: alguém percebe alguma coisa do que eles querem?

Nos últimos dias, temos assistido a um verdadeiro espectáculo de comunicação política!

Num dia, Paulo Portas declara, com pompa, que o Estado deve ser reformado!

Os impostos, o IRS, por exemplo, deverá descer, e para isso será nomeada uma comissão, para propor medidas para 2015, se isso for possível, é claro.

A segurança social, deverá ter plafonds, coisas fofinhas onde todos teremos a reforma garantida, e menos contribuições para pagar.

Os funcionários públicos, esses deverão ou ser despedidos, ou então ser aumentados, quando forem génios de qualidade.

A despesa geral do Estado, onde for possível, deverá diminuir, mas a qualidade dos serviços deverá aumentar, com mais investimento.

Por fim, escolas e hospitais e muitos serviços que tenham qualidade, poderão ser privatizados, ou dados em concessão.

Atenção, tudo isto se passará no futuro, num local mítico e fantástico, onde o "milagre económico" que já existe na cabeça do Dr. Pires de Lima nos conduzirá em breve.

Em que ano será esse futuro, perguntam os portugueses?

Bem, ninguém sabe. O Dr. Paulo Portas acredita que será no ano 2%, um ano qualquer daqui para a frente, em que a economia cresça 2%.

Ou seja, o nosso maravilhoso futuro colectivo depende do crescimento económico.

E o crescimento económico depende de quê? Isso o Dr. Paulo Portas não sabe, ou não diz.

Porém, no dia seguinte, o Dr. Passos Coelho apresenta o orçamento, e diz que, no presente, as coisas são diferentes do futuro do Dr. Paulo Portas.

No presente, haverá o oposto do que haverá no El Dorado do futuro.

No presente, alguns impostos sobem, o IRS não mexe, as pensões descem, os salários dos funcionários públicos levam fortes cortes, e não há qualquer plafond fofinho onde assentar as nossas reformas. 

Ah, e no presente, já me esquecia, é possível que muitos dos funcionários públicos que no futuro seriam considerados génios e aumentados pelo Dr. Portas, sejam no presente, ou no próximo ano, despedidos ou convidados a sair pelo Dr. Passos.

É este o país que nós temos, um país onde os economistas que têm dúvidas são "masoquistas", nas palavras do Dr. Cavaco; onde há um "milagre económico" a acontecer à frente dos nossos olhos, nas palavras do Dr. Pires de Lima, e onde o Dr. Portas vive num futuro radioso, e o Dr. Passos obriga milhões a apertar ainda mais o cinto, para que ele não falhe, o que como se sabe, é o mesmo que o país falhar.

A mim, estas coisas lembram-me o que o Obelix sempre comentava: "estes romanos são doidos!"

E depois ainda dizem que era o Eng. Sócrates que andava sempre a confabular e a tentar iludir-nos com as suas verdades...

publicado por Domingos Amaral às 15:18 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 14.10.13

Quem vai ganhar o Prémio do Palavrão Político mais grave?

De repente, tenho a sensação que anda a decorrer um concurso de Palavrões na política portuguesa.

Quem irá ganhar o prémio do Palavrão Político mais grave e insultuoso?

Ele é palavrão à direita, palavrão à esquerda, ferve palavrão na política portuguesa, que mais parece nestes dias a bancada (antigo peão) de um estádio de futebol.

Os palavrões são de vários tipos, dos mais sofisticados aos mais boçais.

Por exemplo, Cavaco Silva chamou "masoquistas" aos que consideram que a dívida portuguesa é insustentável.

Já Mário Soares, não querendo ficar atrás, chamou "delinquentes" aos membros do Governo.

Mas, eis que Jerónimo de Sousa vê um par de microfones à sua frente, e logo urra, com veemênica: "trapaceiros e malabaristas!"

E logo Marques Mendes, mais soft, chamou os ministros do Governo de "adolescentes imaturos".

Enfim, parece que agora está na moda dizer assim uns palavrões fortes, para conseguir ser citado nos jornais e que as televisões falem de nós.

Os actuais líderes e os antigos fundadores da Nação democrática andam a ver quem ganha o campeonato do palavrão, e a coisa, naturalmente, promete não ficar por aqui.

Hoje, já ninguém se incomoda quando se ouvem insultos como "mentiroso", ou "corrupto".

Hoje, há que ir mais longe, e ser mais sofisticado, seja na psiquiatria pop (sádicos, masoquistas, obsessivos) ou no calão criminal (trapaceiros e delinquentes!)

Está bonita a festa pá!

 

publicado por Domingos Amaral às 12:14 | link do post | comentar
Sexta-feira, 14.06.13

A esquizofrenia económica e mediática do Governo

Qualquer estudante de Economia sabe que a psicologia dos povos é tão ou mais importante para a economia do que as decisões reais dos governos. 

Desde Keynes até aos pensadores das expectativas racionais, todos estão de acordo que os "estados de alma" de um povo, o seu optimismo e pessimismo, a sua esperança ou a sua descrença no futuro, podem determinar o andamento da economia.

Não é pois de estranhar que os Governos tentem, com os seus discursos, influenciar a psicologia de um país. Por vezes com avisos, como o de Cavaco, com o célebre "gato por lebre"; ou o de Barroso, com o não menos célebre "o país está de tanga". 

Por outras, há uma intenção clara dos políticos de tentar inverter as expectativas, passar do pessimismo ao optimismo. Foi isso que vez Vítor Gaspar, quando há uns dias atrás proclamou bem alto: "este é o momento do investimento"!

Porém, estes discursos psicológicos têm de ser coerentes. Se o discurso visa "arrefecer" a economia, tem de se ser consistente durante uns tempos. Se, pelo contrário, o discurso visa "reanimar" a economia, não se pode dar boas notícias à segunda-feira e más notícias à sexta.

Ora, é precisamente essa coerência que não vejo neste Governo. Tão depressa Passos diz que "as condições de financiamento estão a melhorar", como diz que "o desemprego vai continuar a aumentar". 

Num dia fala-se em "voltar a crescer", passados dois dias fala-se em "cortes substanciais nos salários e nas pensões". De manhã acorda-se a dizer que há "sinais muito positivos na receita fiscal", e à tarde decide-se não pagar os subsídios de férias porque "não há dinheiro".

Esta permanente montanha-russa de boas e más notícias mostra bem o descontrole comunicacional do Governo. Como acreditar que "este é o momento do investimento" quando se anuncia ao mesmo tempo profundos "cortes nas pensões e nos salários"? Como acreditar que há "sinais encorajadores" quando o desemprego bate recordes todos os meses?

Cada semana que passa fico mais convencido que este Governo teve um ataque agudo de esquizofrenia económica, é um Governo bipolar, que anda a deixar os portugueses à beira de um ataque de nervos.

E as coisas não parecem estar a melhorar. Há dois dias, por exemplo, Passos Coelho zurziu no FMI por este ter feito umas críticas à União Europeia, e Cavaco chegou a pedir a saída do FMI da "troika".

Porém, apenas um dia depois, o Governo confirmou que vai levar à prática todas as medidas que o FMI propôs para cortar na despesa. Em que é que ficamos? Então o FMI é duvidoso, mas fazemos o que ele manda?

É natural que o país ande confundido. Nestes altos e baixos permanentes, vivemos entre crenças que duram uns dias e depressões que duram umas semanas. Como os infelizes pais de um filho esquizofrénico, estamos esgotados e sem saber em quem acreditar.

 

publicado por Domingos Amaral às 11:22 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Terça-feira, 09.10.12

Passos e os treinadores de futebol

Ontem, Passos Coelho lembrou-me um treinador de futebol. À saída de uma reunião qualquer, com imensos microfones à frente, o primeiro-ministro declarou que "no dia em que sentir que não tem condições para governar", vai falar com o Presidente da República e anuncia ao país que se vai embora. Ao longo das últimas décadas, declarações deste tipo foram muito habituais em treinadores de futebol que não conseguiam que a sua equipa ganhasse. Pressionados pelas derrotas no relvado, pelos apupos dos sócios na bancada, pelos escritos na imprensa, havia treinadores que diziam, tal como Passos, que no dia em que "sentissem" que estavam a mais, se iriam "embora" depois de falar com o presidente do respectivo clube. Esperavam com isso talvez criar a famosa "vaga de fundo" de apoio, e ser salvos da desgraça pelas direcções dos clubes, que normalmente nestes momentos se tornavam um bocado cínicas, dizendo que tinham "toda a confiança" no treinador, e o demitiam nos dias seguintes, depois de nova derrota. Espero que Cavaco Silva não faça como José Eduardo Bettencourt, que declarou que Paulo Bento era "forever", e tempos depois o despediu. Nem Cavaco é tão inábil como Bettencourt, nem Passos é tão bom treinador como Paulo Bento. De qualquer forma, isto começa a cheirar ao princípio do fim...

publicado por Domingos Amaral às 11:57 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Sexta-feira, 20.07.12

Cavaco e a recessão

Cavaco Silva tem razão: em vez de pedir mais tempo à troika, deviam era aplicar-se políticas menos recessivas. O choque fiscal brutal que os portugueses têm sofrido - eu recebi o IRS e a sobretaxa que ainda tenho de pagar é elevadíssima - e os cortes nos subsídios e nos salários estão a dar cabo da nossa economia. Há maneiras melhores de reduzir os desequilíbrios mas duvido que os fanáticos das Finanças como o senhor Gaspar queiram dar o braço a torcer.

publicado por Domingos Amaral às 11:20 | link do post | comentar
 

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